quarta-feira, 29 de maio de 2024

Memórias de um serrano chamado Zezinho.

                                                      

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Burro pulando uma cerca | Vetor Grátis

Vigas de aço para trilhos de trem de construção • adesivos para a parede  endurecer, corrosivo, corrosão | myloview.com.br
COLOCADO A PARTE DE BAIXO DO TRILHO A  2CMS DO OUTRO, A PARTE DE CIMA FICA A MAIS DE 10CMS. 
ESTÁ  AÍ A PRORIEDADE DO MATA BURRO.
FICA ESCORREGADIO E O ANIMAL FICA SEM APOIO, 
PODE ATÉ FICAR ENGANCHADO.
 
Memórias do serrano Zezinho 
 
Memória do Zezinho é um projeto  com escritos vividos por um descendente dos índios Cariris e Xucurus, povos oriundos das alagoas das regiões de Palmeira dos Indios e Arapiraca,  radicados   na  chapada do Araripe, divisa do Estado de  Pernambuco com o Ceará
 
De um lado o município    do Exú, onde nasceu o Luiz Gonzaga, o rei do baião,  do outro o município do Crato, onde  nasceu  o Padre Cícero Romão Baptista, o fundador da cidade de Juazeiro do Norte, no cariri cearense. 
 
Os municípios são ligados pela Rodovia Asa Branca, construída sob o pedido do Rei do baião. No local da divisa cortada pela rodovia, como não pode ser colocada uma cancela para impedir que animais passem de um Estado para o outro, foi construído   um equipamento  chamado  Mata Burro. Uma construção simples,  erguida com trilhos  de trem   colocados em paralelo sobre o solo, cobrindo uma cavidade de 20 cms de profundidade,   com um espaço de  dois centímetros entre cada barra de ferro, ao pisar entre um trilho e outro as patas ficam travadas. 
 
Depois dizem que o burro é burro, ao enxergar o engancha patas, o muar recua e passa a informação para todos os seus amigos. Com o tempo,  esta geringonça passa a ser conhecida por todos os animais, os mais novos  ainda se arriscam em pular e pulam, burros novos têm muita força e são espertos.  

Do Exú pela Rodovia  PE 545 chega-se à  cidade do Bodocó-Pe, que dista 41 km, nesta terra se produz o melhor queijo de manteiga e o mais saboroso doce de leite da região, verdadeiras iguarias.  Do Crato,  pela Rodovia CE 292 chega-se a  Juazeiro do Norte, a Capital da Fé, que dista 14 quilômetros numa moderna via dupla separada por um belo jardim e excelente iluminação,  hoje praticamente uma cidade só, como era em   1911, quando o Juazeiro era  distrito do Crato e recebia o nome  Tabuleiro Grande. 

Nesta região o bonito é ser  tabaréu, é ser autêntico, metade pernambucano e metade cearense. Luiz Gonzaga, Patativa do Assaré  e o Padre Cicero Romão Batista   são os principais frutos desta rica caatinga, foram considerados os três nordestinos do século XX.

Nesta matéria, algumas  das centenas de memórias impregnadas  no cérebro deste tabaréu nascido no Ceará/ Pernambuco e hoje radicado na Bahia. 
 
É de bom alvitre lembrar que a Região é rica em escolas tradicionais: Os Salesianos, Os Jesuitas, o Diocesano do Crato, Os Batistas,  os Franciscanos e outras de igual teor. Hoje o Cariri é um centro indutrial,  cultural, comercial, turístico e universitário. É um ponto de convergência para todo o Brasil.
 
                                      Iderval Reginaldo Tenório 


1- LÁIBOS

Estavam os filhos, os netos, a mãe e alguns convidados num tremendo bate-papo, quando a matriarca, aos 98 anos de idade, para mostrar  bons exemplos para as netas falou:

____"Olhem minhas netas,  eu nunca coloquei batom nos meus beiços".

 O filho mais velho, que é  tirado a intelectual e falante, num tom esclarecedor pediu a palavra e disse:

___"Mamãe, num é beiço não mamãe, quem tem beiço é os animá, os cavalo, os  bode e os boi, nós humano tem é láibos.

A quase centenária, que tem respostas para tudo, responde ao filho intelectual:

__"Prefiro os meus beiços do que o seus láibos"




2-A SESSÃO


O presidente da câmara de Vereadores, da  cidade de Juazeiro do Norte,  na semana da Pátria,  ao abrir a sessão assim se pronunciou:

  __"Senhores vereadores, dou por abrida esta  sessão  em homenagem  à nossa  Pátria".

O seu secretário, Zé de  Mundim, um radialista de renome, de imediato  foi até ao seu  lado e  falou baixinho no seu ouvido.

