domingo, 29 de outubro de 2017

Deus, o garimpo, as suas mazelas e o futuro da Lili EM TRÊS CURTAS ETAPAS.






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Deus, o garimpo, as suas mazelas e  o futuro da Lili

CAPÍTULO I

                                 Três entes  resistiam no úmido aposento   do esquecido palacete de taipa  nos confins brenhosos à margem do Rio Paraguaçu.


                                  Lili passou a noite em claro, do outro lado da meia parede ouvia-se uma respiração ofegante e de vez em quando pigarros curtos , secos e em salvas, percebiam-se nos momentos de acalmia chiados, sibilos e cornagens pulmonares, da conturbada cabeça da cuidadora brotava o sentimento de  franca dificuldade respiratória,  na visão da Lili os arcos costais se empenavam ao máximo, se contorciam por completo forçando o entrar e o sair do ar nos carcomidos pulmões da enferma, ouviam-se o bater das asas do nariz ameaçando sair da face, viam-se claramente os olhos esbugalhados a mirar o teto de palha, a fúrcula external  a colar o fundo na traquéia   e os finos bracinhos a flutuarem no frio, enfumaçado e escuro  aposento, o gás óleo já no fim produzia uma chama quase sem luz , a labareda amarelada a queimar o  artesanal pavio de algodão   do velho, amassado, pegajoso e encardido candeeiro a enuvear o aposento, era o começo de mais uma Ave Maria , corre Lili até o baú, acende mais uma vez a já consumida vela  cuidadosamente guardada para as horas de necessidades,  na cabeceira da moribunda, com a parafina em chamas,    os três entes aguardam o amanhecer  do dia. 
                                 
CAPÍTULO II

Com a enferma em brasa, o  cheiro ocre  da queima do couro cabeludo, dos finos pelos e do ressecamento das mucosas  inunda a pequena casa de chão batido. 
Pela manhã abrem-se as pequenas portas e as duas únicas janelas de madeiras agrestes, por elas entra um vento frio e aromatizado pelos cedros campestres da margem do majestoso rio e   substitui o bafo doentio da noite orvalhada, do suor ardido , da uréia impregnada nas vestes, nos molambos e no colchão de chita recheado de palhas de licuri.

Enquanto a moribunda dormia e  entrecortava o sono  na cansada e interminável noite, o corpo ardia em febre a consumir e exaurir   a sua insubstituível fonte  da vida, a primordial água.

Os cabelos ralos e secos, os olhos foscos  e fundos, o nariz a bater  as asas freneticamente consubstanciavam uma enfermidade grave e crônica . Lili era a única prova viva que aquela criatura consangüínea, carne de sua carne, vivia ou   vegetava,     vegetava para viver  ou vivia para vegetar. 

Chá de quina quina, lambedor de cebola, de ovos,  de malva, de cupim,  lambedor para tosse brava, para tosse seca, para tosse com catarro,  sumo de mastruz, creme de  alho com mel de abelha, xarope de babatimão,  banho morno com salsa caroba cabacinha e entrecasca de aroeira, reza com pinhão roxo e folha de mamona faziam parte do arsenal terapêutico , crença da  medicina popular , a moribunda recebia de tudo e apelava para todos.

Cadeira de madeira com fundo em couro de bode, catre de couro cru, panelas de ferro, potes, purrões  e moringas  de barro, canecas e copos de flandres, pratos esmaltados e colheres de madeiras eram os utensílios que ornamentavam a velha cozinha. 


O primordial e matutino sol, a filha Lili, o gato mimi e o natural arsenal de chás, beberagens e infusões  lhe davam prosseguimento à sofrida e cambaleante vida. 

Este castigo iniciara  duas ou três décadas atrás, brotava de quando em vez, porém a juventude, o verdor da vida,  o intumescimento diário dos hormônios , o florescer ovariano, as meizinhas regionais, o repouso  e o fervor sexual faziam com que não aflorasse  e que tudo fosse suprimido pela jovialidade da mais linda, escultural  e desejada cabocla do Paraguaçu.

