domingo, 7 de janeiro de 2024

Zezinho e o seu ecossistema, a maior escola da vida.

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Zezinho e o seu ecossistema, a maior escola da vida.

Conta Zezinho que nasceu  no miolo do nordeste, no coração do polígono das secas, região com precipitação pluviométrica de 700 a 900mm por ano, de 700 a 900 litros de água por metro quadrado por ano, enquanto na  região amazônica vai de 2400 a 5000 litros por metro quadrado.

Devido as grandes ventanias, os potentes redemoinhos, a verticalidade causticante  do sol, o solo poroso e  o lençol freático muito profundo, a seiva da vida, a água,  é mais valorizada do que ouro ou diamante  em qualquer fase da vida e em todas as estações do ano.

Para se atingir a água nesta região,  a profundidade de um poço artesiano   vai de 380 a 1000 metros, um quilometro de  chão abaixo, impossível para  o homem do campo que só domina a enxada, a foice  e o cavador, não existe água superficial.

Para a  possibilidade e a existência de qualquer tipo de  vida,  são construídos pelos braços  humanos e os lombos do animais de carga, barreiros ou pequenas poças d'água, que acumulam água nos períodos  de chuvas, que  acontece,  por ano,  de 04 a 05 meses, quando chove.

Como um prato de barro, com 30 a 60  metros de boca e dois de fundura ao atingir progressivamente  o seu centro. O  espelho d'água de um barreiro, com estas dimensões,  permite que  mais de 30% do precioso líquido evapore e seja  consumido pelo incandescente sol, as  lufadas dos ventos quentes e alguns besouros, os de carapaças queratinosas  pretas, que sorvem a água da umidade do ar. Outros 30% do líquido armazenado,  some no seu leito, sugado pelo poroso solo, mesmo compactado pelos cascos dos animais ou os braços dos  homens com apiladores de madeira  de 10 a 15 quilogramas, acunhados, verticalmente,  num cabo roliço de canafista, jurema, umburana ou  umbuzeiro, sobrando para  os serranos menos de 40% para a manutenção da vida. Com este modo, a água vai ficando escassa e concentrada, até chegar ao ponto de lama, inadequada para o consumo.

Os barreiros são abastecidos pelas  águas que correm nas estradas, chamadas de levadas,  construídas pelo homem, muitos secam em menos de 06 meses. Nestas águas correm todos os tipos de materiais que se encontram no leito e no aceiro do caminho, pois nelas, encravadas no árido corpo da caatinga, trafegam os homens e todas as outras espécies de animais: os que rastejam, inclusive os jabutis do sertão, que não sabem nadar; os que pulam, os que mamam e os que voam; dos que nadam, apenas os sapos cururus e as rãs  semelhantes aos que vivem nas zonas secas  da Australia

No seu leito bebem o sol, os ventos, a terra, os homens, os animais domésticos e os selvagens, todos no mesmo patamar e sem diferenciação de espécies, a razão é  o respeito e a manutenção do equilíbrio da vida, quem mais bebe  é o astro rei, o sol. 

 A qualidade da água não é boa, nela encontram-se todos os tipos de contaminações: estercos de gado pé duro, cavalos pangarés, muares, cães, gatos e dos  xerófilos asininos, ovinos  e  caprinos;  dejetos e corpos sem vidas de animais pequenos,   como batráquios, repteis, pássaros, pequenos mamíferos e de   insetos, pois é uma área a céu aberto e repleto de tudo que se  encontram na estrada nas épocas chuvosas; períodos que funcionam como parques de diversão para a meninada nos raríssimos, reconfortantes  e  deliciosos banhos de chuva. 

A água armazenada  é de  cor amarelo tangerina, amarelo barrento devido a alta concentração de ferro e dos dejetos  trazidos pelas estradas e pelos ventos. Quem purifica este riquíssimo líquido, são os raios solares que viajam 150 milhões de quilometros, a uma velocidade de 300mil quilometros por segundo,  durante  8,5 minutos.    

Com o  sol a pique e em   queda vertical, os raios atingem o  espelho d'agua  com temperatura superior  a 40 graus centígrados por um período de 04 a 06 horas,  indo até o  fundo lamacento  eliminando mais de 99% dos fungos, parasitas e bactérias. Ao chegar ao pote, os mais estudados utilizam a Pedra Hume como purificante e precipitador da lama, clareando a água. Neste intervalo de tempo, a miragem  cozinha o lombo de todo o sertão; o infinito do céu azulado, sem nenhuma nuvem, deixa  passar a quente e energética claridade que castiga as costas dos resistentes homens do campo,  dos barrigudos meninos e  meninas, e  das mulheres  dos calcanhares rachados, pernas varicosas, partes pudendas dilatadas e   buchos quebrados devido as seguidas  gravidezes. 

