A
LONGEVIDADE DA VIDA
Consulta médica para um cidadão de 80 anos
Como de costume o doutor Zezinho, antes da
consulta, encaixa umas palavras com o seu paciente. Aborda sobre a vida, o
quanto o mesmo já viveu e o porquê dos sintomas apresentados. Explana que não
poderia ser diferente, principalmente se o paciente já ultrapassou a barreira
dos setenta.
Inicia informando que o seu quadro não se trata de
doença e sim da evolução natural do ser humano. Não existe a imortalidade material, todos os órgãos envelhecem e vão
perdendo o vigor funcional, é dos acordos firmados com a natureza.
Pede ao mesmo que conte, nos dedos, quantos dos seus amigos de infância
estão vivos e sadios, quantos já se
foram. Quantos carros, motores, aviões, geladeiras e televisores
funcionam após os setenta anos
sem parar um único dia. Quantos cavalos,
vacas, cães, pássaros, gatos, bois e jumentos vivem até a sua idade
com tanta lucidez. Quantas calças, sapatos, camisas, panelas, cintos, canetas e
outros objetos ele possui, adquiridos na sua juventude, e que ainda funcionam, o
paciente de imediato sente um alívio e esboça um sorriso. Neste momento o Dr.
Zezinho inicia a sua consulta médico social, primeiro explana sobre a preciosidade da
vida e da resistência do corpo humano.
Informa que aos oitenta anos, a idade do seu paciente, não existe
um único cidadão no mundo que não use óculos, que não tenha desgaste dentário e
que sexualmente, seja de longe, comparado com um menino de 20 anos. Relata que a sua musculatura não é mais a mesma, os
cabelos não têm mais os pigmentos que os colorem, os ouvidos não escutam com tanta precisão e a sua voz não alcança os
graves e os agudos de 50 anos atrás.
O doutor
Zezinho relata, cientificamente, que o coração de um humano bate 70 vezes por minuto, 4200
por hora, 100 mil vezes por dia, 3 (três milhões) por mes e 36 milhões por ano, em 10 anos 360 milhões de batimentos, sem interrupção e sem
descanso. Para uma pessoa de 80 anos, o músculo cardíaco já bateu três
bilhões de vezes. O paciente fica cada vez mais atento ao exporto. O Médico
olha dentro dos olhos do paciente e pergunta: qual a máquina que consegue dá uma volta
em si própria durante 80 anos e bater 3 bilhões de vezes sem parar? é um
verdadeiro milagre, veja que o senhor é um privilegiado, é fruto de um fenômeno
que só o Criador tem a explicação.
Continua informando, que o mesmo come
por dia uma média de 2 kg e bebe 2 litros d’água em 24 horas. Faz as seguintes contas para mostrar o quanto o
seu intestino já processou e o quanto já comeu durante os seus oitenta anos. 2 Kg de alimentos e 2 litros d'água por
dia perfazem 60 kg de comida e 60
litros d’água por mês, o paciente escuta atentamente. Prolonga com os seus
cálculos em voz didática, compassadamente. 60 Kg por mês equivalem a
720 kg de comida e 720 litros de água por ano, em 10 anos 7,2 toneladas
de comida e 7,2 mil litros d'água, sem contar merendas, sucos, refrigerantes,
chás e cafés. Para um
cidadão de 80 anos perfazem 58 toneladas de comida e 58 mil litros d'água, tudo mastigado, deglutido e processado. Parte é transformada em energia, outra incorporada ao organismo, outras serão suadas, urinadas e evacuadas. São nada menos do que 12 caminhões pipas de 5mil litros cheios
d'água e 12 caminhões de cinco toneladas cheios de alimentos. São 24 caminhões de produtos( água e
comida) que entram pela boca e são eliminados
após retirado o que o corpo precisa.
Faz uma
viagem pelos rins, pulmões, pela complexidade da visão, dos fatos e imagens
guardadas no cérebro. Enfatiza a complexidade de cada órgão, é uma verdadeira
viagem pelo universo da vida em todos os seus ângulos.
Deixa por fim alguns comentários sobre a vida.
Passa a palavra ao paciente e aos
familiares. O cidadão, com o olhar marejado, mira para o céu,
ri, levanta os braços, respira fundo, olha para o médico, para
a imagem do criador de braços abertos exposto na parede, à sua
frente, e balbucia:
"___É seu doutor, eu precisava ouvir tudo
isto, eu sou um vencedor, eu sou a força, eu sou a resistência em pessoa. Nesta
vida tenho trabalhado de sol a sol, tenho corrido este mundão de meu Deus
com estas pernas que a terra ai de comer, vi tudo e de tudo, nunca
tinha imaginado que este meu franzino corpo tenha feito uma bagaceira
deste tamanho aqui na terra. Foi demais, fiz muito e continuarei a
fazer se for pelo gosto de Deus. Eu só queria uma coisinha a mais seu doutor,
queria que o senhor copiasse este sermão para eu mostrar a todo mundo que eu
conheço, muita gente precisa saber do tesouro que possui e que deve zelar por
ele ".
Foi assim que surgiu este meu relato, este meu
conto tipo crônica, que hoje me arvorei a expor para os meus
leitores.
Terminada esta preleção, iniciei a consulta médica.
Salvador, 18 de março de 2002
Iderval Reginaldo Tenório
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