quarta-feira, 30 de março de 2022

Faça a sua colonoscopia- O médico que não respeitou a genética

 Um conto que vale mais de um  bilhão de contos.

 O Dr Eduardo Lopes foi fundo na alma e conseguiu atingir o âmago de todos que se amam e que amam os seus .

Divulgue para todos os seres humanos deste país, notadamente para os que você mais gosta.

Iderval Reginaldo Tenório

jovem médico e casal de idosos atendem médicos, médicos e idosos 1830090  Vetor no Vecteezy

oAncião Aposentado Nas Férias Que Sentam-se Na Cadeira De Praia, Ilustração  Sênior Na Praia Ilustração Stock - Ilustração de lifestyle, senior:  116675497

O médico que não respeitou a genética


     Dr. Farad estava com a esposa andando pelo museu do Louvre em Paris quando encontrou, próximo ao quadro da Monalisa, o colega médico Álvaro Silva.

    - Farad! Farad! Amigo que coincidência!!  Encontramo-nos no avião e agora aqui! - Falou efusivamente o Dr. Álvaro, médico, e colega de turma do Dr. Farad. Dr. Álvaro era o típico boa praça, gozador e brincalhão que só andava rindo. Rindo e fazendo os outros rirem. Todos gostavam dele. Grande figura.

     - Fala amigo! E aí, quanta coisa linda aqui! Já observou que o olhar da Monalisa acompanha você para o lado que se deslocar?

     - Para mim ela até piscou o olho! Rsrsrsrs....
Não poderia deixar passar em branco sem uma piada, assim era Dr. Álvaro Silva. Em seguida emendou.....! - Sabe onde tem um banheiro aqui? – Baiano* não fala toilette, sanitário ou casa de banho. Chama tudo de “banheiro” quando está entre baianos. Quando quer falar diferente, na presença de pessoas de outras localizadas, chama de toilette ou sanitário.

   - Ali tem uma placa sinalizando à direita! Veja! – Apontou Dr. Farad!

   - Ótimo! Vou lá inaugurar o banheiro francês dando uma bela cagada! Rsrsrss.

Dizendo isto saiu quase correndo!

- Encontrarei vocês mais na frente.

- Esse Álvaro não tem jeito não. Rsrsrsss! – Pôs-se a rir o Dr. Farad.

O jovem casal, Farad e Rubia, ambos brasileiros e descendentes de árabes, estavam sentados em uma cafeteria dentro do museu quando chega o Dr. Álvaro.

     - Demorei porque a cagada virou caganeira. Acho que a comida do avião não me fez bem. Vocês não sentiram nada não? – Falou olhando para os dois.

     - Não! Estamos bem! Comida foi ótima. Escolhemos um cordeiro ao molho do vinho tinto acompanhado de um bom vinho argentino da bodega Catena Zapata.

     - Há! Então foi isto! Vieram de primeira classe? Rsrsrsrs...Lá a comida não estava estragada não!!

     - Não viajamos de primeira classe não! Foi econômica mesmo. Você deve ter dado azar. Por falar nisto, qual a sua idade? Já fez alguma colonoscopia?

* Nota do autor: Baiano é quem nasce no estado da Bahia-Brasil, e lá a maioria da população fala um idioma a parte: o baianês!

     - Amigo, já marquei duas vezes, e não fui fazer porque precisei ir atender emergências, mas assim que chegar vou receber logo esta mangueira no TOBÁ*!! Rsrsrsrrs!

     - Seu pai e sua mãe não faleceram de câncer de intestino? Já deveria ter feito pelo menos uns dois exames, não?! Olha a genética!!

    - Verdade, eu conheço essa tal de dona genética! Ela fez aquela gata da Angelina Jolie fazer mastectomia bilateral, e colocar próteses! Veja que absurdo, arrancaram as mamas daquele monumento, mas agora vamos tomar um café francês para ver se presta, e comer um croissant. Brioches não quero não porque o “coroné” Siro Gomi”** já comeu todos. Rsrsrsrs.

E assim ficaram ali dentro do museu do Louvre, os três, conversando e bebendo café. Dr. Álvaro era bom de papo, e uma companhia alegre e brincalhona. Não era para ser levado a sério não. Muito diferente do Dr. Farad, imigrante árabe, que levava tudo a sério. Os dois eram contrastes como o fogo e a água.


Seis meses se passaram após aquele encontro casual no museu do Louvre em Paris, e o Dr. Farad estava operando em um hospital dia. No intervalo, entre uma cirurgia e outra, entrou no conforto médico para beber um café enquanto aguardava colocarem o próximo paciente na sala de cirurgia, e ouviu os anestesistas falando:

- Você soube o que aconteceu com Álvaro Silva, o cirurgião?

- Não! O que houve?

- Foi submetido a uma laparotomia exploradora de urgência porque estava com uma obstrução intestinal.

- E....?!

- Abriram o abdômen e fecharam. Carcinomatose abdominal difusa com infiltração tumoral em todos os órgãos, e implante neoplásico até no diafragma. Fizeram uma colostomia antes do tumor apenas para desobstruir o intestino grosso.

- Puts! Que merda! O homem é gente muito boa!!

Dr. Farad entrou na conversa.

- Que absurdo meu DEUS! Encontramo-nos há seis meses em Paris quando fomos para o congresso europeu de cirurgia. Ele apresentou uma cólica abdominal, e precisou ir correndo ao banheiro. Comentamos sobre a morte dos seus país por câncer do intestino. Com toda esta genética desfavorável não havia sido submetido a nenhuma colonoscopia até aquela data. Está internado em qual hospital?

