IDERVAL TENÓRIO

sábado, 1 de setembro de 2018

CONSULTA MÉDICA, UM LINGUAJAR BEM DIFERENTE . O PORTUGUÊS SEISCENTISTA

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CONSULTA MÉDICA, UM LINGUAJAR BEM DIFERENTE .

O PORTUGUÊS SEISCENTISTA

Certo dia um médico atendeu um jovem sofisticado, modernizado e antenado com as coisas do além mar , ao entrar na sala o internacional paciente ficou meio desconfiado, encabulado e literalmente fora do contexto , nunca tinha visto uma garrucha ou garruncha nordestina , um chapéu de couro bosta de rolinha e nem um chapéu de couro de vaqueiro, nunca havia se aproximado de uma safona Todeschini, de um triângulo ou de um pandeiro de couro de bode , ficou deslumbrado com centenas e centenas de livros históricos, atlas, mapas do nordeste brasileiro e de um arco e fecha legítimo, não conhecia os velhos telefones pretos analógicos modelos 1930, máquina de costura manual , sufelas, esporas , chocoalhos de todos os tamanhos, candeeiros de flandres.

Ficou assombrado com um berrante de mais de metro, com os diversos quadros com fotografias preto e branco documentando a família nordestina, o Padre Cicero, o Elomar, o Luiz Gonzaga, Lampião, o Patativa do Assaré , o Bule-Bule , a caatinga e os casarios de Juazeiro do Norte,Crato e Bodocó em diversas épocas , períodos de 1890 a 2017 .

Não conhecia o ferro de passar roupas alimentado com carvão vegetal, o fruto do jatobá , a semente de mucunã, o filtro de barro, quartinha ou moringa de barro. Nunca tinha visto um radio Zilomag modelo 1930, uma maquina de datilografia com mais de 90 anos, maquinas fotográficas de antes da segunda guerra mundial , moedas com mais de 400anos, estribos , boqueiras para cavalos usadas como freios, esporas, punhal com cabo de osso cintilante e outros apetrechos nordestinos, tudo isto emoduldurando um velho esculápio com mais de sessenta anos e quase quarenta de luta, todo de branco até os cabelos e defronte de um computador ultra modermo, impressora colorida a laser, smarthfone, telefones sem fios e o diabo a quatro.

O fundo musical que é de praxe emanava do velho rádio de madeira, ora sob a batuta do Luiz Gonzaga, da Helena Meireles, do Belchior, do Luiz Fidelis, do Abdias , da Marinez, das sanfonas de oito baixos da família do João Calixto e ora sob o crivo do Beethoven, Tchaikowsky, Bach, Paganini , Vivaldi, Straus e de vez em quando misturados com músicas instrumentais de Zé Rico e Milionário, Estrada da Vida, Tião Carreiro, Roberto Carlos, Luciano Pavarotti , Elomar Figueira, Plácido Domingos e os Beatles , o rapaz ficou doido.

Ao entrar o médico fez a sua tradicional recepção:

"" DIGA AÍ MACHO VÉI, DIGA AÍ MACHO FEI""

"COMO VAI A FAMIA?"

Partiu para o aperto de mão esboçando um abraço amigo.

O camarada ficou destreinado, porém fez a sua explanação complementada pelo atencioso pai.

Fez as suas queixas , o médico escutou, matutou e auscultou. Pressão, pulso e respiração aferidos, matutou outra vez, mais uma e iniciou o exame físico.

Palpou o abdome , fez algumas manobras nos flancos, nos hipocôndrios e no epigástrio, antes de iniciar as suas inquirições assim falou para o jovem :

"VOU ENCARCAR O SEU BUCHO , EXECUTAR A PERCUSSÃO, O SINAL DO PIPAROTE E REALIZAR ALGUMAS PERGUNTAS, SE TIVER DOLORIDO ME AVISE"

O moço olhou, pensou , ficou de boca aberta e falou:

"" O senhor não é daqui da capital , pois estou boquiaberto com o seu linguajar, qual é o nome do seu interior? em qual escola o senhor se diplomou? "

FEZ O EXAME FÍSICO COM ESMERO, SEMPRE FALANDO PARA O MOÇO ETAPA POR ETAPA E ELE DE OUVIDOS ATENTOS.
APÓS PALPAR, LEVANTAR AS PERNAS, OLHAR A REGIÃO PERIUMBILICAL, FLEXIONAR O PESCOÇO DO EXAMINADO, O MÉDICO ASSIM FALOU NO FINAL DO EXAME:

Ao exame físico temos hepatoesplenomegalia , timpanismo em todo o abdome porém sem alças sentinelas , sinais de Blumberg , Murphy, Brudzinski, Lasègue, Cullen e sinal de kernig negativos .

