terça-feira, 18 de julho de 2023

COISAS DE CRIANÇAS .

                                                                                    



Vetores de Ilustração Em Vetor De Crianças Brincando e mais imagens de  Divertimento - Divertimento, Festa, Alegria - iStock

 

COISAS DE MENINOS.

Conta Zezinho, que  quando criança,  lá no seu arrebol,   ao olhar para a lua  tinha absoluta certeza  que via a imagem de São Jorge e  lá era a sua morada.  

Na sua  luz prateada existia a imagem do Santo guerreiro vestida de  capa preta, calça bronze e lenço vermelho, sempre  montado  no seu cavalo branco a espetar, com a sua flecha afiada, a boca da  serpente voadora, estava ali a defender a humanidade, era o seu herói.

Depois de adulto jovem, um dos seus  amigos, da faculdade,  falou : 

 __ "vocês eram uns bobos, vocês foram enganados, ali nunca existiu, não existe e nunca existirá  um São Jorge"

 Zezinho achou o seu amigo um revoltado, viu e sentiu que ele nunca foi criança, não viveu a verdadeira felicidade, a inocência da primeira fase da vida, nunca habitou um mundo pequeno,  só seu e dos mais próximos,  onde brincavam, conversavam com as plantas, os animais e os seus brinquedos. 

Zezinho foi enfático. Falou  que  na rua na qual  morava,  nas noites de lua, corria com os amigos,  na estreita calçada,  sempre a olhar para a lua. O interessante  era que a lua os seguia. Não entendiam como a lua poderia está com todos os meninos ao mesmo tempo, era uma verdadeira mágica. 

Um menino ficava na cabeça da rua, outro  no meio e outro ficava no fim, não tinha segredo, a lua continuava com os três ao mesmo tempo. Todos  corriam ao mesmo tempo e o astro não os abandonava, enquanto mais rápidos corriam, mais rápido corria a lua. Perguntou ao colega  se isso não era verdade e qual seria a sua explicação :

 O colega sabichão  disse:

 __”Continua falando bobagens, vocês eram uns bestas, a lua não corre coisa nenhuma, pela distância era uma visão de ótica, um fenômeno natural, ciência pura”.

 Falou o Zezinho que continuava a acreditar no mundo da criança, que a lua corria, que os acompanhava e lá era a casa de São Jorge.

  O colega replicou:

__“ Vocês eram umas crianças bobas”. 

 Relata Zezinho que ficou bobo com as suas explicações e nem sabia o que era essa tal de visão de ótica, conscientemente disse para si: 

" Tem cada coisa neste mundo que realmente pode até deixar o sujeito abobalhado, principalmente quando criança, esta tal de visão de ótica  é uma delas".

Zezinho logo chegou  a uma conclusão. Viu e sentiu  que o seu amigo, por ser adulto desde o nascimento, hoje faz uso de muitos sedativos, ansiolíticos, antidepressivos e muitos tranquilizantes.  Vive com muitos rancores e dissabores.  Acredita que os grilos começaram a entrar na sua cabeça desde o  tempo de criança, e grilos na cabeça não é brinquedo. Ainda bem que quando criança a sua  cabeça não existia buracos para ser a   morada de grilos.  Os rancores e os dissabores   que entravam por um ouvido, saiam pelo outro sem deixar rastros.

 Notou que o colega nunca brincou de cobra cega, com os animais, as borboletas,  maracujás,  vértebras de bois, como se fossem  a sua boiada. Nunca foi amigo da lua, nunca tomou banho de chuva e nem contou as estrelas do céu, por isso nunca teve uma verruga nas mãos, parece que nunca viveu o sol e nem a lua, ele viveu foi o dia e a noite com todas as agruras que lhes são peculiares: problemas, desentendimentos, regras, ditames, insônias e coisas de adultos. 

Acredita que ele nunca conversou com as árvores, os animais e os seus simples pertences pessoais que os chamava de brinquedos.  O colega já nasceu adulto e muito sabido, nunca foi um bobo, ele  já  nasceu sabido, por isso é que hoje é um bobão.

O magnânimo  Zezinho inquiriu  ao sabido sobre a caipora, a mula sem cabeça, papai noel, o bicho papão, o papa-figo, a coruja rasga mortalha, a mãe d”água, o catelobo, o lobisomem, as sereias, o saci pererê e outras lendas  da infância.  O colega  deu uma risada de reprovação, balançou a cabeça,   foi enfático e irônico:

___" vocês eram uns abobalhados,  aquelas estórias eram invencionices e vocês como preás  caiam  de bobos, vocês foram enganados, aliás muitas eram as besteiras que inventavam e os bestas da época acreditavam".

O Zezinho ficou surpreso e admirado com a sabedoria do amigo, viu que o seu colega era um pequeno adulto desde criança. Sentiu que o amigo sabe de tanta coisa que hoje não tem mais o que aprender. Sabe tanto, que precisa frear e inibir as circunvoluções cerebrais com múltiplas   substancias químicas, caso contrário  o seu  encéfalo, com  a quantidade de conhecimentos armazenados,  pode explodir.  

O menino Zezinho  saiu silenciosamente pela tangente. O sabichão falou: 

__ ” Até mais bobão, vê se aprende algo, vê se cresce”. 

O menino Zezinho  respondeu

__ “ Até mais sabichão”.

Zezinho

Iderval Reginaldo Tenório

 

 

 

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