sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Preconceito linguístico.Iderval Reginaldo Tenório

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                         Preconceito linguístico

O Português é uma língua em formação. Diariamente sofre influências de línguas estrangeiras e de dialetos regionais como o   Brasiliense, Caipira, Carioca, Gaúcho, Mineiro, Nordestino, Nortistas, Paulistano e o Sertanejo

Como nos tempos das imigrações,  com a chegada de idiomas e dialetos  de todos os continentes, notadamente da Europa, Ásia e de nações insulares, como o Japão, a língua foi e vai sendo sendo mesclanda. 

Na atualidade,  mais de 20% das influências   vêm dos  EUA, o Inglês americano, a língua forte das transações econômicas em todo o mundo. Como vírus, as influências  chegam  expontaneamente embutidas nos produtos de consumo, propagandas, cinema, programas televisivos universais, viagens, muitas vezes  forçadas e sem a possibilidade de    tradução. 

Nos dias atuais, a  juventude brasileira, os profissionais de todas as áreas e a população como um todo   são bombardeadas pelos meios de comunicação com novas palavras,   sem tradução,  e que    automaticamente são incorporadas à lingua  pátria, lembrem-se de  onlaine, apigreide, estandebai, chequim, delei, checaute, booque, fastefude, baipasse, uaifai, uatzape, email e outras.   

Como a língua portuguesa  tem  pouca importância  mundial no comércio,  indústria, música, literatura,   turismo, história da humanidade  e não é a oficial de uma nação hegemônica, sofre preconceitos em todo o globo terrestre e  dentro do próprio país. 

É bom lembrar,  que a alma de uma nação é o seu idioma, foi embasado nesta propriedade, que Portugal matou a língua nativa brasileira quando invadiu as terras de Vera Cruz em 1500. 

No século XVI eram mais de 800 linguas nativas,destacavam-se  o Tikuna, Guarani Kaiowá, Kaingang, Xavante, Yanomami,Guajajara, Sateré-mawé, Terena, Nheengatu, Tukano, Kayapó, Makuxi, Tupinambá e o Tupi-guaranI. No final do século XVIII, por volta de 1775, de uma só canetada, o Marquês de Pombal proíbiu  o uso de todas estas linguas nativas  e outras importandas, que chegavam com os estrangeiros, sendo oficializada o Português de Portugal. Esta  medida culminou com o batismo linguístico da nação chamada Brasil, uma Pátria sem lingua, evidentimente, sem alma. Tendo que renascer das cinzas  como um milagre.

O genocídio aos habitantes da terra, pejorativamente chamados de  INDÍGENAS, o genocídio aos seus idiomas, costumes e culturas, junto à transferência de muitas  riquezas minerais, vegetais e animais para a Europa, foi o suficiente para emplacar anos e anos de atrasos à nação em nome da civilização colonialista. Isto  gerou,  alimentou  e alimenta  até os dias de hoje miríades de preconceitos aos nativos, aos povos do continente africano  traficados, como coisas, para as américas, notadamente para o Brasil.   Para os Europeus colonizadores, os negros e os nativos não tinham alma e não eram considerados humanos. Nos Estados Unidos da América do Norte  eram considerados   caças até pelos poderes públicos até 1900, onde  foram dizimados mais de 20 milhões de nativos em 150 anos.

No Brasil, por ser um verdadeiro continente, o português sofre preconceitos  de classes sociais, nível educacional, etnias, posicionamento político, gêneros   e  no regionalismo. Na sociedade brasileira, o idioma  foi fatiado em diversos segmentos:  o clássico, o culto e oficial regido por leis, o  criado, inventado e praticado pelos intelectuais, letrados, filólogos e os gramáticos  que ocupam o culme da pirâmide linguística,  tornando-a uma língua excludente para os  que ocupam o meio e a base da pirâmide social, possuidora de no máximo 800 palavas para a comunicação. 

O objetivo deste corte, é  sedimentar nas mãos das elites o poder da dominação e da  inibição para as demais classes sociais. Pregam que o certo e o correto é o praticado por esta casta, que se autodenomina de classe  superior, o errado e  rasteiro pelas  demais classes sociais, principalmente nos rincões do país e nas regiões esquecidas, quando na verdade não existe o Português errado, a língua é uma só e depende do  nível sócial, econômico, cultural e de qual região pertence o cidadão 

É primordial entender, que o português colunar, o de consumno diário, aquele que constitue a coluna da língua, o praticado em toda a nação e que todos compreedem, é o Português Universal e o elo entre todas as classes sociais.

