quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

DOMINGUINHOS E LUIZ GONZAGA DOIS GÊNIOS DO NORDESTE

Mais um Capítulo da MPB-Luiz Gonzaga e Dominguinhos-Puro Nordeste, Puro Sangue.


Luiz Gonzaga e Dominguinhos

Mais um Capítulo da MPB

Puro Nordeste, Puro Sangue.

Dominguinhos  nasceu em Garanhuns –Pe, no ano de 1941, cidade bela, aconchegante e de clima serrano, frio . Filho de uma família de dez irmãos, o pai um simples agricultor de subsistência e meeiro , cultivava em terras alheias e  dividia a produção meio a meio com o proprietário da terra.
O pai além de afinador de fole tocava uma sanfona de 08 baixos, era um fole pequeno, simples,  de madeira e de lona encerada da marca Veado, o som era cheio e  harmônico.
Aos 08 anos de idade o Dominguinhos e mais dois irmãos mais velhos, o Morais e o Valdomiro já tocavam nas feiras livres e nos botequins , já ajudavam no sustento da família.
Em 1949 o Rei do Baião Luiz Gonzaga foi homenageado em Garanhuns e para ele fizeram um jantar, uma grande festa , que para a população  que conhecia as dificuldades  da região era um verdadeiro banquete. Os organizadores impressionados com o talento do Dominguinhos e os irmãos acharam que as três crianças deveriam tocar e cantar para o rei Gonzaga, oito, nove  e doze anos respectivamente, Dominguinhos era o mais novo.
Cantaram e arrasaram, o Luiz ficou apaixonado pelo toque da sanfoninha de madeira, uma oito baixo que se agigantou nos toques sutis do menino prodígio de Garanhuns. No fim da apresentação o homenageado pegou um maço de 300 mil reis, um dinheirão naquela época e doou ao Dominguinhos, o pequeno e pançudo sanfoneiro mirim. Na mesma ocasião o chamou e disse, ”MENINO QUANDO FOR A RIO EM QUALQUER ÉPOCA ME PROCURE, EU QUERO VOCÊ POR PERTO DE MIM” e lhe forneceu o endereço, o Luiz tinha um coração do tamanho do universo.
O Dominguinhos continuou a sua labuta sertaneja, com13 anos de idade foi para o Rio de Janeiro onde o seu irmão mais velho, o Morais, já morava, lá o sanfoneiro antes do estrelato foi ajudante de pedreiro, pedreiro,  tintureiro e entregador de roupas das tinturarias . Com o aperto no nordeste sofrido, o pai, o Mestre Chicão da Sanfona, também viajou para o Rio, ficaram os três filhos e o pai, quatro retirantes da seca, fruto do êxodo rural, num quarto na cidade de Nilópolis. Num dia de muitas dificuldades e com o acanhamento peculiar do nordestino em terra alheias,  o Dominguinhos tomou coragem e resolveu procurar o Rei Luiz na sua casa, tinha o seu endereço e tomou o rumo em busca de guarida, muitas eram as dúvidas e preocupações, será que seria recebido pelo mestre, pelo consagrado cantor do Exu, o Rei do Baião? Será que teria pelo menos a chance de contar como estavam no Rio, ele e os seus parentes, apertados num quartinho na cidade de Nilópolis vivendo de pouca renda?
Bateu na porta e emocionadamente foi recebido de braços abertos, neste dia foi uma festa, tanto para ele  como  para o Rei Luiz e de lá só saiu quando ficou famoso, continuou ao lado do seu mentor pro resto da vida, seu Luiz no primeiro dia do reencontro lhe presenteou com uma bela sanfona de oitenta baixos, com esta Sanfona o Dominguinhos tirou o pé da lama, ajudou toda a sua família e nunca mais conheceu a fome ,  com a  bendita sanfoninha presenteada pelo mestre o menino decolou, praticamente acompanhava todas as estrelas e ícones  da época como Cauby Peixoto, Nelson Gonçalves, Marlene, Emilinha Borba, Ângela Maia e outros famosos .
Naquela época o Rei do baião possuía em casa um pequeno estoque de sanfonas, para uso e para presentear os novos talentos , principalmente os oriundos do árido nordeste,  tanto que também foi assim   com o meu amigo e conterrâneo Waldonys lá de Fortaleza. A sua casa era um verdadeiro gabinete musical, uma verdadeira casa de espetáculo pessoal onde ensaiava, cantava e se divertia, ajudava a todos que o procurava. A casa do Rei Luiz albergava todos os artistas do Norte e Nordeste que procurava apoio, era um referencia, eram ajudados um a um , muitos foram os  artistas que beberam da água do velho do baião, Marinez, Abdias, Genival Lacerda, João Silva( o seu maior parceiro e compositor, Nem se dispidiu de mim, Pagode Russo, Tá Danado , Sanfona Choradeira e Viva Meu Padim),  Zito Borborema, Jackson do Pandeiro, Severo, Osvaldinho, Jacinto Silva, Osvaldo Oliveira, o menino Waldonys  e todos os outros que  explodiram no forró e no baião, o Luiz era um acolhedor, o Rei era um visionário , sabia que tinha   que cuidar com muito carinho do seu reinado. A sua casa era uma verdadeira creche para os neófitos músicos e tocadores nordestinos , foi o padrinho dos milhões de sofredores nordestinos que procuravam abrigo no sul e o responsável pelo pão de cada dia de milhões de profissionais  por este Brasil afora e nunca deixará de ser o grande provedor.
Brasil olhe a garra , a força e a importância destes dois brasileiros de fibra, Luiz Lua Gonzaga o rei do Baião e o Dominguinhos o vice rei. O Luiz sempre foi o Rei e Dominguinhos o ajudou a amansar a sanfona e pulverizá-la por este Brasil afora, todos os sanfoneiros do Brasil afirmam, Luiz é o meu eterno rei e o Dominguinhos o meu eterno professor. Viva o baião, acorda Brasil, muitos sanfoneiros ainda iram passar por este infinito território musical, eu sou baião, baião, baião e haja baião, muitos brasileiros viveram, vivem e viverão de sua lavra.
O Dominguinhos virou o seu maior amigo e vice-versa , Luiz Gonzaga e Dominguinhos dois homens do bem. O seu maior discípulo não decepcionou , seguiu a mesma trilha do mestre, passou também a apadrinhar muitos filhotes do forró e do baião que hoje perpetuam com maestria a sua obra. Waldonys meu irmão aquele abraço, Marquinho filho de Marinez e de Abdias meus respeitos e muita força, aquele abraço.
Iderval Reginaldo Tenório


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