quinta-feira, 31 de julho de 2025

APELO DE UM AGRICULTOR-POEMA DO CEARENSE PATATIVA DO ASSARÉ

 



 

Nesta página, mais uma pérola da poesia brasileira do mestre Patativa do Assaré.

Nesta época estava em voga a discussão sobre a aposentadoria do homem do  campo,   60 OU 65 ANOS ?

O mestre chama para si o sofrimento do homem do campo, o homem que produz comida para todos os citadinos comerem. O homem que trabalha das quatro da manhã até as vinte e duas, e passa a noite pensando no que fez das 04 as 22. Sonha com as chuvas, com as crias do pouco gado,  no bucho dos filhos, da esposa, da mãe, do pai,  do sogro e sogra, e se vai ter alimentos para os pequenos animais.

Homem que só faz trabalhar e no fim da jornada da  vida, fica abandonado sem uma aposentadoria digna, quando consegue.  

Os meus pais e o velho Patativa do Assaré viveram esta sofrida demanda. Apesar do analfabetismo e abandono, muitos conseguiram transmitir aos filhos a necessidade de estudar. Para que no futuro, em vez  da enxada, use a caneta, em vez de capinar a terra, que capine o papel e em vem da tinta   finita e o grafite, que use  a massa branca do  cérebro, como tinta neuronal infinita. 

Muitos agricultores do nordeste levaram à serio este pensamento, e muitos têm filhos em todo o Brasil e em todas profissões, do mais baixo cargo aos mais altos da nação.

O agricultor brasileiro de subsistência  merece respeito.

Iderval Reginaldo Tenório


APELO DE UM AGRICULTOR

Patativa do Assaré

 

 

Seu dotô, não lhe aborreço,
Venho é fazê um pedido
E como sei qui merêço,
Espero sê atendido.
Não quera se aborrecê,
Pois antes de lhe dizê
O meu desejo sagrado,
Vou minha históra contá
E o senhô vai iscutá
Todo meu palavriado.

 

 
Vevi sempre a trabaiá
De ferramenta na mão
Tenho no rosto o siná
Do quente só do sertão.
Tratando de agricurtura
Já mostrei grande bravura
Sempre dei uma premêra
Naquele tempo passado,
Fui o herói do machado
Foice, inxada e roçadeira.

 

 
Sei qui o dotô inguinora,
E tem bastante razão,
Pois quem na cidade mora,
Não vai pensá no Sertão,
E por isso eu vou assim
Contá tin-tin por tin-tin
Como é que tenho vivido,
Minhas razão eu dizendo
O dotô fica sabendo
Quanto eu lhe tenho servido.
 
Sou pai de quatôze fio,
Cabras macho de valô,
Pois num tem nenhum vadio,
São todos trabaiadô,
Cada um destes cabôco
Aprendeu a lê um pôco,
Mais porém mode votá,
Nunca nenhum levô pau,
Já são quatôze degrau
Pra seu dotô se atrepá.
 
Quando o dia amanhecia,
Que meu café eu tomava,
Pra meu roçado  ia
E os fio me acompanhava;
Pra roça eu levava tudo
Era os miúdo e os graúdo,
Era os menino e os rapaz,
Eu satisfeito e contente
Ia seguindo na frente
E aquela infiêra atráz.

O mais véio dava um grito:
__Anima rapaziada!
Era um truvejo bonito
No manejá das inxada;
Com licença da palavra,
Eu tinha da minha lavra
Munta gente em serviço
Trabaiando no roçado
Mode abastecê os mercado
Com os geno alimenticio
 
Defendendo a vida alêia,
Vivi sempre a trabaiá
E nunca fiz cara feia
Promode imposto pagá,
Pois todos aquele que tem
Budega, loja , armazém
E ôtras vendas de valô
O seu lucro nunca estraga,
Pruquê o imposto quem paga
É sempre o consumidô.
 
Fui um  correto sujeito 
E nunca baruio fiz.
Bradando contra os dereito
Criado em nosso país,
Eu nunca me revortava 
Quando pra fêra eu levava
Mio, farinha e feijão
Mode vendê no mercado
Qui chegava um impregado
Trazendo um papé na mão.
 
O agricurtô é desposto
Ele vende , paga imposto,
Se compra, paga também.
Nesta coisa maginando
Vejo qui venho pagando
Imposto derne menino,
Quando comprava bom-bom
Qui chupava e achava bom
Quando eu era pequeninino.
 
Mesmo assim , falando errado,
Já contei a seu dotô,
Quem eu já fui no passado,
Honesto e trabaiadô.
A linguage tá errada
Mas a verdade é sagrada.
E agora preste tensão,
Tenha a bondade de uvi
O qui eu venho lhe pedi
Com dereito e com razão:
 
Não lhe minto e nem lhe nego
Já tenho sessenta ano,
Sofro munto, não sossego,
Já vivo mole, sem prano;
E por isto, nesta idade,
Eu venho aqui lhe rogá
Pra eu sê apusentado
Com dereito carimbado,
Por meio do FUNRURÁ.
 
Sessenta ano, pra mim,
É uma carga pesada,
Tô achando munto ruim,
O peso da minha inxada;
Os fio todos casado
Eu, doente, fracassado,
E além de vivê doente,
Sou da percisão cativo
Sei lá se eu ainda vivo
Mais cinco ano pra frente?
 
