terça-feira, 15 de novembro de 2022

A ONÇA PINTADA, PEDRO E O CACHORRO LEÃO

 

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CRÔNICAS DO NORDESTE.

Lendas e Causos

Pedro,  de dona Zefinha,   acordou  pela madrugada, o clarão do sol começava a esconder a luz da lua.

A manhã estava fria, céu de abril de um azul profundo , sem mácula, sem uma nuvem sequer no firmamento.

Pedro foi até o terreiro, se espreguiçou, tirou uma raspa  da casca do Juazeiro, limpou os dentes  e passou água no rosto.

Cuidou das 3 cabras e dos cabritos, ordenhou a vaca mãezinha, botou água no pote da cozinha, sentou para tomar seu café  com cuscuz  e um taco de charque assada na brasa do fogão a lenha.

Pedro vivia para a sua mãe, tudo que fazia era  em benefício da genitora. Era um rapaz bonito, sertanejo forte, sadio, trabalhador ao extremo, gentil e muito educado, homem pacato porém de uma coragem acima do normal.

Era  sábado, dia de feira livre no povoado de Pedra Preta. Confins do alto sertão nordestino.

Pedro  perguntou  a sua mãe o  que precisava comprar na feira, pegou o bizaco de caçador, a velha  lazarina, o chapéu de palha, o facão e arribou para Pedra Preta, que distava mais ou menos légua e meia do sítio onde morava.

Chegou à  feira por volta das 10.30h. Comprou os mantimentos , duas bacias feitas de folha  de flandres,  uma Alpercata de couro cru com  solado de pneu, chumbo, bucha, pólvora e espoleta para sua arma de caça e foi tomar uns tragos com uns amigos,  pois ninguém é de ferro,  ele também era filho de Deus. Dizem que, quando o diabo não vem, manda o secretário, parece que isso é verdade .

Nosso amigo já tinha tomado umas três lapadas  de uma cana de cabeça,  das boas, estava um pouco alegre quando deu de vista com uma cabocla cor de jambo muito bonita ,  corpo bem feito e um lindo sorriso  . Os olhares se cruzaram e Pedro ficou animado.

Tomou mais umas duas, sempre de butuca na morena,  quando sentiu um tremendo murro que o jogou ao chão. De pronto levantou pra briga, e, notou que o desafeto estava armado de faca. Deu um passo para trás e se preparou para o pior, só não ia correr do pau,  pois não era macho pra isso.

O cabra correu pra cima  e ele revidou, se atracaram .  Pega e fura ali, murro aqui e acolá, Pedro foi ferido pela faca no braço. Caíram os dois, um por cima do outro, ouviu-se um grito forte e depois o  silêncio…

O problema é que,  quando o namorado da morena, eis aí o motivo da briga,  caiu, o representante do diabo fez a sua estripulia, a faca virou a afinada ponta  e penetrou profundamente no peito do desafeto, atingiu o coração, o mesmo morreu na hora.

Pedro se apavorou, pegou seus piqualhos, sua lazarina  e caiu no oco do mundo caatinga  adentro  por cima de pau, pedra,  espinho e o mais que tivesse pela frente. Só não queria ser preso. Preso não, isso nunca...

Andou na mata fechada o resto da tarde e um bom pedaço da noite,  evitando sempre as moradias  esparsas  do sertão. Se embrenhou o mais que pode no carrasco sertanejo, tinha o sertão na palma da mão.

Parou exausto já tarde, bebeu a água da cabaça , escorou-se  em uma pedra e adormeceu profundamente, ali ninguém ia lhe procurar.

Acordou cedo, como sempre, e deu de cara com uma vista muito bonita. Tinha dormido perto de um córrego e um verde vale  ao pé da Serra. Fez uma pequena fogueira, pegou água na bacia de flandres, ferveu e fez o café.

Quando aconteceu o ocorrido, já tinha comprado os mantimentos, explorou os arredores e decidiu fazer acampamento no local, assim o fez .  Com o passar dos tempos fixou residência.

Depois de uns anos mandou buscar a sua mãe, construiu uma pequena casa de taipa  para os dois e ocupou o vale,  ninguém apareceu para reclamar a posse das terras. Casou com uma moça da vizinhança,  porém não teve filhos.

