sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

ZÉ PIANCÓ

 

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Blog XIQUE XIQUE: Foto Interessante: O VAQUEIRO EM ATIVIDADE

ZÉ PIANCÓ

 

          Zé Piancó nascera sem coração, vivera por viver, a  sina era trabalhar, labutar, brigar e cansar o corpo moído. Da boca para o bucho e deste para o mundo para alimentar outras bocas. O Piancó nascera bicho para quebrar  ossos, queimar o mundo e para maltratar a  terra sem ferir a natureza, era um selvagem bruto, um animal animal.

          Coração seco,  vida real e dura, tão real  como o  morrer.  O Piancó não era pouco esforço, era exagero, era o sol ardente sem piedade a sapecar as costas da terra,  as descargas dos raios e os estrondos dos trovões nos dias de tempestades. O macho  era a poeira, a ventania, o redemoinho a destronar os invasores, o tronco grosso que resiste ao fogo, a capoeira fechada de gravetos, capim e o  cipó, que na seca são tão inflamáveis como a gasolina.

          O Zé era pau de bater em bicho, corda de amarrar doido, o amargo do jiló e   o doce da cana caiana, era o assobio da cobra, o mormaço da evaporação e do calor, o Zé era a  trama, o trauma  e a lama.

          O sujeito era o estrondo  e  o escuro como nas noites de trevas, era o miolo da dura madeira, era o fundo lá dos fundos dos profundos mares, o cabra era a fronde da moita, o oco do pau, o manto do monte, o centro da terra e o ferro do núcleo. Era pedra, gás, água, era o incandescente, Piancó era tudo e ao mesmo tempo não era nada.

         O Zé era o Zé , nada mais do que um Zé. Nascera sem pai, sem mãe, sem nada, sem beira e talvez sem eira, o Piancó nascera sozinho, sem rumo e sem prumo.  Vivera na solidão, na defesa da vida, da natureza  e na defesa do pão. 

       O Zé da Silva Piancó era um piancó e nada mais, apenas um piancó, um Dassilva, um Corema, um Cariri.

                                          O Zé era um CARIRI.

          Iderval Reginaldo Tenório

O QUE É HETEROSSEXUALIDADE COMPULSÓRIA? termos feministas

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Zezinho, Pedrinho e a Natureza.

 


 


Tinamidae Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) Nambu-p… | Flickr

    

                                       Zezinho, Pedrinho e  a natureza.

 

 


Inhambu chororó (Crypturellus parvirostris) Small-billed - YouTube

                            Zezinho, Pedrinho e  a Natureza.

Zezinho, 14 anos de idade, 1968, férias nos sertões pernambucano. Pais  agricultores de subexistência, porém acreditavam na educação como uma das ferramentas para um futuro melhor,  não deixavam os seus filhos sem escola.   

Zezinho e Pedro saíram em busca de uma caça para  comer, ato comum naquelas paragens nas décadas de sessenta e setenta. Ao furarem as capoeiras e exaustos, sentaram no tronco de um umbuzeiro, sob o sol causticante,  o único lugar que tinha sombra. Beberam  água de cabaça, enxugaram o rosto com a ponta da camisa  e seguiram enfrente.

As armas não eram de fogo e sim duas baladeiras(estilingues) feitas de gancho de madeira, borracha de câmara  de ar e  couro velho de cinto, achado numa maleta de madeira forrada com couro cru e cuidadosamente guardada pelo pai, uma vez que, no campo nada vai para o lixo, isto é, nada se rebola  no mato, um dia será útil. A reciclagem no sertão é moda eterna e é levada  a sério.

Saíram em silêncio e logo viram um casal de Codorniz, são tão espertas e atentas  que voaram fazendo um grande barulho com o bater das asas, continuaram a caminhada. Pedro, que ia na frente, avistou um preá adulto e dois filhotes, puxou as borrachas da baladeira, Zezinho com os dois braços elevados  gritou alto: PARE PEDIM, PARE, exatamente para os animais ganharem a copeira e escaparem.  Completou em voz  alta :

"Pedim, não se mata filhotes e nem uma mãe que os conduz.  Quando um filho morre é um trauma para a mãe e quando uma mãe morre, com filhotes pequenos, eles sofrem, podem morrer de fome ou mesmo serem comidos pelos animais maiores, eles são presas fáceis.  Nunca faça isso Pedim, sei que aqui neste sertão é comum o homem sobreviver caçando animais, porém tem que seguir algumas regras, já imaginou  quantas crianças estão abandonadas no mundo por falta de uma mãe?".

