Queridos leitores, a Bahia além de ser uma terra abençoada e receber de braços abertos todas as mentes que aqui procuram abrigo, possui talentos do mais alto kilate, da mais alta cultura e que faz da Bahia esta TERRA ABENÇOADA POR DEUS E ADMIRADA PELO MUNDO. Vivam o que diz o grande Fernando Guerreiro. ISSO É CULTURA E DA BOA.
O consagrado diretor teatral Fernando Guerreiro fala ao SalvadorcomH
Entrevistas
Por Wallace Oliveira
Fotos: Maíra Lins e Divulgação
Salvador, 11/03/2011 – A dramaturgia baiana é historicamente reconhecida por produzir grandes atores e diretores. Nomes consagrados, como os de Martim Gonçalves, Othon Bastos, Nilda Spencer, Dias Gomes e José Possi Neto (diretor paulista que dirigiu a Escola de Teatro da Ufba) somam-se a outros mais recentes mas não menos consagrados, a exemplo de Lázaro Ramos, Wagner Moura, Aninha Franco, Márcio Meirelles, Rita Assemany e Frank Menezes, só para citar alguns.
Dentro dessa relação estelar, um nome jamais poderá ser esquecido: o do diretor teatral Fernando Guerreiro. E se tem alguém que faz jus ao nome, esse alguém é ele. Apontado por muitos como o responsável pela popularização, retomada e visualização nacional do teatro baiano nos anos 90 - com a direção de peças de repercussão nacional, a exemplo de A Bofetada, Oficina Condensada e a 1ª montagem de Os Cafajestes -, o guerreiro Fernando resiste e insiste na sua incansável aposta pela arte dramática na Bahia. Além de ter abocanhado vários prêmios importantes ao longo da carreira, Guerreiro já dirigiu atores nacionalmente consagrados (a exemplo de Wagner Moura, Osvaldo Mil, Fábio Lago e Daniel Boaventura), sendo considerado o “descobridor” de muitos talentos.
Atualmente ele acumula a direção do espetáculo “Pólvora e Poesia”, de autoria do global Alcides Nogueira (autor das novelas Rainha da Sucata, A Próxima Vítima, Deus nos Acuda e Ciranda de Pedra, dentre muitas outras) com a apresentação do programa “Roda Baiana”, que vai ao ar de segunda à sexta-feira, às 13h., pela rádio Metrópole.
Em entrevista objetiva e exclusiva concedida ao SalvadorcomH, Guerreiro fala sobre o seu principal alimento: o teatro.
SalvadorcomH - Há mais de 30 anos você faz teatro na Bahia. De lá para cá, o que mudou na cena teatral baiana? Acha que estamos evoluindo?
Fernando Guerreiro - Aconteceu uma mudança radical, principalmente no que diz respeito à profissionalização dos artistas e técnicos. Para você ter uma ideia , quando comecei, uma peça ficava em cartaz no máximo 2 meses, a maioria dos atores tinha outras profissões, só existiam 3 teatros na cidade e a figura do produtor não existia. O teatro evoluiu, se profissionalizou, os resultados começaram a ficar mais sofisticados e bem acabados. Alguns atores passaram a viver só de teatro, sem outra ocupação.
SalvadorcomH - Para muitos, você é o responsável pelo sucesso de público e crítica do teatro baiano nos anos 90. Graças a esse trabalho, a Bahia "exportou" nomes hoje consagrados, como Vladimir Brichta, Wagner Moura e Lázaro Ramos. Temos manancial para fazer durar aquele momento?
Fernando Guerreiro - Sempre falo que o movimento teatral é cíclico, com momentos de profunda criatividade e sucesso e outros de ressaca e recesso. Nos anos 2000, entramos numa fase muito ruim: produções fracas, pouco dinheiro circulando, público preferindo comédias vulgares e atores medianos. Mas sinto, desde o final de 2010, que começamos a desenhar uma discreta retomada. Vamos aguardar!
SalvadorcomH - A arte dramática baiana sempre foi recheada de grandes talentos - de Glauber Rocha a Othon Bastos, perpassando por Regina Dourado e, atualmente, pelos nomes citados na pergunta anterior. Somos um “celeiro cultural” e não é apenas na música. Paralelo a isso, como vê a política cultural na Bahia nos últimos anos? Do Democratas ao PT, o que foi feito de bom e o que deixa a desejar ?