Possuía um cachorro e  se encheu de amores pelo bicho… era o seu companheiro, guarda costa , ajudante, tudo enfim , o seu  fiel e corajoso amigo,  o nome era Leão, eram verdadeiros irmãos.

Pedro tinha progredido bastante,  era um incansável trabalhador.  Tinha no curral meia dúzia  de vacas, alguns bezerros ,  um bode, uma trinca de cabras e dois cabritos. A sua mulher também era prendada, criava galinhas caipiras, perus, patos e galinhas-d'angola.

Uma bela noite acordou com o latido  do cachorro Leão ecoando para as bandas do curral, levantou, pegou a lazarina e foi ver o que estava acontecendo.

Chegou ao curral, leão estava indócil,  porém no escuro não deu para enxergar o que tinha acontecido, acalmou o cachorro e voltou para casa.

Ao amanhecer foi ao  curral e deu de cara com o acontecido…uma onça pintada apareceu e levou uma bezerrinha. Ficou louco da vida e resolveu de imediato  caçar a bicha, poderia inclusive perder todos os seus animais,  dali para frente a onça poderia fazer morada no seu aconchego.

No outro dia preparou todos os apetrechos, chamou Leão e bateram um longo papo sobre o ocorrido na noite anterior , diga-se de passagem, ele gostava de trocar ideias com seu amigo.

O dia era  sexta feira, todavia tinha um detalhe, era sexta feira santa, um dia sagrado para todos os sertanejos nordestinos. A sua   mulher falou para ele não ir naquele dia, fosse no sábado, era melhor. Pedro estava irredutível, chamou Leão  e partiram para a caçada.

Andou toda a manhã e nada de Leão dá sinal de ter farejador algo. Ao meio dia parou em uma sombra, comeu o farnel que dona  Rita preparou, deu de comer ao amigo e saiu à  procura da pintada.

Andou pouco,  o cachorro deu o sinal de ter farejado algo…foi pé ante pé, ele e leão, e por trás da pedra estava a onça dando de mamar aos dois filhotes. Parou, mirou a espingarda na cabeça da bichana e ouviu o grito…

"Pelo amor de Deus seu Pedro, não me mate não. Tô dando de comer aos meus filhos"

Menino, Pedro largou a lazarina no chão, virou-se e deu uma  carreira   por mais de uma légua, tão em disparada que perdeu as alpercatas e Leão nos seus calcanhares . Ambos  caíram  prostrados debaixo de uma moita  por mais de duas horas.

Quando o Pedro despertou  e ainda ofegante,  olhou para  o cachorro Leão e falou…

"Minha nossa senhora Leão, nunca vi onça falar".

E Leão de pronto respondeu:

"Nem eu"

Eita nordeste bom , tem cada "causo" né?

 

MS(MARCÃO)

SSA, 02/09/2021

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segunda-feira, 14 de novembro de 2022

O VELHO CAVALO

                                             Mangalarga mineiro registrado em Holambra | Clasf animais                                                                   

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Как ослик учился уважать старших - Михаил Пляцковский

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                         A guerrilheira Rousseff e os antolhos de Juan Arias | Ficha Corrida                                                                   

                                                                 O VELHO CAVALO                                                           

                                                                        Sertão do Ceará, 1915 .


1915, um almocreve de meia idade negociava nos cafundós e nos grotões da esturricada Serra do Araripe, divisa do Ceará com Pernambuco. Possuia uma parelha de animais, um belo equino, bom de marcha e um musculoso muar, bom de carga.  Longas eram as distâncias e belos os lugares percorridos na lida diária, o muar para as cargas , o equino para os passeios.

Junto ao patrão, o garboso cavalo sempre nas festas, nos namoros, nas comemorações e nas grandes corridas, era com orgulho que o belo animal desfilava naqueles sertões, bem tratado, bem alimentado, bom capim, boa alfafa, excelente milho e tortas de caroços de algodão, era vida de rei.

Impecáveis arreios e vistosos ornamentos, manta vermelha, sela macia, peitoral ornado com estrela de metal , rédeas e alforjes de couro  de carneiro, rabicho trançado com fio de seda, boqueira e estribos de pura prata, polidos, encerados e bem conservados, vivia época de glórias.

