domingo, 17 de julho de 2022

A História da Asa Branca em quatro etapas. Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira, Zé Dantas, Zé Marcolino e João Silva .

 

História da Asa Branca em quatro etapas. Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira, Zé Dantas, Zé Marcolino e João Silva .

 

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HISTÓRICO DO NORDESTE EM QUATRO ETAPAS.

.A Asa Branca .
 Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira,

                        Zé Dantas , João Silva e Zé Marcolino .                                                                                  


PARTE I- 
1947

ASA BRANCA

Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga

O Nordeste Brasileiro sempre foi uma região  esquecida pelos poderes públicos  e milenarmente  sapecada pelo causticante sol  nas grandes secas.
 
No seu miolo a precipitação média é de 600mm de chuva ano, só os xerófilos entendem como é a sobrevivencia nestas terras e  que para todos os nordestinos natos,   um verdadeiro paraíso.

Para imortalizar a saga de um povo, o cearense do Iguatu, Humberto Teixeira e o pernambucano do Exú, o  Luiz Gonzaga   pensaram   qual seria a figura  nordestina  que  poderia ser o seu  símbolo e quais os acordes a serem  entoados para gerarem um fidedigno hino para este resistente povo.

Matutaram e de comum acordo chegaram à conclusão que  o animal que previne ,  que se protege ,  que foge da seca para escapar da fome e  sabe quando ela terá o seu fim ,  é o pássaro ASA BRANCA.  

A columbiforme da família Columbidae foge do sertão nas épocas ruins e volta nas grandes aguadas,  foge da fome e da tristeza ,  retorna na alegria e na fartura, é o maior orientador deste povo.  Voa para outras plagas  ,  porém,  jamais abandonará o seu povo , o seu torrão , volta cheia de vida ,  de alegria e na certeza que cairá muita água dos céus, como disse o grande menestrel  Ednardo, imortal compositor cearense no clássico   Água Grande, faixa 11do seu primeiro LP em 1974: 

 Adeus São Paulo,  está chovendo pras bandas de lá” . Está chovendo pras bandas de lá...Adeus São Paulo,  está chovendo pras bandas de lá” .


Não foi difícil para os dois compositores encontrarem o fio da meada. De estalo o descamisado  filho de seu Januário falou para o experiente advogado  cearense,   e   ao mesmo tempo  o Humberto falou para o Luiz : “ Mestre , como a ASA BRANCA, existe uma música  folclórica de domínio  popular cantada  há mais de 300 anos e a sua melodia  continua na memória do povo nordestino ” . Foi uma verdadeira transmissão de pensamento .

Não deu outra,    ambos de cátedra e simultaneamente pensaram a mesma coisa, na Asa Branca  , nos seus costumes e nos seus ensinamentos, foi obra do Criador. 

Sedimentaram a saga da ASA BRANCA e ao  arcabouço da  folclórica música centenária   deram nova letra, novos acordes, novos sentimentos , família, coração, choro, vida e  alma  . Nascia ali o maior hino do Nordeste documentando a seca, o sofrimento e o êxodo do nordestino para o Sul para escapar da “fome feroz”, como dizia o mestre Patativa do Assaré, em  A Triste Partida , poesia de 1935, publicada na sua  obra Cante Lá que eu Canto Cá   em 1978, antes  imortalizada por Luiz Gonzaga em 1964.

Em 1947, Luiz Gonzaga  e Humberto Teixeira  bateram o martelo e ali nascia  a profíqua e abençoada    ASA BRANCA, transportando  e translocando o milagre nordestino para o mundo.  
 
Estes gênios colocaram  o homem do nordeste no miolo da discussão e na pauta nacional , introduzindo-o na história sociológica  do Brasil e tornando visível  a existência de grandes demandas , como  a seca, a fome , o sofrimento e o êxodo de um povo sofrido e castigado pelo esquecimento. O nordestino passou a fazer parte do Brasil depois desta denuncia sociológica, econômica  e geopolítica, o homem da caatinga deixou de ser invisível.  
 
