ZEZINHO, UM PEDIDO AO PAPAI NOEL
CAPÍTIULO I
O PEDIDO
Papai Noel, queria um diálogo com o senhor. Queria saber onde o senhor mora, quantos anos o senhor tem, a sua profissão, se o senhor é agricultor, um trabalhador comum, professor ou um grande empresário.
O meu nome é José, conhecido como Zezinho, tenho 08 anos de idade e moro em Pirambuí, aqui no sertão pernambucano. Os meus pais são agricultores e trabalham de segunda a segunda. A minha mãe além de tudo que faz na roça, cuida dos filhos e dos meus avós, enche os potes com a água do barareiro, lava roupas, pratos, panelas, cozinha, cuida das plantas e dos pequenos animais, não descansa um único dia. Lembro que aqui não tem energia elétrica, fogão a gás e nem água encanada. Nos domingos, pela manhã, todos vão em busca de lenha para cozinhar, papai traz um grande feixe e os demais a quantidade que aguenta trazer, nestes momentos conversamos muito no caminho.
O meu irmão mais velho, o Vicente, trabalha com os meus pais, como está com 12 anos de idade, o trabalho é mais leve.
Aqui em casa todos tem uma ocupação, os menores vão até os ninhos das galinhas, recolhem os ovos do dia, são poucos, porém nos servem muito, os outros mexem com a horta e colhem verduras.
CAPITILO II
O QUE LEVOU A FAZER.
Acredito que o senhor é amigo de Deus ou é o próprio Deus, pois o senhor é muito rápido e está em todos os lugares do mundo ao mesmo tempo. A minha mãe disse que só Deus é onipresente, onisciente e onipotente.
Acho que o senhor é muito rico, pois distribuir presentes para todas as pessoas das cidades, das cidades! tem que ser afortunado.
O meu pai falou que a coisa está feia para nós, os preços das mercadorias estão muito alto e o que ele planta não tem preço, é muito barato e só dá para comprar a comida e um pouco de mistura( toucinho, jabá e aqui e acolá um taco de carne fresca). Mesmo com estas dificuldades, o meu pai disse que devemos agradecer a Deus, pois na cidade tem muita gente que nem isso tem para comer, moram nas ruas ou em verdadeiros despenhadeiros, disse que devemos agradecer, porém sem nos indignar.
Acredito que, se os homens da política olhassem para todos, teríamos uma vida mais digna. Não olham porque não quer, pois conhecem as dificuldades.
Meu pai disse que em todas as cidades tem uma ou duas famílias que mandam e desmandam, falou também que quando o pai fica velho, coloca o seu filho como substituto, depois o neto e até os bisnetos para mandar, inclusive colocam os seus nomes nas ruas, nas praças e nas escolas da cidade, falam que é para se imortalizarem. Depois abriu os olhos e falou, os cargos da prefeitura são dividos entre eles e os apoiadores.
Queria saber se o senhor tem o nosso endereço, este que está escrito no envelope desta carta: Serra da Sussuarana, no sertão dos inhamuns, Pernambuco. O nome é em homenagem a um tipo de onça da região.
O meu pai tem 55 anos de idade, disse que nunca viu o senhor por aqui e que a sua carruagem não circula por estas bandas, será que é devido a falta de estrada? quando chove vira um atoleiro e quando não chove é poeira pura.
Provavelmente, a culpa não é do senhor e sim do abandono, da pobreza, da ganância dos homens que comandam e do egoísmo das grandes nações. Falou com muita tristeza, que os povos desenvolvidos há séculos saqueiam os países pobres, promovendo esta feroz desigualdade.
Afirmou que trabalha todos os dias, de segunda a segunda, o que ganha só dá para comer. Disse também que, com todos estes sacrifícios, ainda entrega uma parte, a mais graúda, para um tal de governo, que por aqui também nunca passou.
Meu pai afirma, com tristeza, que o senhor só anda nas cidades e os presentes só entrega nas casas dos ricos. Que no natal o senhor envia para os ricos muitas coisas deliciosas e com nomes estranhos: queijos, CHESTER, PANETONE, frangos, carnes, amêndoas, tortas, pudins, presunto, tender, frutas cristalizadas e outras guloseimas, além de vinhos e outras bebidas que só os ricos conhecem.
CAPITIULO III
AS DÚVIDAS
Eu queria saber se o senhor tem algum problema com as pessoas do nosso tipo, deve ter, pois nunca passou por nossa casa, será que é devido sermos pobres e morarmos no campo?
Sei que o senhor é muito ocupado e nunca viajou por estas paragens, porém farei um pedido, se não puder realizar me avise com brevidade. Eu não quero nada para mim, nem para o meu pai, nem para a minha família, quero para todos daqui do sertão.
Mesmo sem saber onde moramos, nem onde é o lugar, peço que fale com o seu amigo e irmão Deus, Ele sabe de tudo, conhece todos nós, sabe onde moramos e o que estamos passando, sabe de tudo que acontece na face da terra. Sem querer chatear ou aborrecer o senhor e nem a Deus, peça por nós, pois os meus pais depois do duro dia de serviço, todas as noites rezam por dias melhores. Será qure os senhores estão escutando?
CAPITIULO IV
O REFORÇO DO PEDIDO
Meus pais pedem chuvas por apenas 05 meses por ano para encher os barreiros, molhar o chão, as plantações, matar a sede e alimentar os animais. Peça a DEUS que mande fartura para todo o povo sofrido do sertão. Um detalhe importante, que estas chuvas venham para todos que vivem neste sertão, nos outros sertões, nas cidades e florestas do planeta.
CAPITULO V
ORIENTE OS JORNALISTAS
Peço que aconselhe os jornalistas para inverterem os seus pensamentos, pois um dia, um famoso locutor de uma grande televisão disse no jornal da noite, que o tempo seria ruim, pois iria chover e no outro dia disse que o tempo seria bom, pois iria fazer muito sol e iria dá praia. Acho que ele é inocente e não sabe de nada, acho até que não tem juízo.
Estes jornalista não sabem o que é uma lavoura, a criação de animais e como é bom acordar com os sapos e as rãs coaxando, os passarinhos cantando saltitantes de alegria, as borboletas voando, os animais correndo alegres nos terreiros e os vegetais verdes, verdinhos, verdinhos de fazer gosto, preparando-se para a floração e a frutificação. Acho que não sabem e nem nunca viram as babujas e os capins rasteiros nas primeiras chuvas. Estes jornalistas não têm conhecimentos ou são sem tino, eles não sabem o que diz, provavelmente falam o que os chefes mandam, o pior papai Noel, eles convencem o povo, eles falam assim:
"TEMPO RUIM, VAI CHOVER. TEMPO BOM, VAI FAZER SOL E VAI DÁ PRAIA" e o povo das cidades acha que ele está certo.
CAPITIULO VI
AGRADECIMENTOS E IDEIAS
Papai Noel, se o senhor achar verdadeiro este meu pedido, ficaremos muito grato com o senhor, eu e todas as pessoas aqui do sertão.
Nós não queremos presentes, nós não precisamos de nenhum presente. Eu, Zezinho, não preciso de bola, carrinhos e nem as meninas precisam de bonecas, tudo nós sabemos fazer.
Quando o senhor nos visitar, vou fazer um carrinho de madeira ou um carro de boi e a minha irmã, Maria, uma boneca de pano para o senhor levar para os seus filhos, não sei se eles irão gostar, porém nós vamos fazer com muito gosto, aguardamos com muita esperança a sua visita.
Queria acrescentar outro importante pedido. Peça a Deus para colocar Escolas para todas as crianças até completar os 18 anos, porém com bons professores, merenda, livros, fardamentos e transportes, pois aqui no sertão as estradas são péssimas, quando existem.
Vou dá uma ideia, as merendas das escolas deveriam ser compradas aqui dos nossos agricultores, aqui tem tudo. Quando chove tem muito leite, queijo, feijão, carne, ovos, frutas, batatas, mel de abelha, milho e outras comidas gostosas. Os nossos pais, os nossos amigos e todos daqui de Pirambui plantam, criam os animais e poderiam vender para as prefeituras e elas mandariam para as escolas e os hospitais.
Nós encheríamos os nossos buchinhos e ficaríamos nutridos, pois somos inteligentes. Com a barriga cheia aguçaríamos a inteligência para os estudos e para melhores dias. Com esta conduta poderíamos comprar roupas e outras coisas.
CAPÍTULO VII
O COMPLEMENTO DO PEDIDO
Sei que a carta está longa, mas não pode ser menor, os pedidos são muitos.
Tem outra coisa PAPAI NOEL, não se esqueça também de postos de saúde e nem de um hospital para atender o nosso povo e com bons profissionais da saúde. Quando se adoece por aqui, é de fazer pena, o sofrimento detona a cidadania de toda a família, pois tem que perambular e pedir aos políticos um socorro.
Peço que coloque o meu endereço na sua agenda, todos os anos renove este meu pedido até o dia que não precise mais, não quero abusar de sua paciência, pois pedir não é coisa de homem sério.
Um homem sério faz tudo para viver do seu próprio suor, homem sério não gosta de nada fácil e nem dado, só gosta do que vem do seu trabalho, só os desonestos praticam estes atos e tem muito neste nosso país, principalmente os políticos enganadores.
Sei que Deus não gosta de coisas ruins, porém tem muita gente sem juízo, sem caráter e que só pensam em si. Vendem até os pais para melhorar de vida, chegam a enganar as pessoas sem nenhum respeito, principalmente os mais pobres, muitos apoiam. Meu pai chama estes adoradores de idólatras e diz que é deprimente.
CAPÍTIULO VIII
OS PORQUÊS DO PEDIDO
Este meu pedido é porque não posso interferir nestas coisas misteriosas, os fenômenos naturais: ventos, chuvas, trovões e outros mistérios que só Deus entende e controla, é o que eu acho, pois ainda sou criança. Talvez quando eu crescer e tiver a chance de estudar, saberei alguma coisa sobre estes fenômenos e como me expressar.
Queria estudar e dedicar a minha vida por dias melhores para todas as pessoas do mundo. Seria proveitoso se escutassem as crianças, elas conhecem as dificuldade dos seus pais, dos seus amigos e da sua região, elas sofrem muito com este abandono.
Não se aborreça, eu ainda não sei falar com tanta precisão, assim como os que pesam que sabe de tudo, os bobos aqui da terra, os sabidos que estudaram e moram nos palácios. Eles não sabem como se planta um pé de feijão, de aipim, de inhame, de mandioca ou de batata. Não sabem a idade de um cavalo, apenas olhando os dentes do animal, se vai chover ou vai ter seca quando olham para o céu. Só sabem pelos aparelhos, enfim eles só sabem falar e comer. Falam muito e muitos só falam bobagens.
Não se aborreça com este pequeno menino que só tem 08 anos, porém tem ideias e sabe do que o povo precisa. Falo pelo povo de PIRAMBUI, porém estendo este pedido para todos os povos dos demais sertões, das pequenas cidades e de todos os rincões abandonados, Papai Noel, não se esqueça deste seu amigo.
Para resumir e ficar mais fácil, peça a Deus para mandar chuva, escolas, hospitais para o povo e milhares de alforges cheios de juízo para os homens que dirigem a terra, tanto daqui do Brasil e das outras nações, notadamente as ricas.
Papai Noel, Feliz Natal para o senhor e para o nosso Deus.
Do menino José, conhecido aqui na roça, como Zezinho.
Iderval Regianldo Tenório
Do baiano Assis Valente, de Santo Amaro da Purificação.