O português do cotidiano, como um veículo moderno, os assessórios, direção hidráulica, portas elétricas, marcha automática, faróis e pinturas  especiais, controles, sensores, ar condicionado, bancos de couro, geladeiras, celulares, wifi,  baterias carregadas à eletricidade limpa ou suja, orientação por satélites ou  câmeras são privilégios de poucos e às vezes  supérfluor, o importante é viver sem atropelar a coluna central, respeitar o regionalismo, mastigar o feijão  com arroz, as misturas protéicas e  gordurosas simples  sem se esquecer que nos documentos oficiais, é o Português oficial o utilizado.

A  Língua é patrimônio da sociedade, isto é,  do povo em todos os níveis sociais e em todos os recantos do país. Não deve ser uma ferramenta de inibição aos que não  praticam a língua  culta, a língua daqueles que ocupam  o ângulo superior da pirâmide sócio cultural, econômica e literária, uma vez que, mesmo os mais cultos,  estudados e que leem com frequência,  muitas vezes são ignorantes  no repertório jurídico, da matemática, da física  e  da  médicina.

Fale e pratique a sua língua sem preconceitos ou inibição, contudo continue aprendendo a lingua culta, da mesma maneira que se aprende a andar, nadar, dirigir e como se aprende uma profissão. Somos eternos aprendizes, todos os dias se aprende algo novo. Gratidão aos professores e à natureza, eternos orientadores.

Estudante, viva sem quaisquer  tipos de preconceitos,  não se iniba na escola, pergunte e participe das oficinas de aprendizados. O seu português está sendo forjado e não deve sofrer avarias nesta fase da vida. Aprenda com os cultos, os   letrados e os não letrados, porém não se enclausure no aprendizado do imaginário dos intelectuais. Não anule as suas origens, mescle todos os modos da lingua e os utilizem nos momentos adequados, a depender dos interlocutores.

Tenha orgulho dos seus pais, de todos os da sua convivência  na   infância e até dos animais não humanos  do seu arrebol, isso é cultura.

                          Iderval Reginaldo Tenório

Preconceito linguístico

Autor: Marcos Bagno,

Instituição: Universidade de Brasília-UnB,

O termo preconceito designa uma atitude prévia que assumimos diante de uma pessoa (ou de um grupo social), antes de interagirmos com ela ou de conhecê-la, uma atitude que, embora individual, reflete as ideias que circulam na sociedade e na cultura em que vivemos. Assim como uma pessoa pode sofrer preconceito por ser mulher, pobre, negra, indígena, homossexual, nordestina, deficiente física, estrangeira etc., também pode receber avaliações negativas por causa da língua que fala ou do modo como fala sua língua.

O preconceito linguístico resulta da comparação indevida entre o modelo idealizado de língua que se apresenta nas gramáticas normativas e nos dicionários e os modos de falar reais das pessoas que vivem na sociedade, modos de falar que são muitos e bem diferentes entre si. Essa língua idealizada se inspira na literatura consagrada, nas opções subjetivas dos próprios gramáticos e dicionaristas, nas regras da gramática latina (que serviu durante séculos como modelo para a produção das gramáticas das línguas modernas) etc. No caso brasileiro, essa língua idealizada tem um componente a mais: o português europeu do século XIX. Tudo isso torna simplesmente impossível que alguém escreva e, principalmente, fale segundo essas regras normativas, porque elas descrevem e, sobretudo, prescrevem uma língua artificial, ultrapassada, que não reflete os usos reais de nenhuma comunidade atual falante de português, nem no Brasil, nem em Portugal, nem em qualquer outro lugar do mundo onde a língua é falada.

Mas a principal fonte de preconceito linguístico, no Brasil, está na comparação que as pessoas da classe média urbana das regiões mais desenvolvidas fazem entre seu modo de falar e o modo de falar dos indivíduos de outras classes sociais e das outras regiões. Esse preconceito se vale de dois rótulos: o “errado” e o “feio” que, mesmo sem nenhum fundamento real, já se solidificaram como estereótipos. Quando analisado de perto, o preconceito linguístico deixa claro que o que está em jogo não é a língua, pois o modo de falar é apenas um pretexto para discriminar um indivíduo ou um grupo social por suas características socioculturais e socioeconômicas: gênero, raça, classe social, grau de instrução, nível de renda etc.

A instituição escolar tem sido há séculos a principal agência de manutenção e difusão do preconceito linguístico e de outras formas de discriminação. Uma formação docente adequada, com base nos avanços das ciências da linguagem e com vistas à criação de uma sociedade democrática e igualitária, é um passo importante na crítica e na desconstrução desse círculo vicioso.

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