quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Luiz, respeita Januário Em terra de Luiz Gonzaga, quem mandava era o pai.

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Luiz, respeita Januário

Em terra de Luiz Gonzaga, quem mandava era o pai.

O grande mérito de Gonzagão foi representar em roupagem popular os assuntos sertanejos, de um jeito que o Brasil real tocasse no rádio e virasse uma dinastia musical, o baião. Porém, além de dificilmente compor, mais raramente ainda o rei se inspirava em histórias próprias. Os grandes compositores que o acompanhavam eram os verdadeiros responsáveis pelas poesias belíssimas, e ainda assim quase nunca baseadas na vida pessoal.

Escolhi para destacar aqui uma das poucas exceções, se não a única. Respeita Januário foi escrita por Humberto Teixeira de acordo com um acontecimento relatado por Luiz.

“De Itaboca a Rancharia, de Salgueiro a Bodocó, Januário é o maior!”. O pai do Rei do Baião era o mais respeitado e conhecido sanfoneiro da região do Exu. Além de chamado para tudo que era festa importante, consertava e afinava sanfonas em casa. Luiz aprendeu a tocar com ele e também fazia bailes quando garoto. Mas ficou 16 anos sem aparecer no sertão desde que saiu fugido, porque arranjou uma confusão com o pai da moça com quem queria se casar - o homem não gostava nada de sua filha de chamego com negro pobre.

Quando voltou pela primeira vez ao sertão, 16 anos depois e já famoso no Rio de Janeiro, o povo por lá estranhou o rapaz com pose de artista, com aquela sanfona prateada toda incrementada, 120 baixos.

Jacó, um sertanejo antigo, advertiu ao pé do palco: “Luiz, respeita Januário!”. Segundo Gonzaga, o velho e a frase existiram de verdade, como ele afirmou em entrevistas. Aí foi só o doutor do baião arrumar os versos: “Luiz, tu pode ser famoso, mas teu pai é mais tinhoso/ E com ele ninguém vai, Luiz / Luiz, respeita os oito baixo do teu pai!”.

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Por Natália Pesciotta

 

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