O sol resseca e retira o verde  das copas dos vegetais da caatinga, pintando-as de cinza, principalmente dos umbuzeiros, gerando sombras que ficam ocupadas por todos os tipos de animais à procura de resfrescar  os corpos, até mesmo os cascudos jabutis e as descascadas cobras, notadamente as cascavéis,  que  com os seus chocalhos no fim da calda afujetam os predadores e atraem as suas presas. Foi neste cenário  que o menino Zezinho nasceu, se criou e conheceu o mundo.  

Neste bioma e no seu ecossistema, tendo como amigos a natureza, os animais que mamam, as aves domésticas e os pássaros, alguns besouros, notadamente os mangangás, libélulas  e borboletas que o  Zezinho nasceu. 

Pela manhã, ao acordar, tinha direito, individualmente,  a 500 ml d'agua para lavar o rosto;  à noite, ao deitar, no máximo 1500 ml para lavar os pés, geralmente compartilhados com  os outros irmãos e mais 500 ml, individualmente, para enxaguá-los, banho apenas uma vez por semana, com no máximo 3000 ml. Quem lavava os lençõis e as redes, eram  os puros e esterelizantes  raios solares  oriundos dos céus, e que queimavam os grossos panos estendidos nas cercas  de varas  ou arames farpados por duas ou três horas, eram importantes serem recolhidos para virarem comidas do animais, nodamente o gado pé duro ou os caprinos.  

Assim foi forjado a resiliência do menino Zezinho e de todos os seus irmãos, quase xerófilos,  que nasceram naquele abadonado cafundó, que viveram e sobreviveram às agruras naturais  dos tempos e  vivem hoje  num mundo melhor, será que vivem!?.

 Salvador, 08 de setembro de 2023

Iderval Reginaldo Tenório


                          

                         Relato de um Serrana verdadeira

LEMBRANÇAS  DOS MEUS PAIS -

(José Miguel e Dona Antônia)- A Serra onde nascemos.

As lembranças de tempos idos e vividos ao lado dos heróis de nossa família (José Miguel e Antônia) foi domingo passado. 
 
Pois bem, Iderval Tenorio, Vicente Reginaldo Tenório, meus irmãos e meu sobrinho Alex Tenório Eliane e eu, entramos no carro e partimos rumo a Serra do Araripe visitar nossos familiares que ainda moram por lá. Fomos a casa de Tio Augusto, padrinho de batismo de Iderval, na casa de Tonho, Bela, Gina, Lucélia e na casa de Neto Miguel. Lá ouvimos muitas histórias vividas com muitos integrantes de nossa família que já habitam o Céu.
 
Quando chegamos na propriedade, que era de nossos pais, fomos inundados de lembranças e de momentos de felicidades ali vívidos. Fui transportada para o passado e ali, diante daquelas ruínas, vi vibrar as vozes de alegria de meus pais, meus irmãos e dos moradores em dias de chuva.  Ouvi o som dos chocalhos, o canto dos passarinhos e o roncar do motor lá na casa de farinha. Meu Deus! Como tudo está mudado, pois não vi um único animal solto no campo e nem sequer um pássaro voando. Mas fiquei admirada com o frondoso pé de cajarana no terreiro que fica no quintal da casa. A Vegetação seca, os barreiros secos e aqui acolá, o verde dos pés de Juá se monstrando lindos para nos cumprimentar e lembrar que foi mamãe que os plantou. Também vimos pés de cedro e lá no estrumo os galhos secos do pé de umbu.
 
Tudo tá mudado, a nossa propriedade está vê um deserto, mas, mesmo assim senti uma energia muito vibrante que me fez estremecer, ora de tristeza, ora de alegria.
 
Quando estávamos na casa de meu primo Antônio Reginaldo, já falecido, apareceu um periquito passeando e cumprimentou cada um de nós. 
 
Primeiro ele subiu no sapato de Alex e foi subindo até o seu ombro e ficou fazendo carinho com o bico em sua nuca, também fez carinho na cabeça de Iderval, subiu do meu braço e comeu a minha goiaba.
 
Por curiosidade perguntei o nome dele e Hernandes disse que era Miguel. Eita que me emocionei muito, pois é o mesmo nome de Papai e aí pensei: De todas as 8 pessoas que estavam conversando, ele só veio até nós, o 3 filhos e o neto de Zé Miguel. Aí deduzi que era Papai em forma de passarinho nos abraçando e feliz por estarmos na Serra visitando nossos parentes.
 
Saudade, muita saudade de Papai e Mamãe e dos tempos felizes que vivemos com eles na Serra.
 
Deus nos abençoe e nos proteja
 
Rosanagela Maria Reginaldo Tenório  
Uma resiliente Engenheira Agrônoma
 

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