segunda-feira, 3 de outubro de 2022

No meio do caminho/ José//Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

 Carlos Drummond de Andrade por ele mesmo (Poemas) - YouTube

Estátua de Carlos Drummond de Andrade - Falando de Viagem

 

 Muitas vezes os comuns, os não imortais ,  não entendem e nem atentam o porquê que alguns seres humanos são imortais.  

São imortais porque  as suas obras nuca  morrem , estão sempre vivas .  

Vejam as poesias do gênio mor brasileiro, o mineiro de Itabira,   Carlos Drummond de Andrade. 

 Leiam,  pensem , repensem , pesem, sopesem e reflitam. São imortais.

Iderval Reginaldo Tenório



No meio do caminho

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

 

No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.


Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.


Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.

 

 

                                     José

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

 

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

 

Paulo Diniz - E AGORA JOSÉ - poema de Carlos ... - YouTube


Paulo Diniz - E AGORA JOSÉ - poema de Carlos Drummond de Andrade, musicado por Paulo Diniz.Álbum: Paulo Diniz - E Agora José.
YouTube · luciano hortencio · 21 de mar. de 2014

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