sábado, 4 de setembro de 2010

ESTES PEQUENOS TEXTOS FAZEM PARTE DE MINHA CAMINHADA PELA BAHIA






BATE PAPO ENTRE AMIGOS





LAIBOS

1-Estavam os filhos ,a mãe e alguns convidados num tremendo bate papo, quando a matriarca aos 98 anos de idade para mostrar o bom exemplo para as netas falou



____Olhem eu nunca coloquei batom nos meus beiços.



O filho mais velho semi-analfabeto e tirado a intelectual num tom esclarecedor disse:



___Mãe, num é beiço não mãe, quem tem beiço é os animá, cavalo e boi, nós humano tem é láibos.











A SESSÃO



2- O meu irmão mais velho era presidente da câmara de Vereadores. Na semana da Pátria ao abrir a sessão assim falou.



___Dou por abrida a sessão.



O seu secretário de imediato falou baixinho no seu ouvido.



__Presidente num é abrida não Presidente, é aberta.



O Presidente sem titubear fala em voz alta:



___Ou aberta ou abrida ,a palavra ta dizida.







A PALAVRA



3-Quando o meu irmão era um simples vereador recém eleito pouco falava no plenário.A sala onde funcionava não era climatizada e as janelas ficavam abertas nas noites de sessão.

Depois de aberta a sessão o presidente falou:



____Está facultada a palavra .



O meu irmão se levantou e de imediato o presidente falou:



___E o novo vereador Clemente Silva levanta para falar.



Na bucha o vereador Clemente retrucou comprimindo os ombros no surrado jaleco de veludo marrom..



___Num quero falar não seu Presidente eu me alevantei foi para fechar a gilena, pois tá fazendo um frie da gota adonde eu tô.









O PATRIOTA



4-Vícios todo mundo tem, mas o de fumar é o pior. O meu irmão que é um dos homens mais direito da face da terra apesar de político é um homem muito honesto e cumpridor da constituição federal ao pé da letra. Mas como não existe homem sem defeito era um fumante inveterado. Dizia como cidadão



___ Só paro de fumar se o gunverno proibir,não projudico ninguém,o dinheiro é meu,a boca ,a venta e os purmões são meus entonce só obedeço à Constituição federal que é a lei maior.



Papai pedia,mamãe implorava, os filhos só faltava chorar aos seus pés para o mesmo deixar de fumar e ele nada, não dava trela aos pedidos até o dia que foi para Brasília para uma convenção de vereadores. Ao entrar no salão nobre da câmara dos deputados avistou na parede um grande aviso:



SENHORES CONGRESSISTAS É PROIBIDO FUMAR



E a partir deste dia deixou o fumo para sempre, e dizia lei é lei meu irmão.













A MENTIRA



5-Seu Sal(como era chamado) era um velho compadre do meu pai e morava na Serra do Araripe ,beirava os oitenta anos. .Quando menino meu irmão que hoje é vereador sempre viajavA com papai para o seu sítio em cima da serra.



Papai saia às cinco da manhã e chegava no sítio com seu jeep às oito, três horas de puro chão e poeira,os seus amigos já se encontravam na varanda à espera das novidades e para receber as encomendas feitas durante a semana. Ao chegar na serra num domingo pela manhã o primeiro compadre a falar com ´papai foi seu Sal.



___Cumpade Zé, sexta feira nós matou uma toceira de cobra cascavé e quando nois foi contar tinha 07 cobras,UMAS MAIS MAIOR E OUTRAS MAIS MENOR.



O meu irmão na época com 14 anos olhou pra seu Sal e disse para a multidão de compadres que já saboreavam um belo café torrado e pilado na fazenda:



___Não me admira não seu Sal, pois eu e papai saímos do Juazeiro às 7:30 horas e já estamos aqui na Serra, para o senhor vê, foram apenas 30 minutos de viagem.



Seu Sal retrucou na hora com o ar de desconfiança.



___Do cariri até aqui cum esta istrada esburacada cumpade tirou em meia hora,oxente cumpadi que istora é essa?VÊI AVUANDO! FOI?



O meu irmão sem perder o momento falou:



____Não seu sal, foi de carro mesmo neste jeep.Seu Sal diminua as cobras que eu aumento o tempo,PARA CADA COBRA EU AUMENTO MEIA HORA.



Foi uma gargalhada só.E seu Sal falou para o meu pai.



___Cumpadi Zé, esse minino tem futuro.











O FANÁTICO



6-Eu tenho um amigo que era muito amigo do Dr Osórios Vilas Boas o maior dirigente que o Bahia já viu em todos os tempos.



Conta este amigo que um dia estava com o seu filho na época com 05 anos de idade quando se encontrou com o velho dirigente e falou em voz alta .



___Dr.Osório, com 05 anos já torce pelo Bahia.



Numa presença de espírito peculiar às velhas raposas o Dr Osório falou:



___Bote na escola QUE é inteligente













O encurtador de tempo

7-Viajar de avião é mirabolante , quando pela primeira vez é demais e quando no horário de verão é de fazer medo.



O meu pai aos 80 anos e o seu irmão com 94 viajaram de Juazeiro do Norte até Salvador para a formatura de um dos netos do meu pai . Saíram de juazeiro às 10 horas no grande relógio de pulso do Tio Né. Depois de quase duas horas sentados no avião,meu tio faz o lanche,dorme na poltrona e já no aeroporto de destino em Salvador o meu tio acorda ,escuta o comandante anunciar a hora local,puxa meu pai pelos ombros e pergunta.

____Zé Migué, esse bicho num vai avuar não home?



E o meu pai macaco velho de longas viagens fala.



____Oxente cumpadi Né, nós já avuou e já cheguemos em Sarvador, é que o bicho é rápido e é encurtador de tempo .









O CORAJOSO



8-Meu irmão que é vereador é tirado a valente e diz não ter medo de nada.Quando rapaizote foi para o São João de Senhor do
Bomfim,viajou mais de 400kms,lá arranjou uma namorada e foram dançar no Clube Local. Dança vai,dança vem quando de repente um pipocar surge no meio do salão, todo mundo corre e o meu irmão desmaia no miolo da sala. A turma volta para o salão, massagens nas pernas, nos braços, tapinhas no rosto, água na cara do sujeito, arrasata-o pelo chão uns dois ou três metros, sacode o sujeito com muita força, o mesmo abre os olhos e todo mundo em cima do cabra como se fosse formiga no açúcar. Ele abre os olhos, passa a mão na bunda, cheira e pergunta para o diretor do clube:



____Seu Raimundo sangue fede, pois se feder eu to ferido.



Seu Raimundo na hora retruca:



___Vai tomar banho cabra, num foi bala não cabra, foi bomba de São João, tu ta é cagado.













O HOTEL



9- Um grande médico da Bahia que também é escritor e estudioso dos corpos celestes certa vez viajou para São Paulo com um dos seus tios e se hospedou num hotel 04 estrelas no Centro de São Paulo.O tio logo lhe indaga.



___Quanto nós ta pagano para se arranchar neste hotel?



O nobre colega responde.



___Tio,a diária custa 175 reais , como nós vamos ficar no mesmo quarto sai por 250 os dois,então eu vou pagar ‘125 e o senhor 125 por cada dia com direito ao café da manha.



O velho achou muito caro, mas como só seria 03 dias não reclamou. Subiram até o oitavo andar, abriram a porta com um cartão magnético, as luzes se acenderam e logo o tio ficou entusiasmado com tanta beleza, colchão branco por cima do outro, cortinas,televisão LCD 40 polegadas, ar condicionado central ,banheiro amplo,toalhas brancas,sanitário impecável e outros serviços, dormiram e pela manhã foram ao café no terraço do prédio.



Ficou assombrado com a variedade de alimentos, mesa com mais de trinta metros,queijos,frutas,Paes,sucos,biscoitos,café,chocolates,leite e seus derivados tudo em abundância, no canto do grande salão com as suas mesas rigorosamente postas dois ou três indivíduos estrelando ovos,fazendo panquecas,beijus , tapiocas e cuscus. O velho não se conteve, olhou para o sobrinho e em voz alta falou para o colega que agora revelarei o nome :.



____Ernani a diara num paga nem o café.



E foi assim os três dias que muita saudade deixou no velho tio do nobre colega.Um serviço de excelência não tem preço.











O FEIO



10-Outro dia atendi uma senhora com mais de oitenta anos de idade no meu consultório, após muitas gargalhadas,boa anamnese,bom exame físico e execelente bate pato ela olha para a filha que lhe fazia companhia e falou:



___É minha fia, o coitadinho é feio mesmo mas é agradáaaaave.

Caímos em mais gargalhadas.E ao comentar com a paciente que logo em seguida entrou para a consulta a mesma retrucou.



___È doutor para o senhor vê: velho e criança só falam a verdade,.











O BEBEDOR



11-Geralmente eu fecho o consultório às 19:30 horas, o ultimo paciente eu marco para às 18:30 horas.

Seu Geremias foi o ultimo deste dia.



____Boa noite seu Geremias.

Iniciei a consulta e la´para as tantas perguntei.

__O sr Fuma?

___Não doutor.



____O sr usa remédio para diabetes ou pressão alta?



___Nao doutor.



___Seu Geremias e o sr bebe?



___Bebo sim senhor, mas hoje num dá, num falei cá mué e já é muito tarde. dispois nois maica pra tumar umas.















O PSIU



12-No consultório gosto de conversar com os amigos pacientes principalmente quando idoso, outro dia conversando sobre namorada e casamento falei para uma velha paciente.



___É dona Gertrudes, já estou com 60 anos e não arranjei ainda uma noiva, esses meninos de hoje arranjam cinco e seis num piscar de olhos, olhe que eu dou é psiu e já acabei com quase 05 buzinas e nada.



Dona Gertrudes com a sua experiência de 80 anos retrucou:



___`´E doutor, o probrema do sinhô é o PSIU , o probrema é a buzinada,pois mulher séra num escuita buzina e nem gosta de psiu, basta ispiá e pronto, logo o sinhô que é todo lutrido.



__











NOMES BONITOS

13-Ao atender uma senhora perguntei pelo seu nome e ela me disse:



___Febrolina da Lamentação.







As suas duas filhas olharam com ar de riso,pois todo mundo rir

quando dona Febrolina fala o seu nome.









Depois perguntei pelos nomes das filhas e uma delas respondeu:







__O meu é Severonilda e o dela é Severonalda da Lamentação.



De imediato falei:



_____Dona Febrolina o nome da minha mãe é Zuqueilda Reginaldina da Silva,o do meu pai Ciceronildo da Silva e o meu seria Tronqueildo , Tronquinaldo ou Tranquilino ,no dia do batizado o padre disse:



__Não vou botar um nome estranho neste menino não, o menino já é feio,e com esse nome parece mais um xingamento,o nome dele será igual ao meu Iderval.



___Então veja a senhora que fui salvo pelo Padre.



Dona Febrolina e as filhas não agüentaram e riram até dizer chega e foram unânimes.



__É doutô taí a nossa identificação, há mais de 20 anos que nois se consulta com o sinhô, deve ser por causa dos nomes, o sinhô era o médico do meu marido Ciçobaldo da Lamentação já falecido ..



















DONA MARIA



14-No Hospital Roberto ,Salvador Bahia, quando Médico Residente de Cirurgia Geral descíamos para o almoço-

Uma grande fila tangenciando uma amarela parede com duas janelas uma com e a outra sem vidro para a colocação das bandejas. Dona Maria era uma das funcionárias que na rampa da alimentação colocava os alimentos nas bandejas de aço divididas em 04 ou 05 compartimentos. Neste dia seria servido como complemento cubinhos de abóboras,por sinal muito gostosos quando untado na manteiga. Eu na fila,bandeja na rampa e do outro lado dona Maria, roupa comum ,um grande jaleco branco por cima,touca na cabeça, braços curtos,luvas de polietileno incolor e voz estridente.





___Quer abroba dotô Reginaldo .

Já com a concha cheia de cubinhos .

Na fila muitos residentes,muitas enfermeiras e muitos funcionários à escuta.

Respondi num tom de brincadeira.



___Dona Maria na minha terra o Ceará quem come abóbora é porco.



Dona Maria não contou conversas:



___Aqui tumem dotô, quer mais um pouco?



E foi assim os melhores dias naquela casa que era uma verdadeira família.













O ESPECIALISTA



15-Era eu o cirurgião Geral do Plantão.Ao chegar na sala da ortopedia, na maca um senhor que beirava os 50 anos, três ortopedistas, dois residentes o R1 e o R2, quatro internos, duas auxiliares de enfermagens.