Orgulhava-se quando nas paragens recebia preços e apreços, recebia avaliação, elogios e jamais o cavaleiro pendia para negociação. Era um animal faceiro, elegante, orgulhoso e cheio de brios, na sua garupa as mais belas donzelas e as mais macias das nádegas, era motivo de festas onde chegava com os seus passos, galopes e trotes numa demonstração de força e virilidade , qualidades estas que lhe credenciavam a cruzar semanalmente com uma bela égua ou uma formosa e elegante asinina, assim era o pomposo e pabo cavalo, cheio de garbo.

O muar, coitado, a subir ladeiras e a cortar caminhos, dois a três sacos na pesada cangalha pregada no lombo, cabresto de cordas de croá, rabicho de agave e duas puídas viseiras de couro cru em cada lado da cabeça obstruindo, tapando, abortando, escurecendo e a impedir a visão lateral, no pescoço um pesado chocalho para a sua identificação.

Nos fins de semana , durante o dia , quatro cambitos para o carregamento de lenha e feixes de canas, à noite dois caçuás para o transporte de frutas , garrafas e diversas mercadorias no seu lugarejo. Como pastagem capim seco, algumas relvas , palhas de milhos encontradas nos arredores e nos monturos das casas. Não sabia se vivia para comer e trabalhar ou só teria comida se trabalhasse.

Longas eram as conversas entre os dois animais, o muar piado nas duas patas direitas, triste e a lamentar , porém conformado por lhes sobrar a vida para o trabalho ; o outro , solto pelos terreiros, falante, garboso e risonho; ambos confabulavam sobre as suas vidas, as injustiças e quão ingrata era a vida para um deles, a diferença era exorbitante, era de fazer pena e foi assim durante muitos anos, um sempre sorrindo e a gargalhar, o outro... o outro só Deus para socorrer.

Como o tempo é o pai, o aconselhador e o diluidor dos sofrimentos e a esperança é a mãe de todos os animais, uma década se passou , os dois viventes sempre a dialogar.

Com a falta das chuvas foram escasseando as vendas e aumentando as despesas, motivo mais do que suficiente para o almocreve diminuir os momentos de festas e de alegrias. Primeiro se desfez dos belos arreios, diminuiu a compra de alimentos especiais e como necessitava aumentar o volume das cargas passou a utilizar os dois animais na lida diária, os passeios recreativos do equino passaram a ser coisas do passado.

O belo e orgulhoso equino passou a andar na vala comum , lado a lado com o muar, a sela foi substituída por uma cangalha , um saco de cada lado e o dono escanchado no meio, desta vez contando os passos, pulando grotas, subindo e descendo ladeiras, na ida produtos da lavoura , na volta especiarias para abastecer as bodegas da região: querosene, peixes salgados , açúcar, café e outros mantimentos, com o novo ofício desapareceram as belas éguas, as formosas asininas e os saborosos manjares. O equino passou a sobreviver nos grotões e nos monturos do esturricado sertão.

O muar continuou a sua batalha, agora como coadjuvante, apenas como complemento de cargas, quando o produto era pouco ficava a pastar, a perambular pelas capoeiras à procura de uma relva mais hidratada, vivia a pensar na sua atual e inútil vida. Costas batidas, boca mucha, dentes falhos, amarelados, desgastados e com raias escuras , bicheiras no lombo , espinhaço pelado, cascos rachados e juntas calcificadas, sobrevivia a perambular caatinga adentro. Como era do trabalho, se sentia um inútil. Intediado mergulhou no mundo da tristeza.

O velho equino fazia a vez do muar nas feiras livres dos vilarejos serranos. dois sacos, o dono escanchado no meio da cangalha e o filho na garupa, subia e descia os penhascos do Araripe, já não possuía belas boqueiras de prata.

O rabicho de seda fora substituída por um de cordas a cortar a borda anal, as cilhas, agora de couro cru, com suas grosseiras fivelas a lhes causar mossas na barriga e a traumatizar os bagos aposentados, força era agora a sua maior virtude, força para não sofrer com as pontiagudas esporas que tangenciavam os órgãos genitais, muitas vezes ferindo-os quando desacertava os passos.

A vida endureceu para o faceiro e garboso animal , trouxe à memória os momentos de bonança ao lado do zeloso patrão nos tempos das vacas gordas, das chuvas, das farturas e dos grandes bailes. Olhava para os lados e não mais enxergava os pomares verdejantes do caminho, pois os tapa olhos laterais do muar, agora encontravam-se na sua cabeça, vedando os seus olhos, limitando a visão .

