Panorama: Medicina na Bolívia
VEJAM QUAIS OS MOTIVOS DE TANTA LUTA DAS ESCOLAS BRASILEIRAS E DOS MÉDICOS QUE AQUI ATUAM.
ENTENDAM O VIÉS POLÍTICO E O VIÉS ECONÔMICO. MEGULHEM NA QUALIDADE E NA FACILIDADE DE CURSAR A MEDICINA.
FAÇAM UMA LEITURA CRÍTICA.
O POVO BRASILEIRO NÃO PODE FICAR CALADO DIANTE DESTE DESMANDO .
ENTENDAM UM POUCO O GRANDE PROBLEMA E A GRANDE LUTA.
LEIAM ESTA MATÉRIA
Panorama: Medicina na Bolívia
Sob o pretexto de que há falta de médicos no interior do Brasil e com o discurso de repatriação de brasileiros que cursaram medicina em outros países, a flexibilização do REVALIDA seria um descaso com a saúde da população e uma afronta a meritocracia e as instituições médicas brasileiras.
É grande o número de brasileiros que cursam medicina fora do país. É muito pequeno o número de estudantes brasileiros estrangeiros que realmente falam de forma aberta e não apaixonada sobre o assunto.
Buscando maior esclarecimento, entramos em contato com essa reportagem especial da Revista Ser Médico do CREMESP ( a qual tivemos autorização para reprodução), que mostra a realidade que 20 mil brasileiros se sujeitam para tentar conseguir realizar o sonho de se tornarem médicos.
Essa é uma das únicas matérias disponíveis na internet que buscou junto a estudantes e autoridades brasileiras, bolivianass uma caracterização do cenário. Não foi achado material adicional na internet para fazer um contraponto. Tivemos acesso a alguns relatos e comentários de estudantes que estudam naquele país, mas não os reproduzimos neste momento por achar inoportuno.
Confira a seguir a matéria:
A realidade precária dos cursos de Medicina particulares
Os 20 mil alunos – número que cresce anualmente – estudam Medicina em faculdades particulares da Bolívia. Falta de locais para o ensino da prática médica, docentes sem preparo e vagas ilimitadas, sem qualquer processo seletivo, formam um cenário preocupante.Após anos de estudo em faculdades bolivianas, brasileiros terão dificuldade para revalidar o diploma e trabalhar no Brasil
Reportagem e texto: Fátima Barbosa; Fotos: Osmar Bustos; Fonte: Revista Ser Médico do CREMESP
Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. Pela manhã, milhares de estudantes brasileiros preparam-se para as aulas em alguma das cinco faculdades privadas de Medicina da cidade. A mesma cena se repete em Cochabamba e, em menor grau, em La Paz, Cobija, Oruro, Potosi e Sucre. São jovens e adultos cujo sonho de ser médico encontram nos preços irrisórios e nas vagas ilimitadas, sem vestibular, um caminho fácil para o diploma, mas que não garante uma formação adequada. A falta de ensino prático e muitos professores sem a habilitação necessária são problemas graves que repercutem no Brasil. Praticamente todos os estudantes querem voltar e exercer a profissão aqui.
O que fazer para que egressos sem o preparo adequado entrem no mercado de trabalho? A posição do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) é clara: apoiar o Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeiras). Entretanto, rumores a favor da flexibilização dessa prova – com o objetivo de preencher vagas de médicos em lugares longínquos – adicionam mais combustível ao debate.
Ressalte-se que a preocupação do Cremesp com a qualidade do ensino não se restringe aos egressos de escolas estrangeiras, mas também aos das faculdades de Medicina brasileiras. Para isso, defende uma avaliação nacional dos recém-formados no Brasil. Dando o exemplo, tornou obrigatório, a partir deste ano, o Exame do Cremesp no Estado de S. Paulo. Portanto, a exigência de uma melhor formação vale para todos os médicos que queiram trabalhar no Brasil, sejam procedentes de escolas brasileiras, da Bolívia, ou de qualquer outro país. “O que está em jogo é a saúde da população”, esclarece o presidente do Cremesp, Renato Azevedo. Com essa preocupação, a Ser Médico foi até Santa Cruz de la Sierra e Cochabamba, na Bolívia, conferir o ensino médico naquele país. Leia a reportagem especial nas próximas páginas.
”Quer estudar Medicina na Bolívia e não sabe por onde iniciar? Aqui estamos para lhe ajudar”. “Faça Medicina sem vestibular. Inscreva-se agora mesmo em nosso site”. “Seu diploma validado, agora você pode”. “A hora de ser médico chegou!”
Assim começa o caminho para estudar na Bolívia. Na internet, inúmeras agências que se denominam de intercâmbio ou de assessoria seduzem jovens e adultos. As baixas mensalidades e o custo de vida irrisório, aliados à ausência de vestibular, são os principais chamarizes.
Atraídos pelas facilidades, milhares de brasileiros de todas as idades chegam, anualmente, à Bolívia, para estudar em escolas médicas particulares. O preço delas é, em média, de US$ 130 a US$150 (entre R$ 270 e R$ 312, conforme o câmbio de novembro último). Apenas duas cobram cerca de US$ 300. É possível gastar – entre escola, habitação, alimentação, transporte e lazer – cerca de R$ 1,5 mil por mês.
