domingo, 28 de janeiro de 2024

Coronel Tenório e o Capitão Lampião nas alagoas

 

Coronel Tenório e o Capitão Lampião nas alagoas.

                                                     

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                                                     COISAS DO NORDESTE

                                                                 Coronel Tenório  

                                                                             e o

Capitão Virgulino Ferreira Lampião
 
I

A CHEGADA DO BANDO

O Coronel  Tenório era um homem de fibra. Um Nordestino autêntico, valente, decidido, justo  e respeitador, um homem calmo e sereno.  Foram estas  propriedades que deram ao coronel, uma  grande liderança  em todo o sertão, notadamente  nos grotões  das terras dos marechais.

Historiam  os mais velhos da família, os amigos e alguns dos seus comandados,  que num belo domingo ensolarado, na Fazenda Alvorada, nos sertões das Alagoas, lá pelos idos de 1930,  adentrou no casarão de  sua sede, o bando do famigerado e facínora Capitão Virgulino Ferreira Lampião.  
 
Naquela época,  o capitão  era considerado o terror do nordeste, o destruidor das famílias e dos homens de bem e de bens, e  que para se manter popular, protegido e invisível,  deixava para  os abandonados e sem camisas,  uma pequena parte dos seus roubos. Propriedade esta, praticada há centenas de anos pelos conquistadores e políticos desonestos da humanidade, vide o seu maior exemplo e espelho, o  inglês  Robin Hood. Com esta estratégia, raro era o sertanejo que o denunciasse ou passasse informações sobre os seus escondirijos. Foi assim que construiu o seu condado, a sua governança e o seu império. 

Contam os mais velhos, que Lampião chegou à sede da fazenda, bem na hora do almoço, o calor era infernal e o sol batia verticalmente sobre a cabeça dos sitiantes, escaldava e queimava a mais de quarenta e dois  graus. Encontrava-se com  sede e muita  fome, a munição de bucho estava no fim. Cortara os sertões  toda a madrugada por cima de pedras, tocos,  mandacarús, rabos de rapousa e xique-xiques.  
 
O capitão adentrou com seis capangas, dentre eles, o perverso ferrador de mulheres,  Zé Baiano. Este,  deixava a ferro quente, a sua marca  ZB no rosto das vítimas. Maria Bonita, a Santinha, por segurança, ficou no oitão da casa protegida por dezoito homens armados até os dentes, além do seu maquiador, carregador de sacolas e cuidador dos animais, o Volta Seca, à época com 13 anos de idade e que depois dos 15 anos, transformou-se num dos mais miseráveis cangaceiros, estava acompanhada também   do novato Zé Sereno,  com 14 anos de idade,   e que dizia   que a sua caneta era um punhal e o papel o bucho de suas vítimas. 
 
Zé Sereno era um menino negro, magro, zoiúdo, serelepe e analfabeto,  era primo carnal do sanguinário Zé Baiano, um cangaceiro de olhos vermelhos e rosto petrificado.  Toda a sua família fazia parte do cangaço, pai, tios, tias, primos, sobrinhos, cunhados   e irmãos. Para matar, não fazia nem careta, bastava ser ordenado, tomava ódio da vítma logo que fosse designado ao crime. 
 
O capitão, o governador do sertão,   foi recebido pelo velho Tenório com muito respeito e entusiasmo.

          II- 

A RECEPÇÃO 

O Velho  Tenório, que saboreava um apetitoso e apimentado ensopado de carneiro, levantou-se e com voz firme e encorpada, falou dirigindo-se ao nobre visitante:

"seja bem vindo a esta morada Capitão Virgulino Ferreira Lampião, há muito que espero e aguardo por sua aconchegante visita.  Aproxime-se,  aprochegue-se, junte-se a nós e traga os seus cabras. Aqui tem comida para todos e da boa, depois tiraremos uns bons dedos de prosa."

Lampião ficou em silêncio e perplexo com a inusitada e   corajosa recepção.  Um dos seus homens, mansamente  preparou o fuzil mauser 1908,  avançou o polido pente amarelo  cheio de cápsulas e encaixou a primeira para disparo. Apoiou a coronha no músculo peitoral   direito,  colocou o grosso e calejado  dedo indicador no gatilho e mirou a fuça do velho Tenório.

O Capitão Lampião na bucha falou:

"abaixe a arma cabra safado, abaixe o fuzí e vorte os cartuchos, fique carmo, deixe de liotria, escuite o home."

O coronel Tenório emendou:

"onde anda a guerreira Maria Bonita capitão, eu e a minha mulher, Waldirene, ficaríamos muito gratos em conhecê-la e termos a mesma na nossa mesa, seria um orgulho para todos nós"

 O capitão Lampião olha para trás e fala em voz arrastada:

"pode entrar Santinha, o Coroné Tenório  e a sua patroa quer  lhe conhecer, pode entrar,  o coroné é de paiz."

