quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

AS IDEIAS DO MENINO ZEZINHO

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Criança na floresta imagem de stock. Imagem de lazer - 27127811    

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AS IDEIAS DO MENINO  ZEZINHO 


I
Nos Sertões das Alagoas  vivia um menino chamado Zezinho, ao acordar não encontrava o seu pai em casa, a esta altura já se encontrava na lavoura. Moravam numa chácara e viviam da venda das verduras, frutas,  legumes,  queijos,   leite e  ovos que  produziam, eram   pequenos agricultores.

A vida no campo era difícil, porém prazerosa.  Ninguém valorizava os seus produtos, tanto que,  duas vezes por semana,  o pai do Zezinho   madrugava na cidade   para apurar alguns trocados e comprar produtos que   não produzia, mesmo assim era  um homem  feliz, vivia do suor do próprio rosto.

Para comprar uma barra de sabão, era necessário  um quilo de queijo,  um pacote de café,  cinco litros de leite, um quilo de sal uma dúzia de ovos, um litro de querosene um balaio de verduras e para adquerir uma vestimenta quase todo o apurado, por isso aproveitavam as roupas até chegarem ao fim.  Muitas vezes não dava para comprar tudo que precisavam.  Para o transporte das mercadorias do sítio à cidade  possuíam uma dupla de burros adestrados, não havia estrada , transitavam por  uma vereda íngreme e estreita, quando chovia era um caminho perigoso.

Zezinho ficava encabulado com o que via,  o seu pai trabalhava o dia inteiro e quando chegava da cidade  falava, para a sua mãe, que as coisas estavam ruins. Dizia que havia muitos produtores rurais oferecendo as suas mercadorias  e para não voltar sem nada, sem nenhum trocado,   tinha que vender por qualquer preço, melhor do que jogar fora. 

O que também chamava a atenção do menino,  era o fato de serem  os moradores da cidade, que não entendiam da lavoura e da criação de animais, quem ditavam os  preços dos produtos. 

Como sabiam ler, escrever, contar e se expressar com desenvoltura mandavam  naqueles que só sabiam trabalhar no pesado, debaixos do tempo,  expostos ao sol causticante, aos espinhos, aos ventos, aos redemoinhos, à  poeira, às formigas,  aos bichos de pé, aos  carrapatos e aos animais peçonhentos como  cobras,  aranhas e  escorpiões, pensava para si próprio: 

“ Para o agricultor ganhar o pão de cada dia é muito trabalhoso e arriscado, é  muito injusto ” . Estes pensamentos não saiam de sua cabeça .

                    II
O Zezinho foi crescendo e vendo a diferença entre as pessoas.  Os seus pais trabalhavam de sol a sol e dependiam da vontade do tempo, quando chovia pouco a terra nada produzia, as galinhas não punham ovos e nem as vacas davam leite, quando chovia demais muitas plantas se perdiam, pois ficavam embebidas e encharcadas com tanta água. Elas  murchavam e morriam, mesmo assim a produção era  grande, só era bom para o pessoal da cidade, pois os produtos ficavam  baratos pela grande quantidade, porém  para os produtores as mesmas dificuldades e os  mesmos sofrimentos,  pensou mais uma vez só  para si : 
 
“Com o sol causticante a terra nada produzia, com água demais a produção ficava muito grande e o transporte  difícil, continuava ruim para os produtores. Produtos  agrícolas  em grande quantidade caem os preços”.
 
 A cabeça do menino mastigava estes pensamentos todos os dias,   era  criança, porém dentro de si,  um pensador.

O que também chamava a sua  atenção,  era que  o povo da cidade ganhava muito bem  e não dependia da vontade do tempo como  os agricultores, chovesse ou fizesse sol o ganho era garantido, muitos eram empregados do governo, não havia tempo ruim. 

Voltava a refletir, só para si, quais eram as causas desta diferença entre as pessoas.   Pensava em muitas possibilidades, uma delas era a escolaridade e assim refletia: 

"Será que é porque eles têm escolas, leem livros, jornais  e estudaram?  Será que, se todos estudassem, inclusive os homens da roça,  teriam as mesmas chances? "
 
 Com estes pensamentos, o Zezinho exigiu do seu pai que queria acompanhá-lo mais vezes para vender os produtos,  conhecer mais a cidade e os seus moradores.
 
