segunda-feira, 27 de março de 2023

CENA DE UM PRONTO SOCORRO

 

Pacientes relatam superlotação e falta de médicos no setor de emergência do  Hospital Salgado Filho, no Rio | Rio de Janeiro | G1 

Fotos mostram superlotação no maior hospital público de Alagoas | Alagoas |  G1 

 CENA DE UMA  EMERGÊNCIA

Nos dias atuais, no Brasil, grandes são  os desentendimentos nas emergências públicas e privadas.

Numa grande  Emergência, em Salvador,   formou-se uma aglomeração em torno de uma senhora, octogenária, exposta numa fria, suja e nua maca.  Duas mulheres, suas filhas, a esbravejar . Braços rijos, dedo em riste e voz alta a escrachar   o abnegado servidor. 

Junto a cabeceira da maca,  de  jaleco  branco, surrado, suado e amarrotado    um jovem esculápio. Olhos arregalados , tez engordurada,  semblante de medo e  sinais de cansaço.  Àquela altura confundia até o seu próprio nome, era fim de plantão.  Não saia  uma atitude de sua lavra, não possuía palavras, gestos e nem argumentos que resgatasse a paz no seu  trabalho,  estava engessado, congelado ,  estupefato.   O tão necessário  raciocínio fora embotado pela dantesca cena .

Como um providencial  invasor,  um médico interveio  na dramática  cena .  Posicionou-se   entre os quatro e a plateia, constituída de   paramédicos,  pacientes,   acompanhantes e curiosos.   Foi até a surrada maca, expôs os cabelos brancos  e a limpar os óculos ficou frente a frente à frágil  anciã.  Sem luvas alisou o  rosto, os cabelos , o abdome , segurou e apertou  as  mãos  da enferma, mirou a sua face , cravou os   olhos nos olhos da paciente  e entrou  vagarosamente na  sua alma .

Pausadamente e com  a voz macia perguntou  o seu nome, onde morava, o que fazia, a idade ,  a profissão, perguntou pela família  ,  o que estava sentindo , relembrou o seu passado de lutas e de glórias.

Levantou a cabeça, olhou para as  duas acompanhates , colocou  um dos braços no ombro do jovem esculápio , o outro no ombro de uma das filhas  fechando o círculo da compreensão.    Mirou uma  das janelas  que mostrava o infinito azul  do céu,  poucas  nuvens, uma bela estrela  e a borda  da lua .   Sem pensar, guiado por uma força  maior, vindo não se sabe  de onde, lembrou a todos que  Deus existe  e ali estava presente . 

O ambiente conspirava pela presença do Criador, não existia outras possibilidades,  naquele momento não havia  outras explicações. Ali  encontrava-se  uma anciã, quase santa, que na vida praticara  o bem:  grande mãe, exímia  avó, magistral esposa  e eterna sofredora por não conseguir consertar as mazelas do mundo,  uma octogenária  quase pura . Estava em sofrimento, debilitada,  vigio e atenta  apesar da situação na qual se  encontrava.

Achava-se uma estranha  naquele nosocômio , naquela emergência de propriedade sua, pois era uma unidade  publica, ali encontrava-se o suor de todos os habitantes , de toda a comunidade  e do estado  , ali era uma das suas propriedades, ali era um bem comum, era de todos, era o seu suor que movimentava o hospital .

Tratava-se de um ser humano  fragilizado, subserviente, sem força e sem ação  assistida  por um dos seguidores de Deus , o médico,  que só pensa no bem, que faz tudo pelo bem e é guiado pelo bem .   Ao lado  suas  filhas, duas guerreiras  que lutavam desbravada e  consanguineamente  ao seu favor,   enxergavam naquela relíquia humana  o que existia de mais precioso, valioso e sublime  nas suas vidas, uma dádiva de Deus,  a sua querida e insubstituível mãe.  Queriam a sua recuperação e  exigiam os seus direitos.  

O momento  era a prova concreta da presença do grande Mestre,  ali estavam todos de mãos dadas para a recuperação daquela heroína.  O velho esculápio, após apaziguar os ânimos ,  parou  o discurso, quase uma homilia ,   saiu de cena e  deixou   mansamente o  ambiente .

O jovem   prosseguiu o seu atendimento. Ele, as filhas, a enferma, quase santa, os olhares  , a desnuda e fria  maca, a velha janela, as nuvens , a grande estrela,  a  nesga da lua  , todos sob   a tutela do  Criador.

O silêncio reinou no recinto e as filhas aproximaram-se ao jovem médico . O diálogo sadio colocou nos eixos o tumultuado momento, todos entenderam os esforços do guerreiro  e sofrido médico.   

O velho Esculápio deu continuidade  à sua rotina nesta grande casa de saúde.

Como médico, quase que calejado, ficou feliz com o desenrolar daquele momento sublime que estava transformando-se num funesto imbróglio, ainda bem que Deus existe. 

Viva a paz, o respeito, a ética, a benevolência, a beneficência, a autonomia e a cidadania. 

É assim que se constrói um grande povo e uma boa  medicina.  Viva  a natureza , a mãe da humanidade; o diálogo e  a abnegação de muitos seres  humanos .

Doutor,  muito obrigado.

18 DE MARÇO DE 2022

Iderval Reginaldo Tenório


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