quarta-feira, 27 de novembro de 2024

A História da Música A TRISTE PARTIDA/Patativa do Assaré e Luiz Gonzaga

 


Sempre aos domingos: A Triste partida – Patativa do Assaré – Luiz Gonzaga |  AGROemDIA

A TRISTE PARTIDA
Do poeta Patativa do Assaré, o Cearense do Século
e do Imortal Luiz Lua Gonzaga , O Pernambucano do Século

LUIZ GONZAGA O MAIOR ARTISTA BRASILEIRO DE TODOS OS TEMPOS. 

A  História
 da Música 
A TRISTE PARTIDA
Patativa do Assaré e Luiz Gonzaga

Brasil 1964  Ditadura Militar.
 
O  Brasil passava por um  entrave político, saia da Presidência da República  o Juscelino Kubitschek,  entrava   o Jânio Quadros no dia 31 de janeiro 1961, renunciando   no dia 25 de agosto de 1961, governou por sete meses.
 
Em agosto de 1961, assumia interinamente, o Presidente da Câmara,  o Dep. Federal por São Paulo,  Ranieri Mazzilli por 14 dias, uma vez que o vice, João Belchior Marques Goulart(JANGO)  encontrava-se na China a convite do governo chinês, ao chegar assumiu no dia 08 de setembro 1961 e governou até  01 de abril de 1964, quando foi deposto pelo golpe militar, articulado pelo alto comando.   Voltou à presidência,  mais uma vez,   o Deputado Federal Ranieri Mazzilli, do dia 02 de abril de 1964  até o dia 15 de abril, por 13 dias,  quando em definitivo  o General  cearense   Humberto de Alencar  Castelo Branco sentou na cadeira até 15 de  março de 1967.  O país  fervia com os comandos das forças armadas  e o início de uma ditadura militar.

No sertão do Ceará, terra de grandes poetas, ouvia-se uma música muito penosa, porém realista,   cantada por duplas de violeiros, cantadores e repentistas nas feiras livres  das cidades  cearenses. Uma verdadeira ladainha de sofrimento,  arrastada e em  cantilena.  Documentava o desrespeito com o povo, a fome, o êxodo rural e a procura do pão  nas terras do Sul, principalmente São Paulo e Paraná. 

Era eu menino nas terras do Padre Cicero,  quando muitos parentes, romeiros  e trabalhadores, da minha Serra do Araripe e do Cariri,  iam  para o Sul do país nas carrocerias de caminhões Pau de Arara.  O intento era escapar da seca. Famílias inteiras, tais quais  as asas brancas, partiam em busca de dias melhores.

O  poeta Patativa do Assaré, um agricultor auto didata, num dia de muito trabalho e suor,  debaixo do sol causticante da Serra de Santana, no municipio de Assaré ,  documentou na sua mente o que realmente acontecia à  época e   inteligentemente  batizou  de  A TRISTE PARTIDA. 
 
A músca   com os seus meu Deus, meu Deus, os seus  AI, AI,  os meses do ano, setembro, outubro, novembro e dezembro..., o sol, o vento,  a peste, a fome, o natá, seu berço, seu lá, os gemidos, as águas dos óios,  a cigarra,  o carro de boi, o caminhão, o patrão, a boneca, a roseira,  a menina, a seca, o mês de março, as pedras de sá, a barra, o escravo, o sul, as caras estranhas, o norte, a ausência de cidadania, o desprezo, a lama, o paú,  o choro, o milagre, a saudade, o cachorro, meu gato, meu mimi, meu pé de fulô,  a poeira, o meu Ceará, São José, o burro, o cavalo, o galo, a poeira, a saudade, a morte,  Sum Palo, o feliz fazendeiro, a vida e o êxodo rural invadia os sert~çoes nordestino num pedido de socorro.  O poeta  mostrou  o BRASIL esquecido, o BRASIL invisível, o Brasil dos abandonados. 

O Rei do Baião, Luiz Gonzaga,  já meio triste com a sua carreira em 1964,  numa de suas viagens pelo Sertão ouviu, gostou e perguntou quem era o autor.  Os violeiros disseram : 
 
"É de um agricultor de Assaré, um rapaz muito simples que vive da lavoura, o Antonio Gonçalves, o Patativa do Assaré."
 
 O Rei Luiz, já famoso,  tomou o endereço e foi até Assaré. Uma pequena cidade na micro região Sul do Ceará, chegando lá se identificou e o poeta   Patativa emocionou-se e disse quase em lágrimas: 


"Luiz Gonzaga,  o Rei do Baião,  na minha casa? O que se assucede?"

Luiz Disse :
 
"Sim senhor, o Rei do Baião, Luiz Gonzaga na sua casa."

Patativa quase em soluço falou:
 
"E o que quer o senhor, este monstro importante,  na minha casa?"

Luiz disse:
 
"Venho pedir permissão para gravar a música, A Triste Partida,   no meu próximo disco e também botar o meu nome como um dos  autores."

O Patativa deu um pulo da moléstia e falou:
 
"Como é  mesmo seu Luiz? gravar e dizer que a poesia é sua?  qualquê, qualquê seu Luiz, qualquer coisa, isso  jamais, a poesia seu Luiz  é como  um filho, só possui um pai e o pai sou eu,  não vai gravar."