O moço atentamente ouvindo , ficou destreinado mais uma vez, desta vez o esculápio foi longe, muito longe, misturou tudo, foi de um extremo ao outro, o médico regressou do seu interior, retroagiu no tempo e mentalmente sentou-se diante das peças anatômicas , dos atlas e dos livros em Alemão, Ingles, Italiano , Francês, Espanhol e do puro Português, voltou para a medicina acadêmica, para o português clássico , monótono e que encabresta o cidadão, deu uma remanejada na face, na voz, na postura, na respiração, limpou o rosto e continuou a sua consulta sob a batuta do Vivaldi e as suas quatro Estações.

" O seu problema é uma epigastralgia, é uma algia esplâncnica com irradiação para o hipocôndrio direito , precisamos realizar uma videoesofagogastroduodenoscopia complementada por uma ecogastroduodescopia se necessário , realizaremos uma ecografia com dopler colorido do abdome total, podendo evoluir inclusive para uma ressonância magnética. ,

"Pode ser uma pangastrite crônica, uma lesão de bulbo duodenal, de fundo, corpo ou antro gástrico , uma colelitíase e devido a febre uma colangite aguda , uma apendicite retrocecal, litiase renal ou pielonefrite mesmo com Giordano negativo, pode ser uma psoíte ou a síndrome do intestino irritável, podendo inclusive ser uma dipepsia a esclarcer, tem que ter um diagnóstico e que de prefrencia tenha um bom prognóstico ."

Precisamos também afastar as pancreatopatias , as hepatopatias , as doenças inflamatórias intestinais a esclarecer, retocolite ulcerativa ,doença de crohn ou outras doenças indesejáveis caso a sua família tenha casos de doenças blásticas intestinais nos seus antepassados".

O pai olhou e falou: Doutor fale como se o senhor fosse do interior mesmo , estava mais fácil de entender.

O Médico voltou ao seu natural , num Português coloquial e natural , explicou tim tim por tim tim, passo a passo que provavelmente tratava-se de uma gastropatia a esclaracer e iria solicitar uma ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA COM PESQUISA PARA O HELICOBACTER PYLORI , uma ultrassonografia do abdome total , uma avalição sanguínea , um sumário de urina e um exame de fezes.

O pai falou :

" "AGORA SIM, AGORA ENTENDI TUDO DOUTOR, VI QUE O SENHOR ESTUDOU E MUITO, MUITO OBRIGADO PELA RECEPÇÃO E PELA SIMPLICIDADE, SENTI FIRMEZA""

Uma SEMANA DEPOIS VOLTOU COM UM LAUDO MUITO BEM ESCRITO E QUE FRIZAVA- GASTRITE CRÔNICA MODERADA EM ATIVIDADE COM A PRESENÇA DE BACTÉRIAS COMPATÍVEIS COM HELICOBACTER PYLORI , E INFECÇÃO DO TRATO urinário .

Enquanto mais simples for o linguarjar do médico mais proximo ficará do seu paciente.

Doutor, seja um homem simples

Iderval Reginaldo Tenório

Jamelão - PIRARUCU - folclore - Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga ...

Vídeo para no crato não tem mais doutô- jamelão

▶ 2:31

https://www.youtube.com/watch?v=EKjEnv1kQfg

18 de ago de 2015 - Vídeo enviado por luciano hortencio

Jamelão - PIRARUCU - folclore - Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga. Disco Odeon 13.048-A. Ano de ...

Pirarucu - ZÉ GONZAGA | Letras de Músicas FM

ZÉ GONZAGA

▶ 2:51

www.letrasdemusicas.fm/jamelao/piraruc

13 de jul de 2010 - Vídeo enviado por Jose LOBO JANUÁRIO

Pois lá no Crato Não tem mais dotô. Já foram todos. Para o Iguatú Foram pra lá. Pra tratá do povo. Que comeu .