O velho cavalo mais participava dos acontecimentos e nem das quermeces , passou a ser um animal de cargas, puramente para comer e para o trabalho, não tinha direito a pensar. Seguia a dura e pétrea regra, obediência sem contestação, vivia silente aos puxavancos do puído cabresto que lhe cortava as moídas narinas, do rabicho que magoava o tronco da calda e a borda anal, das cilhas que feriam a barriga, as virilhas e machucavam os inúteis bagos, o animal vivenciava a mais espúria entidade criada pelo dominador, o mais baixo golpe sofrido por um ser vivo, obedecer sem contestar, vivia a mais degradante forma de vida, a escravidão.

Os três foram minguando. O esquálido muar sem trabalho,  esquecido, menosprezado , deprimido e abandonado foi requisitado pelos produtores de charque. O faceiro equino, agora não mais belo, sem a força da juventude, com a estima em baixa caiu no ostracismo, calda imóvel a proteger o fim dos intestinos, esfíncter este que sofria compressões musculares periódicas ao menor grito. Relinchos abafados, olhos sempre para o chão, dentes desgastados, puídos e rentes às gengivas, musculatura minguada, pele áspera e pelos ressecados. Sem força, sem brio e sem pernas foi substituído por sangue novo, mergulhou na solidão, não mais requisitados ao trabalho se embrenhou nos carrascos e nunca mais soube do seu paradeiro, sumiu.

O cavaleiro em crise e em desacerto envelheceu. Sem os seus amigos e provedores animais , com a chegada do progresso , dos bulidos das motocicletas e dos motores mergulhou no esquecimento e na solidão da vida.

Os dias ficaram mais longos, a falta de afazeres lhe consumiram os brios e a cidadania, caiu no esquecimento. De resto, com o exodo e à procura da sobrevivencia , os deseducados filhos, os sofridos netos e os demais descendentes migraram para alimentar, como lenhas verdes,  as grandes metrópoles, ora na construção civil , ora na desconstrução da cidadania e ora a forjar uma nação servil, uma nação sem rumo, sem prumo e sem paradeiro . Em terras estranhas batalham , lutam e sobrevivem. Muitos mergulham nos mares dos desvios de condutas.

As três vidas após sangrentas lutas ficaram no caminho . O país, alheio aos seus filhos, continua condescendente ao abandono dos mesmos , sem uma instituição sustentada que lhes garanta o futuro, que proporcione vida digna aos que trabalham ao extremo e não vaguem pelos valados até o resto da vida. Basta vê os milhares de trabalhadores do ontem, os abandonados do hoje  e do amanhã.

Hoje nos diversos grotões da nação ainda vagam muitos almocreves  à espera do mesmo futuro.

O Mundo gira e tudo se repete, mostrando que na natureza nada se constrói, tudo se transforma. Apenas o tempo, como diluidor universal, é quem dita e conduz o destino de cada um.

Assim foi a vida do velho cavalo,  do forte burro ,  do almocreve e o caminho dos seus descendentes. Onde está o futuro?

Iderval Reginaldo Tenório 2010

domingo, 13 de novembro de 2022

A história da educação feminina

 

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A história da educação feminina
07 Março 2019 | Por Fernanda Fernandes
   

Hoje, a presença feminina é marcante em todos os níveis de formação educacional, mas nem sempre foi assim. As mulheres ingressaram na escola tardiamente e com formação voltada para os cuidados com o lar e a família.

De acordo com as leis portuguesas, o sexo feminino fazia parte do imbecilitus sexus, ou sexo imbecil, uma categoria à qual pertenciam mulheres, crianças e doentes mentais.

Essa ideia persistiu no Brasil Colônia, onde também eram comumente declamados versinhos como: “mulher que sabe muito é mulher atrapalhada, para ser mãe de família, saiba pouco ou saiba nada”; "a mulher honrada deve ser sempre calada"; e “mulher que sabe latim não tem marido, nem bom fim” – muitos dos quais encontrados na literatura de escritores portugueses do gênero masculino. 

Mesmo já no século XIX, Charles Darwin, por exemplo, acreditava que as mulheres eram intelectualmente inferiores – opinião semelhante à de outros homens biólogos na época.

