Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré (Assaré, 5 de março de 1909 — Assaré, 8 de julho de 2002), foi um poeta popular, compositor, cantor e improvisador brasileiro.
SEU DOTÔ ME CONHECE
Vejam como o mestre coloca vida numa unidade Federativa
do país, o meu querido e sofrido Ceará.
Sintam
como ele humaniza a situação da seca . Como se
o Estado do Ceará fosse um cidadão comum mergulha numa problemática social e fala por toda uma nação sofrida , isso foi em 1932 .
Viva o Antonio Gonçalves o nosso Patativa do Assaré,
lá do meu aguerrido e guerreiro estado do ceará.
ASSIM FALOU O CEARÁ PARA O MUNDO.
EU, Iderval Reginaldo Tenório, um capiau nascido na Chapada do Araripe, divisa do Ceará com Pernambuco, ora Juazeiro do Norte - Crato) e ora Exu-Bodocó, no fim desta matéria recitarei, declamarei ou advertirei para vocês a mensagem do meu querido Ceará para as autoridades .
Eu sou o Ceará de carne , osso e possuidor de uma ALMA.
Iderval Reginaldo Tenório
Patativa de Assaré.
1932
SEU DOTÔ ME CONHECE?
Seu dotô, só me parece
Que o sinhô não me conhece
Nunca sôbe quem sou eu
Nunca viu minha paioça,
Minha muié, minha roça,
E os fio que Deus me deu.
Se não sabe, escute agora,
Que eu vô contá minha história,
Tenha a bondade de ouvi:
Eu sou da crasse matuta,
Da crasse que não desfruta
Das riqueza do Brasil.
Sou aquele que conhece
As privação que padece
O mais pobre camponês;
Tenho passado na vida
De cinco mês em seguida
Sem comê carne uma vez.
Sou o que durante a semana,
Cumprindo a sina tirana,
Na grande labutação
Pra sustentá a famia
Só tem direito a dois dia
O resto é pra o patrão.
Sou o que no tempo da guerra
Contra o gosto se desterra
Pra nunca mais vortá
E vai morrê no estrangêro
Como pobre brasilêro
Longe do torrão natá.
Sou o sertanejo que cansa
De votá, com esperança
Do Brasil ficá mió;
Mas o Brasil continua
Na cantiga da perua
Que é: pió, pió, pió...
Sou o mendigo sem sossego
Que por não achá emprego
Se vê forçado a seguí
Sem direção e sem norte,
Envergonhado da sorte,
De porta em porta a pedí.
Sou aquele desgraçado,
Que nos ano atravessado
Vai batê no Maranhão,
Sujeito a todo o matrato,
Bicho de pé, carrapato,
E os ataques de sezão.
Senhô dotô , não se enfade
Vá guardando essa verdade
Na memória, pode crê
Que sou aquele operário
Que ganha um pobre salário
Que não dá nem pra comê
Sou ele todo, em carne e osso,
Muitas vez, não tenho armoço
Nem também o que jantá;
Eu sou aquele rocêro,
Sem camisa e sem dinhêro,
Cantado por Juvená.
Sim, por Juvená Galeno,
O poeta, aquele geno,
O maió dos trovadô,
Aquele coração nobre
Que a minha vida de pobre
Muito sentido cantou.
Há mais de cem ano eu vivo
Nesta vida de cativo
E a potreção não chegou;
Sofro munto e corro estreito,
Inda tou do mermo jeito
Que Juvená me deixou.
Sofrendo a mesma sentença
Tou quase perdendo a crença,
E pra ninguém se enganá
Vou deixá o meu nome aqui:
Eu sou fio do Brasil,
E o meu nome é Ceará.
Brasil de cantos e encantos diferentes. Que obra literaria grandiosa. A personificação! Que legado! Parabens!
ResponderExcluirBrasil de cantos e encantos diferentes. Que obra literaria grandiosa. A personificação! Que legado! Parabens! Dr. Incrivel como Vosa Senoria deu vida ao poema.
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