O Descarrilhamento do trem em Pojuca 1983 e o Hospital Central Roberto Santos
O dia 31 de agosto de 1983.O Descarrilamento do trem em Pojuca 1983, o Hospital Central Roberto Santos e os médicos da Bahia
O dia 31 de agosto de 1983 amanheceu ensolarado, era uma quarta-feira, a Bahia ferveu e chorou de dor. Eram médicos residentes, do primeiro ano de Cirurgia Geral, no Hospital Central Roberto Santos três colegas de turma egressos da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia: Augusto Cesar da Silva Miranda, o bisturi de ouro; Fernando Antonio Torres de Brito, este, o galã da turma; Iderval Reginaldo Tenório, puro sangue nordestino; e um egresso da Escola Baiana de Medicina e Saúde Publica, Geraldo José Bensabath Filho, este já era craque no primeiro ano da residência. Eram os R2: Dra. Márcia Cristina Carvalho de Souza Fonseca, Dr Paulo Plessim de Almeida, Dr Antonio Carlos Boa Morte e o Dr. Ademir Abreu Magalhães.
Neste dia, 31 de agosto de 1983, era eu o R1 do plantão assessorado pelo R2 Dr. Antônio Carlos Boa Morte, de saudosa memória, morrera sem concluir a Residência num acidente de carro ao viajar para o seu interior, Paramirim. Era Governador do Estado o Dr. Antônio Carlos Peixoto de Magalhães, o Secretario de Saúde o Dr. Nélson Assis Carvalho de Barros, o superintendente do Hospital Dr. Jairo Maia, diretor o Dr Edson Cardoso, o coordenador médico Dr. Jorge Raimundo de Cerqueira e Silva, depois Diretor superintendente do H.Geral, do HGV e Presidente do Conselho Regional de Medicina da Bahia; o Professor Antonio Natalino Manta Dantas chefe da cirurgia assessorado pelos ilustres professores: Dr. Rene Mariano de Almeida, Dr.José Valber Lima Meneses, Dr.Leandro Públio Da Silva Leite, Dr.Ciro José Bittencourt Marinho, Dr.Ediriomar Peixoto Matos, Dr. Nelson Pinto Filho, Dr.Otavio Augusto Soares de Freitas, Dr.Antônio Carlos Rebouças da Silva, Dr. Antonio Roberto Ramos Virgens, Dr Jorge Cardoso e Dr.Mario Castro Carreiro;
Manhã calma, todos nos seus postos de trabalho labutando na emergência do Hospital Central, outros no centro cirúrgico e nos ambulatórios, quando, antes das oito da manhã, difunde-se nas rádios e nos jornais a fatídica manchete do desastre: Incêndio em Pojuca após descarrilamento de um trem carregado de gasolina e óleo diesel. Na matéria estava explícito que mais de 500 pessoas foram atingidas pela catástrofe, foi um alerta geral para todos os hospitais de Salvador e região.
O Hospital Central Roberto Santos, por ser o mais moderno e o maior, uma vez que fora inaugurado em 1979 pelo Secretário de Saúde Dr. Ubaldo Porto Dantas, Ex-prefeito de Itabuna, Ex-Deputado Federal, Professor de Medicina Preventiva, UFBA, 1972-1990; Secretário de Saúde do Estado da Bahia, 1975-1978 e pelo governador o Dr. Professor Roberto Figueira Santos, foi designado o Hospital de referencia e depois o HGV por ser mais velho e possuir pouca área, apesar de ser à época a mais importante casa de saúde do Estado.
O hospital não fechou as suas portas para os demais pacientes, porém foi preparado para atender os oriundos do grande incêndio. Foram convocados os residentes da casa de todas as áreas, da cirurgia geral à pediatria e quase todo o efetivo cirúrgico da emergência e das cirurgias eletivas.
As ambulâncias começaram a chegar: choros, gritos, dores, pânicos, compaixão e a confirmação da grandeza da medicina. Muitos pacientes com 100% de área queimada, outros com 60%, 40% e 30%, muitos morreram no segundo ou terceiro dia e outros saíram salvos. O hospital criou uma enfermaria no quarto andar para os enfermos e o HGV o maior ponto de apoio, era nesta unidade que encontravam-se os maiores emergencistas da Bahia e profissionais de UTIs com larga experiência.
Chegavam pacientes de todas as idades, etnias e credos religiosos, todos eram seres humanos e deveriam ser atendidos por outros seres humanos comprometidos com a sociedade e com aética. Por mais de 60 dias os residentes, as enfermeiras, as técnicas de enfermagem, as assistentes sociais, o pessoal do laboratório, as nutricionistas, o apoio e os responsáveis pela higiene dedicaram as suas vidas para salvar o máximo possível de seres humanos.
Foram dias tristes, de luta, de trabalho e cansativos para todos os envolvidos, porém de muita alegrias, glórias e recompensas para cada participante da equipe e de gratidão para cada paciente que recebia alta e eram orientados aos ambulatórios, inclusive o de Cirurgia Plástica, sob a tutela do professor Dr. Nonato José de Lima Fontes, Cirurgião plástico e do R2 Dr. Paulo Plessim de Almeida.