     III

Ficava  impressionado com as vestimentas do povo da cidade.  Os homens de calças e camisas finas, sapatos polidos, muitos usavam gravatas, chapéus de massa e só fumavam cigarros finos, cigarros mansos. As mulheres  muito bem vestidas e calçadas, as crianças , iguais a ele na idade, com fardas escolares, sapatos pretos, bolsas de couro  a  tiracolo e sacolas coloridas com pães, sucos,  doces, bananas e biscoitos para a merenda , todas saltitantes a caminho da escola, enquanto ele com a mesma idade,  já ajudava os pais na lida da roça,  sujeito  a  todos os maltratados da lavoura, ora   no cabo da enxada, na irrigação das plantas , na colheita  e ora na contagem dos ovos, pois  em matéria de fazer contas, na sua idade, era um gigante. De bom possuía a natureza, a liberdade e os animais, estes eram os seus verdadeiros amigos. 

O ZEZINHO era tão pensativo, que sabia muitas coisas sobre o tempo, quando era lua nova, lua cheia, quarto crescente,  quarto minguante e quando ia chover.  Sabia das horas pela inclinação do sol, a idade de um cavalo examinando os seus dentes,  pelo cantar dos pássaros se haveria inverno ou seca.  Conhecia muitas constelações e o nome de algumas estrelas, pois quando chegava a noite, todos iam para o alpendre da casa, e os mais velhos contavam todas as histórias que sabiam, muitas eram  antigas, dos tempos dos grandes Reis, principalmente as contadas pelos seus avós.
 
IV
Ficou tão impressionado com a situação, com as dificuldades dos seus pais,   que um dia sem sentir, sem querer e sem saber o porquê, as lágrimas caíram no rosto e molharam a sua face,  não entendia tamanha injustiça e imaginou só para si, para ninguém saber, só para si.

 “Aquilo era uma injustiça, aquilo estava errado, não poderia continuar assim” 

E passava o dia pensando. Já falei que o menino era um pensador.

O estopim foi quando soube de outras coisas que lhes soaram  muito estranhas. 
Soube que todos os anos, os moradores da cidade recebiam um salário a mais e passavam 30 dias sem trabalhar, isto  é, sem fazer nada e ainda  recebiam os salários sem faltar um centavo. Depois de pesquisar,  soube que eram o 13º salário e as férias remuneradas. Os seus pais nem de longe sonhavam com este verdadeiro milagre, aquilo não lhe conformava, lhe deixava impaciente e pensativo, achava tudo muito estranho. 

 Matutou mais uma vez, pois era um pensador e não queria que  ninguém soubesse dos seus pensamentos, com os olhos a  marejar pensou: 

"Se todos são filhos de Deus e da nação, todos deveriam receber estes benefícios, não existia dúvidas, deveria ser assim. Quem pagava estes benefícios e como pode receber sem trabalhar?  Na roça até os animais trabalham, as vacas dão leite, as plantas dão frutos, as galinhas põe  ovos e os burros carregam os produtos nas costas, a vida é dura, até ele, que ainda era uma criança,  tinha que ajudar em vez de ir para a escola e brincar, uma vez que todas as crianças têm que brincar, é brincando e estudando  que se aprende, já dizia vovó  DIDI”.

Neste dia o menino não dormiu, veio à mente que no futuro, a força motora iria perder totalmente o valor, tudo seria produzido e transportado por máquinas, até mesmo os animais iriam ficar sem estes empregos de carregar mercadorias nas costas. A vida seria mais fácil para os cidadãos que tivessem estudado, que possuíssem uma profissão e utilizassem o cérebro para ganhar o pão, enquanto mais estudassem maiores seriam as chances para uma vida melhor. 
 
Concluiu que o homem do futuro, para ganhar a vida só precisaria do cérebro. Mesmo  com deficiência física, porém   possuíndo um cérebro sadio e estudado poderia crescer socialmente. Ganharia a vida   numa carteira, dando palestras, escrevendo, ensinando , comandando um grupo de pessoas ou operando uma máquina. Chegou à seguinte  conclusão:   O homem é o cérebro e as outras partes são acessórios, o importante é o cérebro.
 
V
O pensador  teve uma ideia e  achava que era muito boa, ele queria justiça entre os povos, não podia continuar assim. Na cidade o povo tem tudo e não precisa trabalhar com a terra, com a lavoura,  com os animais e nem com o perigo dos animais peçonhentos   para ganhar o pão. Muitos ganham a vida sentados numa carteira,  mexem com papeis, canetas, lápis e relatórios, trabalham na sombra e com todas as garantias, inclusive recebem um  13º salário e férias remuneradas. Na cidade   as crianças  vão para a escola, vestem-se bem, comem  bem e brincam muito, enquanto no campo , com a mesma idade, as crianças já trabalham para ajudar a família. 

Não saia  de sua cabeça algumas perguntas: quem pagava este 13º, estas férias que os trabalhadores  têm direito?  era uma injustiça com os homens da lavoura.  Outro entrave eram os preços das mercadorias, se o agricultor  é quem planta e colhe, por que não dita os preços, isto não estava certo, era uma injustiça com quem trabalha na terra com todos os sacrifícios que existem, era sim uma grande injustiça, o menino não parava de pensar,   era  um pensador.

Ficou mais indignado quando soube, que muitos  não trabalhavam mais e recebiam os seus salários, queria saber este mistério, seria milagre? Foi até a Prefeitura falar com o Prefeito e disseram a ele que este grupo recebia o nome de aposentados. Pessoas que trabalhavam até certa idade e depois ficavam em repouso pelo   resto da vida, era uma garantia para quem trabalhou até a velhice. Veio na sua cabeça o seu avô, que apesar de velho ainda ajudava na lavoura, nunca deixou de trabalhar. 

O menino entrou em parafuso, quem paga os aposentados? pois quem sustenta os seus avós,  os seus pais  e toda  a sua prole  era   o pequeno terreno da família. Dizia o seu avô, que aquela chácara era herança do seu pai, o meu bisavô, que há muito tempo vivia daquela terra plantando e criando alguns animais. Veio à tona o pensamento da escola:

" Será que o meu bisavô frequentou a escola? será? tudo indica que não" 

 VI
Ao chegar à chácara convocou todas as crianças filhas dos lavradores, contou tudo que viu, o que pesquisou e como funcionava a vida na cidade, foi um alvoroço total.  Os pais não estavam entendendo tantos encontros e tantas reuniões secretas entre as crianças da roça, era muito estranho, o que estavam articulando? Sabiam que, quando muitas crianças se reúnem estão planejando alguma travessura, pois as crianças são cheias de artes e sabem de muitas coisas que os adultos nem imaginam, as crianças observam e raciocinam muito, são cheias de ideias. Têem a mente limpa e nova, aprendem tudo com muita facilidade, são atentas e antenadas  em tudo, as crianças são muito inteligentes, deveriam ser mais escutadas pelos adultos.

                                                                      VII
Noventa  dias depois,  após muitas idas e vindas à cidade, os meninos constituíram uma comissão.  Foram  ao Prefeito, ao Juiz, aos Vereadores, aos Professores, ao Padre e por último aos pais, falaram que tinham tomado uma decisão:  estavam convocando todos para uma grande assembleia na qual apresentariam  um plano desenvolvido nestes noventa dias.

Todos gostaram dos comunicados, das sugestões  e das medidas que proporcionariam justiça,  principalmente para os trabalhadores do campo, para os mais pobres e para os mais necessitados. 
 
As crianças chegaram à conclusão, que o  mundo é de todos e não deveria existir castas muito distantes uma das outras,  que  os  salários irão depender da capacidade, dos esforços e  do nível de escolaridade de cada um, desde quando todos  tenham a mesma  oportunidade  de aprender , desde quando o ensino seja com isonomia para toda a população. Tudo iria depender das ações dos gestores públicos, daqueles que estão com as rédeas do poder nas mãos.  Entenderam que os benefícios são pagos  pela  força do trabalho de todos os trabalhadores e que cada um recolhe uma parcela  proporcional aos ganhos  para depois passar a receber   justos benefícios, muitas foram as ideias, as sugestões  e as soluções.

Foi da mente do menino,  que muitas medidas foram tomadas para melhorar a vida  de muitos seres humanos. Foram elaboradas as leis trabalhistas e férias remuneradas para todos. Os pequenos agricultores foram orientados a  formarem grupos que tinham poderes sobre as plantações, o transporte e os seus preços. Os homens do campo passaram a figurar nas estatísticas como importantes cidadãos e  para as  crianças a escola passou a ser obrigatória, todas passaram a frequentar  diversos cursos,  passaram a alimentar o cérebro. Zezinho entendia que só a escola, só a educação era capaz de proporcionar a tão perseguida igualdade social e retirar o pobre do fosso no qual se encontra. 

VIII


Graças ao Zezinho o mundo melhorou pra muita gente de sua região, a cidadania aflorou em cada  cidadão e todos ficaram sabendo de onde vinha o dinheiro para sustentar tantos trabalhadores, de onde vêm o 13º salário, as  férias remuneradas e as aposentadorias. Graça aos seus esforços e espertises, tanto no campo como nas cidades   todos passaram a gozar  dos mesmos direitos, desde quando cumpram com os seus deveres. 
 
A cidadania é o maior patrimônio do ser humano.

Iderval Reginaldo Tenório

 

OS  HINOS DO NORDESTE  .

Asa Branca de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga

e A Volta da Asa Branca  Luiz Gonzaga e Zé Dantas 

Asa Branca/A Volta Da Asa Branca (Ao Vivo) - YouTube

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YouTube · Luiz Gonzaga - Topic · 8 de nov. de 2014

Um comentário:

Anônimo disse...

VERDADE. NADA VRM DR GRAÇA, TUDO DEPENDE DE CADA UM DE NÓS