Fernando Guerreiro - Vou falar do PT. Márcio Meirelles avançou no sentido da reestruturação da política cultural, com avanço na democratização do acesso a cultura. Mas falhou ao não criar uma política de apoio e suporte aos profissionais que vivem de arte, os grandes responsáveis pela revolução na década de 90.
SalvadorcomH - O fato de Salvador, terceira capital mais populosa do país, carecer de um teatro com 5.000 lugares, por exemplo, reflete a nossa carência econômica e educacional? Qual a sua opinião sobre a oferta de espaços teatrais em Salvador e na Bahia?
Fernando Guerreiro - Estamos relativamente bem servidos. O problema é que faltam políticas de barateamento das pautas e construção de espaços que fujam do tradicional formato de palco italiano. O Espaço Cultural da Barroquinha, por exemplo, foi escolhido para encenarmos Pólvora e Poesia exatamente por nos dar esta liberdade. Em Pólvora temos cenário no estilo do teatro grego.
SalvadorcomH - Salvador perdeu posição econômica desde que deixou de ser a capital do Brasil. Essa transferência do pólo político para o Sudeste acabou por relegar-nos ao posto de periferia econômica. Com a cultura, bem ou mal, continuamos produzindo e até hoje trazemos os holofotes para a nossa direção. Na sua opinião, é possível que a Bahia supere a carência de investimentos na política cultural, mesmo sem deixar de ser periferia econômica do país?
Fernando Guerreiro - Ao meu ver criatividade sem educação e sem recursos se esgota em si mesma. Precisamos reduzir as diferenças regionais e os níveis de pobreza do nosso estado para assim pensarmos em manutenção mais igualitária para a cultura.
SalvadorcomH - Você dirigiu, em 2001, um programa na TV Bahia, o "Arerê Geral", focado em axé music. Por que o programa acabou?
Fernando Guerreiro - Foi obrigado a mudar de horário por conta da grade nacional e então o programa não funcionou às 11 da manhã, horário tradicionalmente voltado a crianças e adolescentes.
SalvadorcomH - Você gosta de axé music? Se sim, quais os cantores que mais lhe agradam e por quê?
Fernando Guerreiro - Acho o conceito reducionista e preconceituoso. Da música baiana produzida nas últimas décadas, destaco o talento de Carlinhos Brown, a competência de Daniela Mercury e o carisma e poder de comunicação de Ivete Sangalo.
SalvadorcomH - "Pólvora e Poesia" é o seu mais recente trabalho no teatro. Como surgiu esse projeto, desde a seleção dos atores até a escolha do local (Espaço Cultural da Barroquinha)?
Fernando Guerreiro - Talis Castro (ator de Pólvora e Poesia) queria montar um texto e existia um desejo de dividir um projeto teatral comigo. Mário Dias me apresentou o texto. Gostei e o apresentei a Talis, que o adorou e resolveu produzir. Daí fomos agregando as outras pessoas da equipe e partimos para os ensaios. Sempre tive vontade de trabalhar na Barroquinha e achei a cara do texto. O resultado foi um grande acerto.
SalvadorcomH - O texto de "Pólvora e Poesia" é de Alcides Nogueira, autor de várias telenovelas da Globo. Há uma pretensão sua em ir para a Globo também?
Fernando Guerreiro - Se rolar um projeto alternativo, criativo, posso pensar no caso. Mas não é minha prioridade.
SalvadorcomH - Seguindo ainda a linha "nostradâmica", aponte: o que ainda irá "acontecer" ao teatro baiano? Quais os nomes e as peças que têm tudo para brilhar até fora da Bahia?
Fernando Guerreiro - Como já falei anteriormente, acredito numa retomada e aposto em Fernanda Júlia e outros diretores que estão aparecendo na cena teatral. Pessoalmemte, Pólvora e Poesia é um texto que acredito bastante, com atuações marcantes. Não à toa estamos levando o espetáculo para mostrá-lo em meio ao Festival de Curitiba. Espero que tenhamos êxito na empreitada.
Na foto acima, Durval Lelys e os radialistas Andrezão Simões, Fernando Guerreiro e Jonga Cunha, do Roda Baiana
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