Contra críticas e deserções, Brasil quer convencer Cuba a pagar mais a médicos
Governo federal tenta ampliar o repasse pago aos profissionais da ilha, de R$ 960 para R$ 2,4 mil
19 de fevereiro de 2014 | 2h 04
Lígia Formenti e Vera Rosa/Brasília - O Estado de S.Paulo
O governo quer convencer Cuba a ampliar de US$ 400 para
US$ 1 mil o repasse pago a profissionais do Mais Médicos no Brasil. A
medida é considerada pelo Planalto como essencial para tentar reverter
críticas que o programa, vitrine de campanha de reeleição da presidente
Dilma Rousseff, passou a receber nas últimas duas semanas.
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Sérgio Castro/Estadão
Médicos trazidos por convênio com Opas recebem parte da bolta e restante vai para Cuba
Os ataques ressurgiram depois de a cubana Ramona Rodríguez sair do
programa, dizendo-se enganada pelo governo Raúl Castro por receber US$
400 (cerca de R$ 960). Já médicos brasileiros recebem R$ 10 mil, mesmo
valor repassado pelo governo Dilma ao convênio firmado com a Organização
Pan-Americana de Saúde (Opas).
O aumento do repasse para US$ 1 mil (R$ 2.400) também seria útil para
tentar refrear deserções. Na semana passada, houve quatro casos de
médicos que "fugiram" do programa.
"Qualquer trabalhador que tenha um aumento no salário fica feliz. Não
seria diferente com a gente", diz um médico cubano que atua em um posto
de saúde da zona norte de São Paulo sobre o novo valor.
Ele afirma que com o aumento será possível economizar algum dinheiro
para quando voltar a Cuba, ao contrário do que acontece atualmente.
"Como estamos há apenas três meses aqui, ainda não deu para guardar
muita coisa. Não dá para economizar tanto porque temos despesas
pessoais, como internet e telefone", diz.
Dos 9 mil médicos que atuam no programa, 7.500 são cubanos. O aumento
do salário desses profissionais importados de Havana começou a ser
discutido na Casa Civil, há duas semanas, em reunião com a presença dos
ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Saúde, Arthur Chioro.
Questionado sobre o assunto, Chioro afirmou estar "sensível" ao
problema.
Trunfo político. Idealizado pela equipe do
Ministério da Saúde, o Mais Médicos também terá destaque na campanha do
ex-ministro Alexandre Padilha (PT) ao governo de São Paulo. Pesquisas em
poder do Planalto indicam que a maioria da população aprova o programa,
um trunfo que o governo quer preservar até outubro.
Desde que a Ramona abandonou o programa, a oposição acusa o PT de se
aproveitar do trabalho escravo. Nos bastidores, DEM e PSDB dizem que o
acordo é uma troca, uma forma de amortizar o dinheiro brasileiro
emprestado para a construção do Porto de Mariel, em Cuba. / COLABOROU FABIANA CAMBRICOLI
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