 Pedro não gostou, ele queria era uma caça. Continuaram a caminhada e  sempre atentos com os animais peçonhentos, notadamente as cobras  cascavéis que têm matado  ovelhas, bodes, bois,  cavalos  e também pessoas. 

Cortaram a pé mais de uma  légua de caminhada, só carrapichos, rabo de raposa, mandacarus, jiquiris, coroa-de-frade, facheiro e  faveleiros. Com  o sol se pondo e  a queda da temperatura,  os animais surgem em busca da alimentação e da água.

Pedro, muito esperto, começa a atirar com a sua  arma artesanal, acerta uma rolinha, um caga-sebo, um corró e um gola, insatisfeito começa a atirar em calangos e lagartixas, disse que não gosta do balançar das suas cabeças, o Pedro é um menino traquino. 

Zezinho reclama e diplomaticamente toma a dianteira. Ao aproximarem-se de um dos aceiros da capoeira, enxerga um ninho e comunica ao Pedro, era um ninho de Inhambu, que é conhecida na região como Nambu. Os seus ovos são marrons, tais quais são as suas penas, eram cinco no seu total. Zezinho não quis levá-los, porém Pedro bateu o pé e disse que não deixaria os ovos no ninho, não voltaria de mãos vazias e  iria comê-los cozidos. 

Zezinho rebateu:

"Pedim meu irmão, são estes ovos que darão continuidade a existência dos Nambus aqui na terra. Como você e a sua traquinagem  não querem deixá-los, vamos fazer um acordo: Ao chegar em casa você fica com dois e eu com três, pois foi eu quem achou o ninho. Acho  inclusive, que a mãe Nambu não mais voltará para chocá-los, pois você desfez e pisou no ninho, cortou o capim,   expôs ao relento e fez muita zoada, a mãe está desconfiada e temente, abandonará o  ninho em defesa da vida, ela é afavor da vida e não da  morte".

Pedro retruca com ar de sabedoria  e com o dedo em riste vocifera:

 " Zezinho, você está cheio de leotria e filosofia, depois que mudou de escola, só fala agora em defender a natureza, os animais e até falou que matar as abelhas, as formigas e as borboletas é crime, você está muito diferente. Outra coisa  Zezinho, o professor falou na minha escola, que são os países ricos que destroem a natureza,  escravizam as nações pobres e levam tudo de bom para eles. Você sabia que o café bom  e as frutas  boas, enfim tudo que for de bom os ricos do mundo levam para o estrangeiro e para nós só ficam as borras?

Partiram para casa, no caminho  Pedro  e Zezinho trocaram ideias mirabolantes sobre a natureza e os seus fenômenos, um ensinava ao outro o que sabiam.

O Pedro pegou uma caçarola logo ao chegar em casa,  cozinhou os dois ovos  e comeu com farinha. O Zezinho viu que na sua casa uma galinha estava chocando alguns ovos, quando ela saiu para beber água ou comer alguma coisa, que é rápido e deixou o ninho sozinho, colocou os três ovos  entre os da galinha, não disse nada para a sua mãe e todos os dias ia até o ninho para saber como estavam. Passado 19 dias, os ovos começaram a eclodir, não  é que nasceram dez pintos brancos e  graudos,   três pintos marrons e  pequenos!?  A galinha quando viu a sua ninhada, provavelmente achou estranho, porém andava no terreiro com todos os treze, inclusive cuidava bem dos brancos, porém dava mais atenção aos  pequenos e  marrons. Dividia os grãos de milho, as formigas e farinhas em xerém, para os menores e quando ia se deitar colocava os três marrons em baixo do seu fofo peito,  os maiores e  brancos sob as duas asas. Orientava os maiores para não chatearem os seus pequenos filhotes, todos eram irmãos e mereciam o mesmo cuidado,  pedia que protegessem os três menores. Os pintinhos brancos tinham orgulho dos irmãos cor de chocolate,   ficavam impressionados com o talento, a rapidez  e a destreza  de cada um, os pequenos não paravam, eram incansáveis.

Passado dias, as férias acabaram,  Zezinho e Pedro voltaram para as suas escolas. O Zezinho chamou o Pedro e  falou:

"Pedim,  vejo que você é inteligente e um dia  vai entender a natureza. Vai conhecer a grande variedade de vidas, vai mergulhar no estudo das raças, das etnias, das matas, dos minerais, dos rios e de tudo que compõe a terra. Veja que a galinha cuidou dos pintos como se todos fossem seus, cuidou sem preconceitos e mostrou aos seus pintinhos brancos como é importante respeitar a diversidade e as  diferenças."

