sábado, 24 de setembro de 2022

Zezinho , o Rei Leão e a LIBERDADE.

 

 

FÁCIES DE BOBOS E DE SUBSERVIÊNCIA.

ORELHAS BAIXAS .

Leão ataca menina de quatro anos durante espetáculo de circo - Mundo -  Correio da Manhã

Leão resgatado em circo no Mato Grosso do Sul vai para o santuário em SP -  Jornal O Globo 

FÁCIE DE TRISTEZA E DE INDIFERENÇA

Blog do Gabriel Binho : OS 3 LEÕESFÁCIES ALTIVAS, FÁCIES DE LIBERDADE.

 

Zezinho , o Rei Leão e a LIBERDADE.

Zezinho foi ao circo , ao final  do espetáculo queria  saber como viviam os animais que encantaram a plateia, principalmente o leão, pois o achou manso, educado e muito obediente.

O pai  conseguiu  realizar o pedido da criança.   O menino foi com o cuidador  à jaula do Leão,  ficaram  à certa distância,  porém atentos  e vigilantes   .

Zezinho  puxou uma prosa com o felino,  desconfiado e com medo  deu boa tarde ,     o leão  deitado e   indiferente  permaneceu imóvel.   De soslaio e vagarosamente  abriu os olhos.

O menino insistiu, o leão levantou-se e foi até o gradil da jaula,  por defesa Zezinho se afastou, uma vez que o animal é irracional, selvagem, carnívoro  e feroz, tinha um  odor ocre, um odor muito forte.

O piso da jaula era sujo, molhado, alguns fragmentos  de carne  ,  dejetos fecais   e urina nos  cantos.   De perto o leão  não era tão bonito, alegre e pomposo  como aquele   que se apresentara no circo,  existia algo a se decifrar naquelas duas vidas apesar de ser o mesmo animal, moscas preenchiam a dantesca gaiola .

Zezinho tentou mais uma vez conversar com o Rei dos animais, com a voz mansa insistiu:

“Boa tarde Leão, boa tarde, como vai você? Eu sou Zezinho,  moro nesta cidade, tenho 06 anos de idade  e já estou na Escola, e o amigo como vai ?”

O Leão meio triste, envergonhado e com a voz baixa respondeu, não poderia ficar em silêncio diante da preocupação de uma criança.

“Vou escapando meu amiguinho, escapando e  sobrevivendo dentro desta pequena jaula coberta por zinco. A água é pouca, a comida só em dias de espetáculo, geralmente restos comprados nos péssimos matadouros da região, a vida aqui é sofrida,  triste, repleta de saudades e solidão"

O menino queria saber mais e descontraído fez outra pergunta. 

“E por que o amigo fez tudo que o domador mandou fazer com tanta alegria, calado, obediente e sem contestar? Foi para receber aplausos  ou para se mostrar?”

“Que alegria que nada meu querido amiguinho,  que aplausos, que se mostrar que  nada, fiz e farei para não ser castigado e nem morrer de fome, ainda sonho com a minha liberdade.  O  domador é mau".

Depois de uma pausa e cabisbaixo continuou:

"Ele usa uma haste de ferro pontiaguda e um chicote   com  aros de ferro no final, é uma humilhação, encaro como um castigo sem merecê-lo.  O ferro fere e o chicote corta, o homem não tem piedade, não tem coração, desde que aqui cheguei sofro estas humilhações”

O menino  insistente e curioso  continuou as suas perguntas.

“Meu amigo Leão, você trabalha neste circo há quanto tempo e como arrumou este emprego?

“Isto não é trabalho meu amiguinho, não é emprego, é escravidão . Mataram a minha mãe  e me pegaram com um ano de idade. Tiraram  a minha honra, apararam as minhas presas , cortaram as minhas garras e eliminaram a minha masculinidade.  Veja que a minha juba não cresce, é pequena, falha e sem a coloração escura,  é a falta da masculinidade que faz isto. Depois de capturado me jogaram numa jaula e fui educado  no chicote, no ferro e na subserviencia .  Só como e bebo se obedecer, para não morrer de fome  fico sob o julgo dos homens, é muita maldade".

Outra pausa.