É
muito importar citar um detalhe: Todos os pacientes para serem hidratados e
receberem antibióticos, vitaminas e sais
minerais, via venosa, foram submetidos a cateterização da veia subclávia, a mais
moderna técnica da época, este legado todos nós da Bahia devemos ao grande
mestre e Professor Augusto Márcio Coimbra Teixeira, nascido
no dia 22 de novembro 1929 na cidade
de senhor do Bonfim, um dos ícones da cirurgia brasileira, que implantou
e popularizou juntos aos seus auxiliares esta moderna tecnologia, o uso do INTRACATH.
Passado 40 anos, não poderia deixar em albis aquela fatídica data e catastrófica fase da Bahia que abalou o Brasil e o mundo.
Lembro com tristeza, lembro ainda com lágrimas nos olhos, porém com o sorriso de quem fez muito pela saúde do povo sofrido. Parabenizo e ovaciono todos os que participaram daquela tarefa. Muitos já se foram, muitos ainda estão vivos e ainda viverão para contar esta verídica e triste história .
Eu fiz , faço e farei parte deste fatídico acontecimento, do lado bom. Viverei por mais tempo para continuar relembrando ao povo e aos médicos da Bahia com todas as forças, que vale a pena ser médico. Estive em Pojuca dois dias depois, pois trabalha no Posto de Saúde do Município e de lá enxergava o local da catástrofe.
O desenrolar político administrativo, os transmites financeiros e as decisões indenizatórias, por parte dos responsáveis, ficaram por conta das autoridades competentes. Quais as atitudes tomadas e como ficaram todas aquelas vitimas? Será que foi apenas mais um episódio da vida?
O
Criador conseguiu salvar milhares de pessoas, pois até as crianças
carregavam baldes plásticos cheios de gasolina e guardavam
em casa. Deus perdoa os inocentes.
Salvador, 31 de Agosto de 2023
Iderval Reginaldo Tenório
"O Descarrilamento de Pojuca foi um acidente ferroviário ocorrido em 31 de agosto de 1983 em Pojuca, estado da Bahia, no Brasil. Nessa data, um trem de carga da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) transportando combustíveis descarrilou nas proximidades de Pojuca, Bahia. A lentidão das autoridades em conter o vazamento e a ação de saqueadores provocaram a explosão de três vagões, matando cerca de 100 de pessoas.[1][2]
O Trem
O trem era composto de uma locomotiva diesel e 22 vagões tanque do tipo TCD (de 80 toneladas) e transportava gasolina (5 vagões) e diesel (17 vagões) para a Petrobras. O trem partiu da Refinaria Landulpho Alves, São Francisco do Conde (BA), e tinha como destino o Terminal Riachuelo, ao lado da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados, em Laranjeiras (SE).
Acidente
Por volta das 7h da manhã de 31 de agosto de 1983, o trem de carga transportando 22 vagões de gasolina e óleo diesel de São Franco do Conde (BA) para Laranjeiras (SE) descarrila nas proximidades de Pojuca (BA). Três vagões do tipo TCD vazam cerca de 126 mil litros de gasolina em torno do perímetro urbano da cidade.
O trecho onde ocorreu o descarrilamento era situado em patamar mais alto que o perímetro urbano de Pojuca, de forma que o combustível escorria pelo pequeno talude da ferrovia até as residências mais próximas da linha férrea. Inicialmente assustados com o desastre, dezenas de moradores começaram a saquear a carga, transportando o combustível que vazava dos vagões em bacias, latas e outros meios para ser revendido na cidade. Funcionários da RFFSA e da Petrobras chegaram apenas algumas horas após o descarrilamento e tomaram as seguintes providências".
Da mídia local e da internet.
Triste episódio! Testemunhei, como residente da Clínica Médica do Hospital das Clínicas (fui convocado para ajudar na assistência) todos os fatos relatados pelo ilustre colega Iderval. Só discordo da afirmação de que as autoridades responsáveis tomaram as medidas para evitar a tragédia. Elas negligenciaram em não isolar a área. Deveriam ter retirado imediatamente a população atingida e usado a tecnologia disponível na época de bloqueio químico do combustível vazado e de descontaminação do solo. Nada fizeram! Foram mais de 24 horas, se não me engano, entre o descarrilamento e o incêndio. Nesse período, a população do entorno não foi impedida de recolher o combustível e armazená-lo em suas residências. Muitas pessoas foram consumidas de forma instantânea. Outras tantas sobreviveram apenas por algumas horas; e poucas conseguiram sobreviver. O governo da Bahia na época era tão irresponsável, que em vez de reconhecer sua culpa por omissão e indenizar as famílias atingidas aproveitou o episódio para fazer propaganda política e, no final, ainda deixou de remunerar os profissionais de saúde que atuaram no episódio sem vínculo profissional com o Estado.
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