__"Presidente Nestor, num é abrida não Presidente, é aberta".

O Presidente, sem titubear, fala em voz alta para todos os presentes ouvirem.

___" Zé de Mundim, se aquete home, se aquete Zé de Mundim, aberta ou abrida, a palavra tá dizida".



3-NUMA PLENÁRIA

Um simples vereador, recém eleito e neófito na política,  pouco falava no plenário da câmara. A sala onde funcionava o poder legislativo não era climatizada e as janelas ficavam abertas nas noites das sessões. Era junho, mês do São João, nesta época, no Ceará, os ventos são fortes, dirigidos  e frios .

Depois de aberta a sessão, lida a ata da sessão anterior e os  comunicados da diretoria,  o presidente abriu a palavra para os representantes do povo:

____"Senhores presentes nesta  plenária, está facultada a palavra ".

O neófito edil, o vereador  Clemente,  levantou-se e de imediato o presidente falou:

___"E o novo vereador Clemente Silva levanta-se para falar, deve ser algo de suma importância. O senhor tem três minutos vereador."

Na bucha, o vereador Clemente retrucou, e   comprimindo os ombros no surrado jaleco de veludo marrom assim se explicou:

___"Num quero falar não seu Presidente, eu me alevantei foi para fechar a gilena, pois tá passando um vento incanado  e tá fazendo um frie da gota serena."                     

 
                                      4-A MENTIRA

O Sr. Salustiano, simplesmente atendia  por Seu Sal, era um velho compadre do meu pai, morava na Serra do Araripe, beirava os oitenta anos. 

Quando menino, o meu irmão, que hoje é um grande economista, viajava com o meu cunhado, um médico famoso na região,  para o seu sítio que ficava na  Serra do Araripe distante  80 quilômetros de Juazeiro do Norte.

Dr.Odílio saia às cinco da manhã e chegava à serra às oitos horas. O carro era uma C10 AZUL   1970.  Eram  três horas de puro chão, saculejos e poeiras. Os seus amigos, os vizinhos e os funciuonários  já se encontravam na varanda à espera das novidades e  receber as encomendas feitas durante a semana. 

Numa destas viagens, ao chegar  na fazenda  pela manhã às 8 horas, o primeiro compadre a falar com o doutor foi seu Sal. Dentre as conversas, que eram muitas, contou um fato inusitado para mostrar o perigo que o gado estava correndo na Fazenda Sovaquinha:

___"Dotô, sexta feira, ontonte,  bem pertinho do currá,  nós aqui matou uma toiceira de cobra cascavé e quando nois foi contá, tinha 07 cobras, argumas  mais maió e argumas  mais menó".

O meu irmão, à  época com 14 anos,  olhou pra seu Sal e na  roda de compadres, que já saboreavam um belo café torrado e pisado na sede, compenetradamente  falou. 

 
___"Não me admira não seu Sal, não me admira, vindo do senhor que um homem íntegro, não me admira,  pois eu e o doutor saímos do Juazeiro às 7horas e 30 minutos e já estamos aqui na Serra, para o senhor vê, foram apenas 30 minutos de viagem".

Foi um espanto geral, quando o menino falou da rapidez da viagem. Seu Sal não ficou calado, retrucou na hora com ar de desconfiança e penicando o fumo de rolo para fazer o seu cigarro, senhoramente falou para o doutor:

___"Do cariri até aqui cum esta istrada esburacada, esta comionete carregada  de sá, o  dotô tirou em meia hora? oxente!  que istora é essa? VÊI AVUANDO! ?

O meu irmão sem perder o momento e com todo o respeito ao velho Sal, falou:

____"Não seu sal, foi de carro mesmo e  nesta C10 carregada de sal" 

Depois emendou: 

"Seu Sal diminua a quantidade das cobras que eu aumento o tempo da viagem, para cada cobra a menos, eu aumento meia hora.

Foi uma gargalhada só. E seu Sal, diplomaticamente e sem perder o equilibrio da sabedoria,  falou para o doutor.

___"Doutô Odílio, esse minino tem futuro, bote pra ser dotô".

 

 Salvador, 27 de Maio de 2024

Iderval Reginaldo Tenório 


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