quinta-feira, 29 de novembro de 2012

MORRE O JORNALISTA Joelmir José Beting




O Brasil perdeu nesta quinta feira- 29 de novembro de 2012 um cidadão querido e amado praticamente por todos os brasileiros, homem competente, culto, estudioso, sério e  Ético, o Joelmir é um daqueles que aparece de mil em mil anos e olhe lá. Quem acompanha a História deste país , tem no Joelmir, um irmão, um pai , um aconselhador e acima de tudo um amigo. O mestre todos os dias entrava na sua casa e com o seu olhar sincero, honesto, amigo e apaziguador mandava o seu recado, recado este sempre dirigido para o bem. Joelmir Beting  é um homem do bem e para  o bem, está aí o motivo de ser tão querido e admirado por todos os brasileiros.
                                         Iderval Reginaldo Tenório


Morreu na madrugada desta quinta-feira (29/11), à 0h55, o jornalista Joelmir Beting . O comentarista da Band estava em coma desde o dia 25 de novembro , quando sofreu um acidente vascular encefálico hemorrágico. Seu corpo é velado no Cemitério do Morumbi, zona sul da capital, até às 14h. A partir das 16h, Joelmir será cremado no Cemitério e Crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo.


1 dia atrás


Coloco uma pequena biografia do grande brasileiro Joelmir.

Joelmir José Beting é meu nome completo. O nome da família é Betting com dois T. Parece nome inglês, mas é nome alemão da Westphalia, fronteira com a Holanda. A família veio de Metelen, perto de Munster, nos idos de 1864, a bordo do paquete holandês Challenger.
E bota desafio nisso. Juntamente, no mesmo barco, com outras 42 famílias de Metelen e arredores, os colonos alemães foram contratados, previamente, pela Fazenda Ibicaba, na boca do sertão de Limeira, então braço avançado de Campinas, SP.

Nasci em Tambaú, em 21 de dezembro de 1936. Ali trabalhei e estudei até 1955. Fui bóia-fria aos sete anos de idade. Desembarquei em São Paulo com a roupa do corpo, literalmente empurrado pelo Padre Donizetti Tavares de Lima (1890-1961), meu gurú espiritual (e profissional). Ele me orientou para estudar Sociologia na USP e "fazer carreira no jornalismo", Eu queria seguir carreira no magistério, tal como fizeram dois brilhantes colegas de turma: Francisco Weffort e Ruth Cardoso.

Acabei resvalando para o jornalismo, entrando pela porta da imprensa esportiva já em 1957, ainda cursando a USP. Fiz futebol nos jornais O Esporte e Diário Popular e na rádio Panamericana(que virou Jovem Pan). Em 1962, sociólogo formado, troquei o jornalismo esportivo pelo jornalismo econômico. Inicialmente, como redator de estudos de viabilidade econômica para projetos desenvolvidos por uma consultoria de São Paulo.

Em 1966, pelas mãos de Gilberto Adrien, diretor comercial da Folha de S.Paulo, fui resgatado pelo jornalismo diário para lançar uma editoria de Automóveis no caderno de Classificados.

Sim, trabalho e estudo 15 horas por dia, desde minha infância em Tambaú. Minha mulher, Lucila, segura a prensa desde nosso casamento indissolúvel, em 14 de abril de 1963. E meus dois filhos, Gianfranco, publicitário e webmaster, e Mauro, comentarista esportivo de jornal e televisão, também trabalham, pesquisam e estudam hoje 15 horas por dia.

UM DOS MAIORES POETAS DESTE PAIS- ZÉ DA LUZ








Dados:

Severino de Andrade Silva (Zé da Luz), nasceu em Itabaiana, PB, em
29/03/1904 e faleceu no Rio de Janeiro-RJ, em 12/02/1965 .

O maior poeta da Paraíba  .
Leiam nesses textos  a sagacidade , a mensagem, o apelo e o recado deste genuíno   homem do Nordeste .

Brasi Caboco


O qui é Brasí Caboco?
É um Brasi diferente
do Brasí das capitá.
É um Brasi brasilêro,
sem mistura de instrangero,
um Brasi nacioná!


É o Brasi qui não veste
liforme de gazimira,
camisa de peito duro,
com butuadura de ouro...
Brasi caboco só veste,
camisa grossa de lista,
carça de brim da “polista”
gibão e chapéu de coro!


Brasi caboco num come
assentado nos banquete,
misturado cum os home
de casaca e anelão...
Brasi caboco só come
o bode seco, o feijão,
e as veiz uma panelada,
um pirão de carne verde,
nos dias da inleição
quando vai servi de iscada
prus home de posição.


Brasi caboco num sabe
falá ingrês nem francês,
munto meno o português
qui os outros fala imprestado...
Brasi caboco num inscreve;
munto má assina o nome
pra votar pru mode os home
Sê gunverno e diputado


Mas porém. Brasi caboco,
é um Brasi brasileiro,
sem mistura de instrangero
Um Brasi nacioná!


É o Brasi sertanejo
dos coco, das imbolada,
dos samba, dos vialejo,
zabumba e caracaxá!


É o Brasi das vaquejada,
do aboio dos vaquero,
do arranco das boiada
nos fechado ou tabulero!


É o Brasi das caboca
qui tem os óio feiticero,
qui tem a boca incarnada,
como fruta de cardoro
quando ela nasce alejada!


É o Brasi das promessa
nas noite de São João!
dos carro de boi cantano
pela boca dos cocão.


É o Brasi das caboca
qui cum sabença gunverna,
vinte e cinco pá-de-birro
cum a munfada entre as perna!


Brasi das briga de galo!
do jogo de “sôco-tôco”!
É o Brasi dos caboco
amansadô de cavalo!
É o Brasi dos cantadô,
desses caboco afamado,
qui nos verso improvisado,
sirrindo, cantáro o amô;
cantando choraro as mágua:
Brasi de Pelino Guedes,
de Inácio da Catingueira,
de Umbelino do Texera
e Romano de Mãe-d’água!

É o Brasi das caboca,
qui de noite se dibruça,
machucando o peito virge
no batente das jinela...
Vendo, os caboco pachola
qui geme, chora e soluça
nas cordas de uma viola,
ruendo paxão pru ela!
É esse o Brasi caboco.
Um Brasi bem brasilero,
sem mistura de instrangêro
Um Brasía nacioná!


Brasi, qui foi, eu tô certo
argum dia discuberto,
pru Pêdo Arves Cabrá.

A cacimba

Tá vendo aquela cacimba
lá na bêra do riacho,
im riba da ribanceira,
qui fica, assim, pru dibáxo
de um pé de tamarinêra.

Pois, um magóte de môça
quage toda manhanzinha,
foima, assim, aquela tuia,
na bêra da cacimbinha
prá tumar banho de cuia.

Eu não sei pru quê razão,
as águas dessa nacente,
as águas que ali se vê,
tem um gosto diferente
das cacimbas de bêbê...


As águas da cacimbinha
tem um gôsto mais mió.
Nem sargada, nem insôça...
Tem um gostim do suó
do suvaco déssas môça...
Quando eu vejo éssa cacimba,
qui inspio a minha cara
e a cara torno a inspiá,
naquelas águas quiláras,
Pego logo a desejá...


... Desejo, prá quê negá?
Desejo ser um caçote,
cum dois óio dêsse tamanho
Prá ver aquele magóte
de môça tumando banho!

As flô de Puxinanã
(Paródia de As “Flô de Gerematáia” de Napoleão menezes) 


Três muié ou três irmã,
três cachôrra da mulesta,
eu vi num dia de festa,
no lugar Puxinanã.


