quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Zezinho , a Gata Ceguinha e o Mimoso

 

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Zezinho , a Gata Ceguinha e o Mimoso

 

Zezinho acordou cedo, abriu a porta dos fundos e encontrou a gata ceguinha deitada no batente.  A tiracolo  dois sibitos, dois buguelos de Caga-sebo. Para pegá-los, provavelmente a gata voou ou os filhotes  no primeiro voo  cansaram e caíram nas garras da felina.

A Ceguinha era uma velha gata que só faltava voar, às vezes voava, pois  pular três a quatro metros, de uma árvore para um telhado, não deixava de ser um ato de voar. Ficou cega, de um dos olhos,  num acidente  com espinhos de mandacaru ao perseguir pequenos répteis.

A gata  não gostava de ratos, o seu esporte era erradicá-los, porém não tinha estômago para os mesmos, após o sacrifício  abandonava-os.  Onde a ceguinha miava  os ratos  não apareciam.  Num ato de sabedoria, ficava com o faro virado para a dispensa da casa, era ali que se armazenavam algumas barras de  queijos.

Caga-sebo é um pequeno pássaro de papo amarelo e dorso com pintas pretas, voa baixo, pouco e de galho em galho, o seu peso não chega a cinco gramas,  é só cabeça, penas e dois finos  gravetos que servem de pernas.

Seu ninho é construído nas pontas  dos galhos pendentes, são compridos, tipo bucha vegetal de lavar pratos, possui uma   janela simetricamente posicionada, boca para baixo e  uma aba, tipo  marquise, a aproteger  contra as  chuvas,  o sol e alguns predadores, é uma obra da engenharia da natureza, é fenomenal.

A ceguinha era simples,  pequena, acanhada e de miado baixo, porém  era uma felina, tinha lá o seu respeito, era temida por muitos, era uma fera. Havia parido  dois anos atrás e jamais aceitou que o seu rebento  passasse fome.

O Mimoso era um gato cinza, cabeça grande, comprido, alto e peso avantajado. Era manhoso, pelos finos, preguiçoso, miado macio, andar elegante, olhar cativante e gostava de  almofadas. Não sabia caçar,   morria de  medo de ratos grandes,   ficava sempre à espera da cuidadosa mãe. A regra era a mesma,  esperar  todos os dias por uma prenda trazida pela ceguinha.   Apreciava leite, carne mole cortada e  banhos de saliva,  à noite recolhia-se a uma cadeira fofa, só abria os olhos ao amanhecer. Era um príncipe sem reinado, um  dependente, um fruto do ócio, talvez forjado pelo exagerado zelo e cuidado matriarcal. Era um desocupado,  oportunista e bonitão, um filhinho da mamãe, o bicho era sem tino, vivia da sua beleza.  No frigir dos ovos  era um sujeito sem planos, um desplanaviado.

Zezinho abriu a porta, a gata miou mais de uma vez, o mimoso levantou a cabeça, pulou sorrateiramente da cadeira, esticou os membros se espreguiçando e  elevou a coluna vertebral, como  a corcova de um  camelo, num ato  de superioridade. Na sorrelfa foi ao encontro da mãe, lambeu os moribundos sibites, triturou-os com os  afiados dentes, lambeu as patas e o focinho peludo. Ficou  à espera do leite  servido todos os dias pela dona  da casa. Era um verdadeiro hóspede, um príncipe, um manda chuva.

Abertas as portas e as janelas, a brisa serrana entrou mansamente em todos os aposentos do velho casarão  renovando o ar, enquanto  o sol  com os seus raios ultravioletas esterilizava todos os recantos do ambiente, que eram  aromatizados pelo cheiro convidativo do sabotoso café  torrado no caco. Nascia mais um dia nos confins do sofrido sertão da chapada do  Araripe. A orquestra, constituída de passarinhos e sob a tutela do galo carijós, iniciava o seu concerto, que só parava quando chegava a noite e  eram convocadas as corujas  rasga-mortalhas como vigilantes.

Só Zezinho e Deus presenciaram aquela materna  cena sertaneja, isto faz parte da vida em muitos  recantos do mundo.

 São muitos os Mimosos por este mundo afora, são muitos.

Salvador, 18 de Março de 1993

Iderval Reginaldo Tenório

 

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Jackson do Pandeiro - 'Preguiçoso'. - YouTube

Do José Bezerra  em parceria com o grande mestre Jackson do Pandeiro ...

Jackson do Pandeiro

Trabalho não se fez pra mim (Preguiçoso!)
Não se fez pra mim (Preguiçoso!)
Sim, não se fez pra mim (Preguiçoso!)
Ai, não se fez pra mim

De manhã cedo eu me levanto às nove horas,
Fico do lado de fora com preguiça de falar.
Pego a me espreguiçar e não me mandem fazer nada,
Que essa preguiça danada não me deixa trabalhar

Trabalho não se fez pra mim (Preguiçoso!)
Vige, não se fez pra mim (Preguiçoso!)
Ah, não se fez pra mim (Preguiçoso!)
Olha, não se fez pra mim

Se eu pegar o homem que inventou trabalho,
Tiro-lhe o couro e boto no sol pra secar
Quando secar eu boto ele na cuíca,
Quero ver quanto ele estica, vou puxando até lascar

Trabalho não se fez pra mim (Preguiçoso!)
Sim, não se fez pra mim (Preguiçoso!)
Esse sujeito não foi feito para mim (Preguiçoso!)
Tá, não se fez pra mim

De manhã cedo eu me levanto às nove horas,
Fico do lado de fora com preguiça de falar.
Pego a me espreguiçar e não me mandem fazer nada,
Que essa preguiça danada não me deixa trabalhar

Trabalho não se fez pra mim (Preguiçoso!)
Vige, não se fez pra mim (Preguiçoso!)
Han! Não se fez pra mim (Preguiçoso!)
É, não se fez pra mim

Se eu pegar o homem que inventou trabalho,
Tiro-lhe o couro e boto no sol pra secar
Depois de seco eu boto ele na cuíca,
Quero ver quanto ele estica, vou puxando até lascar


Composição: Jackson do Pandeiro / José Bezerra.
 


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