Jesuítas: os primórdios da educação brasileira

As escolas do período colonial foram constituídas, inicialmente, pela ordem dos padres jesuítas. Localizadas nas vilas e cidades, eram voltadas para o público masculino, visando à formação de uma elite colonial culta e religiosa. Tanto as mulheres brancas, ricas ou não, como as negras escravas e as indígenas não tinham acesso à leitura e à escrita.

A primeira reivindicação pela instrução feminina no Brasil partiu de um indígena, que pediu ao padre Manoel de Nóbrega que ensinasse sua mulher a ler e a escrever. Os indígenas estranhavam a diferença de oportunidades educacionais entre homens e mulheres, visto que estas eram consideradas companheiras.

O padre sensibilizou-se com o pedido, já que os jesuítas tinham o desejo de fundar recolhimentos para as mulheres no Brasil. No entanto, a ideia não se concretizou por ter sido considerada ousada demais pela rainha de Portugal, Dona Catarina.

Apesar disso, alguns indígenas conseguiram burlar as regras. A autora Arilda Ribeiro afirma ter encontrado registros de que Catarina Paraguassu, também conhecida como Madalena Caramuru, teria sido não apenas a primeira indígena, mas a primeira mulher a aprender a ler e a escrever, tendo feito uma carta de próprio punho ao padre Manoel de Nóbrega em 1561.

As mulheres ficaram excluídas do sistema escolar estabelecido na colônia. Quando muito, podiam educar-se na catequese. Na segunda metade do século XVII, surgiram conventos no Brasil, cujas “escolas” para moças ensinavam, sobretudo, costura e bordado (“trabalhos de agulha”), boas maneiras e muita reza para “afastar maus pensamentos”.

Esses locais também eram usados como prisões por homens que tivessem muitas filhas e temessem a divisão de suas propriedades com futuros genros; por maridos traídos ou pelos que tinham a intenção de trair suas esposas; além de irmãos que, pensando na herança familiar, preferiam não repartir os bens.

Até então, a educação feminina seguia restrita aos cuidados com a casa, o marido e os filhos.

historia da educacao feminina 2A inclusão limitada das mulheres na escola

A implementação de uma série de reformas estabelecidas por Sebastião José de Carvalho, futuro Marquês de Pombal, entre 1750 e 1777, na metrópole e nas colônias portuguesas, culminou com a expulsão dos jesuítas (1759). Assim, a educação passou da mão destes para o Estado.

A reforma educacional pombalina representou uma primeira tentativa de transformação da instrução feminina, embora pouco tenha mudado na prática. Com Pombal, oficialmente, as mulheres tiveram permissão para frequentar salas de aula (separadas por sexo); e o magistério público surgiu como mercado de trabalho para elas, que poderiam dar aulas apenas para moças.

historia da educacao feminina 3Pela reforma, foi proibido o ensino particular sem a permissão da recém-criada Diretoria Geral de Estudos; o conteúdo do ensino e os livros didáticos passaram a ser controlados; e foram criadas as aulas régias, que marcaram o surgimento do ensino público oficial e laico.

Com a vinda da família real portuguesa, em 1808, a educação feminina, de forma geral, continuou a mesma. A preocupação era que as mulheres soubessem cuidar do lar e pudessem aparecer em público sem causar vergonha ao marido ou aos pais.

Por influência dos estrangeiros que chegavam, surgiu o interesse e a procura, por parte das famílias, por professoras particulares, que, geralmente, ensinavam, simultaneamente, meninos e meninas da família.

Diferentes estabelecimentos no centro da cidade, destinados à educação feminina, apareciam em anúncios na Gazeta do Rio de Janeiro, alguns dirigidos por inglesas e francesas. A portuguesa Maria do Carmo da Silva e Gama anunciava seu estabelecimento para “filhas de boas famílias”, em 1813, por exemplo.

Durante o período do Império Brasileiro, ainda que as mulheres tenham começado a ter acesso à instrução das primeiras letras, eram desobrigadas de cursarem o ensino secundário, cuja função era preparar os homens para o ensino superior.

A Constituição de 1824, a primeira do Brasil, propunha o ensino primário gratuito extensivo a “todos” os cidadãos, embora sem considerar como tal as populações negra e indígena. Entretanto, a primeira legislação específica sobre o ensino primário, após a Independência, foi a lei de 15 de outubro de 1827, conhecida como Lei Geral, que marcou a criação de escolas de primeiras letras (hoje, Ensino Fundamental) em todo o país – e foi referência para a escolha da data comemorativa do Dia do Professor.  

