quinta-feira, 14 de abril de 2022

CONVERSA DE CRIANÇAS

 

Caricaturas e Desenhos: Formandas 2016

 Caricatura individual para formatura no Elo7 | Nando Caricaturas (E0C03E)

 Vetores de Cientista Segurando O Frasco Dos Produtos Químicos e mais  imagens de Adulto - iStock

CONVERSA DE CRIANÇAS

“Eu tenho dez, ela tem oito e o senhor quantos anos tem? ”

"Mais de sessenta, mas estou desenvolvendo um remédio para começar a usar  na próxima segunda feira, com este remédio em vez de ganhar, eu vou  perder um ano todos os  anos,  até chegar  aos trinta, nesta época deixarei de tomar, ficarei eternamente com trinta anos". 

A mais velha   botou a mão no rosto, de soslaio olhou para sua mãe, para a sua prima   e caiu no riso, riu que as lágrimas derramaram-se pela fina e delicada face, provavelmente pensou só para si:  
 
 “ Esse não deve ser normal, parece que não tem juízo”

 Todos os   oito olhos presentes marejaram , enxugados as lágrimas  perguntou em voz baixa desconfiada:    
 
 " E pode?  é possível?   Eu nunca soube disso” .
 
A menina é muito esperta , o sessentão não teve palavras para continuar . O item em pauta foi vencido, ninguém tocou mais  no assunto, para não virar querela fora arquivado.

O ancião falou que  anos atrás  conheceu uma criança com seis anos de idade  , hoje uma moça bonita ,  sonha  em ser cirurgiã, quer operar as pessoas , diz que vai ser médica   , é muito humana.
 
 Explicou às  jovens   que,  quem tem foco  conseguirá realizar os seus sonhos, tudo é questão de tempo , esforço , escolaridade e vontade dos governantes. Perguntou se gostavam de estudar e se acordavam cedo.  
 
A de  10 anos respondeu primeiro : 
 
” Acordo cedo ,  as vezes tenho um pouquinho de preguiça,  gosto muito de estudar” .
 
A mais nova foi logo complementando : 
 
 “ Eu não tenho nenhuma preguiça ,  na nossa casa sou a primeira  a levantar, estudo pela manhã”.

O  velho falou para as duas  , que quando criança , de 1964 a 1968, início  do governo militar,  estudava num Grupo Municipal  que ficava defronte a sua casa , bastava atravessar uma pracinha  e  já estava na escola.   Todo mundo era conhecido , não era   perigoso para as crianças,  iam só,  com os seus irmãos ou com os colegas .  Era uma boa escola , quase todos que moravam no bairro  estudavam  neste grupo, foi tombado e hoje é patrimônio histórico da humanidade.  

Todas as vezes que vai à sua  cidade, visita  o grupo e senta na mesma carteira que estudou, pode não ser a mesma, mas é a do mesmo lugar, a que fica na frente do birô da professora . Naquele tempo a carteira da professora era chamada de birô, de bureau em Francês. Afirmou  que só a escola salvará os pobres, elas logo rebateram:  
 
“ Nós sabemos disso  , nós sabemos e gostamos muito de estudar, vovó Didi falava isso todos os dias”

Indagou se gostavam de certos alimentos  como frutas, sucos, pão, queijos, doces e biscoitos. Ambas disseram em uníssono que gostavam de quase tudo, a menor foi dizendo  : 
 
 ” Eu não gosto de nata de leite , de tempero e nem de queijo do interior, amo chocolate em barra e  biscoitos de chocolates”.
 
 A maior completou: 
 
” Eu gosto de tudo, só não gosto de comer rabada, toucinho, mocotó e outras gorduras” .
 
A menor deu continuidade: 
 
 “ Eu gosto muito de feijão”. 
 
 Neste momento  uma pausa e todos ficaram olhando um para o outro, o velho  indagou . 
 
 "Feijão puro ou  com carne fresca, carne de sertão ou com  calabresas?" 
 
Ela  deu um pequeno soluço de aprovação e disse  :
 
 “ Com  tudo isso dentro  o feijão fica bem melhor, fica mais saboroso”.
 
Neste momento uma grande risada, aliás uma salva de gargalhadas, foi um momento de descontração e o velho perguntou  com quantos anos iam se casar.  A mais nova brincando disse: 
 
 ” Com cem anos e o noivo com trinta”. 
 
 O velho indagou : 
 
"Com quantos"?  
 
ela respondeu : 
 
“ Com cem” .
 
Silenciou um momento e pausadamente, contando nos dedos respondeu  :  
 
” Eu vou me casar com vinte e sete anos e o noivo com trinta”.
 
A outra complementou :
 
 “ Eu com trinta anos. Quando estiver formada e com um bom emprego. A minha mãe merece dias melhores, ela trabalha muito para me sustentar e semepre me lembrar: Quem salvo pobre é a Escola ” 

A surpresa é que trouxeram para o velho amigo,  a mais linda e espontânea xícara do mundo. Uma bela caneca branca de louça ,   que de um lado tem  sua caricatura, presente de um grande publicitário , do outro    uma mensagem  com a fotografia   do velho e as duas futuras profissionais  que muito orgulho darão ao Brasil.

O abraço da despedida  foi longo, muito longo, foi aconchegante. Apesar de longo, pareceu curto, muito curto, havia chegado o momento da volta  e elas se foram em busca de conhecimentos  para as suas casas. Veio na mente criança do velho ,  que se diz adulta a seguinte reflexão e   falou para a mãe da mais velha:  
 
"o mundo ainda tem solução. Vamos salvar a nossa juventude,  exigir isonomia no ensino básico para todos , vamos exercer a cidadania.

 Olhe para os dias de  hoje , veja que dez anos atrás muitos destes marginais  que assolam a nação   tinham de oito a dez anos, hoje são homens formados sem nenhuma noção de cidadania, faltou-lhes escola, faltou-lhes ética, faltou-lhes família, faltou-lhes respeito.

Converse muito com as crianças, escute os ensejos dos jovens, eles só pensam no bem, o mal é gravado nas suas mentes pelos adultos. Vamos incentivar o exercicio da cidadania para todos os brasileiros. 
 
Fale   que no mundo irracional filho de gato jamais será um Leão, um labarí jamais será uma baleia, porém no Reino Hominal  filho de engraxate, pedreiro ou empregada doméstica  poderá sim ser um catedrático da mais complexa univerdade do mundo, tem um porém: o seu esforço deve ser dezenas de vezes maior  do que o esforço  de um que nasceu numa famillia  de classe mais alta.  Mesmo que encontre dificuldades, e vai encontrar muitas,  deve insistir e realizar o tão sonhado sonho "
 
Terminada esta explanação, o sessentão falou para si e para a jovem genitora em voz alta :  
 
"Eu acredito nestas crianças"


Iderval Reginaldo Tenório
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário