sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

FESTA DA CASA GRANDE-Eloy Teles de Morais- Seu Eloy

 

Aberto em Crato, o prazo para indicações da medalha Elói Teles de Morais 

Dando continuidade aos causos do seu Eloy Teles  de Morais, Seu Eloy, aqui vai mais um  dos  seus episódios.

 

Todos os sábados , depois das 20:00h, na Rádio Educadora do Cariri,  da cidade do Crato-Ce,  seu Eloy apresentava um dos mais importantes programas culturais e de entretenimento do Brasil.

                               .FESTA DA CASA GRANDE.

Dizia seu Eloy que a Festa era realizada numa área de barro batido   com  mais de seis  tarefas de terra  e coberta de palha . Tinha mais de 400 candeeiros, de  dois litros,  60 latas de 18 litros do  querosene jacaré, aquele que não faz fumaça , cinco fardos de algodão para fazer pavios , mais de mil cadeiras e  quinhetas mesas, quase meio mundo de terra . 

Abastecida com 10 tonéis de  200 litros da melhor  cachaça de Barbalha , Zinebra,  Cajuínas e  Raizadas fabricadas nas redondezas.  Carnes   bovinas, caprinas e suínas não faltavam , sem falar  nos  200 frangos assados e mais de 100 quilos de queijos. Era o maior forró do mundo .

Iniciava no  sábado , varava a noite madrugada adentro , só terminava no domingo lá pelas sete horas da manhã quando  o bispo tocava os sinos da Sé  para a  missa das oito. Para animar compareciam  de 300 a 400  sanfoneiros, dentre eles o Rei Luiz Gonzaga .  

 O organizador, apresentador e o responsável por esta festa era o próprio, seu Eloy.  Dos microfones da querida emissora, Rádio Educadora do Cariri, a Rádio do povo, o menestrel  vigiava tudo. 

Como todas as festas, o organizador fazia a sua vistoria  antes de abrir as portas ao público.  Duas horas antes  Seu Eloy visitava a área, olhava os candeeiros, os pavios,   conferia os tunéis de cachaça, as carnes  , os bancos e as refeições dos sanfoneiros,  as 60 latas do mais puro querose e o distanciamento das chamas   dos pavios para o  teto do galpão.

Orientava o pessoal da cozinha e do bar, conversava com o pessoal da vigilância para não deixar nenhum  sujeito entrar armado, orientava as   mulheres que aguavam o chão para não fazer poeira .

Na entrada existiam diversos balaios e caçuás  para colocarem as facas de cintura, facas de cortar fumo , de descascar laranjas , trinchetes , suvelas e  punhais. Caixotes  compridos de madeira para  pistolas, espingardas,  revólveres de todos os calibres e outras armas de fogo artesanais , enfim , conferia tudo para que a  festa transcorresse na paz  . 

O mais hilariante era que antes da festa começar Seu Eloy identificava e  conversava com cada sanfoneiro, organizava o momento que cada um teria que tocar, falava que os mais velhos tinham prioridade .

Incentivava que cada um dissesse alguma coisa e puxasse o fole para testar o som da choradaira, neste momento se ouvia o tilintar dos copos, gargalhadas, conversas diversas, sanfonas de oito, oitenta e de cento e vinte baixos sendo testadas. Acordes do Assum Preto, da Asa, Forró de Mané Vito, do Dezessete e setecentos  e outros trechos eram ouvidos nos fundos do salão.

A festa era uma verdadeira multidão de visitantes , casais conversando, moças e rapazes em busca de nomoro,  profissionais de apoio , músicos , múltiplas  equipes e pequenos ambulantes em busca de vender os seus produtos, era um grande momento de confraternização.  Doze  horas do puro baião, do puro forró,  era o maior samba do Ceará  e do  mundo.

Quando o forró tinha o seu início,  entrava um tocador novo e quando puxava o fole   seu Eloy mandava o mesmo parar e perguntava se ele não respeitava os mais velhos. Quem deveria iniciar a festa era o mestre  Luiz Gonzaga , além de ser o mais velho, era da terrinha do Exu, afilhado do Padim Ciço e o soberano do  Baião .  Ainda não existia ninguém, que em matéria de sanfona,   colocasse cangalha nas suas costas, igual a ele só exitiam uns tais de Beatles na Inglaterra e um tal de Franck Sinatra nos Estados Unidos , o homem  era o maior e morria pelo Crato. O sanfoneiro pedia desculpas , voltava para o seu  banco e assistia o rei Luiz Gonzaga abrir o espetáculo.

Quando Luiz tocava duas ou três pérolas , seu Eloy entrava e falava;  Seu Luiz dê uma chance para  os mais novos e aí muitos monstros da sanfona apresentavam-se, sempre intercalados com os maiores do Brasil.  

Zé Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Severino Januário, Genival Lacerda, Negão e Arlindo dos Oito baixos , Anselmo, Abdias, Mário Zan, Genaro, Severo, Sivuca, Coronel Ludugero, Marinez, Zito Borborema,  Trio Nordestino,  Dominguinhos, ainda no começo, Pedro Sertanejo, o pai de Osvaldinho do acordeom e outros grandes,  sempre mesclados com os mais novos como Zé Nilton,  os Calixtos, o próprio Osvaldinho , ainda de calça curta e pescoço fino. Era o maior  espetáculo da terra.

