Historiam os mais velhos da família, os amigos e alguns
dos seus comandados, que num belo
domingo ensolarado, na Fazenda Alvorada, nos sertões das Alagoas, lá pelos idos de 1930, adentrou no casarão de sua sede, o bando do famigerado e facínora Capitão Virgulino Ferreira
Lampião.
Naquela época, o capitão era considerado o terror do nordeste, o destruidor
das famílias e dos homens de bem e de bens, e que para se manter popular, protegido e invisível, deixava para os abandonados e sem camisas, uma pequena parte
dos seus roubos.
Propriedade esta, praticada há centenas de anos pelos conquistadores e
políticos desonestos da humanidade, vide o seu maior exemplo e espelho,
o inglês Robin Hood. Com esta estratégia, raro era o sertanejo que o denunciasse ou passasse informações sobre os seus escondirijos. Foi assim
que construiu o seu condado, a sua governança e o seu império.
Contam os mais velhos, que Lampião chegou
à sede da fazenda, bem na hora do almoço, o calor era infernal e
o sol batia verticalmente sobre
a cabeça dos sitiantes, escaldava e queimava a mais de quarenta e dois graus. Encontrava-se
com sede e muita fome, a munição de bucho estava no fim. Cortara os
sertões toda a madrugada por cima de pedras, tocos, mandacarús, rabos de
rapousa e xique-xiques.
O
capitão adentrou com seis capangas, dentre eles, o perverso ferrador de
mulheres, Zé Baiano. Este, deixava a ferro quente, a sua marca ZB no
rosto das vítimas. Maria Bonita, a Santinha, por segurança, ficou
no oitão da casa protegida por dezoito homens armados até os dentes,
além do seu maquiador, carregador de sacolas e cuidador dos animais,
o Volta Seca, à época com 13 anos de idade e que depois dos 15 anos,
transformou-se num dos mais miseráveis cangaceiros, estava acompanhada
também do novato Zé Sereno, com 14 anos de idade, e que dizia que a sua caneta era um punhal e o papel o bucho de suas vítimas.
Zé
Sereno era um menino negro, magro, zoiúdo, serelepe e analfabeto, era
primo carnal do sanguinário Zé Baiano, um cangaceiro de olhos vermelhos e
rosto petrificado. Toda a sua família fazia parte do cangaço, pai, tios, tias, primos, sobrinhos, cunhados e irmãos. Para matar, não fazia nem careta, bastava ser ordenado, tomava ódio da vítma logo que fosse designado ao crime.
O capitão, o governador do sertão, foi recebido pelo velho Tenório com muito respeito e
entusiasmo.
II-
A RECEPÇÃO
O Velho Tenório, que saboreava um apetitoso e apimentado ensopado de
carneiro, levantou-se e com voz firme e encorpada, falou dirigindo-se
ao nobre visitante:
"seja bem vindo a esta
morada Capitão Virgulino Ferreira Lampião, há muito que espero e aguardo por
sua aconchegante visita. Aproxime-se, aprochegue-se, junte-se a nós e traga
os seus cabras. Aqui tem comida para todos e da boa, depois tiraremos uns bons
dedos de prosa."
Lampião ficou em silêncio e perplexo com a inusitada e corajosa recepção. Um dos seus homens, mansamente preparou
o fuzil mauser 1908, avançou o polido pente amarelo cheio de cápsulas e encaixou a primeira para disparo. Apoiou a coronha
no músculo peitoral direito, colocou o grosso e
calejado dedo indicador no gatilho e
mirou a fuça do velho Tenório.
O Capitão Lampião na bucha
falou:
"abaixe a arma cabra safado, abaixe o fuzí e vorte os
cartuchos, fique carmo, deixe de liotria, escuite o home."
O coronel Tenório emendou:
"onde anda a guerreira Maria
Bonita capitão, eu e a minha mulher, Waldirene, ficaríamos muito gratos em conhecê-la e termos
a mesma na nossa mesa, seria um orgulho para todos nós"
O capitão Lampião olha para trás e
fala em voz arrastada:
"pode entrar Santinha, o
Coroné Tenório e a sua patroa quer lhe conhecer, pode entrar, o coroné é de paiz."
Quando Maria Bonita entrou, o
coronel levantou-se da cadeira, deu alguns passos para frente e com entusiasmo falou:
"Capitão Virgulino Ferreira Lampião, a mulher é muito
mais bonita e formosa do que eu pensava e imaginava, o senhor está de parabéns
em viver com uma senhora tão bonita, forte, firme, educada, inteligente, valente, corajosa muito afeiçoada. O capitão é na verdade um cabra muito macho, é um homem
altivo e vencedor.