___Quer que houve aí doutores?



___Esse senhor luxou o braço direito e estamos aqui tentando resolver o caso.



Atlas aberto,desenhos múltiplos sendo discutido por toda a equipe, residentes empolgados ,diazepam nos músculos,técnicas aplicadas e todas as manobras sem resultados.



Entrei,perguntei pelo seu nome,falei que o cabra era macho, não era como esses frouxas da capital, certifiquei da causa da luxação,conferir o diagnóstico, o paciente tomou afeição por este cirurgião de plantão, depois de 10 minutos de papo até parecia que já éramos conhecidos de longas datas,falei da vida que levei na lida do campo,no laço de bois,na amarras de feixes de lenha, de banho de rios,de corridas de cavalos e na pega de bezerros bravos nos braços, nas quedas, nas unhas, o homem se entusismou.O seu braço luxara pela manha quando jogou o laço na pega de uma vaca e no puxão que deu a cabeça do úmero saiu de sua cavidade



Pedi licença aos ortopedistas para aplicar a velha manobra aprendida no velho Hospital de Urgência da Bahia-HGV, recebi a aprovação.



Expliquei ao paciente a manobra que faria, o paciente concordou.



___Fique reto na maca, estique os braços colado ao corpo,vou puxar o braço direito afastando do seu corpo até a sua colocação na cavidade que já expliquei ao senhor, pode doer um pouco mas preço para agüentar, vou mandar os meninos segurar a maca e outro o seu tórax.



Tirei o meu querido dokside branco do pé direito,tirei a meia, lenvantei a minha perna direita e com o dedão maior do pé direito na axila do paciente localizei a cabeça do úmero, me pendurei esticando o seu braço como se fosse uma corda, os músculos foram relaxando,relaxando até o ponto máximo de afastamento permitido pelo paciente, com uma manobra plácida e certeira empurrei com o dedão a cabeça do osso na cavidade da omoplata e lá estava a luxação resolvida.



O paciente não contou conversas,levantou,abriu os braços,fez diversas manobras sem dor e abriu o bocão.



____È doutô, esses homens iam me matar, já chega os de Candeias e os de Camaçari que quase arrancam o meu braço, ando a dois dias e sem solução obrigado. AINDA BEM QUE CHEGOU O ESPECIALISTA.



Foi uma tremenda gargalhada.Tem horas que a tática fala mais alto.













ARROZ COM OVO

16-Era domingo,televisão passando a fórmula 1. Hora do almoço.O meu caçula à época com 04 anos só queria comer arroz com ovos mexidos e a mãe como sempre servindo, um dia eu botei o dedo na questão.



___Não vai comer arroz com ovo hoje não, você só come arroz com ovo todos os dias e isso não nutre, vai aumentar o seu colesterol e você vai ficar doente, você vai comer é arroz,feijão e carne que tem proteína e ferro,tem muita sustança.



O menino foi categórico:

____ eu só quero arroz com ovos mexidos e pronto



Deixei o mesmo sentado na mesa ,.

____só sairá quando mudar de opinião e comer feijão,carne e arroz .



Passado trinta minutos, carros correndo, sol a pino,calor escaldante, sentei na sala ,peguei o jornal e fiz que estava lendo, mas de olho na mesa e no moleque.



Ele saiu sorrateiramente, pegou no meu queixo lateralmente colocando olho com olho e disse essas palavras.



___Se você fosse meu filho e fosse pequenininho eu deixava você comer tudo que você gosta.





Partir para a mesa e mandei fritar mais dois ovos e complementamos o saboroso almoço.







16-Falo muito com os meus paciente como também escuto demais.

Outro dia ao atender uma jovem de 35 anos que há mais de 10 anos é minha paciente logo ao entrar no consultório falou.



___Vige minino o doutor tá é esbeltico,ta ou um ta mãe.



A mãe logo confirma



____Ta mermo, parece até que está fazeno indienta.



Após uma longa consulta ,papel na mão e receituário na mesa a jovem fala.



__Doutor, quero que o sinhor mim passe remédio barato,aliás eu só gosto de remédio genético ou daqueles que se compra na farmáça do governo.















O BIGODE

17-Quando Diretor do CREMEB eram freqüentes as viagens por esse Brasil afora, viajávamos geralmente dois ou três diretores para os encontros da categoria para discutirmos os grandes temas políticos do Brasil..



Numa destas viagens a 2ª-Secretária não se conteve quando viu um palestrante não sei de qual conselho, homem idoso,beirando os 70 anos,cabelos lisos e brancos,cara lisa sem barba ,sem bigode e sem costeleta,voz pausada , um paletó de linho branco folgado.



A mesma puxou um papo em pleno debate e falou pra mim:



___Tenório este palestrante tem a mesma cara e o mesmo jeito da minha vó, é escrito a minha vó a diferença está no bigode.



De imediato falei



__Como Doutora?se o homem nem bigode tem.



E a doutora retrucou:



___Mas minha vó tem.













A VASSOURA



18-Numa tarde de domingo deu entrada na emergência uma senhora de 84 anos vítima de atropelo. Foi feito tudo para salvar anciã , sem sucesso.



Após constatar a morte a equipe médica foi cuidar do seus afazeres deixando um esguio residente na sala com o corpo à espera dos familiares, o residente vestia um conjunto azul calça e camisa do mesmo tecido com múltiplos carimbos mal localizados para identificar o hospital, quando chegou meia dúzia de brutamontes filhos e netos da senhora falecidas.



Entraram quebrando tudo e queriam bater na equipe que não salvou a genitora da família. Ao entrar na sala encontrou o residente que havia dado os primeiros socorros e o responsável pelo atendimento.Assim que o residente sentiu o clima de horror não contou conversas,correu para o canto da sala pegou a primeira vassoura que encontrou ,de cabeça baixa,olhar compenetrado no serviço começou a varrer a sala.



Os Familiares entraram em bloco e em voz alta e estridente dirigiu a palavra ao residente:



____Ei Baixinho, cadê os médicos que atenderam e mataram a minha mãe? Para onde foram, cadê? Nós vamos quebrar todos no pau.



O médico residente sem elevar a voz foi diligente.



___Meu sinhô, os dotor atenderam essa sinhora que chegou toda quebrada, incolocaram no soro,inzamiram toda, arguns deram uns murros no seu peito para vê se a merma reagia,deram injeção até no coração,botaram uma burracha na goela dela cum oxigeno,mas num teve jeito, a coitada já chegou morta , dispois foram jantar. Môço fizeram de tudo mais Deus foi mais maior.



E com essa atitude deixou de levar uma boa surra dos brutamontes parentes da velha que morreu, como lembrança ainda hoje guarda a velha roupa azul que mais parece roupa do serviçal da limpeza.















O DIRETOR



19-Um certo diretor do Hospital no qual fiz residência médica de Cirurgia Geral todos os dias visitava a sala dos médicos na emergência e sempre encontrava uma escrita no mural:



DR FULANO, O DIRETOR É BICHA.

Essa escrita permaneceu por muitos dias.

Um dos residentes ou um dos médicos do plantão acrescentou ao escrito a palavra louca e assim ficou :



DR FULANDO O DERETOR É BICHA LOUCA.



O diretor na próxima visita ao lê não gostou e falou alto e vermelho de raiva.



___Quem foi o safado,o moleque,o cachorro , o filho de uma p...........que acrescentou o louca, apareça se for homem,apareça se for macho,pois bicha não é nada de mais, não é nada demais,agora bicha louca é de arrombar, é demais,apareça esse fila da p....., apareça .



E mandou apagar a frase no seu total.









MEDO DE AVIÃO

20-Nelson é um primo muito chegado à casa dos meus pais, é tirado a sabido e em tudo se mete.



Outro dia num bate papo lá em casa ele se admirou da coragem dos meus pais que diante dos seus 96 anos não têm medo de viajar de avião.



Mamãe muito atenciosa falava para os netos o quanto era bom viajar de avião, pois as moças e os rapazes eram muito atenciosos principalmente com os idosos.





___Pois é Nelson , eu não tenho um pingo de medo de viajar de avião, eu acho é bom.



Papai complementou:

___È muito seguro e melhor, pois numa cochilada Juazeiro-Brasilia termina a viagem e já estou na casa de minha filha Maria, gasto mais tempo do aeroporto para a casa dela.



Mama~e pergunta a Nelson



___Nelson e tu tem medo de andar de avião/



E abrindo o bocão e os braços, olha para o céu e responde em tom alto.

___Não titonha, eu não tenho medo não Titonha, eu tenho é MEEEEEEEEDO, mas é Meeeedo mermo.



E mamãe não agüenta a resposta, todo mundo que chega lá em casa e Nelson se encontra ela puxa a conversa só para ouvir a sua resposta.





A ZELADORA

21-Dona Maria era a zeladora do conforto médico na Emergência do Hospital Roberto Santos, era eu o chefe de equipe. Dona Maria me chamou fez uma queixa e pediu a minha interferência.





______Dr Reginaldo, peça para os médicos não jogarem papel,casca de amendoim,copinho de café no chão ou outros objetos, pois todas as vezes que entra na sala existe um papel ou outro objeto chão, eles produzem muito lixo.



De imediato convoquei o grupo e fiz uma explanação, solicitei que nada fosse jogado fora do cesto.

Passado uma semana quando dona Maria entrava no conforto não encontrava o que fazer, muitas vezes apenas abria a porta,botava a cabêça ,olhava para um lado e para o outro e saia radiante, o seu posto agora era na porta da emergência a conversar e jogar gargalhadas fora.



Passado oito dias chamei dona Maria e falei:



___Dona Maria o diretor me informou que o estado mandou suspender o contrato e demitir todos os funcionários desnecessários do Hospital, eu já listei os da emergência,por sinal o cargo da senhora ficou sem necessidade pois os médicos agora estão colocando o lixo no cesto, estão dando descarga normalmente,não estão mais jogando casca de amendoim no chão, foi muito bom e todos ouviram os conselhos da senhora, então segunda a senhora vai até o serviço pessoal para homologar a sua demissão.



Foi um chororô danado de dona Maria e se ajoelhando aos meus pés pediu pelo amor de Deus que solicitasse aos médicos que jogassem tudo que quisessem no chão,papel,amendoim,caneta,copinho e outros apetrechos que ela estaria ali para limpar, não deixasse ser demitida pois tinha crianças para criar.









DONA FELISBERTA

22-Dona Felisberta 35 anos era o nome da paciente que coloquei na sala para realizar uma gastrectomia total,câncer de corpo e fundo gástrico.



Coloquei na sala,realizei a abertura da cavidade, carcinomatose peritoneal, tumor em carne de peixe, inoperável, coloquei uma sonda no jejuno logo abaixo do ângulo de Treitz. Falei para o esposo orientado pelo preceptor que o tempo de vida da paciente era curto, provavelmente não chegasse aos 06 meses.



Internei na enfermaria e para a infecção apliquei gentamicina,cloranfenicol , penicilina,depois metronidazol com cefoxitina, durante 03 meses fazia uso de ranitidina pois não havia à época Omeprazol.



A paciente recebeu alta e orientei procurar o Hospital Especializado em doenças Oncológicas para continuar o tratamento.



Cinco anos depois na mesma emergência agora na pediatria deu entrada uma criança em crise asmática, quem estava na cabeceira era a Dona Felisberta, que de imediato foi até o meu encontro e falou:



___Muito obrigado doutor por ter me operado, foi a mão de Deus que mandou o sinhor, não fui ao outro hospital continuar o tratamento, quando cheguei em casa a barriga começou a muchar, puxei a borracha da minha barriga e sabe o que era que eu tinha? era gravidez doutor, era gravidez, o menino nasceu 08 mês depois,agora nasceu com asma.



Na revisão de lâmina solicitado ao serviço de anatomia patológica ficou na dúvida dois diagnósticos- Adenocarcinoma ou Linfoma. Hoje já se sabe que Linfoma Malt tem como causa principal o Helicobacter Pilori, e eu não tenho dúvida que se tratava de Linfoma Malt causado pelo H.Pylori, tratado durante o seu internamento com o coquetel de antibacterianos utilizados.



Quando Deus quer tudo se realiza,esses médicos passam por cada uma!.Hoje dona Felisberta está viva com 60 anos e o seu filho já é pai.





Dona
Joana

23-Dona Joana tinha 88 anos , era minha paciente há mais de 20, conversávamos muito, muitas vezes era eu o paciente diante de tanta sabedoria e tanto chá.



Outro dia numa consulta eu ,sua filha e ela após exaustivo exame físico expliquei que o idoso só por ser idoso é possível em mais de 90% ser portador de diverticulose,podendo caso os divertículos se inflamem ser portador da doença diverticulite e daí para frente muita conversa e muitas histórias. Fiquei de pé e comecei a falar das funcionárias que muitas vezes não varrem bem o chão do consultório, pois naquele momento encontrei no chão da sala uma ampola vazia e disse para dona Joana.



___Tá vendo Dona Joana, as meninas na varrem o chão e agente encontra muitas coisas espalhadas no piso .



E com o pé direito pisei na ampola vazia para mostrar a querida paciente.



__Olhe prá isso Dona Joana,olhe mesmo e me responda,o que devo fazer.



E com o pé direito na ampola e a mão direita segurando a barriga logo abaixo do umbigo,pisei com força quebrando em muitos fragmentos a ampola de midazolan vazia ,o que gerou um barulho muito semelhante ao um grande flato.Dona Joana não perdeu tempo e falou.





___Prá isso Doutor, pra isso,bom é chá de boldo.













O CASAMENTO

24-No ano de 1986 fui para Itajuipe como convidado de um colega meu ao seu casamento. Ele um inveterado moleque e a moça muito cerimoniosa, pois era GAÚCHA. Foi servido durante o dia muita cerveja,carne assada,batata doce cozida

,muito leite e queijo a granel, no almoço feijoada com feijão preto,muita carne,orelha,mocotó e rabo de porco com bastante repolho e como sobremesa doce de leite,pudim e outras iguarias, à noite todo mundo na chácara para o casamento.



O casamento foi realizado às 20:00horas, um sanfoneiro tocou até à meia noite, os convidados de Itajuípe voltaram para a cidade , nós ficamos na grande casa para no outro dia inclusive a noiva e o noivo voltarmos para Salvador.



A casa da chácara era grande, cumeeira alta,,os cômodos divididos por meia parede para melhor ventilação , como era muito antiga não dispunha de sanitários e sim de uma privada fora da casa . Nos quartos ficaram em duplas os convidados e no principal os noivos . Lá pelas duas da madrugada a casa foi infestada por um mau cheiro insuportável, todos foram acordados pelo odor fétido e de vez em quando um barulho tipo pneu vazando em alto som quando rasga , todos foram ao quarto dos noivos.Estava lá o noivo com duas latas dágua lavando o piso e a noiva na cama totalmente despida,toda ensopada de fezes amolecidas ,estava amarela que só flor de algodão, a moça era gaúcha e não tinha tato com a comida local, foram muitas as gargalhas por apenas duas horas, pois ao amanhecer todos estavam com dores abdominais em cólica ,diarréias frequentes , volumosas e de um odor de arrancar o nariz, o sanitário foi o piso da varanda,do quintal,os cantos de paredes e como papel higiênico os guardanapos branco do puro linho e os panos de pratos.

Deixamos a casa totalmente desconfigurada, diz o dono que foi necessário 15 dias para a inhaca deixar o ambiente.



A volta aconteceu dois dias depois do inesquecível casamento,porque a noiva foi internada na casa de saúde do município para a corretiva hidratação,nunca vi tanta bosta a enfeitar o chão.





A LINDONA



25- 24 anos depois da fase de residência médica numa festa comemorativa 04 colegas se encontram e iniciam um gostoso bate papo, relembraram dos pacientes mais marcantes,das brincadeiras nos centro cirúrgicos ,das mancadas,dos diretores ,dos funcionários e como obrigação sobre os namoros,das meninas mais bonitas, das colegas,dos outros profissionais ligados aos médicos e todo pessoal que tem ou tinha qualquer ligação com a residência. Quando um dos colegas ´pergunta a outro.





___E aquela morena bonita que trabalhava na Enfermaria X ,aquela que era bem novinha, era enfermeira.



O colega retruca.

____ morenas tinham muitas e bonitas ,quase todas eram bonitas.

Você está falando daquela que era da enfermaria X e foi transferida para a enfermaria Y devido o bafafá com o pessoal da manutenção?, uma bonitona das pernas grossas, cintura fina, dos peitos pra frente e da bunda empinada? Parece que era do Paraná?



O outro insiste



___Não rapaz, estou falando de uma morena mion, bonitinha,enfermeira ,toda ligeirinha,das pernas grossas,toda empinada rapaz, das mamas bonitas,nem sutiã usava e que todo mundo ficava olhando, inclusive trabalhou no centro cirúrgico e no ultimo ano da residência foi trabalhar na UTI.





E deslanchou todos os predicados de uma cabocla bonita, de uma menina admirada por todos ,vista por todos e que todos queriam de uma maneira ou de outra se aproximar.





O Colega para encerrar a conversa,olha para o nobre colega,sustenta nos seus dois largos ombros ,hoje beirando os 50 anos,sacode e fala:



___Essa aí mano veio, essa aí que o amigo fala,hoje é a minha esposa..



FURACIM

26-Numa visita de enfermaria no Hospital das Clinicas quando estudante de Medicina, o grande e duro professor Geraldo Milton da Silveira diante de um paciente que estava fazendo uso de uma pomada muito utilizada naquela época chamada furacim, rodeado por Médicos Preceptores ,Médicos Residentes e Internos do 6º-ano,pergunta aos que participavam da visita.





___Dr Gesteira, o sr.gosta de furacim?



___Dr Nicolau, o sr gosta de furacim?,



___Dr Sicrano o sr gosta de furacim?



E cada um de acordo com a sua experiência e caso respondia ao professor didaticamente para que todos nós entendêssemos o fulcro da pergunta e aprendêssemos com as respostas.

O Professor Geraldo Milton diante de sua longa vivência dirige a palavra ao interno sextanista (Esdras Fagundes)e faz a mesma pergunta,neste momento geralmente o estudante gagueja,se treme e muitas vezes o nervosismo faz com que a resposta não seja a mais convincente mesmo o estudante sabendo o correto.





___Dr Esdras o senhor gosta de Furacim ?



Repetiu em alto som .



Dr Esdras o senhor gosta,o senhor aprecia o furacim?



O que de imediato e sem pestanejar respondeu o ainda projeto de Médico o Inteligentíssimo Esdras .



___Professor Geraldo Milton da Silveira ,o senhor me desculpe,mas eu nunca comi deste diacho,aliás nunca provei, mas deve amargar que só o diabo.



Até o professor quase morre de rir.







O CLAUDICANTE

27- Esta aconteceu comigo. Um grande neurologista da Bahia Professor Dr Plínio Garcêz de Senna, homem culto,fino,português rebuscado,educado ,alto e de voz marcante numa aula prática de neurologia.



Paciente sentado numa cadeira defronte a 15 estudantes de medicina no Hospital das Clínicas ,pergunta o professor ao paciente





___O senhor claudicas quando deambulas?



O paciente bota a mão no ouvido,abre a boca e com a voz internalizada pergunta





___Cuma dotô,Cuma? Qualé a pergunta.



Dr Plínio pergunta Pausadamente





___O senhor claudicas quando deambulas?



O paciente olhou para mim que era o seu interno como a pedir socorro. Não contei conversas, fui até o paciente e complementei a pergunta.





___Seu João, o Dr Plínio quer saber se o senhor manca quando anda,quando caminha.



O paciente sorrindo e dono da situação fala descontraidamente





___manco dotô,manco.



A VIAGEM

27-Apesar da idade Papai viajava muito de avião devido os filhos morarem em três grandes cidades do Brasil.

Certa vez viajando de Juazeiro do Norte para Salvador ao chegar no aeroporto o pessoal do solo perguntou se já havia feito o check in, papai na bucha respondeu .



___Não moça,as passagens já foram pagas, foram compradas pela Internet e no cartão do meu neto .





Já dentro do avião na hora da decolagem a aeromoça vendo que a cadeira não estava totalmente levantada ,botou a cadeira para frente e olhando para a cintura perguntou





____O senhor está com o cinto?



O que papai respondeu



___Moça quando eu sair de casa eu coloquei .







A LUA DE MEL

28- Certa vez no consultório ao atender uma senhora e a sua filha , amigas minhas de longas datas contei uma história para descontrair a consulta.

Contei que uma senhora tinha uma única e bela filha que casou com um primo, informei que desde pequena a menina fora criada pela mãe e por diversas amigas de sua mãe que trabalhavam no IBGE, todas se sentiam em parte mãe da bela donzela, pois quando não estava na escola ia para o IBGE e ficava todas as tardes sentada numa pequena carteira fazendo os seus exercícios era a sua CRECHE.

A mãe preocupada com a noite de núpcias na cidade de Aracajú passou todas as informações,cuidado com estes homens e não facilite na lua de mel, é assim e assado, nada de avançar o sinal, tome cuidado, apesar de primo se na primeira noite dé mole a mulher perde o conceito e é muito feio para a família,pediu também que na segunda feira enviasse uma telegrama dando notícias da primeira noite, como telegrama era muito caro colocasse apenas duas palavras se tudo corresse como o combinado- CONSUMATO ESTE. Assim a moça viajou para Aracaju para a lua de mel.



Chegou a segunda feira, mãe e amigas preocupadas, 04 da tarde e nada de telegrama, todas em pé de guerra para saber como foi a primeira noite da amada filha, mandaram o boy até os correios que já estava com as portas para fecharem, ninguém sabia do paradeiro do telegrama, sabia que havia chegado e o carteiro estava na rua.

5 Horas da tarde bate o carteiro no IBGE , a mãe recebe o envelope amarelo escrito: PARA AS MINHAS MÃES DA REPARTIÇÃO.

A mãe com as mãos trêmulas abre e lê em voz alta.



___Mãe aqui tudo nos trinques, a lua de mel foi ótima:CONSUMATO O LESTE E O FAROESTE.





Foi uma grande risada de estrondar o ambiente.

Depois de tudo calmo perguntei para a senhora qual era o problema de sua filha e elas em uníssonas palavras responderam-



___Doutor o problema é no FAROESTE.



As gargalhadas foram maiores.



Assim examinei e passei alguns supositórios para trombose hemorroidária.As gargalhas continuaram e hoje faz parte do anedotário familiar da bela moça, hoje casada e com três filhos.

























JESUS





29-Quando Médico Residente e plantonista da sexta-feira deu entrada na emergência um politraumatizado, após múltiplos exames e às pressas foi colocado na sala de cirurgia. A minha parte foi a laparotomia exploradora e foi encontrado lesões de múltiplos órgãos devidamente corrigidas. Na mesma sala a equipe de ortopedia realizou a sua parte nos membros inferiores devido diversas fraturas. No RX realizado da coluna mostrava deslizamento de vértebras ficando para ser visto a posteriores pelo pessoal da neurocirurgia. O paciente foi encaminhado para a UTI três dias depois com o paciente acordado e ainda sob efeito de benzodiazepínico, fui até a UTI e levei comigo um famoso neurocirugião de origem estrangeira que fazia parte do staf do hospital, o mesmo chegou na cabeceira do doente que se encontrava todo imobilizado , fraturas nas duas pernas,uma incisão do apêndice xifóide até o púbis,dreno nos dois hemitórax,sonda nasogástrica,sonda vesical,soro nas duas subclávias ,máscara de oxigênio ,isolado em um biombo de eucatex ,monitor marcando os batimentos cardíacos com o freqüente bip sonoro, a UTI com iluminação indireta e nublada. Chega o Dr Jesus, alto,barba bem feita,jaleco super branco e alinhado, com a sua voz embolada de estrangeiro bate nos peitos e se apresenta:





___YO SO JESÚS .YO SO JESÚS . YO SO JESÚS.



O paciente ainda meio confuso, abre os olhos ,provavelmente com a visão embaçada ,escuta as três vezes, olha para os lados não reconhece o ambiente no qual se encontra,sente-se preso ao leito da UTI que é muito larga e com os dois punhos amarrados em crucifixo nas grades pergunta com a voz rouca e em meia altura.



____ENTÃO JESUS! ENTÃO JESUS! NÃO ME DIGAS QUE EU MORRI.









A consciência do paciente



30-Levei seu Zeca para a sala de cirurgia, 75 anos, colecistite aguda com abdome agudo cirúrgico, insuficiência cardíaca congestiva,hipertensão arterial,diabético recém saído de um edema agudo de pulmão, de bom só tinha a boa alma e a coragem de um sertanejo macho.Como residente não tinha visão do tamanho da responsabilidade, o anestesista e o preceptor com os nervos à flor da pele. Começa a cirurgia, anestesia geral, três horas de operação,halotano,oxigênio e tubos em todos os orifícios, vaga garantida na UTI, no meio da cirurgião seu cardialogista entra na sala e eu como Residente titular passei a explicar ao Dr Luciano as etapas da cirurgia e a sua importância para o velho moribundo, terminado o ato operatório e encaminhado à CTI. No outro dia o velho acorda e as primeiras palavras foram essas:







____Dr Reginaldo muito obrigado,gostei quando o senhor chamou o Dr Luciano e falou da minha operação para ele e não esqueço das suas palavras(É REGINALDO, ESSA OPERAÇÃO FOI PRIMORDIAL PARA SEU ZECA, O VÉIO É MACHO MESMO).











VISITA DE ENFERMARIA



31-Durante o curso de Medicina , o médico recém formado faz um curso de dois anos chamado Residência Médica para ser um especialista, no meu caso fiz de Cirurgia Geral.



Toda sexta feira o chefe da Residência realizava a famosa visita de enfermaria_(que é passar no leito de cada paciente e o Médico Residente explana o caso para todos, o que aconteceu,qual a cirurgia a realizar ou que foi realizada, enfim conta o motivo porque aquele paciente se encontra internado).



Existia um residente muito bom no trato com o bisturí ,mas ,não gostava de fazer a história clínica dos seus pacientes e na visita a depender da doença contava a história típica da patologia que era portador aquele paciente, se fosse uma doença de vesícula biliar,contava a história típica de calculo de vesícula, se fosse uma apendicite, lá estava ele com uma história de apendicite aguda com os mínimos detalhes e recebia rasgados elogios do chefe pela precisão,pela lembrança dos detalhes, a boa evolução e o excelente resultado, era o Residente nota Dez, para isso ele visitava com antecedência o paciente e olhava no prontuário caso a caso qual era a patologia dos pacientes dos seus leitos,os pacientes ouviam aquela história ,nada entendiam e a visita continuava com outro residente noutro leito e assim até o seu termino.



Numa bela sexta feira este Residente chega na cabeceira de um doente e começa a sua história.



____Trata-se de um paciente de 40 anos de idade, deu entrada..... e etc,etc, foi operado de litíase biliar .......e etc, etc.



O paciente ficou atento a sua história e deixou o mesmo terminar com todos os detalhes que merecia aquele caso e aquela doença. No fim quando o chefe tomou a palavra para falar do caso e tecer elogios ao tão cuidados residente o paciente falou.





___Doutor esse caso não foi o meu caso não, eu sou o rapaz que veio do interior devido a tuaia que esqueceram no meu bucho,conte outra doutô,conte outra que esta não colou.







O SEGURANÇA



32-Era comum desentendimentos nas entradas das grandes emergências e existiam verdadeiros seguranças nas entras do Hospital, com o passar dos anos estes foram substituídos por guardas de empresas terceirizadas com o intuito de preservar o patrimônio público.No Roberto Santos dentre estes existia um guarda que não ultrapassava 1,6 metros de altura,franzino,cabelos na testa,pele pálida,calça azul frouxa,camisa caqui fina, apito na boca,cinto preto de lona,sapatos pretos e meias da mesma cor, ficava na entrada da porta de correr da emergência, trazia na cintura uma bainha de couro de cor preta. Num domingo a tarde um acompanhante se agitou na sala de sutura e começou o quebra -quebra, como o homem era muito grande, até as macas foram pelos ares, o cirurgião e toda a equipe correu do recinto e foram chamar o dito guardinha, este foi o primeiro a correr, em questão de segundos já se encontrava do outro lado da rua.Na segunda quando cheguei me dirigi ao guarda e perguntei.





___Guardinha, cadê você rapaz,quer dizer que o homem quebrou a emergência e você em vez de socorrer os médicos foi o primeiro a correr homem?



De pronto o guardinha me respondeu:



___Doutor, eu to aqui é pra oiá a feitura das fichas e controlar as entradas num é pra brigar não doutor, incrusive nóis num tem dereitio nem ao armoço, eu estava até sem cumer naquele dia e o home tinha a laigura de um armaro.



Olhei para a bainha de couro no seu cinto e perguntei.



___Guardinha e pra que diabo serve esta sua arma na cintura homem de Deus.



O guarda olhou pra mim, desabotoou a bainha,derramou o conteúdo na mão e disse:



__Doutor isso num é arma não doutor, isso aqui é ficha de telefone que vendo na portaria pra compretar o saláro.



Ninguém se conteve foi uma uníssona gargalhada.



O guarda por ser bem quisto por todos continuou no seu posto por muitos anos até se aposentar,hoje vende suco e cachorro quente no estacionamento dos taxistas num grande centro comercial da cidade.



O VIGILANTE DA CONSTRUÇÃO



33-O Hospital Central Roberto Santos hoje é o maior complexo hospitalar da Bahia pois dar guarida a diversas especialidades médicas e atende os problemas de pequena ,média e alta complexidade em varias áreas da medicina. No termino da obra e bem próximo a sua inauguração, o Secretário de Saúde Dr Ubaldo Dantas e o Governador do Estado Roberto Filgueiras Santos deram ordens impedindo a entrada de qualquer cidadão a partir daquele dia para não atrapalhar o cronograma e a data inaugural, a a´rea só poderia ser visitada pelos trabalhadores e por outras pessoas desde quando portassem uma carta permitindo a visita.



Além da Construtora e de diversas outras empresas a ela ligada o Estado contratou uma empresa de vigilância para controlar o acesso à abra, neste dia estava de plantão o Sr Irineu, um piauiense cumpridor do seu dever .



Era Domingo à tarde, jogava neste dia Bahia contra o Vitória, mesmo assim a obra funcionou até o meio dia, no intervalo do almoço o Sr Irineu se ausentou para se alimentar e ficou o seu ajudante na guarda da obra. Neste momento chegou uma comitiva para checar a quanto andava a magnífica construção, acompanhado do engenheiro da Secretaria da Administração e da Saúde entraram olharam todos os aposentos e corredores, já se encontravam na cobertura do prédio quando de imediato foram barrados aos berros pelo vigilante oficial que nervoso e preocupado pedia encarecidamente que deixassem a obra, que deixassem o hospital, pois recebeu ordem escrita para que ninguém entrasse sem autorização, ninguém poderia visitar aquele canteiro sem autorização,não levassem a mal pois foram as ordens recebidas pelos seus superiores.



O Engenheiro da Secretaria se identificou, identificou e falou que aqueles homens nada mais eram do que O Sr Roberto Santos ,Governador do Estado, o Dr Ubaldo Dantas Secretario da Saúde do Estado,o arquiteto e o engenheiro da Secretaria e os seus assessores mais importantes, o que o Sr Irineu não abriu mão da solicitação e falou.





___Aí é que deve sair mesmo para dar bom exemplo, pois recebi ordens para que ninguém entrasse, como sou de fora e não conheço as autoridades da Bahia deveriam ter trazido uma carta autorizando a visita, sem carta não podem permanecer na área, sinto muito, peço desculpas, mas ordens são ordens e não pretendo ser repreendido na segunda feira .



E não saiu dos pés dos importantes visitantes,os pais políticos daquela construção.



As autoridades máximas do Estado obedeceram ao pequeno funcionário, desceram até o pátio, esperaram o Engenheiro da Obra e continuaram a visita pela área do grande Hospital depois d esclarecidos e identificados pelo vigilante que entregou a cada um o crachá de visitante.



O próprio Governador e o Secretário de Saúde convocaram o jovem vigilante do Piauí até a Secretaria e como não havia concurso naquela época o premiaram efetivando a sua contratação definitiva, hoje este jovem com 56 anos é patrimônio do Hospital , permanece no Roberto Santos e conhece a casa como conhece a palma da sua mão.



A CURIOSA

35-_Uma auxiliar de serviços gerais foi contratada por um Hospital que trabalhei em Camaçari ,no ambulatório eram atendidas os pacientes independente da especialidade, todos procuravam o clínico e depois se necessa´rio seria solicitado uma visita ao especialista .





Entrou uma paciente com queixas de febre,dores na orofaringe,corrimento nasal e dificuldades ao engolir, a coincidência no atendimento era o parentesco da paciente com esta auxiliar .



Cuidadosamente foi realizado a anamnese,examinado a orofaringe,avaliados a pressão e a temperatura,ausculta respiratória,procurado gânglios e as medidas necessários ao diagnóstico.



No fechamento da consulta foi solicitado cultura da orofaringe,um leucograma e um sumário de urina, falei que o principal diagnóstico neste caso seria uma amigdalite aguda(garganta inflamada), iria medicar e depois que saíssem os exames ela voltaria para confirmação e possível complemento no tratamento. Neste momento sai por detrás do biombo a dita serviçal que fala em voz alta.



____Viu cumadi, eu num dixe que o seu caso era garganta inflamada e que os médicos proguntam muito para aduvinhar o que nós tem, eu tumbém num dixe que o remédio era uma benzotaci mil e duzentos eu num dixe?, cumadi eu trabaio cum doutor há mais de 20 anos e com os dos bons, esses de hoje proguntam muito.



Prescrevi uma Benzacil 1.200.000 IM e solicitei retorno para a outra semana, nunca mais vi a paciente e a serviçal continuou o seu trabalho, na sala de emergência nunca mais apareceu nas horas de atendimentos.





O SARAPATEL DO JURISTA

36-Um grande Jurista e Pessoa importante na política da Bahia um dia me contou que dos fenômenos da natureza ninguém estará livre.



Contou-me que numa festa de formatura da Escola de Direito da Universidade federal da Bahia do qual era um dos principais professores e neste caso era o Paranifo foi acometido de algo inusitado ,refere que durante o dia foi muito cuidadoso na alimentação porém não se livrou de experimentar como bom baiano de um pequeno prato do Sarapatel da turma.Chegou a noite,auditório cheio,mesa composta e lá está o professor no centro da mesa diante de 2000 pessoas.



Num determinado momento quando já iniciado a fase dos discursos sentiu um estalar nos movimentos peristálticos, olhou pra dentro de si,mirou o auditório e foi surpreendido com uma terrível cólica intestinal, pediu licença ao presidente da mesa e com dificuldades encontrou um distante e sujo sanitário, lá chegando tirou o paletó,a gravata e tudo que tinha direito, 10 minutos no trono e nada ,só gases, voltou ao seu posto na grande mesa, naquele momento muitos já indagavam para onde teria ido o professor; ao sentar , menos de 5 minutos depois outra crise e mais forte, o mestre realizou a mesma ladainha, foi até o longínquo sanitário contou mais 10 suados minutos e só vento,pensou naquele momento em abandonar a mesa para sempre se desculpar da turma e pegar o caminho da roça, para surpresas sua nada de sólido, apenas gás outra vez, a platéia já se encontrava apreensiva, o professor voltou com segurança, duas ou três vezes no sanitário e todos apenas gáses,todos alarmes falsos, então se certificou que realmente era apenas uma crise de muitos gases..



Foi chamado para falar, todos esperavam por este mirabolante e cultural momento, o professor foi até o púlpito, botou as duas mãos no tabuado, colou na mesa um esboço do que iria falar,ajeitou os óculos e começou a sua tarefa, sentiu outro estalido no abdome,uma cólica terrível ao redor do umbigo,a fácie mudou de cor, como provavelmente seria mais um alarme falso confiou e de pronto liberou um silencioso e aconchegante pum, para sua surpresa desta vez não foi o alarme que foi falso, quem foi ao professor foi o pum, pois desta vez o professor se borrou botando a perder até mesmo o seu novo sapato de coro cromo alemão, pediu desculpas,contou a verdade e quase que não saiu do auditório ovacionado por uma monumental e interminável salva de palmas, foi um dos maiores momentos de sua vida como orador, como disse ele pessoalmente .



____( E haja palma e lá vai bosta), foi fantástico meu filho, foi fantástico, nunca pensei que fosse um pum e não um discurso o responsável pela maior salva de palmas já recebida por um orador.





37-O PAPAGAIO





Um colega e amigo operou um paciente ,como se tratava de um grande procedimento solicitou que o paciente permanecesse na cama por mais de oito dias para não força a cabeça do fêmur.





Operou o paciente e deu alta no sexto dia e informou que o mesmo deveria ficar em repouso e inclusive para urinar deveria ser no bico de papagaio.



Ao retornar para a revisão de dez dias o pênis se encontrava edemaciado,ferido e com um baita curativo embebido em mercúrio cromo.



O Médico assombrado indagou o que havia acontecido,que problema foi aquele, o que havia acontecido.



O Paciente de imediato respondeu.



___O que foi o que doutor, o senhor num disse que era para urinar no bico do papagaio? Pois é doutor, toda vez que eu ia urinar ele bicava o meu pênis, mas não desistir, foi preciso chamar a mulher, ela abria o bico do bicho e eu um jato de urina na cara do bicho, deu trabaio mas não desistir e o bicho sufocado e zangado bicava a coitada.
O CUIDADOR




Conta a minha mãe que tempos atrás uma menina de 12 anos chega em casa vindo da escola e estranha a ausência do seu querido e amado pai na hora do sagrado almoço,vai até a mesa,senta,levanta, vai até a porta da rua, olha para um lado, estica o pescoço para o outro e nada do genitor, vai até a cozinha, descobre as panelas e quase que engasgada indaga para genitora por onda o seu pai. Recebe como resposta um balançar da cabeça como uma lagartixa e uma esperança que está a caminho de casa, a espera foi em vão, veio a tarde e nenhum paradeiro do humilde trabalhador.



A filha previdente vai até o seu trabalho e lá foi informada que até aquele momento não tinha comparecido e já havia levado falta pelo apontador da obra e talvez pela cara do homem perderia o seu abençoado emprego ,pois é inadmissível que numa segunda feira, o primeiro dia da semana um trabalhador falte ao serviço. A filha não esmoreceu, procurou os familiares mais próximos, rodou os hospitais, os postos de saúde,foi até a rodoviária,compareceu ao cemitério e nada do seu amado pai. A sua última cartada, a sua última visita, mesmo contra a sua vontade pois jamais imaginaria o encontrar naquele lugar foi à delegacia e ao chegar encontrou o seu pai na única cela que existia, sala pequena,escura com menos de 8 metros quadrados, uma alta janela de meio metro,uma lata velha de querosene como latrina, uma portão de ferro guza, meia dúzia de pregos como cabides, cinco ou seis buracos na parede para colocar os pertences e mais 06(seis) brutamontes nus da cintura para cima cobrindo apenas as partes pudenda.



As lágrimas vieram ao inocente rosto da bela pequena, não conseguiu chegar ao pai, a sua idade não permitia dantesca sena, foi ao delegado e quis saber qual o pecado contra a sociedade praticado pelo genitor. O delegado foi até o livro de ocorrência, até o caderno de queixas e falou-

___ Atentado contra o menor, o seu pai infringiu o regimento,o estatuto do adolescente e deve pagar por este crime.



A menor insistiu no que significava, o que o seu pai havia feito, qual o seu crime.O delegado sem medir as palavras informou que aquele homem havia surrado uma criança naquela manhã e foi denunciado por um vigilante e cuidadoso vizinho, o vizinho da casa 68 e antes que chegasse ao trabalho a viatura o prendeu e já tem ordem de enviar para a capital para cadeia de segurança máxima. A criança caiu em prantos.



___Quem vai pagar as contas lá de casa, quem vai pagar a luz,a água,a minha escola,o meu pão, o remédio de vovó, quem vai consertar a casa de titia, a carroça de Tadeu ,quem vai pintar a fachada da igreja do bairro, ,quem vai capinar a roça do vovô nos domigos e feriados, com quem eu vou para a igreja aos domingos à noite agradecer a Deus a felicidade de estar viva, com saúde, de barriga cheia e vendo meu pai cumprindo com o seus deveres de cuidador, de preocupado e provedor?

___O que houve seu delegado, o que houve hoje não foi uma agressão de um homem para com um menor e sim o cuidado de um zeloso pai para com um desobediente filho, o que aconteceu foi que ao acordar ,eu não queria ir para a escola,eu estava cansada, pois fui dormir muito tarde e tinha combinado com uma colega que quando meu pai saísse nós iríamos para a beira do rio tomar banho com três garotos que ela conheceu no parque, todos da capital, maiores de idade e prometiam muitas coisas boas para nós e fiquei curiosa. O meu pai todos os dias me acorda,vai na padaria, mãe faz o café,depois pai me deixa na escola e vai para o seu trabalho, neste dia depois de muita insistência e recusa por minha parte,ele perdeu a paciência , acredito que ,mandado por Deus , puxou as minhas orelhas e disse que só a escola salva o pobre, só o saber é capaz de tirar o homem da miséria,só o estudo é capaz de melhorar o seu nível social, só ele é quem sabe o que está passando por ser analfabeto. Neste momento provavelmente o vizinho do 68, pai de minha amiga, um homem que nada faz,vive bebendo e olhando para as vidas dos outros veio e sem saber o que estava dizendo pois nada viu, fez esta queixa. Seu delegado o meu pai não me bateu, ele apenas fez o que qualquer pai de juízo faria, ele aplicou um corretivo,puxou uma das minhas orelhas e graças a este alerta eu não caí naquela armadilha, meu pai foi atencioso, foi eficaz e fez o papel daquele que gosta, daquele que se preocupa com o futuro da família, ele fez o papel de cuidador, porque quem cuida ama, quem cuida gosta, quem cuida espera um futuro melhor para com os seus filhos, meu pai seu delegado é um herói, solte este batalhador ,ele cumpriu com a sua obrigação,feliz é o filho que tem um pai igual ao meu,feliz.

O Delegado diante de tão efusivo apelo não conteve as emoções, abraçou aquela criança, lembrou do seu velho pai que muitas sovas havia lhe dado,pensou no hoje ser um grande delegado, um homem de respeito e tudo devia ao seu duro pai, ao seu abnegado genitor,muitas vezes incompreendido nas horas das correções, mas que valeu apenas. Não contou conversas, antes do anoitecer foi lavrado um termo de soltura e antes do por do sol,foi até a cela,retirou o humilde e cabisbaixo cidadão,entregou os ínfimos pertences,o abraçou,pediu desculpas e juntos,delegado,pai e filha no carro particular da autoridade fizeram questão de comparecer ao serviço do pai,colocado em pratos limpos o acontecido e tomaram o destino do humilde e aconchegante seio familiar.



Esta história minha mãe conta para mostrar que o diálogo é a melhor maneira de educar,para mostrar que deve os pais insistirem na civilidade até o extremo ,porém ,uma vez falhando tem que partir para uma medida mais energica ,uma conduta concreta e nem sempre um castigo é crime ou é pecado,muitas vezes é o norteador de um brilhante futuro,muitas vezes é a salvação de uma familia. Cabe ao filho entender,cabe ao filho enxergar aquela atitude dura,aquele momento difícil,muitas vezes mais para o pai do que para o filho e que na grande maioria ,só se enxerga no futuro o quanto era importante as sábias palavras do vigilante mestre,só quando na mente brota e prolifera um sentimento de lamentação , um sentimento de impotência que não volta mais ,: SE EU TIVESSE ESCUTADO OS MEUS PAIS! AH! SE EU TIVESSE.

Iderval Reginaldo Tenório

12 de dezembro de 2000
NÃO PRECISA DE MUITO,JÁ É DEMAIS.



Um velho amigo num belo e frio dia de chuva me fez um relato que muito me tocou e que trouxe à tona o conceito de felicidade e de bom viver.

Cotou-me o velho amigo que muitas vezes se depara com tantas alegrias,com tantas surpresas que, pára,matuta e procura entender o motivo de tantos momentos de tranqüilidade e de realização.Acordou numa noite, numa noite onde o sono lhe pregou uma pausa , lhe jogou fora da cama, foi até a sua varanda,varanda esta iluminada pelos raios solares que batia na lua e de ricochete pegavam em cheio a fachada de sua casa.Diante de tanta beleza não se conteve e viajou no tempo, fez uma viagem e regressou às suas raízes na tentativa de buscar a fundamentação de tantos momentos felizes,de tantos momentos de descontração e de tanta alegria. Olhou para a prateada lua,contou diversas nuvens que de quando em vez a camuflava, mirou os dois olhos no infinito e numa penetração imaginária mergulhou no tempo e conseguiu enxergar um grande motivo que poderia fundamentar a razão de viver tão bem com todos e com o mundo.Na sua mente veio o seguinte pensamento:

Como não pode ser feliz e viver num processo de realização um homem que nasceu nas brenhas de um penhasco nordestino divisa do Ceará com Pernambuco hoje considerado o maior celeiro fóssil do país ou das Américas, A CHAPADA DO ARARIPE. Um homem que veio dos bagos de um alagoano ainda vivo com 95 anos e que germinou na matriz uterina de uma guerreira também alagoana de 95 anos ainda cheia de vida.!que juntos somam quase dois séculos e 75 anos de convivência matrimonial,fora os 5 de namoro e 15 de primos do primeiro grau. Um homem que se criou numa terra santa -JUAZEIRO DO NORTE-CEARÁ-fundada pelo Cearense do Século o Padre Cícero Romão Batista vendo e convivendo com a sua vida e com a sua história , dela fazendo parte de quando em vez e de formação educacional Salesiana. Um homem que muitas vezes teve o prazer de abraçar e tirar algumas prosas com o imortal poeta e também cearense Antonio Gonçalves,conhecido como Patativa do Assaré eleito como um dos mais importantes homens deste país , considerado por muitos como: O CEARENSE DO SÉCULO por desbravar com pouca leitura e infinita cultura, o perfil do passado ,do presente e do futuro de um povo bravo e resistente.Como não pode ser aspirante a ser feliz um homem que teve o prestígio de conviver com o grande Frei Damião de Bozano, frade Franciscano oriundo da Itália que peregrinou por este árido e sofrido Nordeste pregando a verdade,pregando a simplicidade ,mostrando a grandiosidade da vida,hoje em fase de beatificação, exemplo maior de humildade e compaixão.Como não pode ser feliz um homem que foi do ciclo de amizade e da convivência do rei do baião considerado o Pernambucano do Século ,o mestre da Asa Branca e imortal Luiz Lua Gonzaga, filho do velho Januário,Lua esse que muitas felicidades trouxe ao povo do Exu resgatando a saga de uma nação.Como complemento, este mesmo homem buscou guarida e achou nas terras de irmã Dulce,do grande Ruy Barbosa,do incomparável Dorival Cayme,do condoreiro Castro Alves, dos imortais Jorge Amado e Adonias Filho, dos não menos importantes ,contemporâneos e gênios Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Complementando, este Homem ingressou e concluiu o curso Medico na Escola de Medicina da Universidade Federal da Bahia,a mais antiga Escola de Medicina do Brasil, oficializada no dia 18 de Fevereiro de 1808. Homem que devido os grandes mestres e seus pais conseguiu entender o quanto é importante a ética,a cultura,o respeito e o exercício da cidadania. Homem este que ingressou nas entidades de classe e com muita humildade conseguiu que mestres como os Professores Antonio Jesuíno dos Santos Netto,Prof.Augusto Marcio Coimbra Teixeira,Prof Jose dos Santos Pereira,Prof.Maria Tereza de Medeiros Pacheco,Prof.Aníbal Silvany.Prof.Zilton Andrade,Prof.Bernardo Viana, ,Prof.RodolfoTeixeira,Prof.Sumaia Boaventura André o chamem de colega . Homem este que com muita dificuldade consegue manter diversos amigos que o procuram para serem os seus pacientes.Homem este que matem vivo a chama familiar,com bons amigos e importantes contemporâneos que não citarei para não olvidar algumas centenas deles e que Deus os mantenham vivos e amigos. Homem este que por adoção é considerado filho por diversos dos seus bondosos pacientes,principalmente os mais velhos, aqueles que conhecem de perto e acreditam no amor e no calor humano.Como não enxergar neste homem motivo mais do que suficiente para não pleitear o diploma da felicidade, faculdade essa almejada por todos os seres racionais ou irracionais.Diploma este que sem dúvida coroará o grande final de uma longa vida.Terminou o seu relato e ficou à espera dos comentários.



De imediato , estático pelo belo e contagiante relato fiz uma ressalva.

Falei_ Amigo,velho amigo, o Amigo é abençoado, o amigo é um homem que caminha para a felicidade.O amigo é um Homem do Bem.Acho que poucos neste universo tiveram e terão a felicidade de tão rica convivência, de tão cristalina vida e de tão belos ensinamentos.O tempo foi passando, a lua aos poucos mergulhava na linha do horizonte e do outro lado a barra surgia amarelada com o clarão do sol. O amigo foi sumindo ,foi abrindo a boca e voltou para os braços de Morfeu Fiquei só,também pensativo,esperei a lua sumir por debaixo de umas nuvens que pareciam algodão doce ,lá no encontro do céu com a terra, onde mora Deus e também fui dormir. Pela manhã fui despertado pelos raios solares que adentravam no meu aposento pela greta de uma grossa porta de madeira que me serve de relógio como a dizer:.Bom dia. E voltei à vida em busca de concretizar a tão almejada felicidade,pensando na noite por intermédio da lua e no dia tendo como representante o astro sol.

Já na realidade da vida procuro saber se este homem existe, se é verdade esta dádiva e se caso verdadeiro ,é muita belezura para um homem só,é demais,fico imaginando :três homens do século,dou uma pausa e penso novamente sempre dando uma pequena pausa,três em fase de beatificação,meia dúzia de imortais,filho de Zé Migué e dona Tonha,95anos,serra do Araripe,Faculdade de Medicina,Frei Damião de Bozano,Prof.Silvany e Prof.Jesuíno,Bahia de Dorival,de Gil e de Caetano,Bahia de Ruy Barbosa e Jorge Amado,de Castro Alves,exercício da cidadania,ética,respeito.Olha ! é demais!este homem caminha a passos largos para a paz, este homem indubitavelmente é um ser abençoado.

Me belisque! Me belisque para vê se é verdade, vá,me belisque!!!

Salvador, 03 de Fevereiro de 2007

Iderval Reginaldo Tenório

O FILHO QUE DESANDOU


HISTÓRIA QUE MINHA MÃE CONTA

Conta a minha mãe, que numa delegacia encontrava-se preso um jovem de 18anos de idade e que este levava surras diariamente, diziam os seus algozes que eram surras corretivas, surras necessárias para aqueles que se apoderam do que é dos outros.
 
Certa manhã após a mais nova leva de surras, chamou o delegado e pediu encarecidamente , suplicante , a presença de seus pais, principalmente da sua mãe. O delegado após relutância resolveu atender o seu pedido, providenciou e fez chegar até o presidiário os seus genitores.
 
Chegaram, foram até à sala do delegado, houve a identificação e por último adentraram à cela do infeliz adolescente.
 
A mãe na cabeça  um lenço florido, um pacote de frutas, um de biscoitos e uma garrafa de mel, o pai de mãos vazias.
 
 Em respeito aos pais , o delegado informou que se retiraria para um melhor diálogo familiar, quando de repente, num rompante incompreensível disse o jovem ao delegado que aquela atitude não era a desejada, inclusive queria que o delegado convocasse todos os seus algozes para ouvir e presenciar aquela visita,  assim foi procedido.
 
Quando todos se encontravam na sala, o presidiário começou o seu relato
 
Sentado , voz trêmula e baixa, os olhos em lágrimas, moralmente abatido, lamentou a sua atual situação, o seu estado educacional, a sua personalidade , os conceitos sedimentados em sua mente aprendidos e praticados durante toda a sua existência.
 
Quando de repente, mais do que de repente, se levantou , arregalou os grandes olhos, trancou a cara e com o dedo em riste apontado para os pais, vociferou:
__ Velhos moleques, velhos safados, descarados, desonestos, irresponsáveis, vejam como me encontro hoje.
O delegado fez menção de intervir, o jovem retrucou.
 
__Não seu delegado, não senhores soldados, eu preciso falar, eu preciso dizer alguma coisa. Vejam o filho que os senhores botaram no mundo e como criaram, vejam como hoje me encontro, preso como se fosse um bicho selvagem e alheio à socialização.
__Velhos levianos , o que os senhores faziam quando eu chegava em casa com carrinhos e brinquedos não comprados pelos senhores? com bolas que o senhores nem sabiam de onde vinham?
 
__ O que faziam quando eu saía e dizia que ia estudar e os senhores nunca, nunca foram até a minha escola, não queriam saber como estavam as minhas notas, nunca foram conversar com os professores, nem sabiam onde eu estudava, aliás nunca se sentaram para me orientar.
 
__Depois  com 14 anos, quando não dormia em casa , dizia que dormia nas casas dos amigos e os senhores nunca questionaram quem eram, onde moravam, o que faziam, quem eram os seus pais. Comecei a trazer para casa bicicletas, relógios , roupas bonitas e produtos alimentícios que os senhores comiam satisfeitos, enchiam as panças e não perguntavam de onde vinham, como eram adquiridos.
 
__Assistiam tudo quanto era porcarias na televisão e achavam que eram corretos, filmes de assaltos, roubos, sexos e falcatruas , votavam em homens conhecidamente desonestos , muitas vezes desmascarados pela mídia e também achavam que este comportamento era normal.
 
__Quantas e quantas vezes chegavam os cobradores e os senhores diziam:
 
__ diga que não estamos, que estamos trabalhando, que não sabe a hora que chegaremos.

___Seu delegado eu nunca esqueço de um fato muito vergonhoso: um dia cheguei em casa já com os meus 14 anos, quando minha mãe me disse.

___Filho, pule o muro de seu Idelfonso, o vizinho e pegue aquela galinha.

___O Velho logo retrucou: cuidado, bote uma mão no bico e a outra nas asas para não fazer zoada

___E eu seu delegado, tirei a minha sandália , pulei aquele muro como se fosse um gato, peguei a galinha silenciosamente para não perturbar as outras, voltei para casa, mãe e pai já estavam com a água no fogo para pelarem a galinha,  pelaram , botaram as penas num saco e mandaram jogar lá do outro lado da rua, lá embaixo, bem longe, para que não houvesse nenhuma desconfiança por parte do vizinho, comemos a galinha e no outro dia, seu Idelfono foi até a minha casa, estava eu, meu pai e minha mãe, indagou se haviam visto uma galinha e eles de imediato, na bucha foram logo dizendo.
 
___Nem de galinha nós gostamos, aqui há muito não se come galinha,  eu fiquei impressionado com tamanha mentira, fiquei de boca aberta e achava que era certo.
 
___Seu delegado, eu mereço apanhar, eu mereço surras e mais surras, pois naquela época se os meus pais tivessem boas atitudes, me corrigido,  puxado as minhas orelhas, me dado umas boas correções, corretivas surras, se falassem a verdade tenho certeza que não seria o indivíduo que sou hoje. 
 
__Hoje eu sou um moleque, um safado, ninguém me respeita, hoje não compreendo o que é ética, vivo à margem. Seu delegado pode bater, eu mereço e  aos senhores velhos desequilibrados, vou perdoar , porém sumam de minhas vistas, desapareçam, puxem de minha vida velhos irresponsáveis.

O delgado e os soldados após este relato, foram abaixando as cabeças, foram diminuindo de tamanho, atônitos e pálidos levaram os lenços até os olhos, enxugaram os prantos, alguns foram saindo e o delegado em voz trêmula disse:

___Soldados, o homem tem cura, o homem não é tão ruim como se pensava, o garoto tem jeito, não foi bem orientado, o problema foi no seio familiar e no seio governamental, foi criado sem pais e sem uma boa escola.
 
__Menino a partir de hoje tu terás um pai, uma mãe, irmãos e uma família, terás um lar.

Esta história foi minha mãe que me contou para justificar muitas vezes os tratamentos duros que muitos pais dão aos seus filhos na formação de um  homem, principalmente no seio familiar e para que os pais não fiquem traumatizados diante dos modernos conceitos psicológicos impostos aos pais e que muitas vezes são insuficientes , proporcionando o desvio de comportamentos, condutas e éticas do jovem de hoje.
 
Enfatiza minha mãe, que ´único caminho para o pobre é a escola, principalmente proporcionada pelos poderes públicos e para uma boa formação nos conflitos familiares primeiro o diálogo, depois o dialogo, por último o diálogo outra vez , na sua ausência , o amor dos genitores : corretivos mais duros.
 
Um dia os filhos agradecerão e como agradecerão.

Iderval Reginaldo Tenório

ESCUTEM O MEU AMIGO ISRAEL FILHO 
 cantando Sebastião  Dias 
grande compositor

CONSELHO AO FILHO ADULTO.flv - YouTube

www.youtube.com/watch?v=BsWt1nw3u98

23/07/2010 - Vídeo enviado por JEOVAJSANTOS
ISRAEL FILHO NO TEATRO DO PARQUE EM UMA INTERPRETAÇÃO QUE DISPENSA
HISTÓRIAS DE TIA ZIZINHA


Inicío contando uma das facetas de tia Zizinha. Apesar de franzina, baixinha e de semblante calmo, era uma setentona valente, uma setentona de voz firme, de olhar seguro que impunha respeito, por isso nem só os seus sobrinhos, mas todos da cidade a chamavam de tia Zizinha. Era tia Zizinha quem organizava as quermesses, era tia Zizinha quem planejava as partidas de futebol, as torcidas organizadas e as festas do milho, inclusive quando jovem ,ganhou muitos concursos de Rainha da Paróquia, tia Zizinha apesar de pequena e sequinha era um verdadeiro furacão,era um vulcão em atividade..



Era Dezembro de 1978, a cidade em chamas, a população duplicada devido os visitantes para a maior vaquejada da região.Cavalos por todos os recantos e baixios, bois espraiados pelos currais, caminhões e caminhonetes enchiam as ruas de chão batido, os carros de sons martelando os ouvidos , os sertanejos aproximando os apaixonados, rodas gigantes, canoas, tiro ao alvo e muita comida regional, tudo idealizado, organizado e executado por tia Zizinha.



O relógio marcava 12 hora, a conversa rodeava a mesa farta, o papo solto campeava na imensa sala da amada tia. Eu, sempre tirado a conversador iniciei uma discussão sobre a vida,sobre a grandeza do universo,sobre a importância do ser humano e o quanto de orgulho possui uma certa classe social apesar da insignificância, depois de uma longa prosa filosófica, em tom de deboche falei para tia ZIZINHA..

___Tia, a senhora não vê este mundão de meu Deus, estes indivíduos que se dizem importantes, bonitos, orgulhosos, cheios de soberbas e etc e etc? Eles e todos nós somos uns bostas tia Zizinha, somos uns merdas, aliás, tia Zizinha, nós e bosta somos a mesma coisa, basta um mosquito, uma bactéria, um vírus e lá estão todos e nós debaixo do chão, veja tia, nós não somos nada, basta um dia sem um banho e lá está a inhaca. Tia Zizinha parou, pensou e de imediato falou.

____Nós não meu filho, me tire dessa, vocês sim, vocês que estudaram, que se diplomaram, moraram na capital e são doutores podem se considerar bostas, podem se achar uns merdas, porque eu ainda sou um pum, um pum silencioso, um pum sem odor, isso é um pum fajuto, escondido e que não tem direito a voz, pra você vê nem zoada o coitado faz, eu sou um projeto de bosta, ainda falta muito e nem sei se um dia serei bosta, acho que sempre serei um prenúncio. Eram assim as tiradas de tia Zizinha. .

Após gostosas e efusivas gargalhadas retruquei: é tia, eu não sei porque tanto orgulho, tanto orgulho besta, pois todo mundo do mundo tem por trás uma bunda, umas batidas, outras avantajadas, mas todos têm, todos, todo mundo do mundo tia , tem uma bunda, a tia não contou conversas, com o dedo em riste,abriu a boca e em voz alta falou:

__E ainda por cima meu filho , ainda por cima furada.

Tia Zizinha era uma filósofa,tinha solução e resposta para tudo..

Outro dia foi ao médico com queixas de tosse ,e febre ,respirava com dificuldades, o médico colocou o estetoscópio e pediu para a mesma respirar fundo e ordenou:

____Respire fundo Tia Zizinha.Respire fundo.

Ela de imediato retrucou:

____Respirar por onde doutor? Por onde?.olhe minha idade,o senhor me respeite.



Voltando a vaquejada, era noite e tudo pronto para o início da grande festa, tia Zizinha no comando, vestido vermelho-rodado, flor amarela na cabeça, chicote de couro cru na mão direita, chapéu de massa na esquerda, de bota e tudo, era uma verdadeira Amazonas, pista iluminada, rapazolas pendurados nos mourões da cerca de madeira, moças de mini-saias saboreando maçã do amor ,velhos e crianças sentados nas arquibancadas de tábuas agrestes ,cancelas e portões fechados,tudo pronto para a abertura do evento .