                                        CAPITULO III

Fim de inferno, campos encharcados, moleza no corpo, indisposição para fornicar, sinais de dias difíceis, a principal atividade profissional prejudicada, frio com bate queixo no final da tarde, suores noturnos, tosse seca, fraqueza no corpo e dores nas ancas, tudo atribuído ao cansaço das festas da padroeira, noites e mais noites sem descanso, mal dormidas regadas a vinhos agrestes e a pingas da Chapada Diamantina .

A moribunda era  pele e osso, olhos esbugalhados , ancas sem carnes, batidas, pele com manchas escuras devido a pressão das pontas dos ossos pélvicos e sacrais no que sobrou dos antes desejados glúteos, de longe nem parecia aquela cabocla  oriunda das tribos Maracás ou Cariris, cabocla fogosa, torneada, ancuda, dengosa, cheirosa, atrevida e exibida , o maior chamego dos homens  nas épocas auríferas  da Chapada Diamantina ,  das vacas gordas  do garimpo de Andaraí e  de todo a região banhada pelo  rio Paraguaçu, fogosa no passado e hoje um traste, um nada , uma insignificância.
Restaram -lhe a Lili, o gato Mimi e Deus. Quando a velha se foi,  ficou a Lili, a mesma vida, os mesmos trajetos, o mesmo meio de vida , a mesma cantilena e ladainha, o mesmo rio, os mesmos homens, o mesmo fogo juvenil  e o mesmo destino, o mesmo fim de inverno, a mesma febre vespertina e molhada , a mesma tosse e o mesmo caminho, agora só Lili , Deus , o gato e a solidão.

 Naquele ermo abandonado, inóspito, úmido e desabitado, sem companhia, sem paradeiro,  sem rumo e sem prumo, viveu Lili menos da metade do tempo de labuta dispensado à genitora, agora com tosse convulsa, sibilos, calafrios, tiragens, cornagens, dores em todos os locais do corpo, olhos esbugalhados, nariz com as narinas dilatadas e  asas a baterem , chás, lambedeiras, infusões, sumos e o cheiro ocre a inundar o pobre aposento. 

Mimi de um lado , Deus do outro,  sem velas, sem testemunhas, sem socorro e sem olhos, Lili se foi.  Foram-se as duas  vidas naquele  descampado fim  de mundo, só Deus e o Gato a habitarem o arrebol, depois Deus , o Gato e o banzo, para depois só Deus, o Mimi também se foi, agora só Deus e aquela imensidão da natureza, a Chapada Diamantina , a metrópole Andaraí ,  a vida mundana , muitas Lilis e o rico Rio Paraguaçu. 

Assim  foi consumido o futuro da Lili.

Iderval Reginaldo Tenório

Zé Ramalho - Vida de Gado - YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=V25dmbvf4p4
25 de ago de 2008 - Vídeo enviado por Bunniyhp
Essa música retrata a alienação do povo, que cansado de tanta miséria, esperam que um "messias" os ...

Zé Ramalho - Vida de Gado - YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=e085Ve4jDPw
1 de dez de 2013 - Vídeo enviado por juaceni
Admirável Gado Novo - Zé Ramalho - Vida de Gado - Duration: 4:50. alissontds 33,607 views · 4:50 ...

Vida de gado - YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=TjlB0ab6l8E
12 de jan de 2015 - Vídeo enviado por Abranches
3º música do nosso canal, oi gente, td bem:? mais uma música na nossa coleção, desta vez com um ...