Sei que o dotô considera
O meu dito verdadêro.
Que diabo é que a gente espera
Já com sessenta janêro?
Esta idade é um castigo
E é por isto que lhe digo:
Minha aposentadoria
Já é tempo de fazê,
Eu passos mais vivê
Dando murro todo dia.
 
Eu, novo, resovi tudo
Qui fiquei de péia grossa,
Fui cabra bamba, peitudo
Iguá um boi de carroça;
Passei minha vida intêra
Naquela grande cansêra
Da paioça pro roçado.
Se o nosso Brasi falasse
O lucro que eu tenho dado.
 
Já tô de cabelo branco,
A cara toda incuída,
Eu lhe digo e falo franco
Nesta viage da vida
Já tô no fim do caminho;
Seu dotô ,  vá de pouquinho
Mandando de lá pra cá,
Pra este meu cativêro,
Uma parte do dinhêro
Que mandei daqui pra lá.


quarta-feira, 30 de julho de 2025

O Brasil vive da beleza. O MUNDO ATUAL PARA O BRASIL, É APENAS ENTRETENIMENTO?

.



Amigos do Dr.Iderval Reginaldo Tenório

Vive-se no país do entretimento, tudo é beleza,  nádegas, peitos, piercing, tatuagens, cintura, teoria de gênero, sexo,  futebol, luxo, influencies, fotoshop, vaquinhas solidárias, IA, pix,  uber,  pet  shop,  apostas, loterias, bets, rifas e festas.


Presencia-se a tentativa de liberação de drogas e a  descriminalização do aborto. Vivencia-se  golpes financeiros de todos os tipos, nepotismo, apadrinhamento, idolatria, corrupção políticas além da contra cultura musical, as  coreografias  e a rebeldia da juventude em ressuscitação, é o mundo em metamorfose, tudo pelo dinheiro. 


Não existem indústrias, patentes, tecnologias próprias  e nem prêmio Nobel,  tudo se resume em vendas de commodities, pão, circo, ódio  e idolatria. 


Pelo dinheiro vale tudo, até retirar verbas da educação e saúde para promover festas nababescas em todos os municípios do país, com a finalidade de agradar o eleitorado e os artistas apadrinhados.


No decorrer de uma  civilização, cada geração traz inovações, irreverências e costumes próprios para o seu enriquecimento. Veja a riqueza dos Beatles,  Rolling Stones, Bob Dylan, Bob Marley, Caetano, Gil,  Cazuza, Leila Diniz, Ney Matogrosso,  Fernando Gabeira, Simone de Beauvoir, Paul Sartre, Michel Foucault  e outros ícones da cultura mundial, todos com produções para  o entretenimento com cunhos político/social  e que   ficarão para sempre. Pode-se até pensar e refletir que  a geração atual está extrapolando e sem fundamentação para os conservadores.  Queiram a sociologia e a antropologia   que a contribuição seja para o bem da humanidade.  


Será que este  modelo de  mundo,  implantado no Brasil na atualidade, é o mesmo  das nações desenvolvidas ou em desenvolvimentos? Como as da  OTAN, China, Rússia, Coreia do Sul, Índia  e Japão?


Será que o Brasil nestes próximos 20 anos, com toda esta evolução progressista, encontrará o caminho da prosperidade na educação, saúde, moradia, empoderamento da mulher, queda dos preconceitos e na alimentação?  Isto é, o equilíbrio no desenvolvimento social.


Como enxergar a civilização na atualidade com diversas  mudanças no comportamento dos humanos? Alguns adendos a serem discutidos.


A valoração do deus DINHEIRO,  em detrimento da ética e  da honestidade em todas as camadas sociais, notadamente nas que  ocupam o pico da pirâmide social.


A utilização equivocada da internet, a valoração exacerbada dos ícones  midiáticos e o patrocínio exacerbado dos artistas, de forma seletiva e política, com o erário público em nome da cultura.


As revelações sem comprovação científica dos fenômenos naturais a respeito do meio ambiente,  religiões,   medicina e noutras demandas da saúde. 


A valoração extrema   do  corpo,  hoje utilizado como mercadoria de ganho financeiro,  em detrimento do cérebro, onde os jovens são acadêmicos do físico e não do encéfalo, com o TER e o PARECER suplantando o SER. 


Atente para a  febre das academias, a artificialização dos alimentos e drogas   para moldar o corpo.


A humanização dos animais  irracionais e a  tentativa de transferir para estes animais, propriedades humanas, agredindo a personalidade  da espécie, os deixando  desequilibrados e em dúvidas de quem é o ALFA da família naquele  lar,  e muitos ocupam este posto pela sua vacância. É comum a frase: "O meu filho PET anda muito ansioso e só quer dormir na minha cama"


Veja que,  o que  falei foi apenas  a ponta do ICEBERG. Do jeito que a sociedade  brasileira está andando, tudo indica que continuará neste mesmo patamar  de atraso ou em regressão.


Urge mudanças em todos os segmentos sociais, não sendo assim, o Brasil caminhará com mais afinco a se afundar no fosso no qual se encontra.  


Existem luzes no fim do túnel: 

ESCOLA, CIDADANIA,  EQUIDADE, RESPEITO ENTRE OS CIDADÃOS  E O PROCESSAMENTO DAS SUAS COMMODITIES DENTRO DO PAÍS.


                              Salvador, 28 de julho de 2025

                                  Iderval Reginaldo Tenório