segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Pedro Santos entre os 70 melhores luthiers do país

 

 

Pedro Santos entre os 70 melhores luthiers do país

Em 2008, a pesquisadora especializada em música brasileira Myriam Taubkin publicou, em São Paulo, o livro “Violeiros do Brasil”, e lá relacionou 339 violeiros e 70 luthiers em atividade no Brasil naquela época. O livro mostra os que constroem a viola e os que tocam a viola como os responsáveis por dar a este instrumento de corda a posição de grande popularidade no país.

Entre os profissionais especializados na construção e no reparo de instrumentos de corda citados no livro está Pedro Santos, nascido em Curral de Varas, em 1966, zona rural do município de Guanambi, interior da Bahia. Quando foi descoberto pela pesquisadora, Pedro Santos construía instrumentos já há quase 20 anos, e iniciado justamente pela viola.

TV LATINHA: A TARDE - A ARTE DE PEDRO SANTOS EM GUANAMBI
Pedro Santos, luthier | Divulgação.

O luthier diz que quando tudo começou, em dezembro de 1989, ele já residia na cidade de Guanambi, onde era carpinteiro. “Eu tinha 23 anos, e numa noite de dezembro daquele ano eu ponteava uma viola já castigada pelo tempo e pelo uso, então pensei comigo mesmo: gosto de tocar viola; viola é feita de madeira, sou carpinteiro, vou fazer minha viola.”

No mês de janeiro do ano seguinte vieram as chuvas de Inverno e as encomendas de carpintaria diminuíram a ponto de sobrar-lhe tempo para construir a primeira viola, em meio a muitas dificuldades; da escolha da madeira à feitura do molde, medidas e o acabamento. “Eu não sabia direito: medi, comparei instrumentos e armei o primeiro molde para uma viola, que eu fiz no início de 1990”, relembra.

Logo, logo surgiram os primeiros pedidos e, já no final de 2000, Pedro Santos trocou a profissão de carpinteiro pela de luthier e deu início à construção das primeiras violas encomendadas. De lá, já fabricou cerca de 400 instrumentos, mas nem sempre viola. “Acho que ao todo fiz umas 40 violas”, diz Pedro, citando entre os outros instrumentos o banjo, o cavaquinho, o bandolim e o violão de 6 e de 7 cordas.

Viola em Guanambi

Pedro Santos faz uma revelação: o município de Guanambi, sua terra natal, não carrega grande ligação com a viola caipira. “Muita gente aqui gosta, toca, mas nada que se destaque; o violão e o cavaquinho são mais procurados.” Seria por conta do preço, em torno de R$ 6 mil cada viola? Ele diz não concordar: “Uma questão de falta de tradição!”

Admite que o preço seja mais elevado do que o de um instrumento industrial vendido a custo que varia de R$ 300,00 e R$ 3 mil reais, mas argumenta que uma viola ou um violão construído artesanalmente, por um luthier, tem maior durabilidade, além de apresentar melhor timbre por conta do uso de madeiras selecionadas. No seu trabalho ele, geralmente, utiliza jacarandá e cedro recolhidos nas madeireiras da região, além de mogno, pinho, maple ébano, marupá e pau-ferro.

Cavaquinho, violão de 7 cordas e viola fabricados por Pedro Santos | Divulgação.

Graças a Deus

Quando Pedro Santos, evangélico convicto, ouve dizer que seu nome está entre os grandes luthiers do país, humildemente, responde, procurando disfarçar sua timidez sertaneja: “Sou muito grato a Deus por essa graça e oportunidade de trabalhar no que mais gosto de fazer, que é fabricar instrumento musical de cordas.”

A média de tempo que gasta na construção de instrumento é de 30 dias; em certas ocasiões chega a fazer dois por mês. De todos, ele cita, o mais trabalhoso é o fabrico do violão, cujo processo exige mais. Com o aumento da demanda, Pedro Santos deixou de fazer reparos e consertos de instrumentos, diz que não lhe sobra tempo. “Além disso, o conserto ou o reparo de um instrumento é tão delicado quanto a fabricação.”

Entre os seus clientes estão artistas consagrados nacionalmente a exemplo de Armandinho e Aroldo Macêdo, Ailton Reiner, Jorge Cardoso, Dudu Maia, Reco do Bandolim, Ronaldo do Bandolim, Hamilton de Holanda, além do saudoso Edson 7 Cordas, falecido em 2012; outros músicos profissionais e também instrumentistas amadores.

Uma relíquia para mim – Em outubro de 2002, adquiri de Pedro Santos uma viola que ele acabara de construir em seu atelier, no número 116 da Rua Jonas Rodrigues, no bairro Paraíso. Foi a segunda viola feita sob encomenda por ele, assim que se enveredou por esta bela trilha. No rótulo está “mês 8, ano 02 (2002) , VMC (viola marfim cintura), nº 2”. Para mim, trata-se de uma relíquia, algo para guardar a vida toda, de modo que, parodiando Luiz Gonzaga na canção “Não vendo nem troco”, eu digo: Essa viola eu não vendo, não troco, nem dou!

Esta é a viola de nº 2, fabricada por Pedro Santos, em 2002 | Ari Donato.

Você pode ver mais sobre o trabalho de Pedro Santos em:
Pedro Santos Luthier – Instrumentos Artesanais

 

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