Zé Ramalho - Vida de Gado - YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=JGdy_kc27zI
14 de mai de 2015 - Vídeo enviado por Anti Nova Ordem
'' Essa música retrata a alienação do povo, que cansado de tanta miséria, esperam que um "messias .

sábado, 28 de outubro de 2017

Deus, o garimpo, as suas mazelas e o futuro da Lili

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Deus, o garimpo, as suas mazelas e  o futuro da Lili

CAPÍTULO I

                                 Três entes  resistiam no úmido aposento   do esquecido palacete de taipa  nos confins brenhosos à margem do Rio Paraguaçu.

                                  Lili passou a noite em claro, do outro lado da meia parede ouvia-se uma respiração ofegante e de vez em quando pigarros curtos , secos e em salvas, percebiam-se nos momentos de acalmia chiados, sibilos e cornagens pulmonares, da conturbada cabeça da cuidadora brotava o sentimento de  franca dificuldade respiratória,  na visão da Lili os arcos costais se empenavam ao máximo, se contorciam por completo forçando o entrar e o sair do ar nos carcomidos pulmões da enferma, ouviam-se o bater das asas do nariz ameaçando sair da face, viam-se claramente os olhos esbugalhados a mirar o teto de palha, a fúrcula external  a colar o fundo na traquéia   e os finos bracinhos a flutuarem no frio, enfumaçado e escuro  aposento, o gás óleo já no fim produzia uma chama quase sem luz , a labareda amarelada a queimar o  artesanal pavio de algodão   do velho, amassado, pegajoso e encardido candeeiro a enuvear o aposento, era o começo de mais uma Ave Maria , corre Lili até o baú, acende mais uma vez a já consumida vela  cuidadosamente guardada para as horas de necessidades,  na cabeceira da moribunda, com a parafina em chamas,    os três entes aguardam o amanhecer  do dia. 
                                 

CAPÍTULO II
Com a enferma em brasa, o  cheiro ocre  da queima do couro cabeludo, dos finos pelos e do ressecamento das mucosas  inunda a pequena casa de chão batido. 

Pela manhã abrem-se as pequenas portas e as duas únicas janelas de madeiras agrestes, por elas entra um vento frio e aromatizado pelos cedros campestres da margem do majestoso rio e   substitui o bafo doentio da noite orvalhada, do suor ardido , da uréia impregnada nas vestes, nos molambos e no colchão de chita recheado de palhas de licuri.

Enquanto a moribunda dormia e  entrecortava o sono  na cansada e interminável noite, o corpo ardia em febre a consumir e exaurir   a sua insubstituível fonte  da vida, a primordial água.

Os cabelos ralos e secos, os olhos foscos  e fundos, o nariz a bater  as asas freneticamente consubstanciavam uma enfermidade grave e crônica . Lili era a única prova viva que aquela criatura consangüínea, carne de sua carne, vivia ou   vegetava,     vegetava para viver  ou vivia para vegetar. 

Chá de quina quina, lambedor de cebola, de ovos,  de malva, de cupim,  lambedor para tosse brava, para tosse seca, para tosse com catarro,  sumo de mastruz, creme de  alho com mel de abelha, xarope de babatimão,  banho morno com salsa caroba cabacinha e entrecasca de aroeira, reza com pinhão roxo e folha de mamona faziam parte do arsenal terapêutico , crença da  medicina popular , a moribunda recebia de tudo e apelava para todos.

Cadeira de madeira com fundo em couro de bode, catre de couro cru, panelas de ferro, potes, purrões  e moringas  de barro, canecas e copos de flandres, pratos esmaltados e colheres de madeiras eram os utensílios que ornamentavam a velha cozinha. 

O primordial e matutino sol, a filha Lili, o gato mimi e o natural arsenal de chás, beberagens e infusões  lhe davam prosseguimento à sofrida e cambaleante vida. 

Este castigo iniciara  duas ou três décadas atrás, brotava de quando em vez, porém a juventude, o verdor da vida,  o intumescimento diário dos hormônios , o florescer ovariano, as meizinhas regionais, o repouso  e o fervor sexual faziam com que não aflorasse  e que tudo fosse suprimido pela jovialidade da mais linda, escultural  e desejada cabocla do Paraguaçu.