Os cabras de Lampião não agüentaram
as cortantes palavras e todos armaram os seus fuzis 1908 e miraram o coração do
dono da casa.
Lampião não suportou a ofensa dos seus cangaceiros para com o corajoso anfitrião, falou com o
dedo em riste, olhos arregalados, cara de boi bravo e voz em trovão:
"abaixem as armas seus cabras mal agradecidos, aprendam a respeitar um
homem que é homem, um homem de valor. Um homem deste tipo, altivo, valente, decidido,
macho e corajoso não merece morrer e nem ser importunado. Temos é que elogiar
as suas ações, se mirar na sua coragem, força e ensinamentos, são
homens deste tipo que o Brasil precisa, abaixem os fuzis cabras safados e respeitem o coroné".
O silêncio foi sepulcral.
Lampião
e o seu bando
almoçaram, confabularam até o anoitecer, jantaram os miúdos do
carneiro, em forma de buchada, encheram os seus alforjes de
mantimentos,
oferecidos pelo coronel e arriaram os animais. Maria Bonita, a Santinha,
ganhou da esposa do coronel, dona Waldirene, alguns frascos de Perfumes
e sabonetes Phebo, os melhores da época, como também uma caixa
aveludada portando um grosso cordão de ouro, 18 kilates, e uma medalha,
também de ouro, cunhada com a imagem do Padim Ciço de Juazeiro do Norte
e abençoda pelo próprio santo padre.
Perfilados e após o aval dos dois rastejadores do bando, cantaram a música: "ACORDA MARIA BONITA", de autoria do capitão ou do Volta Seca, sumiram e se encataram na caatinga sertão adentro.
Dizia Lampião que a noite é mais fresca, mais segura e as fazendas ficam desertas. Enquanto o povo dorme o seu bando trabalha.
Nunca mais se soube de qualquer invasão do Capitão Lampião naquelas
paragens.
O velho Tenório, além de forte
e corajoso, foi muito macho.
Iderval Reginaldo Tenório
FATOS HISTÓRICOS DO TEXTO
ANEXO I
O PACTO DOS GOVERNADORES,
O RASO DA CATARINA E LAMPIÃO.
Até os 21 anos de idade, Lampião trabalhou como artesão. Era
alfabetizado e usava óculos para leitura, características bastante incomuns
para a região sertaneja e pobre onde ele morava.
Em 1922 Sinhô Pereira abandonou o cangaço e passou a
liderança de seu bando para Lampião. A primeira ação do bando comandado por
Lampião foi invadir a cidade de BELMONTE, Pernambuco, e assassinar o coronel e
comerciante Luiz Gonzaga Lopes Gomes Ferraz. Após o ataque a Belmonte, o bando
de Lampião foi visto entrando no estado de Alagoas. As ações do bando de
Lampião passaram a ocorrer além das divisas de Pernambuco, chegando aos estados
da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, de forma que em janeiro de 1923 os
chefes de polícia destes estados se reuniram pela primeira vez para discutir a
criação de uma força-tarefa conjunta de combate ao cangaço.
Neste
período o rei do cangaço vivia uma fase
difícil, estava se adaptando ao seu novo reinado e procurava ampliar o seu
território, pois em 1926 na cidade do Recife , foi feito entre os dirigentes
dos Estados que o Lampião atuava, um
pacto de perseguição e eliminação do cangaço em todo o nordeste , o Pacto dos Governadores,
que possuía duros e diretos artigos, o principal dizia mais ou menos isto: “ Para
a perseguição de meliantes , cangaceiros e marginais, os estados não possuirão
mais divisas, a policia, isto é , a volante do estado perseguidor ao localizar um bando, pode adentrar em qualquer estado sem pedir licença prévia, o objetivo é acabar com
o cangaço, depois os comandantes e os governadores se entenderão Iderval
Muitos bandos foram ceifados, Lampião
agüentou dois anos, sem apoio e sempre fugindo perdeu muitos cabras e foi
procurar reduto na região de Euclides da Cunha nos idos de 1928 na Bahia, o
maior e mais rico Estado do Nordeste , depois migrou para o Raso da
Catarina, região banhada pelo Velho Rio São Francisco ( O VELHO CHICO), Paulo
Afonso, Piranhas, Água Branca , Delmiro Gouveia, Poço Redondo, Pão de Açúcar e
outros municípios dos Estados de Alagoas, Sergipe e Bahia , onde reconstruiu o
seu principado.
