domingo, 25 de julho de 2021

CENAS DE UMA EMERGÊNCIA MÉDICA

 

Pacientes relatam superlotação e falta de médicos no setor de emergência do  Hospital Salgado Filho, no Rio | Rio de Janeiro | G1 

Fotos mostram superlotação no maior hospital público de Alagoas | Alagoas |  G1 

 CENAS DE UMA  EMERGÊNCIA

Nos dias atuais são grandes os desentendimentos nas emergências públicas e privadas.

Numa grande  Emergência   formou-se uma aglomeração em torno de uma senhora exposta numa fria, suja e nua maca,  duas mulheres a esbravejar  , braços rijos e dedo em riste a escrachar   um abnegado servidor. 

Ao lado,  de  jaleco quase  branco, surrado, suado e  amarrotado   um jovem esculápio com os olhos arregalados , tez engordurada,  semblante de medo e  sinais de cansaço, à aquela altura , confundia até o seu próprio nome, era fim de plantão.  Não saia  uma atitude de sua lavra, não possuía palavras, gestos e nem argumentos que resgatasse a paz no seu  trabalho,  estava engessado, congelado e estupefato com a dantesca cena.

Como um providencial  invasor,  um médico interveio  na dramática  cena , posicionou-se   entre os quatro e toda uma plateia constituída de   paramédicos, outros pacientes,   acompanhantes e curiosos. Foi até a surrada maca, expôs os cabelos brancos  e a limpar os óculos ficou frente a frente à frágil  anciã  .  Sem luvas alisou o rosto, os cabelos , o abdome , segurou e apertou  as  mãos  da enferma, mirou a sua face , cravou os seus  olhos nos olhos da paciente e entrou  vagarosamente na  sua alma .

Pausadamente e com a voz macia perguntou  o seu nome, onde morava, o que fazia, a idade ,  a profissão, perguntou pela família  e o que estava sentindo.   Levantou a cabeça, olhou para as  duas filhas, colocou  um dos braços no ombro do jovem assistente e o outro no ombro de uma das mulheres fechando o círculo da compreensão.    Mirou uma das  janelas  que mostrava o infinito azul  do céu ,   poucas  nuvens , uma bela estrela  e a borda  da lua .   Sem pensar, guiado por uma força  maior, vindo não se sabe  de onde, lembrou a todos que  Deus existe  e ali estava presente . 

O ambiente conspirava pela presença do Criador, não existiam outras possibilidades,  naquele momento não existia outra explicação, ali  encontrava-se  uma anciã quase santa, que na vida só havia praticado o bem:  grande mãe, eximia  avó, magistral esposa  e eterna sofredora por não conseguir consertar as mazelas do mundo,  uma octogenária  quase pura . Estava em sofrimento, debilitada,  porém vigio, atenta  apesar da situação na qual se  encontrava.

 

Achava-se uma estranha  naquele nosocômio , naquela emergência de propriedade sua, pois era uma unidade  publica, ali encontrava-se o suor de todos os habitantes , de toda a comunidade  e do estado  , ali era uma das suas propriedades, ali era um bem comum, era de todos .

Tratava-se de um ser humano  fragilizado, subserviente, sem força e sem ação  assistida  por um dos seguidores de Deus , o médico,  que só pensa no bem, que faz tudo pelo bem e é guiado pelo bem .   Ao lado  suas  filhas, duas guerreiras  que lutavam desbravada e  consanguineamente  ao seu favor,   enxergavam naquela relíquia humana  o que existia de mais precioso, valioso e sublime  nas suas vidas, uma dádiva de Deus,  a sua querida e insubstituível mãe.  Queriam a sua recuperação e  exigiam os seus direitos.  

O momento  era a prova concreta da presença do grande Mestre,  ali estavam todos de mãos dadas para a recuperação daquela heroína.  O velho esculápio após apaziguar os ânimos ,  parou  o discurso, quase uma homilia ,   saiu de cena e  deixou   mansamente o  ambiente .

O jovem   prosseguiu o seu atendimento. Ele, as filhas, a quase santa, os olhares dos demais , a desnuda e fria  maca, a velha janela, as nuvens , a grande estrela,  a  nesga da lua  e todos com   a tutela do grande Criador .

O silencio reinou no recinto, as filhas se aproximaram do jovem médico , o diálogo sadio colocou nos eixos o tumultuado momento, todos entenderam os esforços dos guerreiros  e sofridos médicos.   

O velho Esculápio deu continuidade  à sua rotina nesta grande casa de saúde.

Como médico,  quase que calejado, ficou feliz com o desenrolar daquele momento sublime que estava se transformando num funesto imbróglio, ainda bem que Deus existe .

 Viva a paz, o respeito, a ética, a benevolência, a beneficência, a autonomia e a cidadania, é assim que se constrói um grande povo, viva a medicina, viva  a natureza , a mãe da humanidade e viva a abnegação do Homem.

Doutor,  muito obrigado.

 

18 DE MARÇO DE 2012

Iderval Reginaldo Tenório

 

Conheçam o inglês  

Nasc.1910 Londres e  Falec.1979 Londres, Inglaterra

Ronald Binge

 

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