DOMINGUINHOS E A SUA TRAJETÓRIA COM O REI LUIZ GONZAGA-PRIMEIRO CAPÍTULO
PRIMEIRO CAPÍTULO
DOMINGUINHOS E A SUA TRAJETÓRIA COM O REI LUIZ GONZAGA
Puro Nordeste, Puro Sangue.
José Domingos de Morais ,((Dominguinhos). Nasceu em
Garanhuns –Pe, no ano de 1941, cidade bela, aconchegante e de clima serrano,
frio .
Filho de uma família de dez irmãos, o pai um simples agricultor de
subsistência e meeiro , cultivava em terras alheias e dividia a
produção meio a meio com o proprietário da terra, era assim no meu Pernambuco e no meu Ceará.
O pai além
de afinador de fole tocava
uma sanfona de 08 baixos, era um fole pequeno, simples, de madeira e
de lona encerada, marca Veado, o símbolo era dois pés de bode, segundo
o Marcos Farias , maestro fino e filho do Abdias e da Marines, foi
devido esta marca que a sanfoninha de oito baixos, de som é cheio e harmônico, recebeu a alcunha de "SANFONA PÉ DE BODE".
A outra versão é de outro monstro sagrado da música nordestina , o
João Silva, este informa que o nome vem devido a posição dos dedos no
seu teclado , os dois dedos ficam tão perto e sempre colados que parecem
um pé de bod, a versão mais aceita é a do maestro, diretor, cantor,
estudioso da musica universal e sanfoneiro Marcos Farias .
A SEMENTE FOI PLANTADA EM 1949 , O ENCONTRO.
Aos 08 anos de idade o Dominguinhos(8) e os dois irmãos mais velhos, o Morais(12) e o Valdomiro(09), já tocavam nas feiras livres e nos botequins de Garanhuns ,
já ajudavam no sustento da família.
Em 1949 o Rei do Baião, Luiz Gonzaga,
foi homenageado em Garanhuns , para ele fizeram um jantar, uma grande festa e para a população que conhecia as
dificuldades da região, segundo o próprio Dominguinhos, "foi um verdadeiro banquete".
Os
organizadores impressionados com o talento
do Dominguinhos e os irmãos, acharam que as três crianças deveriam
tocar e
cantar para homenagear o rei Luiz Gonzaga, Dominguinhos estava com
oito, Valdomiro nove e o Moraes doze anos ,
Dominguinhos era o mais novo e já tocava a pequena Pé de Bode do pai,
o mestre Chicão, que além de agricultor era tocador e consertava
instrumentos musicais para toda a região
Na festa
ao Rei Luiz Gonzaga cantaram, encantaram e arrasaram, o Luiz ficou
apaixonado pelo toque da sanfoninha de madeira, aquele encontro foi
também para ele uma homenagem ao seu velho Januário, seu pai tocador
desta modesta sanfona na cidade do Exu sua terra natal. Aquela oito
baixo que se agigantou
nos toques sutis do menino prodígio de Garanhuns, para o Rei do Baião
ali provavalmente estava uma valoroza semente para o futuro.
No fim da apresentação o homenageado
pegou do bolso um maço de dinheiro, "foi
de 300 mil reis", "um dinheirão naquela
época" narração do próprio Dominguinhos e doou ao pequeno e pançudo sanfoneiro mirim. Na mesma
ocasião o chamou e disse, ”MENINO QUANDO FOR A RIO EM QUALQUER ÉPOCA ME
PROCURE, EU QUERO VOCÊ POR PERTO DE MIM” e lhe forneceu o endereço, guardou com muito esmero e cuidado.
O
Luiz
tinha um coração do tamanho do universo, se enxergasse futuro musical
num conterrâneo do Nordeste levava para a sua casa no Rio de Janeiro,
dava apoio, aulas, abrigo, comida , roupa e uma sanfona, não é à toa
que o homem é Rei, Rei de verdade.
O
Dominguinhos continuou a sua labuta
sertaneja, ora na roça e ora no pé de bode, com13 anos de idade foi para
o Rio de Janeiro onde o seu irmão mais
velho, o Morais, já morava. Lá o sanfoneiro antes do estrelato foi
ajudante de
pedreiro, pedreiro, tintureiro e entregador de roupas das
tinturarias chinesas, não havia espaço para a caipira Pé de Bode naquela
época, no Rio só se tocava músicas estrangeiras, todos os nordestinos
do baixo clero era no Rio de Janeiro, pejorativamente falando, um
PARAÍBA , a falta de respeito era visível e injusta, uma vez que é a
Paraíba um dos celeiros da cultura brasileira, basta anotar os grandes
políticos, escritores, juristas, professores e artistas daquela
abençoada terra, o Brasil deve muito à nossa querida Paraíba.
Com o aperto no sofrido nordeste, o pai, o Mestre Chicão da
Sanfona, também viajou para o Rio, ficaram os três filhos e o pai, quatro
retirantes da seca, fruto do êxodo rural, num quarto na cidade de Nilópolis, sofriam mais do que suvaco de aleijado.