A mais véia, a mais ribusta
era mermo uma tentação!
mimosa flô do sertão
que o povo chamava Ogusta.


A segunda, a Guléimina,
tinha uns ói qui ô! mardição!
Matava quarqué critão
os oiá déssa minina.


Os ói dela paricia
duas istrêla tremendo,
se apagando e se acendendo
em noite de ventania.

A tercêra, era Maroca.
Cum um cóipo muito má feito.
Mas porém, tinha nos peito
dois cuscús de mandioca.

Dois cuscús, qui, prú capricho,
quando ela passou pru eu,
minhas venta se acendeu
cum o chêro vindo dos bicho.

Eu inté, me atrapaiava,
sem sabê das três irmã
qui ei vi im Puxinanã,
qual era a qui mi agradava.

Inscuiendo a minha cruz
prá sair desse imbaraço,
desejei, morrê nos braços,
da dona dos dois cuscús!

Ai! Se sêsse!... 

Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dos se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!! 
A terra caiu no chão


Visitando o meu sertão
que tanta grandeza encerra,
trouxe um punhado de terra
com a maior satisfação.


Fiz isso na intenção,
Como fez Pedro Segundo,
de quando eu deixasse o mundo
levá-lo no meu caixão.


Chegando ao Rio, pensei
guardá-lo só para mim
e num saquinho de brim
essa relíquia encerrei!


Com carinho e com cuidado
numa ripa do telhado,
o saquinho pendurei...


Uma doença apanhei
e vendo bem próxima a morte
lembrando as terras do norte
do saquinho me lembrei.


Que cruel desilusão!
As traças, sem coração
meterem os dentes no saco,
fizeram um grande buraco
e a terra caiu no chão.

















Confissão de Cabôco


Seu duotô, sou criminoso.
Sou criminoso de morte.
Tou aqui pra mim intregá.
Voimicê fique sabendo:
– Quando a muié traz a sorte
De atraiçoá o isposo
Só presta para se matá.

Nunca pensei, seu doutô
Qui a mão nêga do distino,
Merguiasse as minhas mão
No sangue dos assarcino!

Vô li pidí um favô
Ante de vossamercê
Mim butá daqui pra fora:
– É a licença do doutô
Pr’eu li contá minha histora.

Sinhô dotô delegado,
Digo a vossa sinhuria
Qui inté onte fui casado
Cum a muié qui im vida
Se chamô ROSA MARIA.

Faz dez mês qui se gostemo,
Faz oito qui fumo noivo
Faz sete qui nós casêmo.

Nós casêmo e nós vivia
Cuma pobre, é verdade,
Mas a gente se sentia
Rico de filicidade!

Pras banda qui nós morava,
No lugá Chã da Cutia,
Morava tombém um cabra
Chamado Chico Faria.

Esse cabra, antigamente,
Tinha gostado de Rosa,
Chegaro, inté a sê noivo,
Mas num fizero a “introza”
Do casamento, prumode
Mané Uréia de bode,
Qui era padrim de Maria
Tê dismanchado essa prosa.

Entoce, o Chico Faria,
Adispois qui nós casêmo,
In cunversa, as vez dizia,
Qui ainda mi dava fim
Pra se casá cum Maria.

Dessa coisa eu sabia,
Mas nunca dei importança.

Tinha toda cunfiança
Na muié qui eu tanto amava,
Ou mais mió, adorava...
Cum toda a minha sustança!

Dispois disso, o meu custume
Era vivê trabaiando
Sem da muié tê ciume.

A muié pru sua vez
Nunca me deu cabimento
Deu pensá qui ela fizesse
Um dia um farcejamento.

Mas, seu doutô, tome tento
No resto da minha histora,
Qui o ruim chegô agora:

Se não me farta a mimora,
Já faz assim uns três mêis,
Qui o cabra, Chico Faria,
Todo prosa, todo ancho,
Quage sempre, mais das vêz,
Avistava o meu rancho.

Puralí, discunfiado
Como quem qué e não qué,
Eu fui vendo qui o marvado
Tentava a minha muié.

Ou tentação ou engano,
Eu fui vendo a coisa feia!
Pru derradêro eu já tava
C’a mosca detrás da uréia.

Os tempo foi se passando
E o meu arriceiamento
Cada vez ia omentano.

Seu dotô, vá iscutano:

Onte, já de tardezinha
O meu cumpade, Quinca Arruda,
Mi chamô pra nós dança
Num samba – lá na Varginha,
Na casa do mestre Duda.

Mestre Duda é um cabôco,
Um tocado de premêra.
É o imboladô de côco
Mió daquela rebêra.

Entonce Rosa Maria,
Sempre gostou de samba,
Mas, porém, de tardezinha
Me disse discunfiada,
Qui pru samba ela não ia,
Qui tava munto infadada,
Percisava se deita...

Eu fiquei discunfiado
Cum a preposta da muié!

Dispois qui tomei café,
Cuage puro sem mistura,
Cum a faca na cintura
Fui pru samba, fui sambá.

Cheguei no samba, dotô.
Repare agora, o sinhô,
Quem era qui tava lá?

O cabra Chico Faria.
Qui quano foi me avistando,
Foi logo mi preguntando:
– Cadê siá dona Maria,
Num veio não, pra dançá?

– Não sinhô. Ficô im casa.
Pru cabôco arrispondí.

Senti, entonce uma brasa
Queimano meu coração,
Nunca mais pude tirá
As palavra desse cabra
Da minha maginação.

Perdí o gosto da festa
E dançá num pude não.

O cabra, pru sua vez
Num dançava, seu doutô.
De vez im quando me oiva
Cum um oiá de traidô.

Meia noite, mais ou meno,
Se dispidino do povo
Disse: – Adeus, qui eu já vô.

Quando ele se arritirô,
Eu tombem me arritirei
Atraiz dele, sim sinhô.
Ele na frente, eu atrais.
Se o cabra andava ligêro,
Eu andava munto mais!

Noite iscura qui nem breu!

Nem eu avistava o cabra,
Nem o cabra via eu!

Sempre andando, sempre andando.
Ele na frente, eu atrais.

Já nem se iscutava mais
A voz do fole tocando
Na casa do mestre Duda!

A noite tava mais preta
Qui a cunciênça de Judá!

Sempre andando, sempre andando.
Eu fui vendo, seu doutô,
Qui o marvado ia tumando
Direção da minha casa!

Minha casa!... Sim sinhô!

Já pertinho, no terrero
Eu mim iscundí pru detraiz
De um pé de trapiazêro.

Abaixadim, iscundido,
Prendi a suspiração,
Abri os óio, os ouvido,
Pra mió vê e ouvi
Qua era a sua intenção.

Seu doutô, repare bem:

O cabra oiando pra traiz,
Do mermo jeito, qui faiz
Um ladrão pra vê arguém,
Num tendo visto ninguém,
Na minha porta bateu!

De lá de dentro uma voiz
Bem baixim arrispondeu...

Ele entonce, cá de fora:

– Quem ta bateno sou eu!

De repente abriu-se a porta!

Aí seu doutô, nessa hora
A isperança tava morta,
Tava morto o meu amô...

No iscuro uma voiz falô:

– Taqui, seu Chico, essa carta,
Qui a tempo tinha iscrivido
Pra mandá pra voismicê.
Pru favô num leia agora,
Vá simbora, vá simbora,
Qui quando chegá im casa
Tem munto tempo pra lê.

Quando minhas oiça ouviu,
As palavra qui Maria
Dizia pru disgraçado,
Eu fiquei amalucado,
Fiquei quage cuma loco,
Ou mio, cumo um cabôco
Quando ta chêi de isprito!

Dum sarto, cumo um cabrito,
Eu tava nos pés do cabra
E sem querer dei um grito:

– Miserave! E arrastei
Minha faca da cintura.

Naquela hora dotô,
Eu vi o Chico Faria,
Na bêra da sipurtura!

Mas o cabra têve sorte.

Sempre nessas circunstança
Os home foge da morte.

Correu o cabra, dotô
Tão vexado, qui dêxou
A carta caí no chão!

Dei de garra do papé,
O portadô da traição!

Machuquei nas minha mão,
A honra, douto, a honra
Daquela farsa muié!

Dispois oiando pra carta
Tive pena, pode crer,
De num tê prindido a lê.
Nas letra alí iscrivida
O qui dizia Maria
Pru marvado traidô.

Tive pena, sim sinhô.
Mas, qui haverá de fazê
Se eu nunca prindí a lê?

Maria mi atraiçuô!

Essa muié qui um dia,
Juêiada nos pé do artá
Jurou im nome de Deus
Qui inquanto tivesse vida,
Haverá de mim honrá
E mim amá cum todo amo.

Cum perdão do seu doutô.

Quando eu vi a miserave
Na iscurideza da noite
Dos meu oio se iscondê
Sem dêxá nem sombra inté
Entrei pra dentro de casa
Pra mi vingá da muié.

Douto, qui hora minguada!
Maria tava ajuêiada,
Chorando, cum as mão posta
Cumo quem faz oração.
Oiando pra eu pedia,
Pelo cali, pela osta,
Pru Jesus crucificado,
Pelo amo qui eu li amava
Qui num fizesse isso não.

Eu tava, doutô, eu tava
Cego de raiva e paixão.

Sem dizê uma palavra,
Agarrei nas suas mão,
Levantei ela pra riba
E interrei inté o cabo,
O ferro da parnaíba
Pru riba do coração!

Sarvei a honra, doutô,
Sarvei a honra, apois não!

Dispois qui vi a Maria
Caí sem vida no chão,
Vim fala cum vosmicê,
Vim cunfessá o meu crime
E mim intregá as prisão.

Se o sinhô num acredita
Se eu sô criminoso ou não,
Tá aqui a faca assarcina
E o sangue nas minhas mão.

Cumo prova da traição,
Tá aqui a carta, doutô.

Li peço um grande favô:

Ante de vossa-sinhuria
Mi mandá lá para prisão
Me lêia aqui essa carta
Pr’eu sabê cumo Maria
Perparava essa trição!

A CARTA

“Seu Chico:

                 Chã da Cutia.

Digo a vossa senhoria
Que só lhe escrevo essa carta
Pru senhor ficar sabendo
Que eu não sou a mulher
Que o senhor tá entendendo.

Se o senhor continuar
Com os seus disbiques atrevidos
O jeito que tem é contar
Tudo, tudo a meu marido.

O senhor fique sabendo
Que com seu discaramento,
Não faz nunca eu quebrar
O sagrado juramento
Que eu jurei nos pés do altar,
No dia do casamento.

Se o senhor é inxirido,
Encontrou u’a mulher forte,
O nome do meu marido
Eu honro até minha morte!

Sou de vossa senhoria,

                   Sua criada.

                    MARIA.”







– Doutô! Doutô mi arresponda
O qui é qui eu tô ouvindo?
Vosmicê leu a carta,
Ou num leu, ta mi inludindo?

– Doutô! Meu Deus! Seu doutô,
Maria tava inucente?
Me arresponda pru favo!

Inocente! Sim, senhor!

Matei Maria inucente!

Pru que, seu doutô, pru que?

Matei Maria somente
Pruque num aprendi a lê!

Infiliz de quem num leu
Uma carta de ABC.

Magine agora o doutô,
Quanto é grande o meu sofrê!

Sou duas veiz criminoso,
Qui castigo, seu doutô!

Qui mizera! Qui horrô!
Qui crime num sabê lê

PATATIVA DO ASSARÉ-A MORTE DE NANA


                                                           
                                                                                     

                                                                           
                                                                           


                                                                               


                                                                           

                                                                       
                                                                         


Querido leitor   deste blog cultural,não consigo ficar calado diante de tão fidedigna narrativa do Patativa do Assaré em 1932,quando mostra a importância de um filho, a insignificância de um ser humano, a fragilidade de um homem,a maldade de um explorador,o abandono de um povo ,o fechamento dos olhos daqueles  que deviriam cuidar,o  descaso de quem não vive e não conhece aquela desvivida vida , a desigualdade social entre um mesmo povo e a grande pergunta:Como exigir que cada cidadão independente do nível sócio-econômico-cultural conheça a Constituição Federal se os direitos são desiguais,secularmente desiguais.

                Algumas Estrofes de A Morte de Nana de Patativa do Assare.

Veja como descreve na primeira estrofe a sua NANÃ,sinta o valor atribuído a  NANÃ,sofra o que sofre este Pai na hora do enche bucho, quando NANÃ via o Angu.,se contamine e transporte esta cena para os dias de hoje,viva  os movimentos da boca,a palidez do rosto,o encatracado movimento das mãos,os balbuciar do sofrimento,o fechamento dos olhos e a libertação da fome com o pior:  A MORTE DA FILHA NANÃ.

Todos os dirigentes atuais conhecem o recado do Patativa e nada de novo acontece. Eu sou do Ceará.
                                                    Iderval Reginaldo Tenório
                                                       Quero a sua opinião


A Morte de Nanã
Patativa do Assaré.


Nanã tinha mais primô
De que as mais bonita jóia,
Mais linda do que as fulô
De un tá de Jardim de Tróia
Que fala o dotô Conrado.
Seu cabelo cachiado,
Prêto da cô de viludo.
Nanã era meu tesôro,
Meu diamante, meu ôro,
Meu anjo, meu céu, meu tudo,

Todo dia, todo dia,
Quando eu vortava da roça,
Na mais compreta alegria,
Dento da minha paioça
Minha Nanã eu achava.
Por isso, eu não invejava
Riqueza nem posição
Dos grandes dêste país,
Pois eu era o mais feliz
De todos fio de Adão.

Quando ela via o angu,
Todo dia demenhã,
Ou mesmo o rôxo beju
De goma de mucanã,
Sem a comida querê,
Oiava pro dicumê,
Depois oiava pra mim
E o meu coração doía,
Quando Nanã me dizia:
Papai, ô comida ruim!

Por ali ninguém chegou,
Ninguém reparou nem viu
Aquela cena de horrô
Que o rico nunca assistiu,
Só eu a minha muié,
Que ainda cheia de fé
Rezava pro Pai Eterno,
Dando suspiro maguado
Com o rosto seu moiado
Das água do amó materno

Na sua pequena bôca
Eu via os laibo tremendo
E, naquela afrição lôca,
Ela também conhecendo
Que a vida tava no fim,
Foi regalando pra mim
Os tristes oínho seu,
Fêz um esfôrço ai, ai, ai,
E disse: "Abença, papai!"
Fechó os óio e morreu

Esta poesia completa o amigo lê neste mesmo blog em:A MORTE DE NANÃ. Procure em postagens mais antigas.



Miniatura

Xangai - Galope à Beira Mar Soletrado

Cantorias e Cantadores - Renato Teixeira, Eugênio Leandro, Xangai e Cida Moreira [2000] Das noites do sertão ao amanhecer com a viola, das curvas ...
de alfredopessoa13  1 ano atrás  606 exibições



A Morte de Nanã (Patativa do Assaré)A Morte de Nanã (Patativa do Assaré)






Miniatura

A Triste Partida

Videoclip da música A Triste Partida de Patativa do Assaré, interpretada por Luiz Gonzaga e