Nesta região se homiziou, construiu
família e deu continuidade ao seu oficio, dizia o capitão que o que fazia era
justo , era como qualquer outra profissão, só não admitia ser chamado de
ladrão, isto era uma ofensa, o cangaço era um oficio, um meio de vida. Iderval
ANEXO II
Maria Bonita-
Maria Bonita , “Cabocla nascida na Cidade de Paulo Afonso , BA no dia
08 de março de 1911 , à época com 19 anos de idade, mulher taluda, olhar brilhante e certeiro, decidida, nova, pernas torneadas, busto eletrizante,
firme e saliente , aprumada, com todo o fulgor da vida e recém chegada ao bando .”Iderval
ANEXO III
VOLTA
SECA- Antonio dos Santos, o Volta Seca, entrou no cangaço com 11 anos
de idade, após matar um sujeito que estuprou a sua irmã, uma menina de
10 anos. Procurou proteção com Maria Bonita e Lampião.
Entrou para cuidar das panelas, dos animais, dos trens, menino de recado do bando e pastorava a aproximação das volantes.
Sempre
foi, como todas as crianças, esperto, ligeiro, sem medo de nada,
muito alegre, inteligente e revoltado com tudo que acontecia na região.
Todo mundo madava nele, apanhou muito dos demais cangaceiros. Ao
completar 14 anos passou a ser o mais cruel dos Cangaceiros e no bando
passou a ser respeitado.
Diz a história que a música Acorda Maria Bonita é de sua autoria em parceria com o Rei do Cangaço. Entrou no bando do Lampião em 1928.
ANEXO IV
OS FUZIS -PADRE CÍCERO- DR FLORO E JUAZEIRO DO NORTE
Fuzil Mauser 1908- “Estes
fuzis foram entregues ao bando do Lampião no ano de 1926 na cidade do Juazeiro
do Norte, fruto do acerto do médico baiano, Dr. Floro Bartolomeu, formado no ano de 1904 na
antiga faculdade de Medicina da Bahia no Terreiro de Jesus, o maior aconselhador
do Padre Cícero, foi deputado Estadual e
Federal pelo Estado do Ceará, foi um dos
baluartes da emancipação do Juazeiro , antigo distrito da cidade do Crato,no ano de 1911. Em 22 de Julho de 1911 ,
a emancipação é concedida através da lei n° 1.028
, o novo município passa a se chamar Joaseiro (uma referência à árvore
típica da região), e Padre Cícero é eleito o primeiro Prefeito
O Dr Floro Bartolomeu homem de comportamento forte e explosivo , chegou
no municipio em 1907, lutou até a morte a favor do seu reduto , naquela época foi considerado o maior inimigo do Senador Ruy
Barbosa, um dos maiores críticos do Padre Cicero; em todas o Dr. Floro saiu vencedor, morreu
jovem no Rio de Janeiro como Deputado Federal
em 1926” Iderval .
“O
pacto entre Juazeiro do Norte, Lampião, Dr. Floro e o Padre Cícero no ano de
1926, era armar o bando com armas modernas e muita munição, uma patente de
capitão do Batalhão Patriota do Governo
Federal , intuito era que o Bando do Lampião se unisse à Força Nacional e combatesse a Coluna Prestes, este
episódio tem o dedo do Padre Cícero e dos coronéis do Sul do Ceará. O Capitão , de posse de todo o
arsenal do exército brasileiro, achou que era uma emboscada, desconfiou da
patente , abandonou o caso , porém não devolveu as armas” Iderval.
IMPERDÍVEL
NÃO DEIXEM DE ASSISTIR O REI E O PRINCIPE DO BAIÃO
LUIZ GONZAGA E DOMINGUINHO TAMBÉM GONZAGA
https://www.youtube.com/watch?v=mnwhf3UWJmw
30 de jun de 2012 - Vídeo enviado por Músico Eclético
Assim era que cantava os cabras de Lampião Dançando e xaxando nos ... Cantando a rendeira se .
https://www.youtube.com/watch?v=gsQjk9gKLOw
25 de abr de 2014 - Vídeo enviado por Programa Na Aba do Totoró
Clipe musical "Na Pisada de Lampião - Luiz Gonzaga e Dominguinhos". Programa Na Aba do Totoró ...
Obrigado pela bela e enriquecedora história meu jovem!
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