CONSULTA MÉDICA UM LINGUAJAR BEM DIFERENTE . O PORTUGUÊS seiscentista.

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CONSULTA MÉDICA, UM LINGUAJAR BEM DIFERENTE .

O PORTUGUÊS SEISCENTISTA

Certo dia um médico atendeu um jovem sofisticado, modernizado e antenado com as coisas do além mar na cidade de Salvador, ao entrar na sala o internacional paciente ficou meio desconfiado, encabulado e literalmente fora do contexto , nunca tinha visto uma garrucha ou garruncha nordestina , um chapéu de couro bosta de rolinha e nem um chapéu de couro de vaqueiro, nunca havia se aproximado de uma safona Todeschini, de um triângulo ou de um pandeiro de couro de bode , ficou deslumbrado com centenas e centenas de livros históricos, atlas, mapas do nordeste brasileiro e de um arco e fecha legítimo, não conhecia os velhos telefones pretos analógicos modelos 1930, máquina de costura manual , sufelas, esporas , chocoalhos de todos os tamanhos, candeeiros de flandres, o maior com o pavio preto de tanto ser usado na Serra do Araripe , reduto do Ceará e do Pernambuco.

Ficou assombrado com um berrante de mais de metro, com os diversos quadros com fotografias preto e branco documentando a família nordestina, o Padre Cicero, o Elomar, o Luiz Gonzaga, Lampião, o Patativa do Assaré , o Bule-Bule , a caatinga e os casarios de Juazeiro do Norte,Crato e Bodocó em diversas épocas , períodos de 1890 a 2017 .

Não conhecia o ferro de passar roupas alimentado com carvão vegetal, o fruto do jatobá , a semente de mucunã, o filtro de barro, quartinha ou moringa de barro, nunca tinha visto um radio Zilomag modelo 1930, uma maquina de datilografia com mais de 90 anos, maquinas fotográficas de antes da segunda guerra mundial , moedas com mais de 400anos, estribos tipo sapatos , boqueiras para cavalos usadas como freios, esporas, punhal com cabo de osso cintilante e outros apetrechos nordestinos, tudo isto emoduldurando um velho esculápio com mais de sessenta anos e quase quarenta de luta, todo de branco até os cabelos e defronte de um computador ultra modermo, impressora colorida a laser, smarthfone, telefones sem fios e o diabo a quatro.

Ao entrar o médico fez a sua tradicional recepção:

"" DIGA AÍ MACHO VÉI, DIGA AÍ MACHO FEI""

"COMO VAI A FAMIA?"

Partiu para o aperto de mão esboçando um abraço amigo.

O camarada ficou destreinado, porém fez a sua explanação complementada pelo atencioso pai.

Fez as suas queixas , o médico escutou, matutou e auscultou. Pressão, pulso e respiração aferidos, matutou outra vez, mais uma e iniciou o exame físico.

Palpou o abdome , fez algumas manobras nos flancos, nos hipocôndrios e no epigástrio, antes de iniciar as suas inquirições assim falou para o jovem :

"VOU ENCARCAR O SEU BUCHO , EXECUTAR A PERCUSSÃO, O SINAL DO PIPAROTE E REALIZAR ALGUMAS PERGUNTAS, SE TIVER DOLORIDO ME AVISE"

O moço olhou, pensou , ficou de boca aberta e falou:

"" O senhor não é daqui da capital , pois estou boquiaberto com o seu linguajar, qual é o nome do seu interior? em qual escola o senhor se diplomou? "

"Pode ser uma pangastrite crônica, uma lesão de bulbo duodenal, de fundo, corpo ou antro gástrico , uma colelitíase e devido a febre uma coleciste aguda , uma apendicite retrocecal, litiase renal ou pielonefrite mesmo com Giordano negativo, pode ser uma psoíte ou a síndrome do intestino irritável, podendo inclusive ser uma dipepsia a esclarcer, tem que ter um diagnóstico e que de prefrencia tenha um bom prognóstico ."

O pai olhou e falou: Doutor fale como se o senhor fosse do interior mesmo , estava mais fácil de entender.

Enquanto mais simples for o linguarjar do médico mais proximo ficará do seu paciente.

Doutor, seja um homem simples

Iderval Reginaldo Tenório

Jamelão - PIRARUCU - folclore - Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga ...