Entra a anfitriã sob os aplausos da platéia, sozinha, descontraída e embasbacada com as salvas de palmas, naquele momento era a toda poderosa, era a rainha da noite, ali era a Tia Zizinha em carne, osso e outros predicados. A platéia começou a gritar tia Zizinha,tia Zizinha, em côro e sincronizado, TIA ZIZINHA,TIA ZIZINHA....,era um dia de glória,era a coroação de um ano de preparo,de labuta,de dedicação, quando de repente não se sabe de onde, surgiu um boi preto de mais de metro e meio de altura,um boi de ancas largas e pontudo,bem pontudo,com um aro de cobre nas narinas,uma cinta de couro apertada no seu vazio,olhos avermelhados ,bufando que só uma Maria fumaça, com os cascos dianteiros queriam furar o chão,as patadas sobre o solo e o poeirão que subia chamou a atenção do respeitável público, não contou conversas e nem gritaria,mirou e partiu pra cima de Tia Zizinha, ela procurou o portão, todos lacrados , não titubeou, com os seus finos gravetos quis fazer bonito,levantou os braços,mostrou o belo chapéu de massa e rodou o chicote de couro cru trezentos e sessenta graus,quis parecer que tudo fora programado, quis parecer que aquilo fazia parte do espetáculo,corria para um lado, pulava para o outro,gritava como um vaqueiro,vai boi mandingueiro,boi marruá,boi bufão, procurava enganar o valente bizão, conseguiu chegar até a cerca, chegou tarde, sentiu na sua traseira uma cravinetada dupla,um impulso veloz, compacto, agudo e muito forte nos atrofiados glúteos, os chifres lhes acertaram em cheio, decolou como um teco-teco, a manobra arrancou-lhe a saia , as anáguas e combinação, de quebra trouxe como troféu a sua vermelha calçola de brim , fundo duplo de forro grosso e acinturada com cordões de rêde.

Com a setentona jogada contra a cerca , as saias cobrindo-lhes as enfurecidas narinas , as vistas vedadas pela íntima e encharcada peça da Tia Zizinha e talvez pelo seu odor ,o boi se sentia acuado, perdeu o rumo, rodava como um peão à procura de sua presa,o povo gritava:__boi bufão,boi bufão,ficou desorientado. Apesar do ataque o boi perdeu a batalha,a tia não teve outra escolha, teve que desfilar só de califon e com as vestes de cima três dedos abaixo dos murchos maracujás. Com a traseira batida e dois vergalhões vermelhos indo até as costas tia Zizinha corria elegantemente para escapar do esbaforido boi, foi o espetáculo do ano, a platéia foi ao chão, os gritos ensurdecedores contagiavam os presentes, o povo foi ao delírio, a tia Zizinha chegou ao estrelato, foi um dia de glória e de inglória, os narradores com os microfones em punho. Muitos ficaram roucos de tanta emoção,. foi o maior espetáculo da terra

Nos jornais a manchete : A CALÇOLA VERMELHA DE TIA ZIZINHA E O BOI QUE PERDEU O RUMO.



Daquele dia em diante, nunca mais a tia organizou festas, passou a detestar vaquejadas e como vingança, comprou o boi bufão, realizou o maior churrasco aberto de minha terra, lá não compareceu. Como troféu,guarda na dita sala a cabeça do boi bobão.



Ainda hoje todo boi bravo que aparece nas vaquejadas o locutor brada em voz alta: ___E lá vai o boi que tirou as calçolas de tia Zizinha, o boi dos chifres certeiros, o boi que aposentou tia Zizinha. Complementa a narração com diversas trovas.



MENINA ME DA UM BEIJO , SÓ NÃO QUERO DO PESCOÇO, QUERO NO BICO DO PEITO ,NUM LUGAR QUE NÃO TEM OSSO, QUE É PRA QUANDO EU FICÁ VELHO, ME ALEMBRAR QUE JÁ FUI MOÇO.



Confesso que não gostei da inusitada cena e nem do inesperado espetáculo, porém vibro,vibro,pois não tenho culpa de ser parente de gente famosa e sobrinho da minha querida,amada e inesquecível tia Zizinha.

Não perco a oportunidade de anualmente participar da maior festa do interior do Ceará, realizado no Parque de Exposição e Vaquejada Tia Zizinha, cujo símbolo é uma cabeça de boi com uma calcinha vermelha nas pontas, cravada com o magestoso TZ maiúsculo. O TZ de TIA ZIZINHA. Salvador, 20 de Fevereiro de 2008. Iderval Reginaldo Tenório ACESSE O SITIO acesse o sitio. http://www.iderval.com.br

AS GARGALHADAS DE SEU MOCIM

As Gargalhadas de seu Mocim.


Ao adentrar não agüentou a decoração, os enfeites da estante , os diversos quadros mostrando a família, os painéis de informações e nem mesmo as estátuas do Padre Cícero e do Frei Damião escaparam , se desmanchou em risos, não conseguia olhar nos olhos do médico, era um olhar de realização, de superioridade, da desforra, do esvaziamento das mágoas, era o olhar da vitória. A cada detalhe, mais risos, ficou exausto de tanto riso.



__Doutor há muito tempo que não tenho dado um único riso, só sofrimentos, só mesmo o senhor para me fazer rir, obrigado doutor e mais uma vez se desmanchou em intermináveis gargalhadas.

Se refez, olhou para o médico, perguntou qual era seu interior e onde havia se formado. Começou a fazer comentários da inusitada sala. Falou que o ambiente estava mais para museu do que para consultório, mais para o passado do que para o presente ou futuro, perguntou se aquele rádio de 1930 funcionava, lembrou muito do seu avô , do seu pai e ficou assombrado quando no toque de um dos botões surgiu um som grave de uma viola pantaneira, depois um som aconchegante do velho Gonzagão, não se conteve, se levantou enconstou as orelhas na parte frontal do aparelho, abaixou e elevou o som, ficou impressionado,era igualzinho ao do seu avô .

__Doutor me lembro até da voz do meu avô:



Não conseguiu se calar, pegou um candieiro que estava sobre o rádio e pronunciou o nome de sua vó, riu ao avistar uma máquina de costura e veio na mente a sua tia Cotinha, tão boa, tão caridosa, tão atenciosa, era a mais velha , inclusive Deus já levou. Não conseguiu calar quando avistou um fruto nordestino, um jatobá; vieram as lágrimas, pois no seu sertão quando menino, era o único bocado a lhe matar a fome quando perambulava à caça de alguns nambus , preás e juritis. Caiu em prantos

__Ah! doutor como era bom , tudo era alegria.

Os risos foram desaparecendo e aos poucos a razão foi se aproximando e junto com a emoção o homem começou a falar de sua vida, a explicar à filha como foi a sua infância nos cafundós da Paraíba, a raridade da água, a seca de 32, os conselhos do Pe Cícero e o quanto importante foram os seus antepassados e que há muito não se lembrava das pessoas como também do seu velho torrão. Contemplando o ambiente, sentou na cadeira do paciente,pregou os olhos num quadro 100 X 150 mostrando uma velha estação, uma serra lá no fundo, os trilhos envelhecidos,  um trem cambaleante e uma criança esquálida no batente de uma choupana, olhou, balançou a cabeça, mirou a face do médico .

___Doutor: valeu, só esta visita valeu, mesmo que não fique bom de minha doença, valeu, mas valeu mesmo.Viajei no tempo e no espaço. Valeu.

Iniciei a consulta, perguntei por suas origens, do seu Estado natal, profissão, dos seus pais,avós, das brincadeiras na infância,  das namoradas,das festas juninas e de fim de ano, se havia tomado banho de rio, se morou em casa de sopapo, se falou e andou na época certa, se já teve sarampo ou catapora , falei dos seus filhos do seu trajeto como ser humano, e da dureza de hoje se encontrar com 85 anos , vivo,l utando, brigando , muitas vezes desvalorizado, incompreendido e injustiçado uma vez que na vida só fez mesmo foi trabalhar, trabalhar para educar os filhos.

Neste momento notei mudanças no seu semblante.

Após este preâmbulo indaguei por sua saúde detalhe por detalhe, ponto por ponto, sintomas por sintomas.Olhei todos os seus exames, trazia na lapela um diagnóstico sombrio de péssimo prognóstico, era uma doença maligna em avançado estado, inclusive com ascite e disseminação para outros órgãos, não agüentava mais procurar médicos e sem solução.De posse dos seus dados esbocei um rascunho do aparelho digestório, localizei a origem do seu problema, martelei didaticamente órgão por órgão,para que servem, o que fazem e como se encontravam,explanei a sua evolução. Expliquei que o homem no país vive em média até os 68anos e ele com 85 já havia ultrapassado 17 anos, mandei que o mesmo relembrasse os seus amigos de infância, coloque em uma única mão contando nos dedos quantos estavam vivos, quantos ainda saboreavam um feijão com toucinho e farinha. Ele não se conteve e disse:

___E bem vividos doutor, bem vividos, o senhor esqueceu da rapadura .

Completei:

___vividos no trabalho,no respeito,na honestidade e com seriedade, não como muitos que se dizem importantes e só servem para subtrair o pouco dinheirinho do povo.

__Pura verdade doutor, pura verdade ,eduquei todos os meus filhos com o salário da leste, com o suor do meu próprio rosto, eu só tenho o ABC, mas conseguir educar os meus filhos: hoje um é engenheiro da Petrobrás, outro é Professor e o outro é Medico, médico numa cidade do interior, muito procurado pelos seus pacientes, não é porque é meu filho não doutor, mas é um bom médico, todo mundo gosta dele, desde pequeno que é muito estudioso, toda semana me telefona e ainda manda uma coisinha todo mês. Sei que está difícil, mas não esquece de mim e nem da sua velha mãe.Esta que é a caçula, estudou para Assistente Social.

Complementei:

___ Seu Mocim é de pessoas como o senhor que o Brasil precisa, aliás foi o senhor quem construiu este país,naquela época sem estrada, sem luz, sem telefone. Nem geladeira existia e se existia só os ricos, só os mangangões, só aqueles que mandavam, só os coronéis possuiam, o resto era sofrimento, existindo a comida já estava bom demais.

__Êta que doutor danado, era isso mesmo doutor, era assim mesmo.

E mais uma vez os olhos marejaram.

Foi realizado um minucioso exame físico o que confirmou a gravidade do caso,explicado ao paciente que se tratava de uma doença que não necessitaria de cirurgia, que ele poderia comer o que quisesse desde quando não prejudicasse a sua saúde,que poderia passear, ir à praia ,visitar os seus parentes na Paraíba, trazer um bom queijo coalho para o seu médico e que não deixasse de comparecer à clínica nestes próximos 15 dias. Aos familiares informado que se tratava de um caso inoperável devido as metástases .

De pronto a filha disse:

___Doutor , nós queríamos ouvir mais uma opinião e pai disse que se fosse para operar ele não aceitaria.

A conversa continuou por mais alguns instantes, o abraço da despedida foi mais efusivo do que o da chegada,foi um abraço mais forte, do desprendimento,da conquista, o abraço de dois velhos amigos que há muitos anos não se viam, o abraço da compaixão e da liberdade.

Termino informando que o paciente passou a ser um grande amigo, o consultório começou a fazer parte de sua vida sempre que necessário, muitos foram os momentos de alegrias, de puro entretenimento e muitas histórias recuperadas, passei a freqüentar a sua casa e conhecer todos os familiares.

Usufruir de bons papos , enriquecedoras prosas e saborosas relíquias da culinária brasileira passaram a ser rotina, seus filhos me consideram irmão.

Como o tempo não perdoa e o criador sabe o que faz o amigo foi se familiarizando com seu quadro, tomou conhecimento da sua enfermidade, comentava que o homem é um ser mortal e que todos tem o seu dia para falar mais de perto com Deus e alegre como um menino foi plantando alegria , foi aproximando os familiares com as suas mensagens até o dia de sua audiência maior com o Criador. E exatamente 360 dias depois foi realizado a missa de 7º dia em homenagem ao o meu querido amigo que muito riu,dançou, cantou e me abraçou no humilde, simples e singelo consultório que muitas alegrias trouxe. Nos seus últimos dias, na cabeceira do leito, ou melhor, na cabeceira de sua cama, rodeado de familiares e amigos, olhava e dizia:

___Amigo, valeu, valeu e como valeu.



Convicto de que daqui há muitos e muitos anos, quando me encontrar quase que irreconhecível pelos janeiros acumulados e ao chegar onde muitos já estão não serei um estranho no ninho, contente e cônscio da missão cumprida , sinto que lá, LÁ, ONDE DEUS MORA e se for merecedor, serei muito bem recepcionado. Foi assim que ganhei mais um amigo e foi assim que aumentei a minha família.