 
Educadora mineira, Maria Guilhermina Loureiro de Andrade fundou na década de 1870, o Colégio Andrade (RJ), para meninas. Depois de estudar a metodologia dos jardins de infância, em Nova York, reestruturou o colégio que, em 1888, passou a oferecer um jardim de infância e um curso de formação de jardineiras – professoras de classes infantis –, considerado o primeiro do país (Foto: Jornal do Brasil, 20/5/1934)

A lei tratou dos mais diversos assuntos, como a remuneração dos mestres e mestras, o currículo mínimo, a admissão de professores e as escolas para meninas. As mulheres, no entanto, seguiram sendo discriminadas: não tendo acesso a todas as matérias ensinadas aos meninos, sobretudo as consideradas mais racionais, como a geometria, e deveriam aprender as “artes do lar”. 

Com relação ao pagamento, apesar de a Lei Geral prever igualdade para mestres e mestras, um decreto de 1831 fez com que, na prática, as mulheres ganhassem menos. Isso porque os governos provinciais tinham a autorização de contratar candidatos não aprovados em concurso com a condição de pagá-los salários menores; e vale lembrar que não havia escolas de formação para meninas, além de elas não terem aulas de todas as matérias ministradas nas instituições de primeiras letras. 

Em 1835, foi criada a primeira Escola Normal do país, em Niterói. No entanto, não foram admitidas matrículas de moças.

O início das classes mistas e um novo campo para o magistério

A educação feminina no Rio de Janeiro contou com a dedicação de vários grupos de religiosas. Em 1854, por exemplo, começou a funcionar o Colégio Imaculada Conceição, mantido pela Companhia das Filhas de Caridade de São Vicente de Paula, voltado para a educação das filhas da elite carioca e comprometido com os rígidos padrões morais da Igreja Católica Romana.

A partir de 1870, foram fundadas escolas protestantes, especialmente metodistas e presbiterianas, que quebraram o monopólio religioso do catolicismo e, pela primeira vez no Brasil, reuniram alunos de ambos os sexos numa mesma classe.

 

Nessa época, surgiram nas províncias escolas públicas mistas, e as professoras receberam autorização para lecionar para meninos de determinada idade (geralmente entre 12 a 14 anos) – o que abriu um novo campo ao magistério feminino.

As moças foram liberadas para ingressar nos cursos normais, e o trabalho feminino ganhou força no final do século XIX, tendo em vista a necessidade de um número maior de trabalhadores para suprir a crescente demanda.

Aliado a isso, foi construído o discurso da vocação natural da mulher ao magistério. Médicos, pais, clero e governantes acreditavam que elas eram dotadas de ternura e outras qualidades “naturais” para os professores exercerem sua profissão.

Cabe salientar que o privilégio dos cargos superiores da instrução pública, postos de comando, ainda era dos homens. Embora, até 1898, a regulamentação da escola pública não mencionasse critérios de gênero para a direção de uma escola, por exemplo, pareceu ter havido um acordo entre autoridades do governo e da administração do ensino ao elegerem, inicialmente, apenas professores homens, reforçando as desigualdades de gênero nas relações profissionais.

Por volta de 1910, as mulheres começaram a dominar o mercado de trabalho do ensino elementar, enquanto os homens seguiam dominando o nível secundário. No entanto, mesmo nas primeiras décadas do século XX, havia a exigência do celibato para que as mulheres pudessem exercer a função de professoras do ensino público. Segundo o Estatuto da Instrução Pública, as professoras tinham que ser solteiras ou viúvas. Se casassem, perderiam o cargo.

Mulheres no ensino profissionalizante e no ensino superior

Em 1881, foram inauguradas as classes profissionalizantes para o sexo feminino no Liceu de Artes e Ofícios no Rio de Janeiro, apenas 24 anos depois de sua fundação. Os cursos, porém, ainda reforçavam os papéis tradicionalmente vinculados às mulheres. 

Educadora e ativista política, Armanda Álvaro Alberto (1892-1967) lutava por uma educação pública, gratuita, laica e direcionada às necessidades de todos; e pela emancipação das mulheres, tendo tornado-se a primeira presidente da União Feminina do Brasil (Foto: Divulgação/ Núcleo de Estudos Visuais em Periferias Urbanas – NuVISU)

Em 1897, era criado, também no Rio, o Instituto Profissional Feminino que, após 15 anos, acrescentava Orsina da Fonseca ao seu nome (em homenagem à esposa do presidente Hermes da Fonseca).