Seu Luiz rebate:
 
"Homem,  esta música eu tenho que gravar,  é a música mais bonita que já vi na minha  vida e eu tenho que gravar, conta a vida dos nossos irmãos nordestinos, conta a minha e a sua história, é um documentário."

Patativa do Assaré completa
 
"Só grava se for assim e se colocar o meu nome. Tem mais seu Luiz, eu não quero nenhum tostão do senhor, sei que vai fazer sucesso."

Este foi o histórico diálogo.

Depois de muitos acertos, gargalhadas e   selado as pazes, o Luiz disse ao  Patativa que a música era muito bonita, porém não poderia gravar seca e sacudida, ao pé da letra, era muita ofensa ao sul,  tinha que modificar algumas coisas, foi quando o Patativa se irritou ainda mais, fechou a cara e ficou turrão.
 
 O Luiz tomou uma cachaça e um café com o poeta,  sentou-se no pátio, fez uma pequena modificação e assim se justificou ao mestre Patativa diplomaticamente. O rei não era rei à toa, o Luiz Gonzaga era um visionário, nasceu para ser o que foi e continuará sendo   a maior expresssão da música brasileira. LUIZ GONZAGA,  O IMORTAL. 
 
Assim o Rei se pronunciou ao gigante  e também imortal Patativa do Assaré, o Antonio Gonçalves da Silva  ( Nascido em Assaré, 5 de março de 1909 — Falecido em  Assaré, 8 de julho de 2002)
 
Assim falou o Luiz Gonzaga

"Patativa me diga uma coisa, quando o mestre  fala na estrofe 10,  no último verso  rimado, só se aplica ao seu Ceará ou se aplica a todos os nordestinos que vão escapar em São Paulo? 
 
Aquele nortista
Partido de pena
De longe acena
Adeus meu  CEARÁ
 Se aplica ao Pernambucano, ao Baiano, ao Paraibano, ao Potiguar, ao homem do Piauí, do Maranhão e de outros recantos secos do Brasil? ou é só para o Ceará? Só para o sofredor cearense?"

O Patativa reforça que pode ser para qualquer  nordestino que deixa a sua terra, pode ser usado para todos os  que saem de sua terra natal e vão escapar no Sul.  

Então Luiz , com a sua educação e sabedoria diz ao poeta:
 
"Então Poeta, em vez de gravar como o mestre criou, eu vou fazer a seguinte modificação, veja se o mestre concorda.

O rei modificou o último verso da décima estrofe que dizia:
............................
Aquele nortista
Partido de pena
De longe acena
Adeus meu  CEARÁ
e modificou para

.............................. 
Aquele nortista
Partido de pena
De longe acena
ADEUS MEU lugar.

Antes do Patativa fumar o segundo cigarro de palha  o Luiz disse:
 
"Tem mais poeta, nos últimos versos da   última estrofe, o poeta diz que o nortista vai ser escravo e vai sofrer no sul.  O poeta não acha que ele sofre mais aqui do que  lá? pelo menos lá   ele come,  trabalha e terá um fio de esperança, enquanto aqui ele sofre, não come e morrerá no abandono. Então ele sofre cá e sofre lá,  mais cá do que lá, então eu queria fazer esta simples modificação  ".   
 
Assim o poeta Patativa escreveu no original:


"  Faz pena o nortista
Tão forte e  tão bravo
Viver como escravo
Nas Terras do Sul."
 
"Eu queria fazer esta pequena modificação, porque se não fizer, eu , você e o retirante, nós todos juntos   estaremos fazendo uma injustiça com o Sul e sendo muito ingrato. Poeta Patativa , a  gratidão é uma das virtudes do homem, principalmente  com os  Estados de São Paulo e do Paraná  que nos acolhem muito bem, acredito que não receberão bem a música e será um fiasco."


O Luiz, o Rei do Baião, apresentou a seguinte modificação. Modificou de "Nas Terras do Sul"   para "no norte e no sul"
 
 
Faz pena o nortista
Tão forte E  tão bravo
Viver como escravo
No norte e no sul

No fim do encontro, choro e abraços,  o Patativa disse ao Rei:
 
"Seu Luiz, pode colocar o seu nome, estas modificações deram vida e alma ao poema e à música, era isso que eu queria falar, uma música de paz e de socorro."
 
 Assim foi selado uma parceria de respeito- A Triste Partida de Patativa do Assaré e Luiz Gonzaga.

A Triste Partida foi imortalizada pelo Rei e muitos outros ícones. 
 
Considerada pelo próprio Luiz Gonzaga do Nascimento  a sua mais importante música sem se esquecer da ASA BRANCA.

Durante muitos anos chovia de direitos autorais alguns trocados na conta do Antonio Gonçalves, o  mestre Patativa do Assaré, que pessoalmente me disse , que  foi o Raimundo Fagner quem mais lhe enviou recursos para a sua subsistência financeira sem  se esquecer  que o Rei Luiz também mandava.


            E assim falou o PATATIVA
 
"o Fagner é um grande homem"
Patativa do Assaré.


Iderval Reginaldo Tenório

Livros do Patativa da Editorta Vozes- 
1- Cante Lá que eu canto cá. 
2-Espinho e Fulô
e outros 
PESQUISEM - PATATIVA DO ASSARÉ.
 

A TRISTE PARTIDA - PATATIVA DO ASSARÉ

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Um retrato da alma nordestina. Música de Luiz Gonzaga e Poema de Patativa do Assaré.
YouTube · senhorincrivel · 25 de jun. de 2009
 

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