 
 
 
  Minha mãe alagoana de  98 anos de idade . Senhora digna de um  documentário , pela sabedoria ,  vivencia e desenvoltura
 em diversos temas.  
 Mãe de 12 filhos, avó de mais de 30 e bisavó de uns 
12.  
Sabe  e fala de tudo, sempre que discutimos temas jurídicos 
polêmicos  ela tem  uma história para contar. 
Este foi um dos contos narrado por  minha mãe, achei prudente colocar no blog.   
O tema continua polêmico e sem solução.
Iderval Reginaldo Tenório
                                                O CUIDADOR
 
              Conta
 a minha mãe , que uma menina de 12 anos chegou em casa 
vindo da escola , estranhou a ausência do querido pai na hora do  
almoço.  Foi até a mesa, sentou, levantou, foi até a porta da 
rua, olhou para um lado ,  para o outro e nada do genitor, foi até a 
cozinha, descobriu as panelas e  engasgada indagou 
para a genitora: 
                             
"Por onde onda o meu pai? ." 
                  Recebeu 
como resposta um balançar da cabeça  e a esperança 
que estava  a caminho . A espera foi em vão, veio a tarde e nenhum 
paradeiro do humilde  trabalhador.
               A
 filha  foi até o seu trabalho ,   foi informada  que até 
aquele momento  o seu pai não havia comparecido , já tinha  levado falta e  pela cara do apontador    poderia perder
 o   emprego , pois é inadmissível que numa segunda feira, o
 primeiro dia da semana,  um trabalhador falte ao serviço. 
             A menina  não esmoreceu, procurou os familiares mais próximos, rodou os 
hospitais, os postos de saúde, foi até a rodoviária, compareceu ao 
cemitério e nada do seu  amado pai. 
                 A sua 
última cartada, a sua última visita, mesmo contra a sua vontade,  pois 
jamais imaginaria o encontrar naquele lugar,  foi à  delegacia.   Ao 
chegar encontrou o seu pai na única cela que existia, sala pequena, 
escura,  com menos de  8 metros 
quadrados, uma alta janela de meio metro, uma lata velha de querosene 
como latrina, um portão de ferro gusa, meia dúzia de pregos como 
cabides, cinco ou seis buracos na parede para colocar os pertences e 
mais 06(seis) brutamontes nus da cintura para cima, as vestes cobriam apenas as 
partes pudenda.´
           As lágrimas  vieram
 ao inocente rosto , não conseguiu chegar ao pai, a sua 
idade não permitia dantesca cena.  Foi ao delegado e quis  saber
 qual o pecado contra a sociedade praticado pelo seu genitor. O delegado foi
 até o livro de ocorrências, até o caderno de queixas e falou.
   
    "Atentado contra um menor, o seu pai infringiu  o estatuto do
 adolescente e da criança , deve pagar por este crime."
 
             A menor insistiu no que significava, o que o seu pai havia feito, qual o seu crime.
                
O delegado sem medir as palavras,   informou que aquele homem havia surrado uma criança  naquela
 manhã , fora denunciado por um  diligente e cuidadoso vizinho,   
   antes que chegasse ao seu trabalho, ao sair da escola municipal do seu bairro  a 
viatura o prendeu ,  inclusive 
 já tem  ordem de envia-lo para a capital,  corre o risco de morrer, uma
 vez que os detentos não gostam de quem bate  ou molesta crianças .            
             A
 criança caiu em prantos, não aguentou tamanha notícia, para ela era o 
fim do mundo, aquele fato fora o pior golpe já presenciado nos seus 12 
anos de vida.
           Com a voz firme , compassada, sopesada e cheia de emoção assim se dirigiu ao ao homem da lei.
  
 
 
          "Quem
 vai pagar as contas lá de casa,  a luz, a água, a minha 
escola, o meu pão, o remédio de vovó, quem vai consertar a casa de 
titia, a carroça do Tadeu , quem vai pintar a fachada da igreja do 
bairro, quem vai capinar a roça do vovô nos domingos e feriados, com 
quem eu vou para a igreja aos domingos à noite agradecer a Deus a 
felicidade de estar viva, com saúde, de barriga cheia e vendo meu pai  cumprindo com o seus deveres de cuidador, de preocupado e provedor? quem seu delegado, quem?"
             Enxugou as lágrimas, tomou um gole d'agua e continuou o seu relato para o atencioso delegado.
 
