domingo, 19 de junho de 2022

A MULHER AMAZONA DA CHAPADA DO ARARIPE- DONA DUZINHA

 Amazonas Maravilhosas – As outras guerreiras da cultura pop! – Formiga  Elétrica

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HISTÓRIAS  DA CHAPADA DO ARARIPE.
DONA DUZINHA 
 
CAPITULO I
I
          Dezembro de 1954, o país em frangalhos, o mais popular de todos os presidentes, o Getúlio Vargas,    cometera suicídio no mês de agosto, o Tancredo Neves renuciára ao ministério da Justiça e  passou a ser oposição ao   Café Filho, o vice que assumira a presidência.  
 
             A elite atropelava a nação com os seus caprichos e em todos os recantos grassavam as doenças, a fome, o crime organizado e o abandono dos pobres. A atenção estava virada para os desentendimentos políticos e a eleição de Juscelino Kubistchek dali a dez meses, outubro de 1955.

         Sofriam os Estados  mais pobres, notadamente do norte e nordeste, aqueles que não possuíam infra estruturas, os  mais distantes da capital , o Rio de Janeiro. A malária, a febre amarela, a dengue ,  mazelas virais e bacterianas    matavam nos rincões do  norte,  nordeste , Brasil central , nas zonas rurais de  São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas, Paraná e Rio de Janeiro mesmo sendo  Estados ricos.
II
          Zé Manoel,  um pequeno produtor rural, nascido nas alagoas,  morava no topo da Chapada do Araripe  divisa do Ceará com Pernambuco, hoje patrimônio Nacional.  Orientado pelo Padre Cícero   vivia da lavoura do feijão ,  fava ,  milho,  batata doce,   mandioca, da criação de  bovinos pé duro ,  porcos,  bodes, carneiros,  cavalos ,  jumentos,  galinhas d'angola , carijó e  perus. 

Era um trabalhador incansável, inteligente e muito diligente.  Num raio de vinte  quilômetros  era quem comandava,  e ao mesmo tempo o intermediário daquele povo com os centros urbanos; Crato, Bodocó e Exu  na venda da lavoura de subsistência.

          Pioneiro em quase tudo, do motor a gasolina para a produção da farinha , modernizando os aviamentos,  ao primeiro  caminhão.  O primeiro carro de passeio,  bicicletas e o primeiro   rádio daquele sertão.  Foi mestre na construção de estradas  ,  era quem abastecia a região de gasolina e querosene , foi  o responsável por introduzir os utensílios domésticos e tudo que se consumia na região. 
 
            Incentivou as famílias  a comprarem casas no Exu, Poço Verde, Bodocó, Ouricuri, Araripe, Crato Juazeiro do Norte, Caruaru e Petrolina com a finalidade de colocar os jovens na Escola, aqueles que não tinham condições recebiam   a sua ajuda,  muitos foram beneficiados.

           Era um incansável visionário e futurista, dizia que só a educação poderia salvar os mais pobres e assim se pronunciava para todos os habitantes da Chapada do Araripe com muita ênfase. 
 
“No  futuro a força muscular não terá mais valor, quem vai comandar  é o cérebro.  As maiores ferramentas  serão os lápis, as canetas, os  livros e os    cadernos.  Pegar peso, carregar sacos, tijolos, lenhas, areias, arar a terra , inclusive plantar e colher  serão tarefas para as máquinas . O cérebro será o senhor todo poderoso para a humanidade, quem quiser viver bem e melhor terá que estudar, o mundo está mudando”
Zé Manoel .
 
          Instituiu e aplicou a reforma agrária na região , antecipando os poderes públicos.  Doou terras aos mais próximos e aos seus melhores trabalhadores, nunca negou o fornecimento da maior dádiva da natureza, a  água potável  dos seus barreiros e reservas.  
 
         Zé Manoel  um baluarte alagoano  deste sofrido Brasil.  Só quem com ele conviveu sabe das suas ações, muitos foram os seus legados, o principal,  o gosto contumaz pela educação dos habitantes da serra do Araripe.

III
          Dezembro de 1954,  a malária grassava no Estado do Maranhão, o Zé Manoel recebera uma inusitada carta escrita três meses antes, datada do mês de outubro,  no conturbado início do governo  Café Filho, um dos desafetos do Getúlio Vargas. 

