domingo, 12 de fevereiro de 2023

CONVERSA ENTRE TRÊS CRIANÇAS

 

 Três crianças | Vetor Grátis

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CONVERSA ENTRE TRÊS CRIANÇAS

“Eu tenho dez, ela tem oito e o senhor quantos anos tem? ”

"Mais de sessenta, mas estou desenvolvendo um remédio para começar a usar  , com este remédio, em vez de ganhar,  vou  perder um ano por ano,  até chegar  aos trinta, nesta época deixarei de tomar, ficarei eternamente com trinta anos". 

A menina botou a mão no rosto, de soslaio olhou para a sua mãe,  a prima menor   e caiu no riso, riu que as lágrimas derramaram-se pela fina e delicada face, provavelmente pensou só para si:   
 
   “ Esse menino é meio tam-tam , parece que não tem juízo”

 Todos os   olhos presentes marejaram . Enxugadas as lágrimas  perguntou em voz baixa, desconfiada:    
 
 " E pode?  é possível?   Eu nunca soube disso” .
 
A pré-adolescente  é muito esperta . O sessentão não teve palavras para continuar . O item em pauta foi vencido, ninguém tocou mais  no assunto, para não virar querela,  fora arquivado.

O ancião falou que,  anos atrás , conheceu uma criança com seis anos de idade  , hoje uma moça bonita ,  sonha  em ser cirurgiã, quer operar as pessoas , diz que vai ser médica e  muito  humana. Depois olhou nos olhos de cada uma e explanou  para as duas crianças  :  Quem tem foco  consegue realizar os seus sonhos, tudo é questão de tempo , esforço e escolaridade. Perguntou se gostavam de estudar e se acordavam cedo.  
 
A de  10 anos respondeu primeiro : 
 
 " Acordo cedo ,  as vezes tenho um pouquinho de preguiça, mas acordo para ir para a escola, gosto muito de estudar” .
 
A mais nova completou :
 
  “ Eu não tenho nenhuma preguiça ,  acordo logo.  Na nossa casa sou a primeira  a levantar”.

O  senhor  fez uma revelação   para as três.  Falou  que quando criança , de 1960 a 1964, os anos da revolução militar,  estudava num Grupo Municipal  que ficava defronte a casa que morava, bastava atravessar uma pracinha  e  já estava na escola.   Todo mundo era conhecido , não existia, como hoje,  tanto  perigo para as crianças.
 
Frisou que ia só,  com os seus irmãos ou com os colegas, naquela época não havia tanta maldade.  Quando aparecia uma pessoa que não era do bairro, era considerado um estranho. Todos ficavam de olhos bem aberto . 
 
A Escola Municipal   era muito boa, ensinava até o fundamental.  Quase todos que moravam no bairro  estudavam  neste grupo. Os  professores eram amigos dos  pais das crianças e muitos foram colegas de infância e estudaram  nesta escola.  Nela   estudavam os filhos do professores , dos diretores, vereadores e até do Prefeito .  Hoje é patrimônio histórico , foi tombado por um  ex-aluno que virou prefeito, é uma Escola  eternizada.  

Todas as vezes que vai à sua  cidade visita  o grupo e senta na mesma carteira que estudou, pode não ser a mesma, mas é a do mesmo lugar, a que fica na frente do birô da professora . Naquele tempo a carteira da professora era chamada de birô, de bureau em Francês. Afirmou para as duas ,  que só a escola salvará os pobres, elas logo rebateram
 
“ Nós sabemos disso  , nós sabemos e gostamos muito de estudar”

Indagou se gostavam de certos alimentos  como frutas, sucos, pão, queijos, doces e biscoitos. Ambas disseram em uníssono que gostavam de quase tudo, a menor acrescentou  :  
 
” Eu não gosto de chocolate em pó  e nem de queijo do interior, amo chocolate em barra e  biscoitos de chocolates”.
 
 A maior completou:
 
” Eu gosto de tudo, só não gosto de comer rabada, toucinho, mocotó e outras gorduras” .
 
A menor deu continuidade: 
 
 “ Eu gosto muito de feijão”
 
 Neste momento  uma pausa e todos ficaram olhando um para o outro, o velho emendou . 
 
 "Feijão puro ou  com carne fresca, carne de sertão e calabresas?" 
 
Ela  deu um pequeno soluço de aprovação e disse  : 
 
 “ Hum! com  tudo isso dentro , o feijão fica bem melhor, fica mais saboroso, fica uma delícia. A minha tia prepara o melhor feijão do mundo, aprendeu com vovó Didi”.
 
 Neste momento uma grande risada, aliás uma salva de gargalhadas, foi um momento de descontração. 

Perguntou  com quantos anos iam se casar.  A mais nova brincando disse: 
 
 ” Com cinquenta anos e o noivo com trinta”. 
 
 O velho indagou :
 
"Com quantos"? 
 “ Com cinquenta” .
 
Recuperou o momento e pausadamente contando nos dedos respondeu  : 
 
 ” Eu vou me casar com vinte e sete anos e o noivo com trinta”.
 
A outra complementou :
 
 “ Eu com trinta anos, quando estiver formada e com um bom emprego, minha mãe merece dias melhores, primeiro vou cuidar da minha família ” 

A surpresa é que trouxeram para o velho amigo,  a mais linda e espontânea xícara do mundo.  Uma bela caneca branca de louça ,   que de um lado tem o retrato da sua caricatura, presente de um grande publicitário ,  do outro uma mensagem que logo entendeu que o mundo ainda tem jeito e entre as duas um retrato  com velho e as duas futuras profissionais  que muito orgulho darão ao Brasil.

O abraço da despedida  foi longo, muito longo, foi aconchegante.  Mesmo sendo de longo, pareceu curto, muito curto, havia chegado o momento da volta  e elas se foram em busca de conhecimentos  para as suas casas.  
 
Veio na sua mente criança,  que se diz adulta,  um lampejo de preocupação que todos deveriam saber. Explanou para a jovem e atenta  mãe: 

"O mundo ainda tem solução.

Vamos salvar a nossa juventude,  exigir isonomia no ensino básico para todos , vamos exercer a cidadania

 Olhe para os dias de  hoje , veja que dez anos atrás, muitos destes marginais  que assolam a nação   tinham de oito a dez anos, hoje são homens formados, sem nenhuma noção de cidadania, faltou-lhes escola, ética, família e  respeito. Os dirigentes sãos são maiores culpados, o pior é que muita gente esclarecida apoia.

Converse com as crianças, escute os ensejos dos jovens, eles só pensam no bem.  O mal é gravado nas suas mentes pelos adultos, vamos incentivar o exercicio da cidadania para todos os brasileiros"
 
  A  menina de 10 anos, entedeu a fala do idoso e compenetradamente   falou :
 
"Eu acredito na ESCOLA e nos bons ensinamentos "


Iderval Reginaldo Tenório

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