sexta-feira, 6 de setembro de 2024

"Maioria Oprimida" Um fenômeno cultural para a realidade

Curta-metragem francês "Maioria Oprimida" evidencia o ...

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Curta-metragem francês "Maioria Oprimida" evidencia o machismo na sociedade invertendo os papéis. O curta-metragem “Majorité opprimée” (Maioria ...
Facebook · Diretoria de Cultura · 17 de jul. de 2019


 

       

UNIVERSIDADE  FEDERAL  DA  BAHIA 

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS 


                                                       "Maioria Oprimida"

                                            Um filme de grande valor e conteúdo.

No curta metragem   "Maioria Oprimida" depara-se com uma completa inversão da realidade  e do domínio masculino sobre as femininas por muitos séculos.

Baseado nos movimentos  femininos  dos anos 60 até 80, iniciados silenciosamente  no  século XVII camuflados pelos homens, nos quais as mulheres  exigiam os seus direitos como seres humanos, usurpados  desde o início do último milênio, onde o sexo biológico, o patriarcado e  a exclusividade ao patrimônio  ditavam a soberania do masculino sobre o feminino, dando todos os poderes aos homens e às mulheres a subserviência e a subordinação.

Segundo as grandes pesquisadoras, muitas apagadas e desconstruídas  por mais de 300 anos, onde os seus trabalhos de luta  foram esquecidos, queimados ou jogados fora  pelas sociedades  machistas. Estes atos congelados por ano, fizeram com que as próprias mulheres não pensassem, não reagissem e aceitassem como normal, e fossem da natureza da mulheres serem cordeiras, subservientes, dominadas e sem perspectivas de cidadania. As mulheres  nasceram apenas para parir, de acordo com a vontade do homem, criar os filhos, cuidar  do esposo e da casa. Estas condições perduraram até o século XX, sofreram fissuras a partir de 1940 e entraram em efervescência  nas décadas de 60, 70 e 80 com o movimentos  reivindicatório, como o  feminino radical, a segunda onda, com a revolucionaria Simone de Beauvoir e os embates sociais nos EUA com Rosa Parks, Martin Luter King e Angela Davis.

Ficou claro neste curta, que o meio social e a cultura moldam e forjam as atitudes,os jeitos, os  comportamentos, os relacionamentos  e os caminhos que devem trilhar cada gênero, o filme  aventa uma total  inversão de funções. Trabalhos de cuidar dos filhos, babás e  creches  são tarefas masculinas, enquanto  decisões  em reunião de condomínio, de  provedor,  delegacias e o poder sobre o corpo e do sexo  são tarefas femininas.  O curta  frisou muito bem quem são  os cuidadores e o transportadores das crianças na sociedade, o papel  da justiça, de assediador, de negação e ameaçador   da delegada. Documentou  o esporte nas ruas , uma  amostragem dos desajustados sociais, uma moradora de rua  com  linguagem  pífia e ameaçadora, um  grupo de jovens  femininas que brutalmente violentaram  um indefeso homem. Este   ao solicitar socorro,  foi  reprendido pela justiça, pela própria esposa, o culpando pelo episódio, com a alegação da vestimenta : roupas com pernas  e ombros à mostra, nádegas proeminente e  balançante no selim da bicicleta. Como ser respeitado com estes trajes chamativos e provocantes?.  Foi a implantado na sociedade  mostrada,  um patriarcado invertido,  o domínio feminino, quando a própria esposa  tirou a razão devido o corpo expostos , sendo presa fácil para as garanhonas  possuidora do poder sobre os homens.

A sociedade aduz e confirma  que  mulher não nasce mulher, ela é forjada pelo meio e pela cultura. Mesmo sendo o homem possuidor de um pênis, de testículos e impregnado  pela testosterona , pode muito bem não ser  um dominador como na sociedade atual. Nesta sociedade "Maioria Oprimida" como no patriarcado  masculino, só em ser feminino neste patriarcado, já é condição mais  do que suficiente para os postos de comando. O assédio, o estupro e a violência sofrida pelo homem  no curta, confirmam que cabe aos oprimidos maneiras de não se expor.

Nas conclusões   da Heleieth  Saffioti, quando aduz que o Gênero, Classe social e raça estão imbricados no domínio dos homens sobre as mulheres, o que ela chama de " nó"  fortificado pelo patriarcado.  

As relações de gênero, raça/etnia e classe  nas suas conexões,  formam um nó e que juntos constituem o alicerce do domínio do homem sobre a mulher. Nó difícil de ser desfeito, apesar de ser frouxo exatamente para proporcionar a flexibilidade da situação.  Estas três propriedade se entrelaçam, se imbricam e se  fortalecem,  e segundo a Heleieth Saffioti   ainda reforçado pelo  sistema Patriarcal.

O sistema Patriarcal interfere diretamente nas relações sociais da sociedade, uma vez que domina o setor econômico e o gênero por dupla propriedade. Exploração de classe e dominação de gênero induzido  por centenas de anos, principalmente aqui no Brasil. Os   meninos eram forjados para serem homens no falar, andar, nas brincadeiras, na atitudes e para serem chefes no futuro, enqunto as mulheres para serem donas de casa, cuidar dos filhos e servirem ao homem da casa. Este era um sistema de dominação, de subserviência e de anulação total como cidadã. Exemplos fidedignos sãos os coronéis do gado,  do café e da Cana-de-açúcar.