Quando Maria Bonita entrou, o coronel levantou-se da cadeira, deu alguns  passos para frente e com entusiasmo falou:

"Capitão Virgulino Ferreira  Lampião, a mulher é muito mais bonita e formosa do que eu pensava e imaginava, o senhor está de parabéns em viver com uma senhora tão bonita, forte, firme, educada, inteligente, valente, corajosa muito afeiçoada. O capitão é na verdade um cabra muito macho, é um homem altivo e vencedor.

Os cabras de Lampião não agüentaram as cortantes palavras e todos armaram os seus fuzis 1908 e miraram o coração  do dono da casa.
 
Lampião não suportou a ofensa dos seus cangaceiros  para com o corajoso anfitrião,  falou com o dedo em riste, olhos arregalados, cara de boi bravo  e voz em trovão:

"abaixem as armas seus cabras  mal agradecidos, aprendam a respeitar um homem que é homem, um homem de valor. Um homem deste tipo, altivo, valente, decidido, macho e corajoso não merece morrer e nem ser importunado. Temos é que elogiar as suas ações, se mirar na sua coragem,  força e  ensinamentos, são homens deste tipo que o Brasil precisa, abaixem os fuzis cabras safados e respeitem o  coroné".
 
O silêncio foi sepulcral. 

Lampião e o seu bando almoçaram, confabularam até o anoitecer, jantaram os  miúdos do carneiro, em forma de buchada,   encheram  os seus alforjes de mantimentos, oferecidos pelo coronel e arriaram os animais. Maria Bonita, a Santinha, ganhou da esposa do coronel, dona Waldirene, alguns frascos de Perfumes e sabonetes  Phebo, os melhores da época, como também uma caixa aveludada portando um grosso cordão de ouro, 18 kilates, e uma medalha, também de ouro, cunhada com a imagem do  Padim Ciço de Juazeiro do Norte e  abençoda pelo próprio  santo padre.
 
Perfilados e após o aval dos dois  rastejadores do bando, cantaram a música: "ACORDA MARIA BONITA", de autoria do capitão ou do Volta Seca,  sumiram e se encataram   na caatinga  sertão adentro. 
 
Dizia Lampião que a noite é mais fresca,  mais segura e as fazendas ficam desertas. Enquanto o povo dorme o seu bando trabalha.
 
Nunca mais se soube de qualquer invasão do Capitão Lampião naquelas paragens.
 
O velho  Tenório, além de forte e corajoso, foi muito macho.

Iderval Reginaldo Tenório

Rolando Boldrin & Renato Teixeira - ACORDA MARIA BONITA

ACORDA MARIA BONITA -  De Antonio dos Santos (Volta Seca). 

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Rolando Boldrin & Renato Teixeira - ACORDA MARIA BONITA - Volta Seca. Foto: Maria Bonita - Benjamin Abrahão Botto, de 1936, compartilhada no ...
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FATOS HISTÓRICOS DO TEXTO

ANEXO I 

  O PACTO DOS GOVERNADORES,
 O RASO DA CATARINA E LAMPIÃO.

Até os 21 anos de idade, Lampião trabalhou como artesão. Era alfabetizado e usava óculos para leitura, características bastante incomuns para a região sertaneja e pobre onde ele morava.

Em 1922 Sinhô Pereira abandonou o cangaço e passou a liderança de seu bando para Lampião. A primeira ação do bando comandado por Lampião foi invadir a cidade de BELMONTE, Pernambuco, e assassinar o coronel e comerciante Luiz Gonzaga Lopes Gomes Ferraz. Após o ataque a Belmonte, o bando de Lampião foi visto entrando no estado de Alagoas. As ações do bando de Lampião passaram a ocorrer além das divisas de Pernambuco, chegando aos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, de forma que em janeiro de 1923 os chefes de polícia destes estados se reuniram pela primeira vez para discutir a criação de uma força-tarefa conjunta de combate ao cangaço.

  Neste período o rei do cangaço  vivia uma fase difícil, estava se adaptando ao seu novo reinado e procurava ampliar o seu território, pois em 1926 na cidade do Recife , foi feito entre os dirigentes dos Estados     que o Lampião atuava, um pacto de perseguição e eliminação do cangaço  em todo o nordeste , o Pacto dos Governadores, que possuía duros e diretos artigos, o principal dizia mais ou menos isto:     “ Para a perseguição de meliantes , cangaceiros e marginais, os estados não possuirão mais divisas,  a policia,  isto é , a volante do estado perseguidor  ao localizar um bando,   pode adentrar em qualquer estado sem  pedir licença prévia, o objetivo é acabar com o cangaço, depois os comandantes e os governadores se entenderão Iderval 

Muitos bandos foram ceifados, Lampião agüentou dois anos, sem apoio e sempre fugindo  perdeu muitos cabras e foi procurar reduto na região de Euclides da Cunha nos idos de 1928 na Bahia, o maior e mais rico Estado do Nordeste , depois migrou para o   Raso da Catarina, região banhada pelo Velho Rio São Francisco ( O VELHO CHICO),  Paulo Afonso, Piranhas, Água Branca , Delmiro Gouveia, Poço Redondo, Pão de Açúcar e outros municípios dos Estados de Alagoas, Sergipe e Bahia , onde reconstruiu o seu principado.