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18 de ago de 2015 - Vídeo enviado por luciano hortencio

Jamelão - PIRARUCU - folclore - Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga. Disco Odeon 13.048-A. Ano de ...

Pirarucu - ZÉ GONZAGA | Letras de Músicas FM

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13 de jul de 2010 - Vídeo enviado por Jose LOBO JANUÁRIO

Pois lá no Crato Não tem mais dotô. Já foram todos. Para o Iguatú Foram pra lá. Pra tratá do povo. Que comeu .

CREMEB Chapa -1 ASSUMIRÁ O Conselho Regional de Medicina da Bahia NO DIA 01 DE OUTUBRO DE 2018 NOVOS CONSELHEIROS ASSUMIRÃO O CREMEB

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CREMEB

Chapa -1 ASSUMIRÁ O Conselho Regional de Medicina da Bahia

NO DIA 01 DE OUTUBRO DE 2018

NOVOS CONSELHEIROS ASSUMIRÃO O

CREMEB

DOS 42 CONSELHEIROS 26 SERÃO NOVOS E DE GRANDE CONHECIMENTO.

ELEIÇÃO CREMEB CONCLUÍDA E HOMOLOGADA

SERÃO 26 NOVOS CONSELHEIROS COM A TUTELA DA EXPERIENCIA, DA MEMÓRIA , DO HISTÓRICO E DO CONHECIMENTO DO SISTEMA CONSELHAL BRASILEIRO DOS 16 QUE PERMANECERAM .

BOA SORTE E CUIDADO NA CONDUÇÃO DA CASA DA ÉTICA NESTA ÉPOCA CONTURBADA DO PAÍS.

De parabéns o Conselho Regional de Medicina da Bahia pelo belo processo Eleitoral e pela lisura em todas as Etapas.

De parabens todos os candidatos, os novatos e os mais antigos, uma vez que um processo eleitoral deste quilate traz o gosto pela defesa da categoria e o quanto é importante participar da vida das Entidades de Classe, principalmente da
AUTARQUIA- INSTITUIÇÃO CREMEB -

Saíram vencedora as três Chapas , assumirá o Conselho a Chapa 1, A MAIS VOTADA , AQUELA QUE ATENDE A VONTADE DA MAIORIA DOS MÉDICOS DO ESTADO.

SAIU GANHANDO E FORTALECIDA A MEDICINA BAIANA.

ABRAÇOS

IDERVAL REGINALDO TENÓRIO

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ELEIÇÃO CREMEB

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DA BAHIA

CHAPA 01-                 4.540VOTOS

CHAPA 02-                 3.118 VOTOS

CHAPA 03-                  2.746 VOTOS

TOTAL VOTOS 11.015 VOTOS

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

DONA HELENA MEIRELES- A MAIOR VIOLEIRA DO BRASIL E PREMIO MOR MUNDIAL

DONA HELENA MEIRELES- A MAIOR VIOLEIRA DO BRASIL E PREMIO MOR MUNDIAL DE TODOS TEMPOS, EU TIVE O PRAZER DE CONHECE-LA.
VEJAM A SUA IMPORTANCIA NO CONCIONEIRO BRASILEIRO.
CONHELAM ESTA PÉROLA, ESTA RARIDADE, SÓ NASCE UMA PARA CADA 200MILHÕES DE HABITANTES OU SÓ UMA PARA CADA 7 BILHÕES DE PESSOAS.

Iderval Reginaldo Tenório

Helena Meirelles, a dama da viola do Brasil

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Como já falei por aqui, acontece no dia 28 de novembro o Women’s Music Event Awards by Vevo, primeira premiação brasileira dedicada às mulheres da música. E não estamos falando só de artistas, mas sim de todas as esferas de uma cadeia ainda tão dominada pelos homens. A premiação terá duas homenageadas: a cantora Rita Lee, que em 2017 completa 50 anos de carreira e é aquela unanimidade inteligente que todo mundo ama, e a violeira Helena Meirelles, que é sobre quem eu quero falar nesta coluna.

