sexta-feira, 2 de agosto de 2019

O Incêndio de 1964 Relato do menino Zezinho

Resultado de imagem para incêndio na serra do araripe e o menino

Resultado de imagem para incêndio na serra do araripe e o menino
Resultado de imagem para nordestinos apagando fogo

Resultado de imagem para nordestinos apagando fogo
                                            Incêndio na Serra do Araripe 1964

Relato do menino Zezinho





A caatinga ardia em chamas, seu Zé,  desesperadamente, ajudado por mais de cem homens roçava as ressecadas moitas  de jiquiris,  as copas das canafistas e os troncos de fumo  bravo,  no outro lado da velha estrada, construída pelo grande líder  com recursos próprios, dona Tonha,  a grande  guerreira , rodeada por mais 30 mulheres e 20 rapazolas  limpava o aceiro contra lateral ao fumegante fogo e retirava os garranchos, os gravetos , os capins desidratados e toda a caatinga seca   , esta flora do árido nordeste tem   a mesma combustão da bucha ensopada com gasolina,  alcool ou   querosene, quase semelhante à queima da pólvora. 


As últimas chuvas datavam de um ano atrás, os barreiros secos, os animais esquálidos e as asas brancas a procurarem outras plagas, apenas os pássaros mais resistentes como  os anuns ,  os gaviões, os carcarás e os urubus  voavam contracenando com as miragens que vibravam tangenciando o duro, vermelho e esturricante solo serrano.
 
O verde da vegetação rasteira  encontrava-se cinza, o sol queimava a pele, a cabeça, o coração, a mente e a alma dos fortes homens autóctones, era mais um período de seca, mais um ano sem água, mais um ano  de fome e de sofrimentos.


Os anuns, os calangos, os preás, os carcarás, os gaviões e as cascavéis rodeavam as ilhas ensombreadas  pelos umbuzeiros, os mandacarus e os cajueiros que  resistiam a baixa umidade do tempo em busca do enche bucho , os seres vivos xerófilos  iam à procura e em busca  de uma presa, de um naco para matar a fome.   Sob  sol ardente as nambus e outros animais procuram a  sombra para não sucumbirem ao calor ESCALDANTE DO SECO SERROTE DO ARARIPE.


As rajadas de ventos quentes, muitas vezes em redemoinhos, levavam de eito tudo que encontravam pela frente, penas, ciscos,  folhas, ninhos de pássaros, argilas e estercos secos, as lufadas do mormaço invadiam a descampada caatinga seca  e consumiam sem piedade os últimos lampejos de vida.

 

Os insetos rasteiros e os alados , os repteis, a vegetação xerófila , os cabeças de frades, os rabos de raposas e os mandacarus mirins  nos últimos suspiros  num visível processo de desertificação eram levados pelas indomadas ventanias .


O céu azul de brigadeiro, sem nenhuma nuvem, propiciava a visibilidade do mais longínquo infinito, a fotofobia era o maior alerta para os males da extrema claridade solar, principalmente 
naquela região onde  grassavam e ainda hoje grassam as conjuntivites, as uveites  e  as  blefarites de origens tracomatosas(Chlamydia tracomatis.). 

 

O astro rei  como se estivesse a metros, com as suas cortantes línguas em labaredas a consumir a ressecada carcaça vazia da velha Serra do Araripe queimava tudo quanto permanecesse ao seu alcance, as águas evaporavam num piscar de olhos, as roupas quase em molambos cintilivam como bandeirolas a  mostrar para onde se dirigiam os ventos . 


Zezinho viu, viveu e apagou fogo, o menino sobreviveu, a sua mente de criança gravou aquela inesquecível e dantesca cena, o fogaréu vermelho , os estalos dos gravetos finos e secos em chamas, as faiscantes fuligens carregadas pelos ventos, os homens com mulambos molhados nos rostos a proteger as narinas, mulheres com panos e vassouras de galhos secos a varrerem as margens da estrada vicinal, adolescentes correndo em desesperos  aos gritos de guerras e o Zezinho no meio deste furdunço, perdido, vibrante, assombrado e sem destino, o menino fora carimbado intestinalmente pelo solo e pelo clima de suas verdadeiras origens, foi mais um fato vivido e registrado na sua existência pueril, foi mais uma lição da natureza e a certeza que o homem do campo, o homem do nordeste é forte , resistente e merece respeito.


O menino Zezinho cresceu, lutou, estudou  e envelheceu, porém, jamais deixou que a criança agreste que existe dentro de si sucumbisse, desaparecesse, entendeu que os segredos da vida só sabe  quem viveu, quem presenciou e sentiu. 
 Zezinho fez e faz parte deste tenebroso  universo, ele viu, viveu e sobreviveu, o Zezinho é um sobrevivente, como disse o Euclides da Cunha , é antes de tudo, um forte.


Iderval Reginaldo Tenório


Zé Ramalho - Último Pau de Arara - YouTube

www.youtube.com/watch?v=2Cau_bWVBzg
13 de fev de 2015 - Vídeo enviado por ZeRamalhoVEVO
Music video by Zé Ramalho performing Último Pau de Arara. (C) 2005 Sony Music Entertainment Brasil ...

Último pau-de-arara - Gilberto Gil - YouTube

www.youtube.com/watch?v=5-uanIwEbPI
5 de jul de 2011 - Vídeo enviado por Gilberto Gil
Na minha opinião, quando vemos o passado nós vemos tudo calmo tirando o fato que antigamente era ...

O último pau de arara - YouTube

www.youtube.com/watch?v=gzlseJcIm7U
11 de out de 2009 - Vídeo enviado por turmageo177
... que te faz olar somente pro seu umbigo. Fique ai. Cancoes como Ultimo Pau de Arara incomodam ...

Último Pau-de-Arara - YouTube

www.youtube.com/watch?v=lqmzocMiBb4
17 de mar de 2012 - Vídeo enviado por apfrezende G
Música Último Pau-de-Arara com Luiz Gonzaga. ... Music. "Último Pau De Arara/Maria Joana" by ...

FAGNER - O ÚLTIMO PAU DE AR

Nenhum comentário: