quarta-feira, 25 de abril de 2012

PATATIVA DO ASSARÉ



Ingém de Ferro - Patativa do Assaré (1909 - CE - 2002), do livro Cante Lá Que Eu Canto Cá - filosofia de um trovador nordestino








                
Ingém de Ferro
Ingém de ferro, você
Com seu amigo motô,
Sabe bem desenvorvê,
É munto trabaiadô.
Arguém já me disse até
E afirmô que você é
Progressista em alto grau;
Tem força e tem energia,
Mas não tem a poesia
Que tem um ingém de pau.

O ingém de pau quando canta,
Tudo lhe presta atenção,
Parece que as coisa santa
Chega em nosso coração.
Mas você, ingém de ferro,
Com este horroroso berro,
É como quem qué brigá,
Com a sua grande afronta
Você tá tomando conta
De todos canaviá.

Do bom tempo que se foi
Faz mangofa, zomba, escarra.
Foi quem espursou os boi
Que puxava na manjarra.
Todo soberbo e sisudo,
Qué governá e mandá tudo,
É só quem qué sê ingém.
Você pode tê grandeza
E pode fazê riqueza,
Mas eu não lhe quero bem.

Mode esta suberba sua
Ninguém vê mais nas muage,
Nas bela noite de lua,
Aquela camaradage
De todos trabaiadô.
Um falando em seu amô
Outro dizendo uma rima,
Na mais doce brincadêra,
Deitado na bagacêra,
Tudo de papo pra cima.

Esse tempo que passô
Tão bom e tão divertido,
Foi você quem acabô,
Esguerado, esgalamido!
Come,come interessêro!
Lá dos confim do estrangêro,
Com seu baruio indecente,
Você vem todo prevesso,
Com históra de progresso,
Mode dá desgosto a gente!

Ingém de ferro, eu não quero
Abatê sua grandeza,
Mas eu não lhe considero
Como coisa de beleza,
Eu nunca lhe achei bonito,
Sempre lhe achei esquesito,
Orguioso e munto mau.
Até mesmo a rapadura
Não tem aquela doçura
Do tempo do ingém de pau.

Ingém de pau! Coitadinho!
Ficou no triste abandono
E você, você sozinho
Hoje é quem tá sendo dono
Das cana do meu país.
Derne o momento infeliz
Que o ingém de pau levou fim,
Eu sinto sem piedade
Três moenda de sodade
Ringindo dentro de mim.

Nunca mais tive prazê
Com muage neste mundo
E o causadô de eu vivê
Como um pobre vagabundo,
Pezaroso, triste e pérro,
Foi você, ingém de ferro,
Seu safado, seu ladrão1
Você me dexô à toa,
Robou as coisinha boa
Que eu tinha em meu coração!

“Patativa, apelido que (...) ganhou por analogia à mais canora das aves nativas da Chapada do Araripe, (...) escritas no que ele próprio qualifica de linguagem cabocla, o linguajar da rude gente sertaneja, tão crivado de erros, mutilações e acréscimos, de permutas e transposições que os vocábulos, com frequência, se desfiguram completamente. Mas, no dizer de Arrais de Alencar, tais adulterações constituem uma fonte inesgotável de ensinamentos no estudo do idioma, na apreensão de sua índole (...)
O autor tem em inúmeros folhetos de cordel e poesias publicados em revistas e jornais. Estudado na Sorbonne, na cadeira de Literatura Popular Universal, sob a regência do Professor Raymond Cantel.
- Nota: o presente livro é em 8ª edição; em co-edição com Fundação Padre Ibiapina e com Instituto Cultural do Cariri; Crato: Ceará, 1992 -
O Centro de Documentação Estudos e Pesquisas (CENDEP) da Fundação Padre Ibiapina, do Crato, no Ceará, inclui também entre seus objetivos manter estreita colaboração com os artistas populares, grupos folclóricos e artesãos da região dos Cariri¹, (...) tem procurado efetuar levantamentos para catalogação destes artistas (...) Esse trabalho tem se mostrado penoso e atraente. Penoso, enquanto dificultado pelo isolamento, dispersão e asfixia a que os modernos meios de comunicação estão submetendo os traços culturais da gente do povo. Atraente, cada vez mais, quando se descobre a riqueza expressiva e mensagem do conteúdo que se transmite. Contudo, há um estímulo permanente: a certeza de melhor alcançar a alma do povo ao se identificar seu código de valores, suas formas expressivas e as ocasiões marcantes de comunicação intensa. (...) o Cendep procurou compilar sua obra poética e enfeixá-la neste volume que contém parte antológica (...) a ele mesmo foi confiada a tarefa de selecionar e ordenar os poemas (...) o leitor poderá senti-lo em sua força original e o estudioso procurar compreendê-lo in natura, sem comentários nem interpretações (...)”

Antonio Gonçalves da Silva, dito Patativa do Assaré ou Ave Poesia. Poeta, agricultor, nasceu a 5 de março de 1909 no pequeno sítio chamado de Serra de Santana, distante três léguas do município de Assaré, no sul do Ceará e faleceu aos noventa e três anos de idade em 08 de julho de 2002 no mesmo município.


Em Autobiografia refere que (...) “quando completei oito anos fiquei órfão de pai e tive que trabalhar muito (...) com a idade de doze anos, frequentei uma escola muito atrasada, na qual passei quatro meses (...) daquele tempo pra cá não frequentei mais escola nenhuma, porém, sempre lidando com as letras quando dispunha de tempo para este fim. (...) De treze a quatorze anos comecei a fazer versinhos que serviam de graça para os serranos, pois o sentido de tais versos era o seguinte: Brincadeiras da noite de São João, testamento do Juda, ataque aos preguiçosos, que deixavam o mato estragar os plantios das roças, etc. Com 16 anos de idade, comprei uma viola e comecei a cantar de improviso (...) Perdi a vista direita, no período da dentição, em consequencia da moléstia (...) conhecida por Dor-d’olhos.”

ASSARÉ, Patativa. Cante lá que eu canto cá. 8ª edição; Crato; Vozes; 1992
em co-edição com Fundação Padre Ibiapina e Instituto Cultural do Cariri - Crato - Ceará

INGÉM DE FERRO - PATATIVA DO ASSARÉ ~ RADIO CAIO ...

www.radiocaioprado.com.br/.../ingem-de-ferro-p...28 fev. 2012
INGÉM DE FERRO - PATATIVA DO ASSARÉ Ingém de ferro, você. Com seu

domingo, 22 de abril de 2012

Morre um líder no Ceará. Dr Odilio Camilo,médico, um grande homem em Juazeiro do Norte

FOI DOIS ANOS ATRÁS.

HOMENAGEM AO MEU CUNHADO E AMIGO ,  TAL QUAL UM IRMÃO ODÍLIO CAMILO 

Odilio Camilo



O Brasil, o Ceará, o Juazeiro do Norte , a familia Tenório Camilo choram a morte de um dos seus baluartes, o Dr Odilio Camilo da Silva, grande homem, grande filho, excelente esposo, o verdadeiro cunhado e primo,um dos maiores e bem preparados médicos do Brasil. 
Morre aos 74 anos de idade , morte súbita .

Homem probo, amigo, desprendido do mundo pecuniário, pregador eterno da paz,da benevolência e da beneficência. Perde o Brasil , perde a família, perde mais a sofrida população Juazeirense que tinha no Dr Odilio Camilo um dos seus servidores mais dedicado e assíduo.
Odilio Camilo , uma das maiores inteligências que conheci, Odilio Camilo exemplo mor para toda uma classe profissional, Odilio Camilo da Silva sinônimo de bondade, sabedoria e compaixão, o Brasil perde um grande líder.

Nesta fotografia ao lado da esposa, sorriso aberto, rodeado pelos filhos, netos,genros e noras,vestimenta azul da cor do céu.
Deixa a esposa Sra.Rosália Tenório Camilo(minha irmã), dois filhos engenheiros (Dr Claudio Tenório Camilo e o Dr Cássio Tenório Camilo) e duas médicas(Dra Vanusa Tenório Camilo e Dra Valéria Tenório Camilo) , dois netos e quatro netas.

                                              Eu , Iderval Reginaldo Tenório estou de luto.

sábado, 21 de abril de 2012

O Nordestino nato ainda tem alma



                                       O  nordeste sem alma

A descaracterização do nordeste brasileiro com as grandes metrópoles e regiões metropolitanas







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 O Verdadeiro Nordestino tem alma


Ao se deparar com um citadino ,o sujeito oriundo do campo,da roça,dos rincões,do interior do nordeste brasileiro  é  logo surpreendido com a célebre pergunta:de onde o senhor  vem?qual o seu interior? é do sertão?  ,fica sempre uma interrogação esperando por uma humilde resposta ,humilde por que a origem nordestina é humilde,é pobre,é arcaica,é tradicional,é sertaneja,é tabaroa,é capiau,é seiscentista,é feia,é agreste,é autêntica,é original,é forte, é o puro nordeste,é a pedra de sal,é o 19 de março,é o empoeirado,é a família cinza,é a caatinga,é a seriedade,é a religiosidade, é a honra,é a vergonha,é a beleza,é o  respeito e a realidade.

O nordestino continua o seu diálogo informando qual a região que nasceu,que se criou e declina o nome do município ao qual foi despejado no mundo,digo despejado, por que na maioria das vezes ,nasce o nordestino nato,nos rincões distantes do progresso ,na solidão do casebre,na escuridão das noites,na luz prateada da lua,no azul celeste do céu,no silencio do abandono e no uivar dos ventos, ele nasce praticamente só,nasce como um animal irracional,nasce após enfrentar todas as dificuldades pertinentes ao mojo,vence todas as entemperies,vence as doenças, a fome, a solidão,o despreparo, a seca,vence o abandono e  todos os óbices que procurarem impedir o desenvolvimento daquele neófito  embrião,por isso e tudo isso  já nasce um Baobá, o  nordestino já nasce um vencedor,tem motivo mais do que suficiente para gritar para o mundo que é um  forte,o nordestino nasce pelo o amor e  mãos de Deus.

Conhece os cânticos das cigarras,os cricris dos grilos,os latidos dos vira latas, o uivar dos animais,o chocalhar  das cobras cascavéis e o sibilar das  caninanas,conhece o cacarejo das galinhas,a orquestra das arribançãs, dos sanhaços,das sabiás,das juritis, os miados dos gatos ,os berros dos caprinos e de quando em vez o mugir de um bovino. 


Agarra-se nos peitos da mãe e lhe sorve o leite e  o sangue até chegar aos 03 anos,muitos não chegam ao primeiro, dois terços sucumbem  no primeiro ano de vida,às vezes por uma simples diarréia,fruto da baixa imunidade e o grau de desnutrição durante o período embrionário, um terço extrapola a barreira dos cinco anos e a cada dia que passa fica mais forte,mais robusto,mais rústico e mais resistente, consome o inconsumível, se depara com a mais cáustica  das vidas e consegue vencer com força ,coragem e com predestinação à luta, é o nordestino vivo e adulto um guerreiro, é um vencedor de múltiplas e grandes  batalhas pela sobrevivência.

Prossegue  a confabulação e o interlocutor ao saber o nome de sua região, informa que conhece a sua terra, a sua terra é linda, limpa e hospitaleira, fica o nordestino nato apoplético, imóvel, pasmo com tantas desinformações,com tantas inverdades,com tantas superficialidades e descaracterização do verdadeiro homem do agreste,do sertão  e da caatinga. 


Aquele citadino fala da cabeça,fala do que se chama a capital ,fala para onde vai 80% das verbas daquele Estado,fala daquela que se emboneca para receber os visitantes,fala daquela que vive em verdadeira transformação cultural ,na artificialização da vida ,dos costumes e do apagamento do verdadeiro nordeste,do agreste e quente sertão, fala da metrópole que representa a sua região,metrópole esta que nada difere das demais , nada difere devido às suas semelhanças,quer que seja do norte,do sul,do leste ou do faroeste ou até mesmo do nordeste, as mesmas congestionadas avenidas,os mesmos em forma de caixa centros comerciais ,os mesmos letreiros,os mesmos restaurantes de comidas rápidas e os mesmos habitantes ,quase todos com os mesmos pensamentos:descartar,descartar,descartar, tudo é descartável,tudo deve ser substituído, até mesmo quando estiver bom,basta que desbote ou surja algo mais moderno. 


 Esta não é a terra do nordestino nato, a sua terra é aquela que jamais sairá do seu pensamento,mesmo que viva geograficamente dela distante,o nordestino nato é o próprio sertão, é o agreste,é o sol,é o vento,é a força,é o sotaque,é a coragem,é a vergonha na cara,é a autenticidade, é a saudade , é a lembrança das vividas dificuldades.

O verdadeiro nordestino não se deixa contaminar ,o verdadeiro nordestino reforça a sua origem ao conhecer novos povos, novos costumes e novas civilizações,o verdadeiro nordestino fica mais autêntico à proporção que vai se civilizando, à proporção que vai se distanciando geograficamente do seu torrão e mergulha noutras plagas mais evoluídas, o nordestino nato não substitui os seus valores,não apaga da mente as suas origens, o verdadeiro nordestino sempre está retocando o seu arquétipo ,sem prejudicar os novos conhecimentos,sem deixar de usufruir ou sorver do nécta  da modernidade. 


O Nordestino nato,não abandona a nação nordeste, não abandona a religião do agreste,jamais esquecerá da ladainha familiar e da arquitetura regional com todas as suas diversidades.


O homem da caatinga, é catingueiro,é mão grossa,é pele seca,é voz ríspida, é homem na verdadeira concepção da palavra, o nordestino nato é um vencedor,o nordestino nato ainda tem o que lhe mais caracteriza , o nordestino nato ainda tem alma . .Ainda .E sempre terá.
                                             Iderval Reginaldo Tenório