Nascida em 1924 em Botaguassu, no Mato Grosso do Sul, Helena cresceu rodeada de peões, comitivas e violeiros. Desde pequena, era vidrada em viola caipira, instrumento que seus pais não a deixavam tocar porque, segundo eles, “era coisa de homem”. Helena acabou aprendendo a tocar sozinha aos 9 anos, tirando músicas de ouvido, escondida, usando o violão do irmão.

Em vez de fugir de casa, Helena usou outro subterfúgio para escapar das proibições dos pais, que nunca aceitavam o fato de ela tocar viola. Casou-se aos 16 anos e saiu de casa, para nunca mais voltar. Quando se deu conta de que havia caído em outra arapuca, ou seja, que o marido também queria aprisioná-la, o abandonou. Foi atrás da vida que queria, tocando viola em bares e na zona de Presidente Epitácio (SP), onde era conhecida como violeira das melhores e voraz bebedora de cachaça.

Na vida louca das boates e dos prostíbulos, apaixonou-se por outros homens, mas firmou-se com o terceiro marido, Constantino, um boiadeiro bonitão com quem viveu por quase 40 anos. Entre casamentos e ficadas, dona Helena teve 11 filhos. Todos paridos em casa, sem ajuda de parteiras. Ela mesma fazia o exame de toque para saber se eles estavam perto de nascer e fazia todo o trabalho sozinha. Helena foi deixando os filhos com famílias adotivas e saiu por este mundão para fazer o que mais amava: tocar em bailes, prostíbulos, bibocas de beira de estrada e onde mais quisessem uma violeira capaz de tocar e farrear por uma semana inteira praticamente sem dormir.

Em Epitácio Pessoa e região, era rainha, não havia possibilidade de uma festa sem ela, mas no resto do Brasil foi uma total desconhecida, até que uma de suas irmãs, Natália, a encontrou debilitada na cidade de Piquerobi (interior de São Paulo, quase divisa com Mato Grosso do Sul), e a levou embora para São Paulo, nos idos dos anos 90.

Em Santo André, na casa da irmã, seu sobrinho Mário a reconheceu como a tia que tocava violão. Ele, já com 30 e poucos anos, se tornaria responsável pela descoberta de Helena pela mídia.
Encantado com os dotes da tia, Mário a gravou tocando numa fita cassete, juntou uma foto e a palheta de chifre da violeira numa caixa e enviou aos cuidados dos editores da revista norte-americana “Guitar Player”. Em 1993, aos 69 anos, Helena entrou para o hall dos cem melhores guitarristas do mundo, ao lado de Eric Clapton e Jimi Hendrix, e sua vida virou de cabeça para baixo.

Daí em diante, Helena finalmente foi tratada como artista. Depois da gravação de seu primeiro álbum, “Helena Meirelles”, de 1994, que teve produção do sobrinho, Mário de Araújo, e foi lançado pela gravadora Eldorado, celeiro de música de qualidade nos anos 80 e 90 no Brasil, Helena se viu diante de uma agenda cheia de shows em grandes teatros e entrevistas em grandes jornais e na TV.

Depois do primeiro disco, vieram mais três, recheados de composições da própria Helena: “Flor de Guavira”, de 1996, “Raiz Pantaneira”, de 1997, e “De Volta ao Pantanal”, de 2003. A vida da violeira também rendeu dois riquíssimos documentários, “A Dama da Viola”, de Francisco de Paula, e “Dona Helena”, de Dainara Tofolli, uma verdadeira viagem ao universo da artista que pode ser visto na íntegra no YouTube.

Dona Helena viveu para a viola e teve quase uma década de sucesso e reconhecimento nos últimos anos de vida. “Minha história com a música só pode ser Deus. Nunca fui a um colégio, não sei ler. Só sei assinar meu nome porque tinha vergonha de ter a digital na identidade. Daí, pedi para uma professor me ensinar a escrever meu nome. Só por isso que sei assinar”, diz a violeira entre as muitas pérolas que solta no documentário “Dona Helena”.

Também no documentário, ela diz: “Quero morrer trabalhando, senão não tem jeito”. E assim foi. Helena faleceu em 2005, num hospital em Campo Grande (MS), devido a uma pneumonia crônica, aos 81 anos. Viveu como quis, foi-se sem notar que tinha se tornado um ícone da música.

No dia 28 de novembro, durante o Women’s Music Awards By Vevo, vamos celebrar seu legado. A premiação será transmitida ao vivo pela Vevo.