“ Compadre Zé, acuda nós, a doença aqui está matando os homens, morre gente como morre passarinho,  ajuda nós, se não nós vamos morrer de fome ou de malária, o governo não sabe o que fazer, não existe ricurso, não tem escola, agasalhos  e falta o pão, falta a dignidade , só existe fome e sofrimento” 
                                                                   
  Assina: Maria Duzinha.

        Maria Duzinha era casada com o irmão mais velho da esposa do Zé Manoel, o sr.  Ginaldo, homem probo, trabalhador e um dos mais respeitados da região. Nos idos dos anos 40, no pós seca de 1937,  deixou a sua região nas Alagoas, Palmeiras dos Índios, e foi escapar no Maranhão.  Levou seis filhos e lá nasceram mais cinco, com a morte do Getúlio e a crise no  país vinheram   as dificuldades, a  Maria  Duzinha pediu socorro ao cunhado que não arredara das orientações do Patriarca do Juazeiro do Norte , o Padre Cícero Romão Batista. 

          O Zé Manoel  não perdeu tempo , foi diligente.  Comprou mais um pedaço de serra , pura mata,  levantou casa , construiu  barreiro, chiqueiros, comprou   alguns porcos,  cabras de leite,  dois ou três jegues de carga, plantou roças de feijão, milho, favas , andu e mandiocas,  pegou o seu caminhão Chevrolet  e mandou buscar a família da comadre Duzinha,  doou a terra com as suas benfeitorias. Por mais de um ano , depois do regresso de toda a familia,  ficaram morando na casa do Zé Manoel .

          A Serra do Araripe  ganhou a sua amazonas, a sua casa passou a ser o ponto de encontro dominical para todos da familia  . Durante muitos anos  Dona Duzinha passou a ser a mais enérgica mulher da Chapada , num raio de quarenta  quilômetros foi a maior e mais importante  amansadeira de burros e cavalos bravos   . 
 
        Apesar de ser os seus filhos exímios amansadores , era a matriarca a preferida, principalmente  quando os animais eram encomendados  para transportarem mulheres, crianças e noivas nos dias de casamentos.  
 
        Diziam os contratantes que os animais que Dona Duzinha amansava eram mais obedientes, delicados, mansos, conheciam o aveludamento das vozes e os agudos estrogênicos das mulheres  . Os animais   respeitavam as mulheres , as crianças e as noivas.

         Dona Duzinha era dura e exigente , porém delicada, mansa, compreensiva e respeitada, era uma dama , era a mais temida mulher da redondeza.  Em pouco tempo assumira as rédeas da casa,  o seu esposo falecera logo  ao chegar do Maranhão  .
 
IV
          Zé Manoel ,  a sua esposa  e   Maria Duzinha fazem parte da vida de todos os serranos.  Bucho cheio , respeito coletivo e o incentivo à educação eram os alicerces para vencer as agruras da vida sem se esquecer  das enxadas,  enxadecos,  cavadores, foices, roçadeiras ,  facões ,  machados, pés de cabras na estica do arame , cangalhas ,  caçuás,  ancoretas  e dos cambitos na lida diária no transporte da mandioca, farinha,  água  e da lenha .

           A união  familiar do Zé Manoel e  de sua esposa   com a   Maria Duzinha, a amazonas da Serra do Araripe,   fez a diferença,  constituindo o maior laço familiar  de toda  a Chapada. A luta foi árdua , dura  e desgastante, porém profícua.
 
Valeu a pena e como valeu.

 
Iderval Reginaldo Tenório


MEU ARARIPE
-DE JOÃO SILVA COM LUIZ GONZAGA , 1968-

Luiz Gonzaga - Meu Araripe - YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=mVFAJWJFTi0
24 de fev de 2016 - Vídeo enviado por Geylsson Ylsson
Música do CD: Luiz Gonzaga – 50 Anos de Chão. ... Luiz Gonzaga - Meu Araripe. Geylsson Ylsson ...

Meu Araripe - YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=TrXCDamaYD4
18 de mar de 2012 - Vídeo enviado por apfrezende G
Música Me

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