 

PARTE II 
1950

A VOLTA DA ASA BRANCA

Do Pernambucano e Médico  ginecologista Zé Dantas
 
O tempo passou ,  os céus do nordeste ficaram carregados de nuvens  acinzentadas , raios e trovões acordaram os deuses do semi-árido do Cariri ao Seridó.  As chuvas chegaram, o capim nasceu, o cheiro de chão molhado saiu do solo junto à tenra babucha, os pássaros voltaram a cantar, os sapos e as rãs coaxaram e,   toda  paba a   Asa branca retorna ao seu lar numa salva de alegrias . Com  o bucho cheio de comida  e com muita água convoca todos os retirantes a retornarem  ao seu torrão. 
 
Com este cenário,  o  Médico Pernambucano Zé Dantas, radicado no Rio de Janeiro, vendo tudo verde,  belo ,  muita fartura na Serra do Araripe e no Cariri,  escrevinhou  A VOLTA DA ASA BRANCA, uma das mais belas, alegre e entusiástica página do cancioneiro popular do Brasil, por ser de autostima deveria ser o Hino do Nordeste, uma vez que não existem hinos   que ovacionem a tristeza, a fome e o desalento, o hino é para trazer coragem, força de vontade e um fio de esperança.    
 
Isto foi em 1950 , para 02 anos depois a Asa  Branca anunciar mais um período de seca, mais um período  para  esturricar o sertão.  Mais uma revoada em busca de escapar da fome feroz, mais um período de retirada, mais uma fase de aflição.  Sabe o sertanejo que um ano de seca destrói dez anos de chuva e de fartura.

Está nesta música uma das fases de alegria do Rei do Baião  Luiz Gonzaga e de todos os nordestinos. Fase interrompida de 02 em 02 ou de  03 em 03 anos com uma nova seca, sempre lembrada na triste   música ASA BRANCA de 1947.


     PARTE III

A RODOVIA  ASA BRANCA   

De João Silva

João Silva, pernambucano de Arcoverde,  o maior parceiro do velho Lula e que vivia ao seu lado, resolveu junto ao Rei documentar a chegada do progresso na terra de seu  Luiz, nesta época de  1984 a 1986 os Governos do Ceará e de Pernambuco resolveram pagar uma dívida ao maior símbolo  musical do Nordeste , para este intento decidiram asfaltar o trecho que vai  da Cidade do Crato no Ceará  ao Exu em Pernambuco, mais de 80 quilômetros, cortando a Chapada do Araripe, meu reduto, meu berço e o porto seguro do velho  rei do baião.  A esta estrada deram o nome de - RODOVIA ASA BRANCA  .

O João Silva compôs a música que foi imortalizada na voz mais nordestina dos nordestinos, na voz do filho de seu Januário e de dona Santana, LUIZ GONZAGA .


        PARTE IV
PROJETO ASA BRANCA  DE  JOSÉ MARCOLINO 
   NA VOZ DO REI LUIZ GONZAGA

 IRRIGAÇÃO ,
  ÁGUA PARA O NORDESTE

Em 1978 assumia o Governo biônico de Pernambuco o Dr. Marcos Maciel,  junto ao Luiz Gonzaga prometeu levar água ao povo sofrido e criou o Projeto Asa Branca, levando água para os serranos da abençoada chapada, hoje o Geopark do Araripe, celeiro fóssil do globo terrestre.

Para homenagear e documentar o fato,  o Luiz  junto ao paraibano de Monteiro,  Zé  Marcolino  lançaram em 1983 a música  PROJETO ASA BRANCA.

Como estão vendo,   é a arte uma das melhores maneiras de documentação desde os primórdios do mundo. Lembro que foram os cordelistas , os repentistas , os  escritores regionais, os almocreves  e a mídia boca a boca  que documentaram mais de mil anos de história. Vide o cangaço, o Padre Cícero, as grandes batalhas e os diversos fatos que hoje são resgatados com precisão.
 
                                         Posfácio

Luiz Gonzaga e os seus parceiro  foram os maiores documentadores dos fatos brasileiros, o país está retratado nas suas obras.  Mais de 1000 músicas gravadas , mais de 100 LPs próprios , participação em mais de 1000 de outros artistas.  Cada episódio, cada cidade, cada amigo, cada momento e cada povo está salpicado, ovacionado, registrado, imortalizado e reverberado na mais ouvida e suave voz do Brasil, LUIZ  GONZAGA DO NASCIMENTO, o imortal rei do baião, um gênio que nunca desafinou.
  