                                        CAPITULO III

Fim de inferno, campos encharcados, moleza no corpo, indisposição para fornicar, sinais de dias difíceis, a principal atividade profissional prejudicada, frio com bate queixo no final da tarde, suores noturnos, tosse seca, fraqueza no corpo e dores nas ancas, tudo atribuído ao cansaço das festas da padroeira, noites e mais noites sem descanso, mal dormidas regadas a vinhos agrestes e a pingas da Chapada Diamantina .

A moribunda era  pele e osso, olhos esbugalhados , ancas sem carnes, batidas, pele com manchas escuras devido a pressão das pontas dos ossos pélvicos e sacrais no que sobrou dos antes desejados glúteos, de longe nem parecia aquela cabocla  oriunda das tribos Maracás ou Cariris, cabocla fogosa, torneada, ancuda, dengosa, cheirosa, atrevida e exibida , o maior chamego dos homens  nas épocas auríferas  da Chapada Diamantina ,  das vacas gordas  do garimpo de Andaraí e  de todo a região banhada pelo  rio Paraguaçu, fogosa no passado e hoje um traste, um nada , uma insignificância.

Restaram -lhe a Lili, o gato Mimi e Deus. Quando a velha se foi,  ficou a Lili, a mesma vida, os mesmos trajetos, o mesmo meio de vida , a mesma cantilena e ladainha, o mesmo rio, os mesmos homens, o mesmo fogo juvenil  e o mesmo destino, o mesmo fim de inverno, a mesma febre vespertina e molhada , a mesma tosse e o mesmo caminho, agora só Lili , Deus , o gato e a solidão.

 Naquele ermo abandonado, inóspito, úmido e desabitado, sem companhia, sem paradeiro,  sem rumo e sem prumo, viveu Lili menos da metade do tempo de labuta dispensado à genitora, agora com tosse convulsa, sibilos, calafrios, tiragens, cornagens, dores em todos os locais do corpo, olhos esbugalhados, nariz com as narinas dilatadas e  asas a baterem , chás, lambedeiras, infusões, sumos e o cheiro ocre a inundar o pobre aposento. 

Mimi de um lado , Deus do outro,  sem velas, sem testemunhas, sem socorro e sem olhos, Lili se foi.  Foram-se as duas  vidas naquele  descampado fim  de mundo, só Deus e o Gato a habitarem o arrebol, depois Deus , o Gato e o banzo, para depois só Deus, o Mimi também se foi, agora só Deus e aquela imensidão da natureza, a Chapada Diamantina , a metrópole Andaraí ,  a vida mundana , muitas Lilis e o rico Rio Paraguaçu. 

Assim  foi consumido o futuro da Lili.

Iderval Reginaldo Tenório


Zé Ramalho - Vida de Gado - YouTube

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25 de ago de 2008 - Vídeo enviado por Bunniyhp
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1 de dez de 2013 - Vídeo enviado por juaceni
Admirável Gado Novo - Zé Ramalho - Vida de Gado - Duration: 4:50. alissontds 33,607 views · 4:50 ...

Vida de gado - YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=TjlB0ab6l8E
12 de jan de 2015 - Vídeo enviado por Abranches
3º música do nosso canal, oi gente, td bem:? mais uma música na nossa coleção, desta vez com um ...

