Na seca de 1958, O mestre Patativa do Assaré escreveu ao Presidente da Republica , o Juscelino Kubitschek , ° ao Governador do Estado do Ceará Dr. Paulo Sarasate.
A seca de 1958 foi de arrasar. Secou os açudes, os rios, as plantações e só os juazeiros com os seus espinhos, os umbuzeiros e os mandacarus grassavam vivos.
Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha e Jardim ficaram como quarteis para receber os homens que buscavam o pão. vários foram os campos de concentração em todo o Estado
Assim falou o Patativa do Assaré
Iderval Reginaldo Tenório
De Patativa do Assaré
Iderval Reginaldo Tenório
De Patativa do Assaré
A seca de 1958 no Ceará foi uma das mais graves da história, causando miséria generalizada e intensificando o êxodo de cearenses para outras regiões do país, principalmente para a construção de Brasília. A calamidade resultou na perda de lavouras, rebanhos e na falta de água, com o governo federal respondendo com medidas emergenciais que, embora insuficientes para suprir as perdas econômicas, incluíram a criação de frentes de trabalho e o auxílio emergencial.]
Seu dotô só me parece
Que o sinhô não me conhece
Nunca soube quem sou eu
Nunca viu minha paioça
Minha muié, minha roça
Meus fio que Deus me deu
Se não sabe escute agora
Que eu vô conta minha istora
Tenha a bondade de ouvi
Eu sô da crasse matuta
Da crasse que não disfruta
Das riqueza do Brasi
Sô aquele que conhece
As privação que padece
O mais pobre camponês
Tenho passado na vida
De quatro meis em siguida
Sem cumê carne uma veiz
Sô o que durante a semana
Cumprindo a sina tirana
Da grande labutação
Mode sustenta a famia
Só tem direito a dois dia
O resto é para o patrão
Sô o sertanejo que cansa
De votá sem esperança
Do Brasil fica mio
Mas o Brasil continua
Na cantiga da piruá
Que é pio, pio, pio
Sô o que num tempo da guerra
Contra o gosto se desterra
Para nunca mais vortá
E vai morrê no estrangeiro
Como pobre brasileiro
Longe do torrão nata
Sô o mendigo sem sussego
Que por não achá emprego
Se vê forçado a sigui
Sem direção e sem norte
De porta em porta a pidi
Sô aquele disgraçado
Que nos ano atravessado
Vai batê no Maranhão
Sujeito a todo mal-trato
Bicho de pé, carrapato
E os ataque da sesão
Se o dotô não se infade
Vai guardando essa verdade
Na memória e pode crer
Que eu sô aquele operário
Que ganha o pobre salário
Que não dá para comer
Sô ele todo em carne e osso
Muita veis num tem armoço
Nem também não tem jantá
Eu sô aquele rocero
Sem camisa e sem dinheiro
Cantado por Juvená
Sim, por Juvená Galeno
O poeta, aquele gênio
O maior dos cantadô
Aquele coração nobre
Que a minha vida de pobre
Muito sentido canto
Há mais de cem ano eu vivo
Nessa vida de castigo
E a potreção não chegô
Sofro muito e corro estreito
Inda tô do memo jeito
Que Juvená me deixou
Sofrendo a mema sentença
Eu já to perdendo a crença
E pra ninguém se inganá
Vô dexá meu nome aqui
Eu sô fio do Brasi
E o meu nome é Ceará.
Um comentário:
Uma véa ouviu
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