" Vai, boiadeiro, que a noite já vem

Guarda o teu gado e vai pra junto do teu bem"

Klecius Caldas / Armando Cavalcante

 
Luiz Gonzaga é gente da gente , é gente  nossa, é a alma do nordeste. Foi Luiz que deu voz ao nordestino:  Seu Zé passou a ser chamado de  Sr. José Clemetino, seu  mané de Sr. Manoel Salustiano  , dona Toinha de Sra Antonia Clementina e dona Maria  de Senhora Maria Nordestina do Araripe, baiano em São  Paulo  e paraíba no Rio de Janeiro ganharam identidade.
Os nordestinos ganharam nomes ,  sobrenomes e cidadania.

Três homens imortais,   um pássaro, uma chapada, a seca, a chuva, uma estrada e depois a irrigação. Estes fatos só poderiam acontecer no Nordeste Brasileiro e não poderiam ficar engasgados na goela deste simples mortal. Um desidratado retirante tal qual  a Asa Branca.  Nascido, batizado, criado e sapecado pelo sol esturricante  na abençoada Chapada do Araripe, divisa do Ceará  com Pernambuco.

Sou  fruto pequeno, sou quase nada da Chapada do Araripe,   mas,  nascer naquelas plagas já  foi uma dádiva do Criador, está  bom demais, se tivesse de nascer outra vez , guiaria  a cegonha para o mesmo pasto , para a mesma casa de adobe , cairia nas mamas de minha mãe e esperaria os estrondos dos bacamartes desparados por meu pai.

Sou nordestino e retirante com muita honra, no meu tempo e onde  nasci,  de cada quatro morriam dois, só ficavam os fortes.  Os que comiam pedra, pau, mandacaru, tanajura, girino,   sibito,  peba, calango, preá , berdoega, beiju de forno,  doce de gergelim , leite de cabra ;  frutos, folha e raiz de umbu. Os que comiam  poeira, cabo de foice , de enxada , de cavador, de facão  , sopa de pregos e de parafusos, os que  matavam a sede com água barrenta de barreiros e de telhados    tratada com pedra hume e  coada na boca do pote. Aqueles que tomavam  café torrado no caco , moído no   pilão e adoçado com rapadura,    mel de cana ou de abelha.   Só escapavam os fortes, os  resistentes, como dizia o Euclides da Cunha na enciclopédia do nordeste,  OS SERTÕES,  publicado em 1902  “O sertanejo é, antes de tudo, um forte".  Eternizado no cancioneiro brasileiro  pela Eescolas de samba  Em Cima da Hora  do Rio de Janeiro no carnaval de 1976.
 
"Marcado pela própria natureza
O Nordeste do meu Brasil
Oh! solitário sertão
De sofrimento e solidão"

Composição de Edeor de Paula interpretada na avenida por Nando e Baianinho.



Só escapavam aqueles que passavam 04 meses numa farinhada arrancando mandioca, cortando e carregando lenha no lombo dos jegues, brigando com as formigas, com as lagartas e com  as  cascavéis.  Vencendo os bichos de pé, pulgas, mutucas, espinhos e carrapatos, tendo direito a apenas um banho por semana, aos domingos,   com uma cuia de cabaça, nos outros dias apenas lavava os pés para não sujar a preciosa rede,  devido a escacez da água e do sabão, os raios solares desinfetavam os fungos e bactérias pertinetes ao ser humano.

Três dias sem água, trinta dias sem carne e três anos de sol.   O feijão com  farinha e toucinho de porco  o   prato preferido, um taco  de rapadura para adoçar a boca    , uma caneca d’água para tirar o gosto de açúcar da boca e o saboroso café ainda com alguns fragmentos de pó.
 
Isto  é o Nordeste, isto é  a Asa Branca e assim foi mais uma etapa  na vida do nordestino.  

Iderval Reginaldo Tenório
 

ESCUTEM AS QUATRO FASES

Asa Branca
Quando oiei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
 
 
Quando oiei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
 
 
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por falta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
 
 
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Entonce eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Entonce eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
 
 
Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão





Luiz Gonzaga - Asa Branca (Rei do Baião) - YouTube

www.youtube.com/watch?v=cWiJL0_yj9c
26 de out de 2009 - Vídeo enviado por Breno Alves
Asa-Branca é uma canção de choro regional (popularmente conhecido como baião) de autoria da dupla ...