Diz o pai de Zezinho, que a galinha ficava muito alegre quando via os seus filhotes marrons crescerem, voarem,  cantarem com tanta precisão as  lindas e estranhas  melodias, não comuns entre as galinhas.

A família cresceu, os pintos ficaram adultos e começaram a ter os seus filhos. As  Nambus ganharam a capoeira em busca do seu habitat natural, porém,  de vez em quando voltavam para visitar a mãe e cantar para todos os moradores do arraial.  Eram verdadeiras estrelas da natureza. Uma vez vieram  mais de trinta e fizeram uma contagiante apresentação, neste dia os olhos da galinha  marejavam de tanto orgulho e alegria, era visível o soluçar  do seu cacarejo.  Um grupo cantava em tons iguais, outros em tons  diferentes e  um, que ficava à frente,  comandava com maestria.  Havia um  menor que se destacava nos silêncios do espetáculo, era um tenor e de grande valor, tinham músicas que todos  paravam e o pequeno tenor soltava a sua contagiante voz,  o  maestro conduzia com sabedoria e orgulho.

Os encontros de família ficaram inesquecíveis para todos. Não saem de suas mente os belos espetáculos  cantados pelo  coral dos Inhambus.

Foi assim que Zezinho passou as suas férias e junto ao Pedro organizaram um debate na escola com todos os colegas, o Pedim, conquistado pelas ideias do  colega,   foi o seu coordenador e escolheu  o assunto :

TUDO PELA NATUREZA. CUIDE DA FAUNA E DA FLORA. CUIDE  DOS MORROS, DOS  RIOS  E DO HOMEM. O MUNDO É DE TODOS E MERECE RESPEITO.

CUIDE DA NATUREZA.

Salcador , 13 de Janeiro de 2025

                                                               Iderval Reinaldo Tenório

sábado, 11 de janeiro de 2025

A DERROCADA DA MEDICINA BRASILEIRA

    ESCOLAS DE MEDICINA - Coleção de MEDSTILLO (@lojadejalecos)

 Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia –  Wikipédia, a enciclopédia livre

A DERROCADA DA MEDICINA BRASILEIRA  

    
O cenário político e econômico vaticina   dias dificeis  para  os Esculápios brasileiros . 

Muitos foram, são e serão os eventos que os levarão  à  bancarrota.

1-A abertura indiscriminada de Escolas Privadas  desprovidas de  hospitais  que alberguem os seus acadêmicos, entidades criadas sem   estudos básicos, sem olhar para  a  proporcionalidade populacional,  professores  e a real necessidade.

2)A  chegada de milhares de médicos de toda a america do sul e latina, muitos sem o revalida.  

3) O abandono  das Escolas públicas, notadamente as Federais e   a desvalorização dos professores, dos assistentes e dos mestres. 

4)O sucateamento dos Hospitais Escolas e  o  fechamento de milhares de leitos SUS nos 5700 municípios brasileiros, inclusive fechando hospitais com menos de 50 leitos. 

5) A  entrega da medicina aos políticos e  aos grandes grupos privados, transformando-a em manobra eleitoreira e de enriquecimento   às custas dos enganados  pais, que pagam fortunas para educar um filho. 

6) A medicina Suplementar atuando como intermediária  entre o profissional e o  paciente, ambos sem força e sem  palavra.
 
7) O fechamento dos consultórios humanos e sendo substituídos  por  Empresas Médicas que têm a medicina literalmente como  comércio.
 
8) A  invasão  do  ato médico por outros profissionais em quase todas as especialidades. 
 
9) Os baixos salários, levando o médico a labutar cotidianamente  em vários empregos, inclusive  sendo uma das formas de óbitos de profissionais jovens, notadamente por acidentes automobilísticos nas estradas da morte de município em município  a  defender o pão. 

Estes modos trouxeram diversos malefícios.

 1) Os médicos perderam a prioridade nos cargos diretivos   tanto Municipais, Estaduais e Federais. 
 
2) Os Secretários de Saúde e o Ministro não precisam ser médicos, e quando médicos de formação, transformam-se em executivos tecnocratas   e políticos descompromissados com a medicina, focam o voto e o poder.  A intenção é uma cadeira parlamentar ou uma grande assessoria governamental. 
 