"Heleieth Saffioti é uma das teóricas do campo do feminismo que vai na contramão dessa tendência, pois ao mesmo tempo que absorve o conceito de gênero insiste na utilidade do patriarcado para análise das relações entre homens e mulheres.

O patriarcado deve ser situado historicamente e pensado como uma forma específica de relações de gênero dentro de um sistema.

Segundo a autora: Na base do julgamento do conceito como histórico reside a negação da historicidade  do fato social. Isto equivale a afirmar que por trás desta crítica esconde-se a presunção de que todas as sociedades do passado mais próximo e do momento atual comportaram/comportam a subordinação das mulheres aos homens (SAFFIOTI, 2015,
p. 111).

 Para Saffioti (2015) o conceito de gênero não explicita, necessariamente, desigualdade entre homens e mulheres; assim como o patriarcado da forma como foi cunhado não pressupõe uma relação de exploração. Para a autora estas duas dimensões constituem faces de um mesmo processo de dominação-exploração ou exploração-dominação. Isso porque para Saffioti a dimensão econômica do patriarcado não repousa apenas na desigualdade salarial, ocupacional e na marginalização dos importantes papéis econômicos e políticos, mas inclui o controle da sexualidade e a capacidade reprodutiva das mulheres. Por isso, o abandono do uso do patriarcado é inconcebível e Saffioti
argumenta da seguinte forma:


Por que se manter o nome patriarcado? Sistematizando e sintetizando o acima exposto, porque:

 1) não se trata de uma relação privada, mas civil; 

2) dá direitos sexuais aos homens sobre as mulheres, praticamente sem restrição.

 3) configura um tipo hierárquico de relação, que invade todos os espaços da sociedade; 

4) tem uma base material;

 5) corporifica-se;

 6) representa uma estrutura de poder baseada tanto na ideologia quanto na violência (SAFFIOTI, 2015, p. 60)"

No curso o que me deixou tranquilo, a excelência das aulas e capacidade do docente, o acesso  a muitos artigos , livros e  textos lidos nos quais conformam a real evolução da humanidade. Fato primordial o foi debater a célebre frase mulher não nasce mulher, ela é forjada mulher pelo meio, cultura e sociedade,  assertiva: “ Muçher não se nasce mulher, torna-se mulher” vem acompanhada da explicação de que “nenhum destino biológico, psíquico ou econômico define a forma que a mulher ou a fêmea humana assume no seio da sociedade” (BEAUVOIR, DS II, 1980 ,  mostrado  e explicitado pela pesquisa de campo de Margaret  Mied, desconstruindo  a definição biológica tradicional.  Outro fator de suma foi entender o patriarcado e o direito a propriedade pelo  homem como condição sine qua non para a mulher ser dominada pelo homem. 

Os embates das femininas  em busca de diminuir as diferenças entre homens e mulheres, o reconhecimento da raça negra como tão humana e inteligente como a raça branca , o direito ao sufrágio das mulheres e dos negros, as conquistas  sobre os seus corpos e o sexo,  o direito ao divórcio e ao aborto, como também a abdicação da maternidades, em resumo:  a mulher aos poucos vai deixando de ser  "o outro" e passa a ser uma cidadã plena gozando de todos os direitos atribuídos a um ser humano .  

O mundo de hoje deve às mulheres guerreiras que lutaram para as conquistas. Margaret Mear ,Judith Butler, Heleieth Saffioti, Mary Willstonecrafet,  Harriet Taylor, madame  de Srael,  bell hook, Simone de Beauvoir, Sheila Rowbothan, Rosa de Luxeburgo, Alexadra Kollantai, Kate Millet, Shullamith Firetone, Betty Friedan,  Charlotte Gilman, Enna Goldman, Margaret Sanger ,Rosa Parks, Monique Wittig, Kathleen Neal  e Angela Davis, estas mulheres e outras de igual importância dedicaram partes de suas vidas para a liberdade da mulheres, dos negros e dos oprimidos. Muitas lutas foram caladas pelos dominantes, como se as mulheres estivessem cruzados os braços e aceitassem angelicalmente as  suas condições por séculos, ledo engano, as mulheres sempre lutaram. Todas merecem  homenagens  e reconhecimento da população atual em todo o mundo. 

A metodologia participativa e interativa das aulas tem se mostrado eficiente. A  única critica que acho construtiva são com as avaliações, uma vez que o assunto é instigante, emocionante,   novo nas universidades brasileiras   e de suma importância para a formação do cidadão em todas as áreas de atuação. 

O viável para as avaliações, seria seminários  previamente agendados, discursivos e interativos  entre os alunos, com  equipes de 5 a  10  sob a supervisão do professor titular  e ou por docentes convidados.  Isto obrigaria o estudo, a escrita de artigos autoral e o debate sob os mais importantes assuntos discorridos em sala de aula.

Salvador, 02 de Setembro de 2024

Iderval Reginaldo Tenório

 

 

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