 "Fui retirado de minha casa, roubado da minha família, do meu reduto e hoje vivo em terras estranhas, na haste e no chicote. Dizem os homens que este é o  modelo de ensino para domar  animais ,  só no castigo.”

Zezinho já indignado e totalmente solidário continuou as indagações : 

“Qual a sua idade,   o seu nome e o que pensa  destes fatos?”

“Tenho 09 anos de idade e 08 de sofrimentos, moro nesta suja jaula, não como direito, não tenho espaço e não posso me exercitar, por isso não tenho músculos, reflexo, equilíbrio e nem destreza, vivo na solidão, neste marasmo e sedentarismo.” 

Olha para a criança, levanta a cabeça, abre a boca, balança a calda, mira  os olhos do Zezinho e continua:

“Sei que se estivesse na selva teria que lutar pelo pão de cada dia. Teria que disputar uma parceira  para ter os meus filhos. Teria que ter forças ,  ser forte, musculoso, com grandes garras , grandes presas , volumosa e preta  juba. Possuiria   reflexos aguçados e valente para defender a minha família.   Assim  teria   descendentes para continuar a minha linhagem,  viveria com liberdade por 14 anos  e depois morreria feliz, pois é a liberdade o maior patrimônio que um animal possui”.  

O leão deu uma pausa   , ficou  pensativo, fez uma viagem ao passado e falou.

 “Faria o mesmo caminho que o meu pai trilhou,  ele era grande, bonito , tinha robustas patas,   presas pontiagudas , cortantes garras, uma juba grande e preta,  sadio, respeitado, valente e muito feliz”. 

Mais uma pausa. Engoliu  as lágrimas e continuou o seu relato a lamentar a vida.

“Eu vivenciei tudo o que aconteceu no dia que me pegaram, só em  lembrar as lágrimas vêm aos olhos.  Depois de eliminarem os meus pais , fui sequestrado por   homens armados , depois  vendido ao dono deste circo"

Levantou a cabeça e com olhar tristonho continuou:

"Não tenho nome, família, amigos e nem documentos, para o mundo eu não existo, só não perdi ainda foi a esperança.  Um dia ganharei a liberdade, ainda serei livre e solto, livre e liberto,   como eram livres e libertas as minhas tias , a minha mãe e o meu pai ,  todos exímios  caçadores , grandes  guerreiros. Iguais às minhas   tias, nas caças ,  nunca vi ”

O menino retrucou querendo amenizar a sofrida vida daquele gigante enfraquecido. 

“Leão, aqui você tem comida, água,  casa , sombra, vive na cidade e todos os dias recebe aplausos.  Pode viver,  segundo os estudiosos do assunto,   até os 32 anos de idade, isto é equivale a  18 ou 20 anos a mais do que os 14 anos na floresta. Não precisa lutar pelo pão, não precisa brigar com outros leões , nem precisa caçar as suas presas e vive na sombra, a comida vem até você”.

“Amiguinho, você não sabe o que é perder a liberdade, você não sabe o que é viver sem espaço, fora do seu reduto e nas terras dos outros, aqui é uma escravidão.  Melhor viver  10 anos  na selva lutando, brigando e a se defender ,  do que 80 ou 100 anos nesta gaiola como escravo forasteiro  . Isto não é vida, isto é  uma vergonha. Não existe vida sem liberdade.  Nenhum ser vivo deveria viver em cativeiro, nenhum ser vivo deveria perder a capacidade de lutar pelo pão de cada dia  mesmo com muito sacrifício ".

Respirou fundo  e falou:

"Lutar e  conquistar o seu espaço,  buscar e manter a sua liberdade,   saber ganhar e perder , se indignar com as  atrocidades dos homens  são  as essências da vida, estes são  os  significados da vida  meu amiguinho. Saiba e nunca esqueça que  só existe vida se existir liberdade, o contrário é escravidão. Lute  com garra e nunca perca a esperança, lute pela dignidade”.

O menino, com os olhos cheios  d'água,  com  muita vontade de estudar e de  entender detalhadamente os fatos,  pensativamente se despediu do triste leão.

 Salvador, 24 de setembro de 2022

Iderval Reginaldo Tenório 


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