3) O afastamento dos cargos administrativos nas unidades hospitalares, no programa da família(PSF)( UPAS)(POLICLINICAS NO INTERTIOR) e nos demais serviços pertinentes à medicina .
 
Hoje  os médicos estão em segundo plano, forças contrárias aos interesses   dos médicos e da medicina  incutem na cabeça dos médicos  que o sistema  conselhal é obsoleto,  inerte e prejudicial à classe, é  apenas  um órgão punitivo.  Os médicos acreditam e passam a não    participar da sua mais importante instituição.
 
Caberia uma reflexão mais apurada e todos os médicos arregaçassem as mangas e partissem para ocupar  espaços nas suas entidades e na sua autarquia. 
 
Conselhos fracos categoria fraca. Na vacância dos Conselhos serão os leigos os seus julgadores. O prestígio de uma classe profissional  está ligado ao poder político(voto), econômico(poder aquisitivo), social(ações) e no  domínio dos conhecimentos .  
 
O médico e a  medicina humana estão em franca decadência.  A informática e a engenharia da imagem dominam nos médios e nos grandes centros(IA). Para um bom  atendimento, basta entrar numa máquina. O raciocínio na propedêutica encontra-se em desuso,  isto está empurrando a medicina para ser uma ciência exata, primeiro as máquinas  e por derradeiro a clínica, que era soberana. 
 
Não menosprezando a tecnologia, que é  importante e indispensável,  a fisiologia, fisiopatologia e a semiologia não deveriam ser nocauteadas pela IA,     levando-as literalmente ao solo.  Sobram máquinas sofisticadas  e faltam médicos médico.

A soberania da clínica, o toque  do médico, a semiologia aplicada, as cãs dos esculápios, a benevolência,  a beneficência e a generosidade da ética ficaram para trás.

Politicamente,  os médicos e a medicina, há muito que perderam os seus  postos, estão muitas frágeis . 

No setor financeiro, a medicina virou mercadoria e os médicos profissionais baratos, é mais um produto  no mercado. Muitas Prefeituras contratam médicos, geralmente jovens e do  sexo feminino, não proporcionam   segurança trabalhista e não honram suas dívidas, notadamente  na mudança dos titulares do executivo.  
 
Na medicina suplementar quem dita os valores são os contratantes e não os contratados. Hoje   é comum   grandes serviços diagnósticos, hospitais e cooperartivas serem os intermediários entre os  planos de saúde e os  médicos, que além de abocanharem uma boa fatia dos  seus proventos, muitos não honram o acertado, ficando os médicos  soltos sem saber para onde apelar e têm até medo de entrar na justiça em busca dos  seus direito, geralmente ações caras, demoradas e com incertezas. Estes profissionais, qualificados às custas de anos e anos de estudos,  ficam em desespero, ligam-se aos terceirizados,  voam em busca   de mais uma aventura, sentem-se vulneráveis  e caem  em  mais uma armadilha.  
 
O relacionamento dos médicos  com a sociedade é comercial, segue o código do consumidor com todas as suas  mazelas.  Enquanto os médicos  utilizam-se da ética, do  conhecimento, da compaixão e respeitam a autonomia do paciente,  os outros são partidários da  pecúnia .

Consumindo os   suspiros sociais da Medicina, os poderes (Municipal, Estadual, Federal e Judiciário) retiram vagarosa e continuamente as últimas gotas de sangue da velha medicina com taxas,  tributos, ditames  e impostos exorbitantes.

O Liberal autônomo,  devido a intermediação do sistema médico suplementar,  os grandes grupos empresariais da saúde, a pejotização e a terceirização do Sistema  Público   encontra-se  sem força, fraco e subserviente. 

A medicina e o médico caíram na vala comum, é  uma contenda entre a Medicina, a pecúnia e o poder,  na qual um dos lados tem como arma a ética, e esta   é mansa, educada, paciente, benevolente, caridosa, responsável  e respeitadora, enquanto os outros  têm a força, a truculência, a  política e a saga da enganação.  Devido a desinformação da população,  vencem os lados da pecúnia.
 
Apesar deste quadro, é a medicina um dos sonhos dos jovens e de todas as  famílias do país, fruto da lisura e da importância da profissão. 
 
A medicina é a mais sagrada das ciências, ela entra na vida de cada um dos cidadãos que vão em busca  da cura,  do remediar ou do  paliar os seus sofrimentos.
 
                                    O novo sempre vem.
 
Salvador 18 de Outubro de 2022

Iderval  Reginaldo Tenório