sábado, 16 de outubro de 2010

HISTORIA DE UMA GUERREIRA

                                                    

                                             
          

                               
                                                     

                                                 


                                    
                                           
                                            A INTERIONA.
                                   Adolfo Ricart(SOBRAMES)

Dormiu sob  as marquises por duas semanas, chegara do interior sem lenço e sem documentos, não possuía um naco de carne, faltavam-lhes músculos, faltava-lhes brilho na face, cabelos castanhos enfubazados, quebrados de tantos pentes com azougue, pele porosa, gordurosa, à mostrar finas cicatrizes provenientes da lida diária no campo, o sol causticante maltratara a sua juventude, duas semanas no relento, duas semanas comendo não se sabe o que.

No desespero bate pela vigésima vez noutra porta,batedor de metal ,cabeça de leão amarela que produz um som estridente.A fechadura tem o seu trinco atado a um longo cadarço que da sala é destravado.Do fundo da casa aos gritos  surge uma voz .

___Pode entrar.


Sem ouvir uma única palavra a senhora sentada numa cadeira de balanço logo entendeu o motivo da visita. Não agiu com compaixão, estava precisando de mais um serviçal.

___ Não tenha medo, se não sabe lavar, passar ou cozinhar, só para serviços diversos, o dia começa às 6 da manhã e só termina quando o último hóspede deixar a sala da televisão.

Cabisbaixa,introspecta,olhar para o futuro,palavras atritadas e pensativa a garota responde.

___Aceito sim senhora, aceito sim, onde fica o meu quarto?


___Que quarto? Nos fundos onde se guarda as tralhas, arma-se uma rede, bate-se a porta e só se abre às 5 da manhã, banho tomado, inhaca fora e logo-logo ajudando a Maria na lida do café, só se come após recolher a mesa depois do último hóspede.


___Aceito sim senhora, já posso começar?

A velha dona e futura patroa pede atenção, voz ríspida, fácie mumificada ,dedo em riste e de olhos arregalados detalha vociferando.

___Outra coisa, roupas limpas e bem comportadas, também com este corpo pode até assombrar a hospedaria; toma este sabão, dá uma geral, desgrenha esta moita da cabeça e veste este conjunto, foi da última que despedi na semana passada ,emprenhou e mandei de volta para os pais, por isso tome cuidado e nada de trela com os vadios da rua.

Passa para a desvalida dois conjuntos de roupas velhas, surradas, número maior  do que o seu manequim e exige pressa.  Neste dia após o banho a interiorana mata a fome e não deixa um único naco de pão para a farinha de rosca, da sopa rapou até o tacho e foi assim durante o primeiro mês quando começou a perder o medo da cidade grande. Acostumou com o rabugento jeito da patroa, tomou coragem e lhe dirigiu a palavra.


___Dona Gertrudes daria para a senhora me arrumar um sabonete, não precisa ser do bom, basta que seja cheiroso e eu queria também um pente com os dentes mais afastados para não danificar os meus já ressecados cabelos.

A velha retrucou na mesma hora com um olhar reprovador,com uma mão na cintura e a outra a gesticular, foi dura com a neófita aprendiz,desdenhando do seu atrevimento a reeprendeu.

___Sabonete? pente grosso? Olha menina, vai trabalhar que é melhor, para onde tu vais com esta arrumação?Para onde tu vais? Tu não tens parentes aqui na cidade, namorado não arranjas, para que diabo esta invenção? Cuida do teu serviço e pronto, faz uma touca, cobre estes cabelos e sabão de côco não falta nesta casa, o que vou arrumar é um desodorante para acabar com esta inhaca dos sovacos.


A menina não insistiu, também não procurou se desviar do bom caminho, juntava as sobras  dos sabonetes usados pelos hóspedes, colava um no outro e tomava banho com diversas essências, do seu pente arrancou-lhe os dentes pulando um, arrancado o outro, pulando e arrancando, com este engenho penteava  os encaracolados e finos fios. Com a farta alimentação, evidente sobras, a menina foi ganhando umas carnes, a ausência causticante do sol, banhos diários e a cicatrização definitiva dos finos arranhões mostrava uma delicada pele.De bom trouxe os belos dentes enfileirados que após trinta dias de escovação passaram a causar inveja.

A garota foi vista por dona Gertrudes, a menina tomava jeito de gente, mostrava-se  preocupada com o trabalho e não apresentava nenhuma amofinação, tinha jeito para as coisas,desenvolvia bem,tinha futuro..


___Menina, vou te vestir com roupas mais compostas, vi que já aprendestes a fazer o café e pôr a mesa pela manhã, o que também me impressiona é a tua rapidez nos serviços e sem reclamar, mas sempre reivindicando, me diga uma coisa, tu estudastes até que ano?

___Fiz o primário dona Gertrudes,fiz o primário, não aprendi mais devido a distância da escola e porque na roça é comum deixar a escola na época das  plantações, nas limpas e nas colheitas, primeiro o enche buxo para matar a fome ,come-se de tudo, até xingó assado é banquete no meu interior,depois a educação, depois o conhecimento cultural, como  na minha região só existia o primário tomei rumo à capital para completar os meus estudos, deixei a minha família chorosa, pai morreu e mãe vive cuidando da roça, prometi a mãe que um dia ela vai se orgulhar de mim, um dia ela vai receber o meu retrato vestido de uma formatura.

A velha não botou fé, não levou a sério o diálogo com a nova empregada, mesmo assim a promoveu e pela honestidade demonstrada  além do café entregou os quartos para arrumação.


A menina passou a acordar mais cedo, a cozinheira não morava na hospedaria, quando chegava tudo já estava pronto, quintal lavado e varrido, feijão catado e de molho,carnes cortadas e temperadas, a mesa posta e algumas novas guloseimas a enriquecer a mesa da tradicional pensão. Os hóspedes cada dia mais satisfeitos principalmente com a organização dos seus quartos, com a limpeza dos sanitários e com a impecável honestidade da funcionária,vezes facilitavam, moedas sobre as mesas, cédulas dentro dos livros com as pontas à mostra e mesmo assim nada a reclamar, a moça foi ganhando confiança e com ela pequenos agrados: roupas, sapatos, produtos de  beleza e aos poucos foi se revelando.

Passado seis meses já circulava na sala da televisão com muito respeito, vezes para servir um suco, uma água, para socorrer alguns com dor de cabeça servindo um analgésico e até mesmo participando de conversas após os telejornais. A esta altura mês de janeiro já procurara vaga numa escola publica para completar os seus estudos, não conseguiu devido a idade e entrou numa escola de aceleração, concluiu  em 18 meses de estudo os três anos do colegial.

Dona Gertrudes  já se orgulhava da sua  caipira, já acreditava nas suas palavras e podia deslumbrar um futuro melhor, nenhuma desavença com os hóspedes, nenhuma notícia que arranhasse a sua reputação como mulher, não dava atenção às tentações dos moradores ,exigia reciprocidade no respeito,do trabalho para a escola,tudo nos conformes .A honestidade e o trabalho eram as suas marcas prediletas.A velha patroa vivia  e dormia em paz.


___Dona Gertrudes preciso falar com a senhora, fui convidada para cuidar de um ancião, mora num bairro nobre, mora com a filha mais velha e só trabalharei até às 17 horas, poderei estudar à noite e terei carteira  assinada, o que a senhora acha?

A velha não gostou, como perder uma funcionária de tão boa índole, uma funcionaria de tão bom perfil, tão cheia de força de  vontade? Como perder? Quis botar gosto ruim, mas o senso de responsabilidade falou mais alto, não só apoiou como também deu alguns conselhos e uma pequena ajuda financeira, passou a ser uma orientadora, a partir daquele dia saía mais um cidadão da informalidade.


A menina sinalizou e foi  ao encontro do novo emprego, uma mansão abandonada  em um bairro nobre, nela morava um viúvo na sétima década da vida, sofrera injúrias na saúde e necessitava de ajuda para os afazeres primários .Casa fria e escura,o limo caia pelos muros e os móveis encruados mostrava sinais de saudosismo.


____Meu pai é um velho muito culto, é professor aposentado,tem muito ciúme dos seus livros,tenha muito cuidado, não esqueça dos seus remédios, de sua alimentação e de sua higiene, chegarei mais cedo.

Esta era a ladainha diária, o velho era um sujeito de posses materiais  e de pouca renda, vivia de alguns alugueis e de uma pequena aposentadoria, por isso morava com a filha solteira funcionária da prefeitura nesta casa mal cuidada  e sem manutenção, motivo deste casarão quase que abandonado, apesar das posses não existia renda. A menina trabalhava até às 17 horas,conversava muito com o ancião,aprendia o que não existe nos livros, o trabalho era  um verdadeiro aprendizado, recolhia-se ao seu aposento  e à noite freqüentava novos cursos preparativos para o futuro.

O seu quarto ficava nos fundos, era um quarto pequeno, mas era só seu, tinha um pequeno banheiro, ficava colado à cozinha e a área de serviço, dava para os fundos da rua, avistava os carros enfileirados e outros lado a lado, não era um quarto descente para a casa que morava, mas era um quarto só seu,para uma orelha seca já era uma vitória.

A menina vivia como merecia,o sol não mais queimava a sua pele,as roupas soltas e finas a lhes mostrar o perfil ,  busto cheio,macio e brilhoso,não necessitava de apetrechos para sustentá-los, cintura fina,nádegas dura e levantada ,pernas torneadas com toda a  beleza da mocidade,panturrilhas de causar inveja e pés delicados  ,a garota no passado era maltratada.

Cuidou do ancião até o dia em que o mesmo olhando para os belos seios da pequena quis massageá-los, a câmara mostrou a sua delicadeza, a sua reação foi com urbanismo e com muita dureza o chamou  atenção. De imediato comunicou à patroa sobre o ocorrido e com a voz segura e equilibrada falou:.


___Dona Glória  me desculpe, mas não posso mais trabalhar nesta casa, seu pai já está recuperado, corado, com bom raciocínio e não mais precisa de uma ajudante, ele precisa de uma cuidadora mais idosa, apenas para companhia,seguirei o meu caminho.

Dona  Glória de tudo fez para amenizar, sem sucesso. E a bela menina partiu para o mercado, jornal à mão, dedo ao telefone e logo se encontrava sentada na  sala à espera do futuro patrão. Cabelos penteados,blusa branca ,blazer e saia quadriculadas,sapatos pretos de salto médio. Os olhos bateram com os olhos de um jovem senhor que adentrou a sala. 
A moça pensou: ____quem seria aquele moço?Quem seria?   O mesmo sumiu  e só quatro horas depois foi revelado a sua identidade, tratava-se do  seu futuro empregador.


___Nunca trabalhei neste tipo de serviço, só trabalhei em casa de família, se ficar estou realizando o meu sonho, comunicarei primeiro à minha mãe, ela ficará orgulhosa de mim,será a porta de entrada para uma nova vida,farei de tudo para da certo,farei de tudo.

O jovem empregador sentiu no olhar da donzela um futuro promissor,sentiu que aquele encontro seria um elo importante nas duas vidas,aquele emprego apesar de simples seria o ponta pé inicial para uma bela e independente carreira, seria o inicio do orgulho profissional esperado por sua cuidadosa  e humilde mãe que de longe rogava a Deus por dias melhores.

___Menina o emprego é seu, começa amanhã e faça tudo para aprender, são três meses de experiência, depois contrato definitivo,lembre-se também  que não deverá encará-lo como emprego para o resto da vida,trata-se de mais uma etapa , como mais uma etapa da sua vitoriosa trajetória,porém enquanto aqui permanecer tem que ser com muita competência e responsabilidade.


A menina tomou conta do ambiente, rápida, dinâmica, amiga, interessada,limpa  e inteligente, tinha muita identidade com o jovem patrão, fez curso, fez preparo para o vestibular, passou a ser enxergada e a enxergar o padrão como fazendo parte de sua vida, difícil o relacionamento, mesmo assim conseguiram conviver por um bom tempo, dias felizes, de alegrias até quando numa cilada premeditada  se despede do emprego não se desligando  do  jovem senhor, continuou os seus estudos e procurou novos rumos, encontrou um novo relacionamento e honrosamente se afastou definitivamente do seu primeiro emprego  formal ,começou uma nova e longa aventura. Ingressou na Escola Superior colando grau 04 anos depois , sempre se superando, com a enxurrada constante de conhecimentos foi perdendo o elã pelo novo companheiro que parou no tempo e no espaço, de pensamentos mesquinhos e arcaicos ,foi sentimentalmente se desinteressando  até o afastamento dos corpos, da pele e do diálogo. 


Parte sozinha para novas conquistas e voa para outras plagas à procura de melhores dias,sempre foi e sempre será assim a luta dos vitoriosos.

Da sua  boca sempre se escuta: O CEU É O LIMITE, A depender da sua força,da sua garra,da sua vontade num futuro não muito distante o seu sonho com certeza será realizado.A vida já é uma conquista.
Iderval Reginaldo Tenório 2001







Animação de O Pequeno Burguês

solo de trombone!!! O Pequeno Burguês - Martinho da Vila Felicidadepassei no vestibular


domingo, 10 de outubro de 2010

PARA LEITURA


PARA LEITURA.

PARA A LEITURA DESTE BLOG É MUITO FÁCIL.ARQUIVO AO LADO DA PÁGINA.

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UM ABRAÇO.   
IDERVAL REGINALDO TENÓRIO 

OS ANIMAIS DOMESTICOS




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  Animais Domésticos: Zoonoses  e /ou   Terapias?

                       Diversos são os estudos a respeito da melhora da qualidade de vida, de como é boa a convivência com animais domésticos,  principalmente para as crianças, os idosos, os solitários e alguns portadores de doenças com debilidade neurológica ou mental.
 
Por   ser um animal social, o homem vive  em busca da liderança. Não é a toa, que o homem, independente  da classe social,   porcure um ser para comandar na área financeira,  intelectual, na família, na ocupação ou na  sua comunidade.  Exemplo maior, é o desejo milenar de possuir um ser vivo eternamente amigo e submisso, elemento este, que seja comandado em todas as circunstancias, mesmo que seja maltratado ou passando fome, não arrede os pés da submissão. 
 
Veja como os que ocupam as mais baixas camadas sociais se preocupam em possuir um cão amigo, cão este sem pedigree, sem saúde, sem teto, sem comida, mas acima de tudo fiel, acima de tudo amigo e obediente.
 
 Aquele homem não manda em nada, aquele homem nada possui, aquele homem é acima de tudo um abandonado, porém o seu cão continua aos seus pés, obediente e em contínua lambição, lambe os pés, os dedos, a boca, a pele, lambe o homem, esta é a função milenar do verdadeiro subserviente, motivo mais do que suficiente para que se sinta contemplado.

                   O que dizer dos que vivem solitariamente nas grandes mansões, nos casebres, nas ruas, famílias pequenas, filhos sem pais, pais sem filhos, famílias sem crianças, sem netos, sem bisnetos, sem amigos e muitos  com sobra do vil metal.  

                  Substituindo o humano por animais domésticos, estes animais passam a ser o melhor achado para companhia, o homem conversa com os animais como se estes fossem humanos, partem para verdadeiros bate-papos e os tratam como humanos, dão todas as características, oferecem confortos, problemas  psíquicos, orgânicos como  também de relacionamentos, levando a estes animais os mesmos trajetos que passam os humanos como: obesidade, psicoses, depressões e uma infinidade de doenças da modernidade, tudo pelo poder sobre aquele subserviente, obediente, amigo e dedicado animal.

               Tempos atrás a população era rural e abrigava todas as espécies no mesmo espaço, as paredes eram imaginárias e o teto era o céu, os animais domésticos faziam parte da rotina, na caça, no transporte, no trabalho, na segurança, no entretenimento e em todas as suas atividades. O Homem foi se civilizando e para a sobrevivência foi se agrupando em comunidades gerando as grandes aglomerações hoje chamadas de cidades, com ele, um grupo manteve  o perfil do sonho do comando, sentiu a necessidade de continuar o sonho da liderança, para a solução nada mais justo do que continuar o relacionamento com os animais domésticos, muitas das  suas funções ficaram obsoletas  e foram substituídas por outras como entretenimento, companhia e fundo terapêutico.

             Com este preâmbulo, volto aos animais domésticos  principalmente ao cão. Levantamento efetuado nas grandes  metrópoles mostrou que para cada 10 humanos existe em média 01 animal doméstico  o que corresponde a 10%. Para uma população de 1,0 milhão de habitantes são 100 mil animais, muitos soltos nas artérias e logradouros das cidades. Cada espécie animal é portadora de características peculiares, para se manter viva obedece a  determinados parâmetros, cada uma tem uma função bem definida e nada impede que as espécies vivam em harmonia  desde quando cada um  no seu verdadeiro mundo e não perca os conceitos basilares. A humanização  das outras espécies é uma afronta antropológica e sem lógica que muito prejuízo trará a esta civilização, nada impede que vivam no mesmo torrão como espécies distintas.

           O Objetivo deste artigo é para se pensar a respeito das doenças pertinentes a cada espécie e que têm a capacidade de migrarem para as outras, tanto do homem para os animais e destes para o homem, as famigeradas  zoonoses.

           Para viver em comunidade os aglomerados humanos tiveram que se submeter a diversos ajustes, instalações elétricas, moradias, drenagens fluviais, aterros sanitários, drenagem dos esgotos e dos dejetos humanos ou restos de alimentos, condição mínima para a não proliferação das doenças peculiares.   Para este intento o homem passa por um período de educação e de adaptação ao novo modo de vida, mesmo assim com a falta de recursos, na não aplicação dos poucos existentes nestas infra-estruturas, fica a maior parte da população sem estes serviços vivendo nos bolsões  à margem  da civilidade, tudo a céu aberto, vulnerável a proliferação de diversas patologias.

            Agora  imagine as conseqüências  para os poderes públicos e para a população  ao enxergar os animais na ótica dos que não se preocupam, dos que não cuidam, na ótica dos humanos desumanos e que não têm compromisso com a comunidade, sem sombra de dúvidas a maioria. Imagine as conseqüências: se cada animal numa média aritmética produz de 500 a 700gramas de dejetos dia, como não existem sanitários apropriados, como  não são escolarizados e mais de 80% despejam nas calçadas, nas ruas, nas avenidas, nos logradouros públicos e os outros 20% são descartados por seus donos nos cestos de lixo, configura uma forte ameaça à saúde de toda a comunidade.

               O que preocupa é que existe como já mencionado 10 animais para cada 100 habitantes, para uma população de três milhões, são 300 mil animais, chega-se à seguinte conclusão: para cada mil animais são produzidos   700 kilogramas  de dejetos dia, para cada  100mil, 70mil kilogramas dia (70 toneladas) e para cada 300mil, 270 toneladas de dejetos pulverizados  diariamente na cidade, equivale a 27 caminhões pipas por dia, nestes dejetos existem milhares de parasitos, bilhões de bactérias e outros trilhões de vírus que de diversas maneiras contribuem para a proliferação das temidas zoonoses.  Faça uma conta deste volume para uma cidade de 3 milhões de habitantes (300 mil animais) durante  365 dias,  assim: 270 toneladas vezes 365 dias dão exatamente  98 mil 550 toneladas de  fezes e urina, isto é  9mil 885 carros pipas de 10 mil kg,  810 carretas por mês, 27 carretas por dia. É de assombrar.

             Como se livrar de tantas patologias,(como exemplo cito a leishimaniose,antes rural ,hoje urbana) se a fonte geradora não pára de crescer, para onde vão os restos placentários após os partos, os animais que vão a óbito e o que se faz com os enfermos portadores de  doenças de  alto contágio.A população tem o direito de conhecer, tem o direito de se familiarizar com estes pontos  para poder se posicionar e optar em possuir um ser submisso, um ser  importante, porém  gerador de tantos problemas  para a comunidade solucionar, uma vez que os animais vivem confinados nos lares da população, muitas vezes dividindo o mesmo quarto quiçá a mesma cama.
           Salvador, 20 de agosto de 2001.
           Iderval Reginaldo Tenório
                    MÉDICO
             TEXTO REGISTRADO

domingo, 3 de outubro de 2010

BLOG DR IDERVAL - BLOSPOT











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IDERVAL REGINALDO TENÓRIO 

APELO DE UM BRASILEIRO

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                                                          APELO DE UM BRASILEIRO
                                                         Iderval Reginaldo Tenório

                           Apelo de um brasileiro preocupado com o baixo índice de leitura da literatura brasileira ora substituída pelos dejetos literários de outras nações. As livrarias, as bancas e os mercados estão abarrotados de obras estrangeiras deseducadoras.

                           É verdade que a literatura estrangeira é muito rica, do teatro à poesia é inegável o seu  valor, porém a fatia que chega aos tupiniquins, aos subservientes periféricos  é uma vergonha.  Se faz necessário uma sacudidela. O Brasil espera por todos. Não esqueçam que o futuro já chegou.

                           Não deixem a cultura Brasileira morrer. Reproduzam as histórias das vovós para os seus filhos e amigos, falem da bravura do homem brasileiro para que os jovens se orgulhem dos seus heróis, dos seus caipiras e de suas ocupações, para que esses mesmos jovens não se envergonhem do seu povo, principalmente dos antepassados. Enalteçam as batalhas, as lutas e esclareçam quem são os verdadeiros  heróis da nação. Não deixem a televisão atropelar, matar e sepultar a cultura do seu povo e que não sejam massificados pela cultura contaminada do além mar que enchem os lares por intermédio da Internet, livros, cds, DVDs e a industria cinematográfica.

                           Tenho notado que os jovens vêem se inteirando de uma literatura vazia insípida e que mostra o que de pior existe do besteirol do mundo civilizado. Esta literatura invade os lares, as escolas, os cinemas, as livrarias e a mídia simplesmente pelo mercantilismo, publica, vende e espalha por todos os recantos.

                        O apelo que faço é que as escolas, os pais, e os homens de uma maneira em geral, passem aos brasileiros a  necessidade de conhecer a sua literatura. Através dela o ser humano passa a conviver com cada região do seu país e entender a diferença brutal entre os seres que habitam a mesma nação. 

Existem autores que descrevem a nação do nascedouro aos dias atuais, uns os pampas do sul brasileiro, outros pormenorizam o centro oeste e um grande grupo o Norte e  Nordeste. Falam das secas,das florestas,dos cerrados,da caatinga,dos animais ,do cangaço,do clima e dos costumes, fundamentando as diferenças, demonstrando a diversidade de cada comunidade.

                     Lendo os autores brasileiros se faz um passeio vivo irmanados com a história, será contaminado pelos costumes e passará a entender a formação deste povo batalhador, só com esta atitude os brasileiros poderão resgatar a auto-estima, só desta maneira tornar-se-ão verdadeiramente brasileiros, sem sentir vergonha ou menosprezo por qualquer que seja a nação que procura de uma maneira ou de outra substituir da mente a cultura  raiz. Os brasileiros deveriam fazer uma campanha de valorização dos seus ícones, sua cultura, sua música, sua literatura, seu povo, seus artistas, seus poetas, seus escritores, seus caipiras e seus trabalhadores.

                    Leiam José de Alencar,Machado de Assis,José Lins do Rego,Graciliano Ramos,Euclides da Cunha,Guimarães Rosas,Patativa do Assaré,Zé da Luz, Drumond de Andrade,Josué Montello , Castro Alves,Augusto dos Anjos,Lima Barreto,Darcy Ribeiro,Fernando Henrique ,Walfrido Moraes,João Cabral de Mello,Gilberto Freie,João Ubaldo e outros de igual valor.Escutem Luiz Gonzaga,Gilberto Gil,Caetano Veloso,Chico Buarque,Dona Ivone Lara,Clementina de Jesus, Belchior,Luiz Vieira ,Vila-Lobos e outros ícones.

                    PROCUREM  SABER SOBRE-TIRADENTES, FELIPE CAMARÃO, PADRE CÍCERO, FLORESTAN FERNANDES, ANTONIO CONSELHEIRO, FREI DAMIÃO, DOM HELDER CÂMARA.  PROCUREM LÊ SOBRE AS DIVERSAS GUERRAS SOCIAIS E ANTROPOLÓGICAS COMO-A GUERRA DO CONTESTADO, O CANGAÇO NO NORDESTE, GUERRA DOS FARRAPOS, REVOLTA DOS ALFAIATES, GUERRA DOS MASCATES E DEZENAS DELAS QUE ACONTECERAM NESTE PAÍS. PROCUREM SABER A VERDADE SOBRE A ESCRAVIDÃO DO ÍNDIO, DO NEGRO E DO BRANCO NO BRASIL.

                       Após passarem por estas cabeças, acreditem, nada poderá desvirtuar o sentimento de brasilidade, pois, quando as raízes são fincadas e penetram no solo pátrio, todas as outras culturas independentes de suas origens  virão para somar e jamais para substituir a cultura mãe, e mais, sempre com  o  crivo da consciência e da razão.  Neste caso só ficará a de boa procedência e não os dejetos que contaminam as pueris e desprotegias mentes.                         .
                         Leiam as publicações diárias e semanais da imprensa brasileira, acessem os grandes debates, participem do cotidiano da nação, sejam fiscais dos dirigentes, procurem eleger homens comprometidos com ideais democráticos e  comunitários, que pensem no coletivo, façam cobranças aos seus representantes, lutem por justiça nas aplicações das verbas públicas. Vejam que tem muito para se aprender e com certeza mudarão os seus pensamentos, o jeito passivo de aceitar as coisas que permeiam a entregação do país, eu disse entregação

                       Tenham orgulho do torrão brasileiro, gritem bem alto os nomes dos antepassados, neles se encontram as armas da  sabedoria popular, as raízes para a soberania e o sonho de toda a nação, a independência de um povo.  
Viva a plural e rica cultura brasileira. Tenham orgulho dos seus pais.
Iderval Reginaldo Tenório   autor. 1998                     driderval@bol.Com.br

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

POESIA DE ZE DA LUZ -O MAIOR POETA DA PARAIBA


Dados:

Severino de Andrade Silva (Zé da Luz), nasceu em Itabaiana, PB, em
29/03/1904 e faleceu no Rio de Janeiro-RJ, em 12/02/1965 .

O maior poeta da Paraíba  .Leiam nesses textos o que é capaz  o homem do Nordeste.

Brasi Caboco


O qui é Brasí Caboco?
É um Brasi diferente
do Brasí das capitá.
É um Brasi brasilêro,
sem mistura de instrangero,
um Brasi nacioná!


É o Brasi qui não veste
liforme de gazimira,
camisa de peito duro,
com butuadura de ouro...
Brasi caboco só veste,
camisa grossa de lista,
carça de brim da “polista”
gibão e chapéu de coro!



Brasi caboco num come
assentado nos banquete,
misturado cum os home
de casaca e anelão...
Brasi caboco só come
o bode seco, o feijão,
e as veiz uma panelada,
um pirão de carne verde,
nos dias da inleição
quando vai servi de iscada
prus home de posição.


Brasi caboco num sabe
falá ingrês nem francês,
munto meno o português
qui os outros fala imprestado...
Brasi caboco num inscreve;
munto má assina o nome
pra votar pru mode os home
Sê gunverno e diputado


Mas porém. Brasi caboco,
é um Brasi brasileiro,
sem mistura de instrangero
Um Brasi nacioná!


É o Brasi sertanejo
dos coco, das imbolada,
dos samba, dos vialejo,
zabumba e caracaxá!


É o Brasi das vaquejada,
do aboio dos vaquero,
do arranco das boiada
nos fechado ou tabulero!


É o Brasi das caboca
qui tem os óio feiticero,
qui tem a boca incarnada,
como fruta de cardoro
quando ela nasce alejada!


É o Brasi das promessa
nas noite de São João!
dos carro de boi cantano
pela boca dos cocão.


É o Brasi das caboca
qui cum sabença gunverna,
vinte e cinco pá-de-birro
cum a munfada entre as perna!


Brasi das briga de galo!
do jogo de “sôco-tôco”!
É o Brasi dos caboco
amansadô de cavalo!
É o Brasi dos cantadô,
desses caboco afamado,
qui nos verso improvisado,
sirrindo, cantáro o amô;
cantando choraro as mágua:
Brasi de Pelino Guedes,
de Inácio da Catingueira,
de Umbelino do Texera
e Romano de Mãe-d’água!

É o Brasi das caboca,
qui de noite se dibruça,
machucando o peito virge
no batente das jinela...
Vendo, os caboco pachola
qui geme, chora e soluça
nas cordas de uma viola,
ruendo paxão pru ela!
É esse o Brasi caboco.
Um Brasi bem brasilero,
sem mistura de instrangêro
Um Brasía nacioná!


Brasi, qui foi, eu tô certo
argum dia discuberto,
pru Pêdo Arves Cabrá.

A cacimba

Tá vendo aquela cacimba
lá na bêra do riacho,
im riba da ribanceira,
qui fica, assim, pru dibáxo
de um pé de tamarinêra.

Pois, um magóte de môça
quage toda manhanzinha,
foima, assim, aquela tuia,
na bêra da cacimbinha
prá tumar banho de cuia.

Eu não sei pru quê razão,
as águas dessa nacente,
as águas que ali se vê,
tem um gosto diferente
das cacimbas de bêbê...


As águas da cacimbinha
tem um gôsto mais mió.
Nem sargada, nem insôça...
Tem um gostim do suó
do suvaco déssas môça...
Quando eu vejo éssa cacimba,
qui inspio a minha cara
e a cara torno a inspiá,
naquelas águas quiláras,
Pego logo a desejá...


... Desejo, prá quê negá?
Desejo ser um caçote,
cum dois óio dêsse tamanho
Prá ver aquele magóte
de môça tumando banho!

As flô de Puxinanã
(Paródia de As “Flô de Gerematáia” de Napoleão menezes)


Três muié ou três irmã,
três cachôrra da mulesta,
eu vi num dia de festa,
no lugar Puxinanã.


A mais véia, a mais ribusta
era mermo uma tentação!
mimosa flô do sertão
que o povo chamava Ogusta.


A segunda, a Guléimina,
tinha uns ói qui ô! mardição!
Matava quarqué critão
os oiá déssa minina.


Os ói dela paricia
duas istrêla tremendo,
se apagando e se acendendo
em noite de ventania.

A tercêra, era Maroca.
Cum um cóipo muito má feito.
Mas porém, tinha nos peito
dois cuscús de mandioca.

Dois cuscús, qui, prú capricho,
quando ela passou pru eu,
minhas venta se acendeu
cum o chêro vindo dos bicho.

Eu inté, me atrapaiava,
sem sabê das três irmã
qui ei vi im Puxinanã,
qual era a qui mi agradava.

Inscuiendo a minha cruz
prá sair desse imbaraço,
desejei, morrê nos braços,
da dona dos dois cuscús!

Ai! Se sêsse!...

Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dos se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!
A terra caiu no chão


Visitando o meu sertão
que tanta grandeza encerra,
trouxe um punhado de terra
com a maior satisfação.


Fiz isso na intenção,
Como fez Pedro Segundo,
de quando eu deixasse o mundo
levá-lo no meu caixão.


Chegando ao Rio, pensei
guardá-lo só para mim
e num saquinho de brim
essa relíquia encerrei!


Com carinho e com cuidado
numa ripa do telhado,
o saquinho pendurei...


Uma doença apanhei
e vendo bem próxima a morte
lembrando as terras do norte
do saquinho me lembrei.


Que cruel desilusão!
As traças, sem coração
meterem os dentes no saco,
fizeram um grande buraco
e a terra caiu no chão.


















Confissão de Cabôco


Seu duotô, sou criminoso.
Sou criminoso de morte.
Tou aqui pra mim intregá.
Voimicê fique sabendo:
– Quando a muié traz a sorte
De atraiçoá o isposo
Só presta para se matá.

Nunca pensei, seu doutô
Qui a mão nêga do distino,
Merguiasse as minhas mão
No sangue dos assarcino!

Vô li pidí um favô
Ante de vossamercê
Mim butá daqui pra fora:
– É a licença do doutô
Pr’eu li contá minha histora.

Sinhô dotô delegado,
Digo a vossa sinhuria
Qui inté onte fui casado
Cum a muié qui im vida
Se chamô ROSA MARIA.

Faz dez mês qui se gostemo,
Faz oito qui fumo noivo
Faz sete qui nós casêmo.

Nós casêmo e nós vivia
Cuma pobre, é verdade,
Mas a gente se sentia
Rico de filicidade!

Pras banda qui nós morava,
No lugá Chã da Cutia,
Morava tombém um cabra
Chamado Chico Faria.

Esse cabra, antigamente,
Tinha gostado de Rosa,
Chegaro, inté a sê noivo,
Mas num fizero a “introza”
Do casamento, prumode
Mané Uréia de bode,
Qui era padrim de Maria
Tê dismanchado essa prosa.

Entoce, o Chico Faria,
Adispois qui nós casêmo,
In cunversa, as vez dizia,
Qui ainda mi dava fim
Pra se casá cum Maria.

Dessa coisa eu sabia,
Mas nunca dei importança.

Tinha toda cunfiança
Na muié qui eu tanto amava,
Ou mais mió, adorava...
Cum toda a minha sustança!

Dispois disso, o meu custume
Era vivê trabaiando
Sem da muié tê ciume.

A muié pru sua vez
Nunca me deu cabimento
Deu pensá qui ela fizesse
Um dia um farcejamento.

Mas, seu doutô, tome tento
No resto da minha histora,
Qui o ruim chegô agora:

Se não me farta a mimora,
Já faz assim uns três mêis,
Qui o cabra, Chico Faria,
Todo prosa, todo ancho,
Quage sempre, mais das vêz,
Avistava o meu rancho.

Puralí, discunfiado
Como quem qué e não qué,
Eu fui vendo qui o marvado
Tentava a minha muié.

Ou tentação ou engano,
Eu fui vendo a coisa feia!
Pru derradêro eu já tava
C’a mosca detrás da uréia.

Os tempo foi se passando
E o meu arriceiamento
Cada vez ia omentano.

Seu dotô, vá iscutano:

Onte, já de tardezinha
O meu cumpade, Quinca Arruda,
Mi chamô pra nós dança
Num samba – lá na Varginha,
Na casa do mestre Duda.

Mestre Duda é um cabôco,
Um tocado de premêra.
É o imboladô de côco
Mió daquela rebêra.

Entonce Rosa Maria,
Sempre gostou de samba,
Mas, porém, de tardezinha
Me disse discunfiada,
Qui pru samba ela não ia,
Qui tava munto infadada,
Percisava se deita...

Eu fiquei discunfiado
Cum a preposta da muié!

Dispois qui tomei café,
Cuage puro sem mistura,
Cum a faca na cintura
Fui pru samba, fui sambá.

Cheguei no samba, dotô.
Repare agora, o sinhô,
Quem era qui tava lá?

O cabra Chico Faria.
Qui quano foi me avistando,
Foi logo mi preguntando:
– Cadê siá dona Maria,
Num veio não, pra dançá?

– Não sinhô. Ficô im casa.
Pru cabôco arrispondí.

Senti, entonce uma brasa
Queimano meu coração,
Nunca mais pude tirá
As palavra desse cabra
Da minha maginação.

Perdí o gosto da festa
E dançá num pude não.

O cabra, pru sua vez
Num dançava, seu doutô.
De vez im quando me oiva
Cum um oiá de traidô.

Meia noite, mais ou meno,
Se dispidino do povo
Disse: – Adeus, qui eu já vô.

Quando ele se arritirô,
Eu tombem me arritirei
Atraiz dele, sim sinhô.
Ele na frente, eu atrais.
Se o cabra andava ligêro,
Eu andava munto mais!

Noite iscura qui nem breu!

Nem eu avistava o cabra,
Nem o cabra via eu!

Sempre andando, sempre andando.
Ele na frente, eu atrais.

Já nem se iscutava mais
A voz do fole tocando
Na casa do mestre Duda!

A noite tava mais preta
Qui a cunciênça de Judá!

Sempre andando, sempre andando.
Eu fui vendo, seu doutô,
Qui o marvado ia tumando
Direção da minha casa!

Minha casa!... Sim sinhô!

Já pertinho, no terrero
Eu mim iscundí pru detraiz
De um pé de trapiazêro.

Abaixadim, iscundido,
Prendi a suspiração,
Abri os óio, os ouvido,
Pra mió vê e ouvi
Qua era a sua intenção.

Seu doutô, repare bem:

O cabra oiando pra traiz,
Do mermo jeito, qui faiz
Um ladrão pra vê arguém,
Num tendo visto ninguém,
Na minha porta bateu!

De lá de dentro uma voiz
Bem baixim arrispondeu...

Ele entonce, cá de fora:

– Quem ta bateno sou eu!

De repente abriu-se a porta!

Aí seu doutô, nessa hora
A isperança tava morta,
Tava morto o meu amô...

No iscuro uma voiz falô:

– Taqui, seu Chico, essa carta,
Qui a tempo tinha iscrivido
Pra mandá pra voismicê.
Pru favô num leia agora,
Vá simbora, vá simbora,
Qui quando chegá im casa
Tem munto tempo pra lê.

Quando minhas oiça ouviu,
As palavra qui Maria
Dizia pru disgraçado,
Eu fiquei amalucado,
Fiquei quage cuma loco,
Ou mio, cumo um cabôco
Quando ta chêi de isprito!

Dum sarto, cumo um cabrito,
Eu tava nos pés do cabra
E sem querer dei um grito:

– Miserave! E arrastei
Minha faca da cintura.

Naquela hora dotô,
Eu vi o Chico Faria,
Na bêra da sipurtura!

Mas o cabra têve sorte.

Sempre nessas circunstança
Os home foge da morte.

Correu o cabra, dotô
Tão vexado, qui dêxou
A carta caí no chão!

Dei de garra do papé,
O portadô da traição!

Machuquei nas minha mão,
A honra, douto, a honra
Daquela farsa muié!

Dispois oiando pra carta
Tive pena, pode crer,
De num tê prindido a lê.
Nas letra alí iscrivida
O qui dizia Maria
Pru marvado traidô.

Tive pena, sim sinhô.
Mas, qui haverá de fazê
Se eu nunca prindí a lê?

Maria mi atraiçuô!

Essa muié qui um dia,
Juêiada nos pé do artá
Jurou im nome de Deus
Qui inquanto tivesse vida,
Haverá de mim honrá
E mim amá cum todo amo.

Cum perdão do seu doutô.

Quando eu vi a miserave
Na iscurideza da noite
Dos meu oio se iscondê
Sem dêxá nem sombra inté
Entrei pra dentro de casa
Pra mi vingá da muié.

Douto, qui hora minguada!
Maria tava ajuêiada,
Chorando, cum as mão posta
Cumo quem faz oração.
Oiando pra eu pedia,
Pelo cali, pela osta,
Pru Jesus crucificado,
Pelo amo qui eu li amava
Qui num fizesse isso não.

Eu tava, doutô, eu tava
Cego de raiva e paixão.

Sem dizê uma palavra,
Agarrei nas suas mão,
Levantei ela pra riba
E interrei inté o cabo,
O ferro da parnaíba
Pru riba do coração!

Sarvei a honra, doutô,
Sarvei a honra, apois não!

Dispois qui vi a Maria
Caí sem vida no chão,
Vim fala cum vosmicê,
Vim cunfessá o meu crime
E mim intregá as prisão.

Se o sinhô num acredita
Se eu sô criminoso ou não,
Tá aqui a faca assarcina
E o sangue nas minhas mão.

Cumo prova da traição,
Tá aqui a carta, doutô.

Li peço um grande favô:

Ante de vossa-sinhuria
Mi mandá lá para prisão
Me lêia aqui essa carta
Pr’eu sabê cumo Maria
Perparava essa trição!

A CARTA

“Seu Chico:

                 Chã da Cutia.

Digo a vossa senhoria
Que só lhe escrevo essa carta
Pru senhor ficar sabendo
Que eu não sou a mulher
Que o senhor tá entendendo.

Se o senhor continuar
Com os seus disbiques atrevidos
O jeito que tem é contar
Tudo, tudo a meu marido.

O senhor fique sabendo
Que com seu discaramento,
Não faz nunca eu quebrar
O sagrado juramento
Que eu jurei nos pés do altar,
No dia do casamento.

Se o senhor é inxirido,
Encontrou u’a mulher forte,
O nome do meu marido
Eu honro até minha morte!

Sou de vossa senhoria,

                   Sua criada.

                    MARIA.”









– Doutô! Doutô mi arresponda
O qui é qui eu tô ouvindo?
Vosmicê leu a carta,
Ou num leu, ta mi inludindo?

– Doutô! Meu Deus! Seu doutô,
Maria tava inucente?
Me arresponda pru favo!

Inocente! Sim, senhor!

Matei Maria inucente!

Pru que, seu doutô, pru que?

Matei Maria somente
Pruque num aprendi a lê!

Infiliz de quem num leu
Uma carta de ABC.

Magine agora o doutô,
Quanto é grande o meu sofrê!

Sou duas veiz criminoso,
Qui castigo, seu doutô!

Qui mizera! Qui horrô!
Qui crime num sabê lê