BAIÃO DE DOIS - UM PRATO DO CEARÁ
Sou catingueiro do nordeste, muitas vezes catinguento.
A civilização e o banco da escola não conseguiram podar e ainda hoje sou meio rústico.
SOU TOTALMENTE NORDESTINO MODELO 1930.
Amigos, tenho lido e escutado um cento de citações sobre o nordeste brasileiro. Tenho sentido que na sua grande maioria são relatos teóricos, vividos no papel, nos livros ou em anedotas. Resolvi criar uma página no blog e aos poucos mostrar ao Brasil o verdadeiro Nordeste, o nordeste vivo e vivido por um nordestino nato.
Vocês que falam do baião de dois, que é isso, aquilo e aquilo outro, muitas vezes estão sendo enganados, pois o baião de dois não é nada disso que vocês têm lido por aí, este que vocês comem é o baião de dois sofisticado, da grã-finagem, é o baião inventado, é o baião de restaurante, é o baião turístico. Falarei algo sobre o verdadeiro baião de dois
O Baião de dois é um prato típico do povo cearense, teve a sua origem na Paraíba, porém o Ceará encampou como um dos seus símbolos, tem mais de um século de vida.
O Baião de dois já está dizendo,
é constituído de dois cereais, o arroz e o feijão, geralmente é servido à noite
na casa do nordestino. Na sua
essência, foi criado para aproveitar o
arroz e o feijão que sobraram do almoço, uma vez que refrigerador, para
conservar estes ingredientes, não existia na casa do catingueiro, daí o nome de
Baião de dois. Na mesma panela do feijão, que é a maior, coloca-se mais
água e quando estiver fervendo mistura o arroz que sobrou.
Nas casas com melhores posses, acrescenta-se um queijo coalho, um tempero
verde, uma linguiça e por aí vai, até terminar neste baião turístico, porém o verdadeiro
é aquele servido nas casa mais simples. Nós aqui da caatinga
chamamos estes ingredientes sofisticados de MUSTURA.
Quando a mãe colocava o Baião de dois, o legítimo, o sujeito perguntava: "MAMÃE , CADÊ A MUSTURA?" A mãe pegava uma frigideira, gritava um ovo ou fritava um naco de carne, contado matematicamente e colocava por cima do Baião de dois, estava pronto o mais simples e gostoso jantar do Ceará.
O cearense é o povo que mais come baião de dois no Brasil, tanto que o Rei Luiz Gonzaga cantou em verso e prosa. Agora quem mais sedimentou este costume foi o João Silva, um pernambucano de Arco Verde, o maior compositor do Luiz Gonzaga, autor de Pagode Russo, Tá Danado de Bom, Viva meu Padim, Nem se Despediu de mim e por aí afora, quando numa de suas músicas ele falou e fala :
” Quer matar um cearense invenenado, bote um pouco de veneno num prato de baião de dois, pra você vê um caboco morto”. João Silva
Este prato foi muito saboreado por este mortal em Bodocó, Exu, Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e na minha Serra do Araripe. Este outro baião de dois sofisticado e turístico, também comi e como muito nas casas dos grã finos da região, também é muito gostoso, continua sendo Baião de dois em alusão aos dois principais ingredientes: O FEIJÃO E O ARROZ, desta vez especialmente cozido para este fim, eles deixaram de ser sobras para ser o prato principal.
Agora, Baião de dois o legítimo, é aquele que se comia e a ainda se come no jantar por este sertão nordestino de meu Deus, no máximo um ovo estrelado ou um taco de carne assada, que hoje chama-se de carne do sol.
Dei o meu recado e espero críticas.
Iderval Reginaldo Tenório
Luiz Gonzaga - Baião de Dois - YouTube
Nem se despediu de mim - Luiz Gonzaga - YouTube
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