"Sofríamos mais do que sovado de aleijado"
José Domingos de Moraes
(Dominguinhos)
Num
dia de muitas dificuldades e com o acanhamento peculiar do nordestino
em
terra alheias, o Dominguinhos tomou coragem e resolveu procurar o
Rei Luiz na sua casa, tinha o seu endereço e tomou o rumo em busca de
guarida,
muitas eram as dúvidas e preocupações, será que seria recebido pelo
mestre,
pelo consagrado cantor do Exu, o Rei do Baião? Será que teria pelo menos
a
chance de contar como estavam no Rio Janeiro, teria a chance de relatar
como ele e os seus parentes estavam? pois viviam apertados num
quartinho na cidade de Nilópolis vivendo de pouca renda, a vida estava
apertada e com dificuldades, o Rei era uma das esperanças,
indubitavelmente a mais plausível, inclusive tinha lhe fornecido o seu
endereço escrito num pedaço de papel, era um trunfo para toda a família,
aquela celulose , aquele endereço vindo do punho do próprio Rei Luiz
tinha muito valor , passou cinco anos cuidadosamente guardado nos
fundos da mala de madeira do Velho Chicão , não era um pedaço de papel
qualquer, ali estava o futuro de uma família , o sustento de milhões de
brasileiros e a valorização de um povo, o povo do Nordeste.
Bateu na porta e emocionalmente foi
recebido de braços abertos pelo Rei Luiz , neste dia foi uma festa, tanto para
ele como para o Rei Luiz Gonzaga, lembra que neste dia comeram muito bem, dona Helena estava sempre com as panelas cheias , de lá só saiu quando ficou
famoso, continuou ao lado do seu mentor pro resto da vida.
"dona Helena estava sempre com as panelas cheias"
José Domingos de Moraes
(Dominguinhos)
Seu Luiz no primeiro
dia do reencontro lhe presenteou com uma bela sanfona de oitenta baixos, com esta
Sanfona o Dominguinhos tirou o pé da lama, ajudou toda a sua família e nunca
mais conheceu a fome , com a bendita sanfoninha
presenteada pelo mestre o menino decolou, praticamente acompanhava todas as
estrelas e ícones da época como Cauby Peixoto, Nelson Gonçalves,
Marlene, Emilinha Borba, Ângela Maia e outros famosos .
"Com aquela sanfoninha de oitenta baixos, nunca mais conhecemos a fome"
José Domingos de Moraes
(Dominguinhos)
Naquela época o Rei do baião possuía
em casa um pequeno estoque de sanfonas, para uso e para presentear
os novos talentos , principalmente os oriundos do árido
nordeste, foi assim com o meu querido amigo Waldonys lá de Fortaleza. A sua casa era um
verdadeiro gabinete musical, uma verdadeira casa de espetáculo pessoal onde
ensaiava, cantava e se divertia, ajudava a todos que o procurava.
A casa do Rei Luiz albergava todos os
artistas do Norte e Nordeste que procurava apoio, era um referencia, eram
ajudados um a um , muitos foram os artistas que beberam da água do
velho do baião, Marines, Abdias, Genival Lacerda, João Silva( o seu maior
parceiro e compositor, Nem se dispidiu de mim, Pagode Russo, Tá Danado ,
Sanfona Choradeira e Viva Meu Padim), Zito Borborema, Jackson do
Pandeiro, Severo, Osvaldinho, Jacinto Silva, Osvaldo Oliveira, o menino
Waldonys e todos os outros que explodiram no forró e no
baião.
O Luiz era um acolhedor, o Rei era um visionário , sabia que
tinha que cuidar com muito carinho do seu reinado. A sua
grande morada era uma verdadeira creche
para os neófitos músicos e tocadores nordestinos , foi o padrinho dos milhões
de sofredores nordestinos que procuravam abrigo no sul e o responsável pelo pão
de cada dia de milhões de profissionais por este Brasil afora e
nunca deixará de ser o grande provedor, milhões vivem do seu legado.
Brasil olhe a garra , a força e a
importância destes dois brasileiros de fibra, Luiz Lua Gonzaga o rei do Baião e
o Dominguinhos o vice rei.
O Luiz sempre foi o Rei e Dominguinhos o ajudou a
amansar a sanfona e pulverizá-la por este Brasil afora, todos os sanfoneiros do
Brasil afirmam, Luiz é o meu eterno rei e o Dominguinhos o meu eterno
professor.
Viva o baião, acorda Brasil, muitos sanfoneiros ainda irão passar
por este infinito território musical, eu sou baião, baião, baião e haja baião,
muitos brasileiros viveram, vivem e viverão de sua lavra.
O Dominguinhos virou o seu maior
amigo e vice-versa , Luiz Gonzaga e Dominguinhos dois homens do bem.
"Seu
Luiz foi meu irmão, meu pai, meu padrinho, meu professor, meu padrinho
de casamento, meu compadre, meu maior amigo e o meu maior exemplo de
vida"
José Domingos de Moraes
(Dominguinhos)
O seu
maior discípulo não decepcionou , seguiu a mesma trilha do mestre, passou
também a apadrinhar muitos filhotes do forró e do baião que hoje perpetuam com
maestria a sua obra. Waldonys meu irmão aquele abraço, Marquinho filho de Marines
e de Abdias meus respeitos . Muita força, aquele abraço.
Iderval Reginaldo Tenório
Resultados da pesquisa
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