“É muito mais barato aqui. A mensalidade da escola fica em, aproximadamente, R$ 300. Além disso, tem aluguel e alimentação. Quase não uso transporte porque moro perto da faculdade. No total, gasto R$ 1,4 mil, por mês, incluindo um pouquinho para o lazer”, conta Kelly de Vasconcelos, de 23 anos, que juntamente com o marido, Antero Vieira, estuda na Universidad Privada Franz Tamayo (Unifranz)/unidade de Santa Cruz de la Sierra.
Com 1,76 milhão de habitantes, Santa Cruz é o destino preferido dos brasileiros. Maior e mais populosa cidade da Bolívia, é considerada o motor econômico do país. Tem cinco universidades particulares com cursos de Medicina: Unifranz, Universidad de Aquino Bolívia (Udabol), Universidad Católica Boliviana (Católica), Universidad Cristiana Boliviana (Ucebol) e Universidad Nacional Ecológica (UNE, mais conhecida como Ecológica), além de uma estatal, a Universidad Autónoma Gabriel René Moreno. As públicas têm pouquíssimos estudantes brasileiros, em geral não mais que 20.
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O número de brasileiros é tão alto nas escolas privadas que em algumas parece que se está no Brasil, tal a quantidade de pessoas falando português. As universidades, contudo, resistem em dar as cifras exatas. Dados fornecidos pelo cônsul-geral do Brasil, naquela cidade, Colbert Soares Pinto Jr., indicam que há, em Santa Cruz, pelo menos 10 mil alunos brasileiros de Medicina, assim divididos: Udabol (5 mil), Ucebol (3,1 mil), Católica (400), Unifranz (400) e Ecológica (1 mil).
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Em Cochabamba, estudam, de acordo com o cônsul-geral brasileiro naquela cidade, Fernando Vidal, pelo menos 7 mil brasileiros. Os dados foram repassados a ele pelo Banco do Brasil na Bolívia, que fez uma pesquisa para verificar a viabilidade de instalar uma agência local. O estudo revelou que os estudantes brasileiros estão assim divididos naquela cidade: Universidad del Valle (Univalle) – 1,5 mil; Universidad Privada Aberta Latinoamericana (Upal) – 2 mil; Unifranz/Cochabamba – 2 mil; Udabol/Cochabamba – 500; Universidad Técnica Privada Cosmos (Unitepc) – 1 mil.
Em La Paz, capital boliviana, o consulado-geral brasileiro local estima o número de brasileiros que estudam Medicina em cerca de 600. Na cidade de Cobija, na fronteira com o Acre, estudam mais 1 mil alunos. Em Oruro, Potosi e Sucre também há brasileiros em escolas médicas particulares, mas o número é bem menor que nas demais.
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Em família
Os preços baixos e as vagas ilimitadas seduzem tanto que é comum encontrar vários membros de uma mesma família estudando Medicina. A estudante Larissa Caures, 21 anos, de Rondônia, por exemplo, faz Medicina na Ucebol juntamente com sua mãe, Cecília. Luiz Alberto Paschoal Cardoso, do Mato Grosso, que estuda na Católica, tem a companhia de sua mulher, Rubia Bandiera Cardoso, e do sobrinho Luiz Alberto Cardoso Vaz.
Nem todos os alunos, entretanto, permanecem na Bolívia. O número de desistências é alto, principalmente entre os do primeiro ano. “Muitos desistem e voltam ao Brasil”, afirma o relações públicas da Ucebol, Ruben Chávez. Também o decano da Faculdade de Ciências da Saúde da Univalle, Carlos Iriarte, afirmou que de 30% a 40% dos alunos desistem. No caso dessa universidade, considerada “a melhor” entre as particulares, além dos que voltam para o Brasil, muitos transferem-se para outras faculdades mais baratas ou menos exigentes. A transferência de escola é livre e muito frequente.
Em geral, os estudantes são bastante jovens, mas há muitos brasileiros com idade incomum para um curso de Medicina. Segundo Ruben Chávez, há um aluno na Ucebol, Floriano Petri, de 63 anos, que tem dois filhos como colegas de estudo. Outra brasileira, Eva da Anunciação, de 60 anos, está no 5º semestre.
Muitos deles já se formaram em outros cursos no Brasil, geralmente na área da saúde. Rogério Machado Coelho, de 46 anos, por exemplo, era veterinário na cidade de São Paulo, e agora estuda Medicina na Católica. “Sempre quis ser médico, mas como meu irmão estudava Medicina em uma particular, no Brasil, não pude fazer também porque era muito cara. Quando me formar, quero exercer a profissão em Rondônia, onde ele trabalha”. Haroldo Salvador Freire, 38 anos, atuou por 14 anos como enfermeiro, antes de ir estudar na Bolívia, assim como sua mulher. Eles têm um filho de seis anos, que mora com ambos, em Santa Cruz de la Sierra.
Vagas ilimitadas
As vagas ilimitadas fazem com que o número de estudantes cresça a cada ano. Quem chegar com os documentos necessários, inscrever-se e pagar a matrícula, faz o curso, sem qualquer processo seletivo. O objetivo é arrebanhar o maior número possível de alunos.
As vagas ilimitadas fazem com que o número de estudantes cresça a cada ano. Quem chegar com os documentos necessários, inscrever-se e pagar a matrícula, faz o curso, sem qualquer processo seletivo. O objetivo é arrebanhar o maior número possível de alunos.