 Nesta região se homiziou, construiu família e deu continuidade ao seu oficio, dizia o capitão que o que fazia era justo , era como qualquer outra profissão, só não admitia ser chamado de ladrão, isto era uma ofensa, o cangaço era um oficio, um meio de vida. Iderval


ANEXO  II
Maria Bonita- 

Maria Bonita , “Cabocla  nascida na Cidade de Paulo Afonso , BA no dia 08 de março de 1911 , à época com 19 anos de idade, mulher  taluda, olhar brilhante e certeiro, decidida,  nova, pernas torneadas, busto eletrizante, firme e saliente , aprumada, com todo o fulgor da vida  e recém chegada ao bando .”Iderval 
 
                                                              ANEXO III
VOLTA SECA- Antonio dos Santos, o Volta Seca,  entrou no cangaço com 11 anos de idade, após matar um sujeito que estuprou a sua irmã, uma menina de 10 anos. Procurou proteção com Maria Bonita e Lampião. 
Entrou para cuidar das panelas, dos animais, dos trens, menino de recado  do bando e pastorava a aproximação das volantes.
 Sempre foi, como todas as crianças,  esperto,  ligeiro, sem medo de nada, muito alegre, inteligente e revoltado com tudo que acontecia na região. Todo mundo madava nele, apanhou muito dos demais cangaceiros. Ao completar 14 anos passou a ser o mais cruel dos Cangaceiros e no bando passou a ser respeitado. 
Diz a história que a música Acorda Maria Bonita é de sua autoria em parceria com  o Rei do Cangaço.  Entrou no bando do Lampião em 1928.



ANEXO IV
OS FUZIS -PADRE CÍCERO- DR FLORO E JUAZEIRO DO NORTE

Fuzil Mauser 1908- “Estes fuzis foram entregues ao bando do Lampião no ano de 1926 na cidade do Juazeiro do Norte, fruto do acerto do médico baiano,  Dr. Floro Bartolomeu, formado no ano de 1904 na antiga faculdade de Medicina da Bahia no Terreiro de Jesus, o maior aconselhador do Padre Cícero,  foi deputado Estadual e Federal pelo Estado do Ceará,  foi um dos baluartes da emancipação do Juazeiro , antigo distrito  da cidade do Crato,no ano de 1911. Em 22 de Julho de 1911 , a emancipação é concedida através da lei n° 1.028 , o novo município passa a se chamar Joaseiro (uma referência à árvore típica da região), e Padre Cícero é eleito o primeiro Prefeito   O Dr Floro Bartolomeu homem de comportamento forte e explosivo , chegou no municipio em 1907, lutou até a morte a favor do seu reduto , naquela   época   foi considerado o maior inimigo do Senador Ruy Barbosa, um dos maiores críticos do Padre Cicero;  em todas o Dr. Floro saiu vencedor, morreu jovem no Rio de Janeiro  como Deputado Federal em 1926” Iderval . 

“O pacto entre Juazeiro do Norte, Lampião, Dr. Floro e o Padre Cícero no ano de 1926, era armar o bando com armas modernas e muita munição, uma patente de capitão do Batalhão Patriota  do Governo Federal , intuito era que o Bando do Lampião se unisse à Força  Nacional e combatesse a Coluna Prestes, este episódio tem o dedo do Padre Cícero e dos coronéis do Sul  do Ceará. O Capitão , de posse de todo o arsenal do exército brasileiro, achou que era uma emboscada, desconfiou da patente , abandonou o caso , porém não devolveu as armas” Iderval.
                  
                                                      IMPERDÍVEL

NÃO DEIXEM DE ASSISTIR O REI E O PRINCIPE DO BAIÃO

LUIZ GONZAGA E DOMINGUINHO TAMBÉM GONZAGA 

Olha a Pisada - Boiadeiro (Ao Vivo - Volta Pra Curtir - Teatro Tereza ...

https://www.youtube.com/watch?v=mnwhf3UWJmw
30 de jun de 2012 - Vídeo enviado por Músico Eclético
Assim era que cantava os cabras de Lampião Dançando e xaxando nos ... Cantando a rendeira se .

Luiz Gonzaga e Dominguinhos - Na Pisada de Lampião - YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=gsQjk9gKLOw
25 de abr de 2014 - Vídeo enviado por Programa Na Aba do Totoró
Clipe musical "Na Pisada de Lampião - Luiz Gonzaga e Dominguinhos". Programa Na Aba do Totoró ...

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