Salvador, 30 de julho de 2006

Iderval Reginaldo Tenório

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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

HISTÓRIA DE UM VERDADEIRO PAI


No inicio de minha vida profissional fui plantonista de um sério pronto atendimento.

Nestes plantões eram lotados dois médicos , os atendimentos eram para pacientes emergenciais, os casos mais graves , eram transferidos e recebidos com todo prazer pelos plantonistas da unidade Hospitalar que davam suporte a este pronto atendimento.

Era discutido naquela época como nos dias atuais, o que é um atendimento de urgência,o que deve o médico atender, até que ponto é ético o médico dizer este caso não é emergência e não deve ser atendido nesta casa e sim por outra unidade, unidade esta que neste complexo existia e muitas vezes com especialistas.

Era domingo,03h30min da manhã,chovia e a cidade estava deserta, não me recordo o motivo, a pediatria se encontrava desativada , recomendado cautela.Os pacientes eram atendidos alternadamente .Até a meia noite era intenso o movimento,depois caia consideravelmente. Chegou um senhor de uns 40 anos de idade,trazia embalado nos braços envolto num grosso lençol uma crianças de 4 a 5 anos , foi até a recepção , disse que o filho estava com febre e dor na garganta .A recepcionista explicou que não se tratava de uma emergência e que deveria procurar o outro serviço logo que o dia clareasse .Humildemente o senhor sentou numa cadeira defronte a televisão que passava a noite ligada,pensou,refletiu ,voltou para a recepcionista,tentou explicar e sem sucesso. Solicitou que lhe mostrasse quem eram os médicos, queria falar e solicitar pelo o amor de Deus que atendessem o seu filho,o médico da vez respondeu que aquele caso não configurava uma emergência e poderia muito bem esperar até o amanhecer.Pensou: amigdalite às 3:30h da manhã, era brincadeira,porque não levou o garoto durante o dia no ambulatório apropriado, resmungou para si,amigdalite às 3 e 30,é demais .

Ao ver a cena e sentir naquele pai um semblante de diminuição,de inferioridade e de desvalorização como cidadão,chamei o colega,solicitei que atendesse , foi irredutível.Não pensei duas vezes,mandei fazer a ficha ,solicitei que colocasse o pai e o filho no consultório,chamei o colega e frente a frente,iniciei a consulta,não uma consulta médico-clínico,mas uma consulta médico-social. O pai revelou que morava na periferia,que saíra de casa às 06horas da manhã,trabalhava numa empresa encostada noutra,nem mais era terceirizada, o transporte era uma casinha adaptada sobre a carroceria de um caminhão,não tinha alimentação,nem garantia de emprego e era o último a chegar em casa no subúrbio ferroviário,depois de uma peregrinação por toda a cidade,devido o despejo dos seus pares que moravam em pontos diversos.

Naquele dia havia deixado a fábrica às 22 hora,rodara por mais de 150 quilômetros , ao chegar em casa,sem almoço e sem jantar,sem banho e possuído pelo cansaço,foi avisado pela esposa que o menino estava com febre e esperava o pai para levá-lo ao médico , matou a sede,encostou a mochila e a marmita,embalou a criança e debaixo de chuva,andou a pé três mil metros,pegou o trem suburbano que se conectava com o ultimo ônibus e depois de rodar 30 quilômetros atingiu o fim de linha,um turístico logradouro,desceu a pé um íngreme ,enladeirado ,longo e deserto percurso da grande praça ao longínquo serviço de urgência.Na solidão do caminho,na escuridão da noite,sob o frio da úmida e torrencial chuva,arriscando as suas vidas,mergulhou na realidade .Na cabeça um turbilhão de pensamentos,todos de baixa estima:pobre,não bonito,suburbano,pertencente a uma categoria sem valor,afro descente,cansado,naquele dia sem se alimentar,foi tomado pelo desânimo,porém,tinha um filho,possuía um rei,possuía uma das razões que justificava viver,que justificava todo e qualquer sacrifício,aliás,levar o seu filho a um médico,não era sacrifício,era um prazer e pensava no seu trabalho,na sua família, no seu pai,via e sentia naquela hora,naquele momento como era difícil a vida,como era dura,como era insignificante diante do mundo, ainda bem que existia o médico,este sim me compreendia,este sim era homem de coração bom,este sim atendia a toda hora,atendia em todos os momentos, nos momentos de necessidades e sempre alegre,sempre rindo,ainda bem que existia o médico, deste mundo só o médico,somente o médico era verdadeiramente humano,quem era ele para ser atendido,para receber a atenção daquela espécie de homem,homem estudado e importante,inclusive por ele ser um simples operário era condição suficiente para não ser atendido, ainda assim ,o médico atendia,.Atendia porque era humano, porque era bom,porque era gente ,apesar de médico era gente e foi assim que veio pensando em todo o seu longo e difícil trajeto,imaginava encontrar um amigo,um amigo que lhe escutasse,que lhe desse atenção,que lhe desse socorro,ainda bem que existe o médico.Disse também que saiu preocupado como voltaria,com que carro, com qual dinheiro e para ir ao trabalho no outro dia,sem dormir,sem comer ,sem condições de faltar e se fosse demitido?porém,nada disso era mais importante do que aquele filho,nada tinha mais importância do que a saúde do seu filho. O colega frente a frente ,escutava silenciosamente .Aquele depoimento era mais um desabafo, um desabafo social,um desabafo para com ele mesmo,um desabafo quem sabe,talvez para com DEUS, e o colega escutava calado, silencioso,olhar perdido,o colega estava noutro mundo bem distante,não sei aonde,num lugar longínquo;cabisbaixo. Repentinamente,com os olhos marejados , voz trêmula, rompeu o silencio ,abraçou o guerreiro pai e balbuciou:PAI,AH SE TODOS OS PAIS FOSSEM ASSIM! COMO SERIA DIFERENTE.

Pegou as rédeas do atendimento,arranjou energia não sei aonde,atendeu,conversou,riu,ofereceu o seu lanche noturno e o café da manhã para aquele pai exemplar ,alimentou a criança ,pediu-me que passasse o plantão pela manhã e com a criança medicada,a bolsa cheia de amostras e muita disposição foi conhecer na periferia onde morava um homem, onde morava um cidadão ,onde morava um verdadeiro pai e saíram os três na mesma condução .

Ainda hoje, nos encontros da vida escuto do nobre e gentil colega:__meu amigo, muito obrigado, a medicina não é só conhecimentos técnicos é muito mais. A medicina é o social,é o humanismo, é a ética,é o altruísmo,a medicina é a essência da cidadania ,a medicina é uma das representantes fiel de Deus.Ser médico enfim, é ser um misto de tudo quanto é de bom,ser médico é ser provedor,acolhedor e compreender os encontros e os desencontros do homem ,ser médico é apenas ser Médico.APENAS. Iderval Reginaldo Tenório
IDERVAL TENÓRIO MEDICO CIRURGIÃO



LOGO DA CLINICA DR IDERVAL ETC ETC.





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APELO DE UM BRASILEIRO

Iderval Reginaldo Tenório



Apelo de um brasileiro preocupado com o baixo índice de leitura da literatura brasileira ora substituída pelos dejetos literários de outras nações. As livrarias, as bancas e os mercados estão abarrotados de obras estrangeiras deseducadoras.

É verdade que a literatura estrangeira é muito rica, do teatro à poesia é inegável o seu valor, porém a fatia que chega aos tupiniquins, aos subservientes periféricos é uma vergonha. Se faz necessário uma sacudidela. O Brasil espera por todos. Não esqueçam que o futuro já chegou.

Não deixem a cultura Brasileira morrer. Reproduzam as histórias das vovós para os seus filhos e amigos, falem da bravura do homem brasileiro para que os jovens se orgulhem dos seus heróis, dos seus caipiras e de suas ocupações, para que esses mesmos jovens não se envergonhem do seu povo, principalmente dos antepassados. Enalteçam as batalhas, as lutas e esclareçam quem são os verdadeiros heróis da nação. Não deixem a televisão atropelar, matar e sepultar a cultura do seu povo e que não sejam massificados pela cultura contaminada do além mar que enchem os lares por intermédio da Internet, livros, cds, DVDs e a industria cinematográfica.

Tenho notado que os jovens vêem se inteirando de uma literatura vazia insípida e que mostra o que de pior existe do besteirol do mundo civilizado. Esta literatura invade os lares, as escolas, os cinemas, as livrarias e a mídia simplesmente pelo mercantilismo, publica, vende e espalha por todos os recantos.

O apelo que faço é que as escolas, os pais, e os homens de uma maneira em geral, passem aos brasileiros a necessidade de conhecer a sua literatura. Através dela o ser humano passa a conviver com cada região do seu país e entender a diferença brutal entre os seres que habitam a mesma nação. Existem autores que descrevem a nação do nascedouro aos dias atuais, uns os pampas do sul brasileiro, outros pormenorizam o centro oeste e um grande grupo o Norte e Nordeste. Falam das secas,das florestas,dos cerrados,da caatinga,dos animais ,do cangaço,do clima e dos costumes, fundamentando as diferenças, demonstrando a diversidade de cada comunidade.

Lendo os autores brasileiros se faz um passeio vivo irmanados com a história, será contaminado pelos costumes e passará a entender a formação deste povo batalhador, só com esta atitude os brasileiros poderão resgatar a auto-estima, só desta maneira tornar-se-ão verdadeiramente brasileiros, sem sentir vergonha ou menosprezo por qualquer que seja a nação que procura de uma maneira ou de outra substituir da mente a cultura raiz. Os brasileiros deveriam fazer uma campanha de valorização dos seus ícones, sua cultura, sua música, sua literatura, seu povo, seus artistas, seus poetas, seus escritores, seus caipiras e seus trabalhadores.

Leiam José de Alencar,Machado de Assis,José Lins do Rego,Graciliano Ramos,Euclides da Cunha,Guimarães Rosas,Patativa do Assaré,Zé da Luz, Drumond de Andrade,Josué Montello , Castro Alves,Augusto dos Anjos,Lima Barreto,Darcy Ribeiro,Fernando Henrique ,Walfrido Moraes,João Cabral de Mello,Gilberto Freie,João Ubaldo e outros de igual valor.Escutem Luiz Gonzaga,Gilberto Gil,Caetano Veloso,Chico Buarque,Dona Ivone Lara,Clementina de Jesus, Belchior,Luiz Vieira ,Vila-Lobos e outros ícones.

PROCUREM SABER SOBRE-TIRADENTES, FELIPE CAMARÃO, PADRE CÍCERO, FLORESTAN FERNANDES, ANTONIO CONSELHEIRO, FREI DAMIÃO, DOM HELDER CÂMARA. PROCUEREM LÊ SOBRE AS DIVERSAS GUERRAS SOCIAIS E ANTROPOLÓGICAS COMO-A GUERRA DO CONTESTADO, O CANGAÇO NO NORDESTE, GUERRA DOS FARRAPOS, REVOLTA DOS ALFAIATES, GUERRA DOS MASCATES E DEZENAS DELAS QUE ACONTECERAM NESTE PAÍS. PROCUREM SABER A VERDADE SOBRE A ESCRAVIDÃO DO INDIO, DO NEGRO E DO BRANCO NO BRASIL.

Após passarem por estas cabeças, acreditem, nada poderá desvirtuar o sentimento de brasilidade, pois, quando as raízes são fincadas e penetram no solo pátrio, todas as outras culturas independentes de suas origens virão para somar e jamais para substituir a cultura mãe, e mais, sempre com o crivo da consciência e da razão. Neste caso só ficará a de boa procedência e não os dejetos que contaminam as pueris e desprotegias mentes. .

Leiam as publicações diárias e semanais da imprensa brasileira, acessem os grandes debates, participem do cotidiano da nação, sejam fiscais dos dirigentes, procurem eleger homens comprometidos com ideais democráticos e comunitários, que pensem no coletivo, façam cobranças aos seus representantes, lutem por justiça nas aplicações das verbas públicas. Vejam que tem muito para se aprender e com certeza mudarão os seus pensamentos, o jeito passivo de aceitar as coisas que permeiam a entregação do país, eu disse entregação

Tenham orgulho do torrão brasileiro, gritem bem alto os nomes dos antepassados, neles se encontram as armas da sabedoria popular, as raízes para a soberania e o sonho de toda a nação, a independência de um povo. Viva a plural e rica cultura brasileira. Tenham orgulho dos seus pais.

Iderval Reginaldo Tenório autor. 1998 http://www.iderval.com.br driderval@bol.Com.br