sábado, 4 de janeiro de 2020

África-AOS 14ANOS ALGUNS POVOS AFRICANOS RETIRAM O CLITÓRIS DA MENINA PARA NÃO TER PRAZER SEXUAL.

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Tânia Menai, de Nova York

África



É verdade que, em algumas regiões do mundo, se retira o clitóris das mulheres?

Sim. A clitoridectomia, como é chamada, é um ritual de passagem, ou iniciação, praticado na África, Oriente Médio e sudeste asiático há 2 000 anos. O objetivo é evitar que a mulher tenha prazer sexual. As vítimas em geral são bem jovens – entre uma semana e 14 anos – e os tipos de extirpação variam. Pode ser retirado desde uma parte do clitóris até os pequenos lábios da vagina. As operações são seguidas de muita dor e sangramento. 

Como são feitas em condições precaríssimas de higiene, com tesouras, facas e navalhas, o número de infecções é muito grande e boa parte das mulheres operadas torna-se estéril. Está provado também que a prática não traz nenhum benefício para o organismo feminino. A Organização Mundial de Saúde estima que entre 80 e 114 milhões de mulheres já passaram por esse ritual macabro. 

O número de mortes decorrente é desconhecido, pois as tribos não acreditam que a prática possa matar alguém, o que dificulta a contabilidade. É uma prática ligada aos costumes dos povos, sem relação direta com a religião. Não é verdade que o Alcorão (a bíblia islâmica) defenda o costume.

Para o Ocidente essa prática é chocante. Mas não é assim nas regiões onde é praticada. A mulher é totalmente submissa e os povos que fazem a clitoridectomia acreditam que ela ajuda a manter a virgindade das solteiras. Além disso, reforçaria a identidade do grupo. Apesar da dor após a operação e da humilhação, as mulheres não se atrevem a reclamar. “Quando perguntadas sobre o conhecimento das leis dos Direitos Humanos, elas respondem que apenas conhecem as leis dos maridos”, diz a queniana Wanjira Muigai, advogada do Sindicato das Liberdades Civis Americanas, que hoje reside nos Estados Unidos. O nível de educação nas regiões onde há clitoridectomia é muito baixo. Por isso é praticamente impossível convencer as mulheres, e principalmente os homens, de que essa prática prejudica a saúde. Tentativas já foram feitas. Os colonizadores cristãos do Quênia, em 1930, criaram leis proibindo o ritual. Foi em vão. A legislação que continuou a ser obedecida foi a da tribo. 

Se alguma mulher tentar fugir dela, o mínimo que vai acontecer, além de sofrer pressão social, é não conseguir um marido.

200 milhões de crianças e mulheres sofreram mutilação genital no mundo.



Mulher manipula lâmina usada para praticar excisão em Uganda.
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Mulher manipula lâmina usada para praticar excisão em Uganda. Reuters/James Akena


 Cerca de 200 milhões de crianças e mulheres foram vítimas de mutilações genitais no mundo, segundo um relatório divulgado nesta sexta-feira (5) pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Em países como Somália, Guiné e Djibuti, na África, até 98% das mulheres sofreram excisão, como é chamada a extirpação do clitóris.



 Um dado preocupante do relatório é que o índice de mutilações está subindo na Libéria, em Burkina Faso e no Quênia. O objetivo da entidade da ONU é acabar com essa prática até 2030. O tema foi incluído nos objetivos de desenvolvimento das Nações Unidas para os próximos 15 anos, adotado por 193 países em setembro de 2015.
Entre as vítimas, 44 milhões são meninas com 14 anos ou menos. Na maioria dos 30 países que realizam excisão infantil, a mutilação aconteceu antes dos cinco anos da criança.

“Em lugares como Somália, Guiné e Djibuti, essa prática atinge quase todas as mulheres”, destacou Claudia Cappa, diretora do estudo. O índice de mutilação das mulheres nestes países é de 98%, 97% e 93%, respectivamente.

Avanços lentos contra a mutilação feminina
“Nós precisamos apoiar os esforços locais para acabar com essa prática”, frisou Cappa. Desde 2008, mais de 15 mil comunidades abandonaram as mutilações genitais femininas, das quais 2 mil só no ano passado. Cinco países adotaram leis que criminalizam o ato: Quênia, Uganda, Guiné Bissau e, mais recentemente, Nigéria e Gâmbia.

Os dados foram divulgados na véspera do Dia Mundial de Luta contra a Excisão, 6 de fevereiro. O número de vítimas subiu 70 milhões, em relação às estimativas feitas em 2014, no relatório anterior da Unicef.

Traumas da excisão ficam para o resto da vida
“Esse é o combate da minha vida”, resume a maliana Madina Bocoum Daff, 60 anos, que há muitos anos luta para acabar com a prática. Mutilada na infância, ela afirma que as consequências físicas e psicológicas desse costume tradicional nos países africanos ficam para o resto da vida das mulheres.
A hoje coordenadora do programa de luta contra a excisão da ONG Plan International não lembra com que idade foi mutilada. 

Antigamente, o ritual acontecia na puberdade das meninas.
Madina relata ter sido vítima do pior tipo de excisão, a que além de extirpar os órgãos femininos externos, também costura a abertura vaginal para deixá-la mais estreita. Por isso, no casamento, as jovens devem passar por uma segunda mutilação para reabrir o órgão - uma intervenção que, com frequência, é feita a faca, sem anestesia e em péssimas condições de higiene.
“É um choque, uma dor que a gente guarda para toda a vida”, sublinha Madina, lembrando que, em cada um dos seis partos, voltou a sentir dores ainda mais insuportáveis. Entre outras complicações possíveis, a excisão também provoca incontinência urinária nas vítimas.

Com informações da AFP

 


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