             "O que houve seu delegado, o que houve hoje não foi uma agressão de  um
 homem para com um menor , foi  sim o cuidado de um zeloso pai para com um 
desobediente filho.  O que aconteceu foi que  ao acordar , eu não queria 
ir para a escola, eu estava cansada, pois fui dormir muito tarde e tinha
 combinado com uma colega, a minha vizinha,  que quando meu pai saísse, 
 nós iríamos para a beira do rio tomar banho com três garotos que ela 
conheceu no parque, todos da capital, dois eram  maiores de idade , eles
 prometiam muitas coisas boas para nós e fiquei curiosa. 
               O
 meu pai todos os dias me acorda cedo, vai á padaria comprar o pão, mãe
 faz o café, depois pai me deixa na escola e vai para o seu trabalho, 
neste dia depois de muita insistência e recusa por minha parte, ele 
perdeu a paciência , acredito que mandado por Deus , puxou as minhas 
orelhas e disse que só a escola salva o pobre, só o saber é capaz de 
tirar o homem da miséria, só o estudo é capaz de melhorar o seu nível 
social, só ele é quem sabe o que está passando por ser analfabeto,  por 
ser criado sem pai e sem mãe, sem ter acesso à escolaridade, só a escola
 e a família pode tirar o pobre do atoleiro, ele como pai não iria 
deixar a sua única filha tomar o caminho errado . 
               Provavelmente  neste momento o vizinho do 68, pai da minha amiga, um homem  que
 nada faz, vive bebendo , olhando para a vida dos outros veio e sem 
saber o que estava acontecendo  denunciou o que não viu e o que não 
existiu,   pois não estava presente, irresponsavelmente fez esta queixa.  
             Seu
 delegado,  o meu pai não me bateu, ele apenas fez o que qualquer pai de
 juízo faria, ele aplicou um corretivo após muitas reclamações e 
conselhos, puxou uma das minhas orelhas e graças  a
 este alerta eu não caí naquela armadilha.  Meu pai foi atencioso, foi 
eficaz e fez o papel daquele que gosta, daquele que se preocupa com o 
futuro da família, ele fez o papel de  cuidador,
 porque quem cuida ama, quem cuida gosta, quem cuida espera um futuro 
melhor para com os seus filhos.  Meu pai seu delegado é um herói, solte 
este batalhador , ele cumpriu com a sua obrigação, feliz é o filho que 
tem um pai igual ao meu, feliz."
 
            O
 Delegado diante de tão efusivo apelo, não conteve as emoções, abraçou 
aquela criança, lembrou do seu velho pai que muitas sovas havia lhe 
dado, pensou no hoje ser um grande delegado, um homem de respeito e tudo
 devia ao seu duro pai, ao seu abnegado genitor, muitas vezes 
incompreendido nas horas das correções, mas que valeu a pena. 
              
Não 
contou conversas, antes do anoitecer foi lavrado um termo de soltura e 
antes do por do sol foi até a cela, retirou o humilde e cabisbaixo 
cidadão, entregou os ínfimos pertences, o abraçou, pediu desculpas,  e 
juntos, delegado, pai e filha  no carro particular da autoridade    fizeram
 questão de comparecer ao serviço do pai, colocado em pratos limpos o 
acontecido e tomaram o destino do humilde e aconchegante seio familiar.
              Esta história  minha mãe conta  para
 mostrar que o diálogo é a melhor maneira de educar, para mostrar que 
deve os pais insistirem na civilidade até o extremo , porém  uma vez 
falhado o diálogo, tem que partir para uma medida mais enérgica , uma 
conduta concreta , nem sempre um castigo é crime ou é pecado, muitas 
vezes é o norteador de um brilhante futuro, muitas vezes é a salvação de
 uma família. 
              
Cabe ao filho entender, cabe ao filho enxergar aquela atitude dura, aquele momento difícil, muitas vezes mais  para o pai do que para o filho  .  Na grande maioria das vezes  detestada no presente  ,e só
 valorizada  no futuro quando o filho passa a entender o quanto era importante 
as sábias palavras do vigilante mestre, do preocupado pai, só  quando na mente brota e prolifera   um sentimento de  lamentação
 ao perder a chance de ser respeitado pela sociedade , um sentimento de 
impotência que não volta mais  e na sua mente fica gravado o seguinte 
refrão para o resto da vida:
"AH !SE EU TIVESSE ESCUTADO OS MEUS PAIS!  AH! SE EU TIVESSE ESCUTADO, TENHO CERTEZA QUE A MINHA VIDA SERIA OUTRA"
                            Assina- O filho que não escuta os seus pais
Iderval Reginaldo Tenório
 
  12 de dezembro de 2000
O meu guri - Chico Buarque - YouTube
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