** Nota do autor: Ciro gomes é um político do estado do Ceará-Brasil, que já foi candidato a presidente umas 04 vezes, por partidos diferentes, e que não passa do primeiro turno da eleição presidencial. Assim que perde ele corre para ir comer brioches em Paris. Diz que cura a depressão dele.

 
- No hospital São Luís.

- Vou fazer uma visita. Fomos colegas de turma na faculdade.

 Dr. Farad estacionou o carro no terceiro subsolo do hospital São Luís, mas não desligou o motor. Ficou a pensar: - O que vou falar com meu amigo e colega? Uma altura desta já deve saber de tudo, inclusive o prognóstico ruim. Falo ou não no assunto? Como ele reagirá? Depressivo?
Passou bem uns 20 minutos pensando em tudo, nas brincadeiras da faculdade, esportes e gostos comuns ou não. Lembrou até que conheceu Álvaro nas aulas de anatomia, e naquela oportunidade os dois chegaram a paquerar uma mesma colega que acabou sendo esposa dele. Enfim...., desceu do carro e se dirigiu para o elevador. Entrou e apertou o botão do quinto andar. Procurou o posto de enfermagem, identificou-se e pediu o prontuário para ler tudo antes de entrar no quarto. Leu e releu a descrição cirúrgica. Não havia dúvidas. Nada mais poderia ser realizado a não ser medidas paliativas. Triste, o médico tinha apenas 49 anos.  Caminhou até o quarto, bateu na porta, abriu e entrou.

- Abdala, meu amigo!! Que prazer em revê-lo! Como vão as coisas? Quando vamos para Paris de novo? Rsrsrsrs!  - Abdala sorriu e pensou: “Que astral!!”

- Bem, graças a Deus. Passei para ver uns pacientes meus aqui no hospital, e soube que estava internado. Aproveitei para visitá-lo e dar um abraço!

- Obrigado, meu querido! Estou ótimo! Logo sairei de alta. Tenho muitas coisas para fazer, muitos pacientes para cuidar, e você sabe que eles sentem falta de mim. E você? Soube que vai ser pai de novo?

- Verdade. Está nascendo minha segunda filha!

- kkkkkkkk...Vai ser fornecedor de novo! Kkkkkkkkk

- Só sei fazer mulher! Cada um faz o que mais gosta! Rsrsrs. -Entrou na brincadeira já que Álvaro só tinha filhos homens, e Abdala estava para ser pai de uma segunda menina.

E assim rolou a conversa durante umas duas horas. Relembraram os bons momentos dos seis anos de faculdade, desde o vestibular, as primeiras aulas, os namoros, quem namorou com quem, as festas, as notas, os colegas que sumiram, e nunca mais ouviram qualquer notícia etc. e etc. Riram muito! Nada foi comentado ou falado sobre a questão do câncer intestinal metastático do Dr. Álvaro.

Dr. Abdala desceu os cinco andares do hospital até chegar no térreo, parou o olhou para o céu. Estava fazendo um sol forte de um dia de verão. Os olhos marejados de lágrimas. Viu diante de si a morte não de um paciente seu, mas de um colega médico e amigo próximo, jovem ainda, e sentiu remorso por não ter convivido mais um pouco com ele. Havia uma competição silenciosa entre os dois que praticavam a mesma especialidade. Quanta besteira diante da brevidade da vida. Diante do instante que é a existência humana. Um era filho de pais médicos, e de um nível social e econômico melhor. Outro era descendente de imigrantes árabes pobres que passou até fome na adolescência quando aos 14 anos já trabalhava para sobreviver. No fundo Abdala alimentava uma certa má vontade para com  pessoas cujos pais eram ricos, nutria um certo desprezo, uma indiferença por aqueles que conseguiram tudo de maneira mais fácil, com a ajuda e proteção dos pais. Nunca superou as dificuldades que enfrentou, e viu sua vida mudar para melhor no dia em que passou no vestibular para medicina. Até as mulheres passaram a enxergá-lo afinal médico era um bom partido para namorar e casar. A profissão era bem-vista por todos. Álvaro herdou até a clínica do pai. Que culpa ele tinha de ter nascido em uma família abastada economicamente? Enfim, Abdala precisaria de anos de terapia, e talvez nunca conseguisse superar seu passado.
Vida que segue......!

Álvaro chamou a esposa, disse o que queria que fosse feito quando morresse. Ela preparou tudo como foi orientada, apesar de se negar a falar na morte do marido. Rezava, orava, e fazia milhões de promessas pela recuperação dele. Acreditava ainda em um milagre, afinal tinham dois filhos pequenos para criar. Era muito católica! No entanto, tomou todas as medidas que o marido pediu. Vendeu isto e aquilo! Álvaro desapegou de tudo nos seus últimos meses de vida, mas não demonstrou tristeza para ninguém. Pelo contrário, trabalhou até quando as dores já tomavam conta do seu corpo magro consumido pelo câncer. Não comentava com ninguém sobre sua doença terminal. Morreu fazendo piadas e sorrindo. Se chorou, o fez em silêncio e sozinho. Deixou saudades, e fez muita falta para os que o conheceram, e que com ele conviveram como Farad. Deixou ensinamentos como pessoa humana, bondosa e alegre. Quando conversava com seus pacientes sobre a finitude do corpo físico, e era perguntado o que ele achava que acontecia após a morte do corpo, reconheceu o descuido com sua a saúde, dizendo:

- Amigo, a única certeza que tenho é a de que os que realmente gostam da gente sentirão a nossa ausência física quando partirmos. Só não esqueça de uma coisa: respeite a genética que você herdou.

 


FIM

Autor:
Eduardo José Andrade Lopes -

 Médico
25/03/2022 

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YouTube · Georgii Cherkin · 16 de mar. de 2008



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