Luiz Gonzaga - A volta da asa branca - YouTube


Letras
 
Já faz três noites
Que pro norte relampeia
A asa branca
Ouvindo o ronco do trovão
Já bateu asas
E voltou pro meu sertão
Ai, ai eu vou me embora
Vou cuidar da prantação
 
 
A seca fez eu desertar da minha terra
Mas felizmente Deus agora se alembrou
De mandar chuva
Pr'esse sertão sofredor
Sertão das muié séria
Dos homes trabaiador
 
 
Rios correndo
As cachoeira tão zoando
Terra moiada
Mato verde, que riqueza
E a asa branca
Tarde canta, que beleza
Ai, ai, o povo alegre
Mais alegre a natureza
 
 
Sentindo a chuva
Eu me arrescordo de Rosinha
A linda flor
Do meu sertão pernambucano
E se a safra
Não atrapaiá meus pranos
Que que há, o seu vigário
Vou casar no fim do ano.
 
 
Fonte: Musixmatch
Compositores: Luiz Gonzaga / Ze Dantas
www.youtube.com/watch?v=whKGCQiD7iY
17 de mai de 2009 - Vídeo enviado por didiloureiro
essa musica como as demais de Luiz Gonzaga são obras- primas dignas de figurarem em todos os ...

Rodovia Asa Branca

Luiz Gonzaga

COMPOSIÇÃO -JOÃO SILVA


Eu vi um dia
Dois homens fazer um trato
De ligar Exu ao Crato
Pernambuco ao Ceará
O homem de cá
Trabalhou chegou primeiro
E o de lá também ligeiro
Num dançou eu chego lá

Olha o homem aí
É gente da gente
Olha o homem aí
Alegre e contente

Olha os homen aí
É o povo que diz
Olha os homen aí
Juntos com Luiz

Roda, rodada
Rodando, roda rodeia
Rodovia, Asa Branca
Tá todinha prá você

Olha o homem aí..
..

Rodovia Asa Branca - YouTube

www.youtube.com/watch?v=4l6FdSyAzBY
17 de mar de 2012 - Vídeo enviado por Pedro Macedo
Música Rodovia Asa Branca com Luiz Gonzaga. ... Asa Branca no aniversário de 75 anos de Luiz ...

Projeto Asa Branca - YouTube


www.youtube.com/watch?v=NHkL54Gugjc
17 de mar de 2012 - Vídeo enviado por Pedro Macedo

 

Projeto Asa Branca

Luiz Gonzaga/ ZÉ MARCOLINO

Ainda não temos a cifra desta música.

Louvado seja Deus
Abençoada a canção
Louvado seja o homem
Que dá água pro sertão

Bendito foi o momento
De divina inspiração
Quando feita a conclusão
De um grande planejamento
Dia onze de dezembro
Do ano setenta e nove
Vem à tona e se promove
Uma idéia rica e franca
Marco Antonio Maciel
Criou o Projeto Asa Branca

Dia vinte e um de março
Data marcante, ano oitenta
Maciel num tempo escasso
Prevendo a seca cruenta
Na cidade de salgueiro
Promoveu o lançamento
Para o engrandecimento
Da terra em sua mensagem
Consagrou esse projeto
Pra salvação da estiagem

Parabéns sertão e agreste
Pela graça que hoje alcança
Com a cor da esperança
Toda a região se veste
Tantas obras preventivas
Por ele realizadas
Açude, barragem, estrada
Para comunicação
Prendendo as águas dos rios
Pela perenização

3 comentários:

  1. O que seria do sertão nordestino se o Rei Luiz Gonzaga não existisse?
    O que seria desse povo sofredor mais resistente pela sua bravura se o
    Rei Luiz Gonzaga não existisse?
    O que seria de mim se o Rei Luiz Gonzaga não existisse?
    Viva Luiz Gonzaga o Rei de todos os nordestinos.
    Obrigado Dr. Iderval Reginaldo Tenorio!!!

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  2. Sou da Bahia, desde 53, estou no Paraná, estou escrevendo a SAGAde meus antepassados, Avos, paternos e msternos, meus pais e a minha saga,peço autorização de transcrever esta saga na condicao de SOBREVIVENTE DO EXODO CLIMATICO NORDESTINO, eu um deles, sobrevivente .
    MANOEL MOREIRA ALVES
    43999488110 wats
    manealiment@gmail.com

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