Seu Eloy com o microfone na mão  comandava o evento, pedia para não apagarem os candeeiros , para colocarem querosene e  não beberem muita pinga. Pedia aos homens que dançassem com lisura e  não encarcassem as moças, pois eram de famílias decentes.  Caso algum fizesse mal  a uma donzela   teria que se  casar, ali era um samba de respeito. 

Quando notava que um caboclo queria apalpar uma moça e levava  as mãos abaixo da cintura , pedia para  o Luiz Gonzaga tocar  uma música  para lembrar as regras , não deixava nenhuma dúvida: buliu, casou, era o aviso.

Desse jeito sim/ Desse outro jeito não.

Tu cum essa mão boa
Fazendo danação
Só quer dançar
No escuro do salão
Vamo pro quilário
Donde tá o lampião
Desse jeito sim
Desse outro jeito não.

"Dançando afigurado
Cum malinação
Por causa disso
Matáro o cabo João
Vamo pro quilário
Donde tá o lampião
Desse jeito sim
Desse outro jeito não"

" O sujeito  ajeitava-se, colocava-se no seu lugar a olhar para um lado e para outro à procura do pai na moça, via no palco Seu Eloy, este dava um puxavanco  de orelhas e a festa continuava. Assim era a Festa da casa Grande  e  o forró ia até o dia amanhecer.

O programa era tão autêntico que muitas vezes o mestre Eloy  pedia para os sanfoneiros pararem a música, retirava todos os sons das conversas, os latidos  dos cachorros,  o tilintar dos copos, o chiado dos chilenos e num silêncio sepulcral falava aos microfone  para todo o Brasil:

"Pessoal do Crato , dos seus distritos e de todas as cidades vizinhas, Assaré, Barbalha, Juazeiro do Norte, Exu , Bodocó, Salgueiro, Caririaçú, Araripe e Santana do Cariri, muitos estão vindo aqui para a Rádio Educadora para esta grande festa, querem conversar com Luiz Gonzaga , com o Jackson e os outros sanfoneiros, tive que fechar os portões de entrada da emissora , grande foi a quantidade de pessoas e casais pedindo para entrar, inclusive dois prefeitos e muitos vereadores com caravanas. 

Aqui minha gente é um Studio fechado, ficamos Eu, dois controladores , uma telefonista e dois técnicos  , é apenas um programa de Rádio.  Já avisei varias vezes, porém continuam chegando gente de toda a Região para a A Festa da Casa Grande"

Assim era Seu Eloy, a Festa da casa Grande , o nosso Cratinho de açúcar, a Rádio Educadora e o maior Forró do Mundo . 

Viva seu Eloy que passou esta cultura para todos nós do Sul do Ceará, nós  que tivemos  a felicidade de conviver com este gigante da comunicação.

Nós do Cariri fomos uns privilegiados, tínhamos e temos  boas escolas, o Diocesano, os Franciscanos e os Salesianos, bons professores e  grandes comunicadores nas nossas emissoras .

Tivemos a  felicidades de conviver com os ícones da música e da poesia  nordestina, notadamente o Luiz Gonzaga e o Patativa do Assaré, como também os três principais nomes da religião católica do nordeste que peregrinaram por estas terras-  Padre Cícero Romão Batista , Padre Ibiapina e Frei Damião de Bozano, todos em fase de beatificação.

Este Cariri , sob a tutela da Chapada do Araripe,   é uma região abençoada. 

Foi nesta chapada  que nasceram os três homens do século do Ceará e Pernambuco: Luiz Gonzaga, Patativa do Assaré e o maior nordestino de todos os tempos - O Padre Cícero Romão Batista  , nascido na cidade do Crato e   fundador da cidade Juazeiro do Norte, hoje A CAPITAL DA FÉ .

                                      Eita Cariri Macho.

Iderval Reginaldo Tenório

 Observação: A Rádio Araripe do Crato já albergou Seu Eloy e os seus espetáculos.  É o nosso  Crato na cabeceira  cultural do Nordeste brasileiro. 

Música Desse Jeito Sim com Luiz Gonzaga.
YouTube · Pedro · 19 de mar. de 2012
 
Composição: José Jataí / Luiz Gonzaga.

Eloi Teles de Morais (Crato, CE, 19 de abril de 1936 - 9 de outubro de 2000) foi um radialista, escritor, advogado, jornalista e folclorista brasileiro.

Formado em Direito, era também funcionário do Ministério da Agricultura.

Apresentador do programa Coisas do Meu Sertão, especializado em poesia matuta e veiculado diariamente, por mais de 30 anos, na rádio Araripe e, depois, na Rádio Educadora do Cariri.

Destacou-se, também, como folclorista, sendo um dos grandes incentivadores das manifestações da cultura popular do Cariri Cearense, como as bandas cabaçais, reisados, maneiro-pau e literatura de cordel.

Foi o fundador e primeiro presidente da Academia de Cordelistas do Crato.

 

O homem era um visionário, tudo que a televisão faz  hoje o seu Eloy fazia na década de sessenta no Rádio Caririense . 

Os merchandises. 

 O querose era Jacaré, a Cachaça era de Barbalha, a Cajuína do Crato ou de Juazeiro do Norte.

Eram os patrocidadores do Programa .

Iderval Reginaldo Tenório

Médico em Salvador 

Nascido na Serra do Araripe

Ceará-Pernambuco

 

Eu Vou Pro Crato - YouTube

www.youtube.com › watch
Composição: José Jataí / Luiz Gonzaga.


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