Zé Ramalho - Vida de Gado - YouTube

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quarta-feira, 25 de outubro de 2017

ACESSEM E LEIAM O BLOG CULTURAL DO DR IDERVAL TENÓRIO

 
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ACESSEM E LEIAM O BLOG CULTURAL DO DR IDERVAL TENÓRIO
 
 
Um blog apenas cultural, um blog opinativo e que é pautado com  ISENÇÃO,  as matérias são escritas apenas com a finalidade de aguçar o leitor dos fatos do momento, versa sobre educação, saúde, politica e humanismo, é um blog cultural, foi criado para os jovens, porém, muitos adultos opinam, o que enriquece ainda mais a sua finalidade.
 Obrigado
 
Iderval ReginaldoTenório
 

APENAS UM RAPAZ LATINO AMERICANO - BELCHIOR ...

www.youtube.com/watch?v=Wk9JsWYIlWE
11 de jun de 2010 - Vídeo enviado por vangodias
ALUCINAÇÃO (1976) PHILIPS/PHONOGRAM - O SEGUNDO E MELHOR ALBUM DE BELCHIOR.

domingo, 22 de outubro de 2017

OS CORRUPTOS,OS POLÍTICOS , OS ELEITORES E AS ELEIÇÕES.

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OS POLÍTICOS , OS ELEITORES E AS ELEIÇÕES.

Amigos eu não entendo o que está acontecendo, parece que  para ser político o importante é ser desonesto, a situação diz escancaradamente que a oposição é desonesta e diz que prova, a oposição fala o contrário, publica  matérias, mostra documentos e depois recua, recua porque a situação ameaça  mostrar  os podres de todos , uma vez que no passado andavam juntos na mesma facção política e em voz alta, um fala para o outro :
QUEM TEM RABO DE PALHA OU PRESO NÃO PODE FALAR MAL DE NINGUÉM E  QUEM TEM TELHADO DE VIDRO NÃO PODE JOGAR PEDRA NO TELHADO DE VIDRO  DO OUTRO”.
 Nós os eleitores ficamos entre as duas facções, entre a cruz e a  espada, entre o mar e a rocha, entre a mentira e a verdade, entre a razão e a emoção, entre o falso e o verdadeiro, ou entre o FALSO E O FALSO, entre  A MENTIRA E A MENTIRA, entre o MEDO E O PÂNICO,  eu apenas  sei  que na verdade eles pertencem ao mesmo time e ficam rindo dos que estão aqui em baixo.

 A falsidade tem início no foto shop de cada um, todos já entram maquiados, bonitos e sorridentes, tem mais de 70% de mudanças, todas as caras são polidas, todos recebem um  bom acabamento, fazem verdadeiras reformas.
Ganhará o grupo  que for mais  agressivo, o grupo que falar mais , que  mostrar mais falcatruas do concorrente , não precisa prová-las, basta atiçar e embaralhar a mente dos incautos eleitores, o grupo que provar que o oponente roubou mais, conseqüentemente angariará mais votos,  por ter pecado menos contra o povo, por ter faltado menos com a verdade com a população, por ter desviado menos  recursos públicos, dito em verso e prosa por todos os candidatos, acusando-os mutuamente,  pior é que   ainda existem os cegos defensores.
  Hoje não existem mais partidos, os números dos candidatos confundem os eleitores, as cores mais ainda, antigamente cada partido tinha a sua cor, hoje elas se misturam, é o azul, o amarelo  e o vermelho mudando de bandeiras,  as roupas tipo Paletós foram substituídas por camisas de mangas e sem gravatas para parecerem  e se confundirem com o povo , eles rezam na mesma cartilha e ficam os inocentes brigando, digladiando,  alimentando inimizade com os seus pares  por este ou aquele candidato, inclusive elegendo literalmente alguns palhaços.
Escutem o velho Patativa quando escreveu Cunversa de Matuto em 1960 e que hoje é real, é valido e atual.
Está aí a minha resposta  e contribuição a todos os meus amigos que conheço e que  assustadoramente tem provocado arranhões nos seus ciclos de amizades por puras discussões políticas.
Escutem o mestre e boa leitura. Leiam a poesia toda , é um bálsamo para a alma e para a cultura, leiam para os seus filhos, para os seus amigos , parentes e funcionários, vale a apena conhecer.  Iderval Reginaldo Tenório
O Antônio Gonçalves, O PATATIVA DO ASSARÉ  do meu Ceará,  está para o Brasil como o Bertold Brecht está para a Alemanha.
 Seja mais pelo Brasil.
Iderval Reginaldo Tenório

CEARENSE DE JUAZEIRO DO NORTE

Escutem principalmente as respostas do João Moiriço ao  Zé Fulô, é de impressionar.

