CORRUPÇÃO É COISA ANTIGA
AUTORIDADE É AUTORIDADE
Relata seu Quincó, que em 1956, quando tirou a sua primeira carteira de motorista deparou-se com a seguinte cena .
Informou que no sul do Ceará e municípios pernambucanos da Serra do Araripe ( Exu, Bodocó e Ouricuri) era a cidade do Crato a metrópole regional , era lá onde se encontrava o escritório do Departamento Nacional do Trânsito .
Todos da região tinham que ir ao Crato tirar a sua carteira de habilitação, eram verdadeiros dias de festas e que esquentavam o comercio do Cariri , estes expedientes eram realizados de seis em seis meses.
Nestes dias, despachantes vindo de Fortaleza, realizavam duas ou três perguntas , a avaliação era oral.
Era dado o veredicto na hora , os reprovados tinham uma nova chance no ultimo dia , obrigando os visitantes a permanecerem no Crato a consumir as suas deliciosas comidas, visitar o Padre Cícero , ocupar as suas pousadas e encontrar um padrinho influente na região para a repescagem final, quase ninguém saia reprovado .
Semanas depois o aprovado recebia a sua carteira vindo da Central Nacional do Transito, com carimbo, retrato e tudo que aumentasse a sua autoestima. Afinal de contas era possuidor de um documento importante para tocar a vida sem susto em todo o território Nacional, agora sem sombra de dúvidas era um cidadão de respeito.
Circulava naquela época umas valiosas notas de 1000 cruzeiros lançadas em 1943 na era Vargas , emitidas pelo American Bank Note Company.
Só a partir de 1961 a Casa da Moeda do Brasil iniciou a emissão de suas cédulas, tinha que ter café no bule para possuí-las .
Conta seu Quincó, que ele, seu genro e o seu irmão mais velho foram a este evento tirar as suas carteiras . Neste dia encontrava-se na sala um velho Cratense de 75anos. Senhor analfabeto , óculos fundo de garrafa e que mancava de uma perna, era um grande produtor de rapadura, o maior comprador de farinha de mandioca dos pequenos agricultores, um respeitado fazendeiro e dono de um grande comércio no Crato.
Todos na mesma sala à espera de serem chamados pelas autoridades letradas da Capital do Estado.
Não existiam exames médicos e nem teste de rua, uma entrevista era o necessário.
O despachante chamava um por um e fazia as perguntas, o candidato respondia e recebia o veredicto na hora , os reprovados tinham uma nova chance no último dia , a carteira chegava 30 dias depois.
O primeiro foi o seu cunhado Lemilton, o mais novo, era uma carteira profissional , foram muitas as perguntas, mais de cinco, no final foi aprovado, depois seu Quincó, três perguntas, aprovado, depois o seu irmão, duas perguntas simples , aprovado , por último o velho Cratense de muita influência no município.
Não precisa dizer que logo na chegada o velho foi apresentado ao despachante pelo prefeito e exagerado nas suas qualidades e posses, o despachante de imediato abriu os olhos, coçou as mãos e engoliu meio litro de saliva .
O despachante o chamou até a mesa , ficou sentado na sua frente e perguntou:
"Seu Di Assis, quantos motores tem um Jeep ?"
O velho parou, matutou prolongadamente, pensou, coçou a cabeça, olhou para cima, alisou a branca barba, ajeitou os óculos fundo de garrafa , botou a mão no bolso, tirou um maço de dinheiro e respondeu:
"Quatro notas de mil cruzeiros e um saco de feijão."
O despachante na bucha e em tom alto para todo mundo ouvir saiu com esta:
"Oh velho macho pra entender de mecânica, aprovado seu Di Assis, aprovado."
Salvador, 01 de Março de 2012
Iderval Reginaldo Tenório
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