Pedro
Oliveira, nascido em 1912, naquele pequeno sítio no Crato, morreu em 1997, aos
85 anos de idade, na terra que adotou como sua, pois nela recebeu a bênção de
seu "padim", Padre Cícero, o Juazeiro do Norte.
Cego Oliveira
rompeu as fronteiras do Cariri. Seu nome chegou à capital, e daí ganhou o
mundo. Meteu o pé na estrada, visitou terras distantes, onde pôde revelar o
vigor do seu estro. Vamos ouvi-lo:
"Na
profissão de cantoria eu já viajei pra São Paulo, pro Rio de Janeiro, pra
Fortaleza... Eu já cantei na televisão, mas ao invés de melhorar ficou pior.
Quando é no tempo de romaria, eu tou tocando a minha rabequinha, aí chega um
romeiro, fica olhando e diz: "– Ah!, esse cego aí eu já vi, ele passou na
televisão. Não dê esmola a ele que ele é rico, ele vive passando na
televisão"...
Pois bem, e o pobre do besta aqui passando
necessidade. Eu passo é de um ano sem ver um pedaço de carne no prato."
ESCUTEM O GRANDE CEGO E A SUA RABECA.
VEJAM O QUE O MESMO FALA DO SEU INSTRUMENTO.
www.youtube.com/watch?v=hdA9lvKUF6E
26/10/2007 - Vídeo enviado por Carlos M.
Na década de 80, já velho, o Cego Oliveira, músico e poeta popular do ... "São José também chorou" e "A ...
www.youtube.com/watch?v=h1FKfMNWyDU
17/10/2007 - Vídeo enviado por DI FREITTAS
Orquestra de Rabeca SESC Cego Oliveira ... Rabeca - PÉ DE MULAMBO - A História do Peixe Tuninha ...
"Hoje
eu estou ficando velho, ficando distraído das coisas. Já esqueci muitos
versos... A profissão hoje em dia não dá mais pra quase nada, a gente quase não
recebe mais encomenda de cantoria. Ainda canto um pouquinho nas romarias,
enquanto houver romaria eu ganho um pouquinho que dá para viver. Antes de chegar
esses programas de rádio, esses violeiros modernos, eu era convidado para tudo
que era canto, pra toda a região. Tinha dia de sábado para eu ser convidado
para quatro casamentos e não dava vencimento... Essas cantorias de rádio foi
quem derrubou eu e muitos outros cantadores como eu."
"Quando eu
era novo era bom demais. Eu chegava numa festa e me juntava mais os
companheiros, a gente tocava rabeca, "pife" e zabumba... Bebia
cachaça e pintava o sete. Eu cantei com muitos cantadores afamados do sertão.
Uma vez o poeta Zé Mergulhão tava me aperriando numa cantoria, com os versos
malcriados querendo me encourar... Então eu cantei:
"Poeta Zé
Mergulhão
Você procure a defesa,
Eu lhe dou a explicação
Com toda delicadeza,
Eu com a rabeca na mão,
Eu canto por precisão
E você por sem-vergonheza"...
"A vida do
cantador foi a melhor que eu já achei, porque trabalhar no pesado eu não posso,
pegar no alheio eu não vou. Assim, vou cantando... É como eu digo:
"Essa minha
rabequinha
É meus pés, é minha mão
É minha roça de mandioca,
É minha farinha, o meu feijão,
É minha safra de algodão,
Dela eu faço profissão
Por não poder trabalhar,
Mas ao padre fui perguntar
Se cantar fazia mal.
Ele me disse: Oliveira,
Pode cantar bem na praça,
Porém se cantar de graça
Cái em pecado mortal"...