CONVERSA DE MATUTO - Patativa do Assaré (POESIA E ÁUDIO)









CONVERSA DE MATUTO - Patativa do Assaré
  Cearesne da Cidade do Assaré.



Zé Fulo e João Moiriço

Zé Fulo:

Meu amigo João Moiriço,
Eu agora fiquei certo
Que nóis já tamo bem perto
De saí do sacrifico.
Eu onte uvi um comiço
De um doto que é candidato.
Home sero e munto isato
E ele garantiu que agora
Vai havê grande miora
Para o pessoa do mato.

No comiço ele falou
Que depois que ele vence,
Vai com gosto potregê
A cada um inleitô.
O povo trabaiadô
Que padece no roçado,
Pode votá sem coidado
Que depois das inleição,
Com a sua potreção
Vai tudo recompensado.

Aquele é home de bem,
Quando desceu do palanco,
Falou com preto, com branco,
Com rico e pobre também;
Ali não ficou ninguém
Pra ele não abraça,
Veve sempre a conversa,
É alegre e sastifeito,
Num home daquele jeito
Faz gosto a gente votá.

Do palanco ele desceu
Alegre dizendo graça
E mais tarde lá na praça
Palestrando apareceu,
Se assentou pertinho deu
Lá num banco da venida,
Perguntou por minha vida
E disse na mesma hora
Que a sua grande vitora
Já tá quage dicidida.

E pediu que eu precurasse
Com munta dilicadeza
Aqui nesta redondeza
Gente que nele votasse
Que depois que ele ganhasse
Ia as coisa resorvê.
A premera era fazê
Aqui no nosso lugá
Um grande grupo escola
Pra nossos fio aprende.

Depois, um mioramento
Pra nóis pode trabaiá,
Semente pra nóis prantá
Sem precisa pagamento,
Quarqué coisa no momento
É nóis querê e pedi
E depois de consegui
Esta premera vantaje,
Vem uma bela rodage
Da cidade até aqui.

Eu tenho isperança e fé
Nas promessa do doto
E pedi a ele eu vou
Um imprego pra José.
Mais tarde, se Deus quisé,
O meu fio faz figura,
Saindo da agricurtura,
Este cansado chamego
E arranjando um bom imprego
Lá dentro da Prefeitura.

E tanto, que vou caça
Argum voto por aqui;
Já cunversei com Davi,
Com Vicente e Vardemá,
Fuloriano, Mozá,
Mané Chico e Zé Lavô,
Dona Suzana e Lindo,
Napoleão e Romeu,
E tudo me prometeu
Que vai votá no dotô.

João Moiriço, meu amigo,
Sei que você acredita,
Não venho fazê visita
Hoje aqui no seu abrigo;
Oiça bem o que lhe digo
Você nunca me faltou
E a ocausião chegou
De pedi seu voto isato
Para o dotô candidato
De prestijo e de valo.

Isto que eu tou lhe falando
É bom pra nosso futuro,
Nóis tamo num grande escuro
E uma estrela vem briando;
Veja que você votando
Neste home de tanto brio,
Em quem com gosto confio,
É um negoço importante
Vai havê de agora em deante
Escola pra nossos fio!

João Moiriço:

Meu amigo Zé Fulô,
Vou lhe dizê a verdade:
É veia a nossa amizade
Porém você se enganou.
Pode pedi, que eu lhe dou
Uma quarta de fejão
Uma arroba de argodão
E cinco metro de fumo,
Tudo com gosto lhe arrumo,
Porém o meu voto, não!