Com a Lei Nº 1997, de setembro de 1918, foi autorizada a separação entre internato e externato, sendo este transferido para novas instalações no ano seguinte e passando a chamar-se Escola Profissional Paulo de Frontin. Lá, eram oferecidos o Curso Comercial, com as disciplinas de estenografia (taquigrafia), datilografia, contabilidade e línguas; e o Curso Profissional, com as oficinas de chapéus, bordados, costura, flores, desenho e modelagem. Durante décadas, essa instituição foi uma das principais referências no ensino profissionalizante para moças fluminenses. 

O ingresso nos cursos superiores foi mais uma luta enfrentada pelas mulheres. Apenas em 1879, o governo imperial permitiu, condicionalmente, a entrada feminina nas faculdades. As candidatas solteiras deveriam apresentar licença de seus pais; já as casadas, o consentimento por escrito de seus maridos.

Embora oficialmente aceitas na graduação, o número de mulheres inscritas para tal foi irrisório por muito tempo. As razões para isso vão desde o preconceito da sociedade até a impossibilidade de elas frequentarem os melhores cursos preparatórios, dificultando a entrada no ensino superior.

historia da educacao feminina 5O cenário atual da educação feminina

Após conquistarem o acesso aos cursos superiores, as mulheres seguiram progredindo no campo da educação, tornando-se mestras e doutoras em diferentes áreas do saber. Durante a segunda metade do século XX, a presença delas cresceu expressivamente na educação, tanto como força de trabalho, quanto na participação em todos os níveis de formação.

“A década de 90 marca a virada das mulheres brasileiras, que ultrapassaram os homens em nível de escolarização. A proporção de pessoas analfabetas já é significativamente menor entre as mulheres do que entre os homens em todos os grupos com até 39 anos de idade. As mulheres também superaram os homens em número médio de anos de estudos e, nas salas de aula, reinam absolutas: 85% dos 1,6 milhão de professores da educação básica em todo o país são do sexo feminino”, diz um levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) do ano 2000.

Segundo esse relatório do Inep, o fator de maior influência para essa virada das mulheres sobre os homens em nível de escolarização foi o ingresso das mulheres no mercado de trabalho, o que as estimulou a buscar um melhor nível de escolaridade, inclusive como forma de compensar a discriminação salarial de gênero.

Observando dados mais atuais, o Censo da Educação Superior de 2016 apontou que as mulheres representavam 57,2% dos estudantes matriculados em cursos de graduação. Já na docência, segundo o mesmo levantamento, elas são 45,5%.

Entre os professores da educação básica, elas são maioria: representam cerca de 80%, segundo Censo Escolar 2018.

No início do século XX, a educação feminina ainda era voltada para as necessidades domésticas e o currículo destinado às mulheres relacionava-se aos objetivos do Abecedário Moral (1585), obra do escritor português Gonçalo Fernandes Trancoso (Imagem: GEA/ MultiRio).

Fontes:

BNDigital – Biblioteca Nacional.
Portal MAPA – Memória da Administração Pública Brasileira (Arquivo Nacional).
Site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep.
Site do projeto Mulher 500 Anos Atrás dos Panos (Rede de Desenvolvimento Humano - REDEH).
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RIBEIRO, Arilda Ines Miranda. Mulheres Educadas na Colônia. In: LOPES, Eliane Marta Teixeira; FILHO, Luciano Mendes de Faria; VEIGA, Cynthia Greive (Orgs.). 500 Anos de Educação no Brasil. 2. ed. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2000.
RIBEIRO, Arilda Ines Miranda. Mulheres e educação no Brasil-Colônia: histórias entrecruzadas. Grupo de Estudos e Pesquisas "História, Sociedade e Educação no Brasil", Faculdade de Educação – Unicamp. 
SCHUMAHER, Schuma. Um Rio de Mulheres:a participação das mulheres fluminenses na história do Estado do Rio de Janeiro/ Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil – Rio de Janeiro: REDEH, 2003.
STAMATTO, Maria Inês Sucupira. Um olhar na História: a mulher na escola (Brasil: 1549 – 1910). Programa de Pós-Graduação em Educação – UFRN. II Congresso Brasileiro de História da Educação, 2002