Lhe dou, se você quisé,
Minha boa lazarina
E o meu galo de campina
Que eu amo com muita fé,
Dou minha porca Baié
E o meu cachorro Sultão,
Maria dá um capão
E o Chico dá um cabrito,
Isto tudo eu admito
Porém o meu voto, não!

Meu amigo Zé Fulô,
Não siga por esta tria,
Você ainda confia
Em premeça de dotô?
Aquilo que ele falou
É somente imbromação.
Quando é tempo de inleição
Esse home se prepara
Trazendo um santo na cara
E o diabo no coração.

Você não dê confiança,
Pois quando a campanha vem,
Com ela chega tombem
A pabulage e a lembrança.
As vez os matuto dança
Com as fia do dotô,
É aquele grolôlô,
Tudo alegre e sastifeito,
Ante do dia do preito
Tudo é prefume e fulô.

Mas depois que passa o preito,
O desmantelo renova,
Palavriado não prova
A bondade do sujeito.
Pra garrafa deste jeito
Não iziste sacarrôia.
Não quera fazê iscôia
Se não você sai perdendo,
Este doto tá inchendo
As suas venta de fôia.

Isto já vem do passado
E a pisada ainda é essa,
Por causa dessas premessa
Meu avô foi inganado,
O meu pobre pai, coitado!
Foi inganado tombem
E eu, que já conheço bem,
Pra votá sou munto franco,
Mas porém só voto em branco,
E não confio em ninguém.

Em branco eu tenho votado,
Pois só assim me convém
Proquê votando em arguém,
Traz o mesmo risurtado,
Com certos palavreado
Ninguém pode me inludí,
Vivo trabaiando aqui
Nesta vida aperreada,
Mas, não sou dregau de escada
Pra seu fulano subi.

Zé Fulo, repare bem,
As premessa é só na hora,
Porém, depois da vitóra,
Premessa valô não tem
E espera por quem não vem
Matrata, dói e acabrunha,
Digo e tenho testemunha,
Quage todos candidato
Tem a mamparra do gato,
Dá um bote e esconde a unha.

Na campanha eleitora
Quando eles incronta agente,
Chama de amigo e parente,
Naquele parrapapá,
Mas, depois de eles ganha
E recebe posição,
A ninguém presta tenção,
Assim que a gente repara,
Vê logo a cara do cara
Como cara de lião.

Zé Fulô, não seja bruto
Seja mais inteligente,
Repare que aquela gente
Não faz conta de matuto.
Não dou crença e nem escuto
Premessa desses doto,
Pra não passa o que passou
Sendo inganado e ínludido,
O meu pobre pai querido
E o finado meu avô.

Tome esta boa lição,
Dêxe logo esta veneta,
Seja sero, não se meta
Com fuxico de inleição;
Este doto sabidão
Que agora lhe apareceu
E tudo lhe prometeu,
Depois da vitóra pronta,
Fica fazendo de conta
Que nunca lhe conheceu.

E se você se afoba
E pega com lerolero,
Zangado, falando sero,
Querendo se revortá,
Pedindo pra lhe pagá
Todas premessa que fez,
Ele, com estupidez,
Fica cheio de maliça,
Dá logo parte à puliça
E lhe mete no xadrez.

Portanto, vá se aquetá
Não entre neste curtiço,
Não vá dexá seu serviço
Pra sê cabo eleitora.
Vá sua casa zela,
Vá cuida do seu trabaio,
Não pegue neste baraio,
Se não você perde o jogo.
Água é água e fogo é fogo
Cada macaco em seu gaio.


ESCUTEM O BELCHIOR OUTRO CEARENSE

Belchior - Populus - YouTube

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02/10/2010 - Vídeo enviado por Alfredo Pessoa
Populus! Que saudade do meu amigo de infância. Read moreShow less ... Populus, penúltima faixa do ...