segunda-feira, 24 de junho de 2019

Conheça o curso que ensina mulheres a arranjarem maridos ricos

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Conheça o curso que ensina mulheres a arranjarem maridos ricos

Shutterstock

Escola de Elite: fizemos o curso que ensina mulheres a entrarem na alta sociedade e arranjarem maridos ricos

Lições dão dicas de estilo, de networking e etiqueta
Eu saboreava uma pizza gordurosa enquanto via, pela tela do celular, um vídeo com uma loura sueca de lábios cheios de preenchimento falar sobre comida. A moça discorria sobre fartura, sobre como o alimento vem num estalar de dedos (eu, inclusive, pedi o meu por um aplicativo) e sobre o quanto tudo é diferente daquele tempo em que o ser humano saía para caçar. Ficamos viciados em comer, ela dizia. Até aí, um bom panorama sobre a classe média ocidental contemporânea. Mas, em seguida, a sueca começa a falar sobre a necessidade de comermos pequenas porções, contar calorias e até fazer jejum em períodos pré-determinados porque... “mulher fora de forma não entra no high society nem consegue engatar um relacionamento com um homem rico.” 

Estamos falando das lições on-line da Escola de Elite , criada por Anna Bey , a loura sueca, e importada para o Brasil por Jennifer Lobo . Ambas se definem como sugar babies , apelido que se dá a mulheres dispostas a conhecerem homens ricos capazes de bancar uma vida sofisticada. Eu passei um bom tempo das últimas semanas (algo em torno de nove horas) vendo Anna dar dicas de beleza, etiqueta e networking com o objetivo de descobrir que tipo de mensagem se passa num curso cujo objetivo final é transformar mulheres “normais” em “deusas” da alta sociedade. 

“A Escola ensina a ter autoconhecimento para criar metas e a dar os passos necessários para ser a melhor versão de si mesma”, diz Jennifer, de 32 anos, que estava de férias na Espanha, no dia em que conversamos por telefone. 

Nascida em Winter Park, na Flórida, alguns anos depois de seus pais saírem de São Paulo, Jennifer se mudou para Nova York aos 17 anos e lá começou a trabalhar com publicidade; aos 25, resolveu se mudar de mala e cuia para o Rio. Na bagagem, trouxe uma ideia: criar um site de relacionamentos sugar , algo bastante comum nos EUA. Nesse tipo de relação, um homem ou mulher mais velha e bem-sucedida (conhecidos como sugar daddy ou mommy ) se une a uma (ou um) jovem ( sugar baby ), que dividirá com eles as benesses de uma vida endinheirada, mas não a conta do restaurante três estrelas Michelin.
Jennifer Lobo: dona do Meu Patrocínio Foto: Divulgação
Jennifer Lobo: dona do Meu Patrocínio Foto: Divulgação


Criado há quatro anos, o site Meu Patrocínio reúne mais de dois milhões de usuários, que também podem estar dispostos a terem relações homoafetivas. Com a rede funcionando a todo vapor, Jennifer resolveu expandir os negócios e colocou no ar a Escola de Elite quando conheceu a sueca Anna Bey, dona da School of Affluence(o nome original do workshop ) e expert em high society . “Comecei uma amizade com a Anna e vi a oportunidade de trazer a escola para o Brasil.” 

Voltando ao curso: acompanhei Anna (é ela que dá todas as aulas, Jennifer apenas administra o negócio) por sete módulos, divididos numa média de cinco lições cada. Os vídeos têm legenda em português, e o material didático (sim, há tarefas a serem feitas e listas com regras a serem estudadas) também é traduzido. Para contar essa história, pagamos R$ 499. 

De março, quando a Escola de Elite entrou no ar, até agora, já houve 350 inscrições. Uma delas foi a da advogada Fernanda Rizzi, de São Paulo, já cadastrada no Meu Patrocínio e que sai com um sugar daddy há sete meses (detalhe: ele é casado e está ciente de que, se ela arranjar um solteiro que a mime, estará fora do jogo). “O curso foi uma boa reciclagem para aperfeiçoar o que já vivo”, diz Fernanda, de 38 anos, mãe de uma menina de 13 anos e outra de 17, frutos de um casamento anterior.


Entre os pontos preferidos de Fernanda no curso estão as recomendações sobre estilo. Acredite, há um módulo todo voltado à melhor forma de se vestir e de se maquiar para que a alta sociedade ache que você tem uma elegância nata. “Recomendo para garotas mais novas que usam roupas vulgares. Se você tem o objetivo de conquistar alguém, não dá para ser assim”, diz a aluna.
Anna Bey: fundadora da Escola de Elite Foto: Divulgação
Anna Bey: fundadora da Escola de Elite Foto: Divulgação
Mas não é só de aparências que vive a alpinista social — termo que ouvi da própria Anna nos vídeos. “As meninas acham que é só arrumar o cabelo, se maquiar, colocar uma roupa legal”, diz a professora sueca, enquanto eu penso na enorme transformação no visual que teria de fazer, caso levasse à risca o que ela prega. “Só que você precisa de mais”, ela reforça. Esse “mais” tem a ver com estabelecer uma rede de contatos, nem que, para isso, vá a um restaurante no meio da tarde à espera de que um executivo, depois de um almoço de negócios, resolva bater papo com você. Ou, quem sabe, ajudar ONGs, porque “a classe alta doa para caridade, e você também pode se envolver para colocar os pés nos círculos mais fechados.” 

Ciente de que muitos de seus conselhos vão de encontro às lutas feministas, Anna Bey tenta, em determinados momentos, fazer um mea culpa : “É um pouco injusto como a sociedade olha para as mulheres. Sempre temos que lutar para não sermos vistas como descartáveis ou estúpidas. Mas infelizmente é assim no momento e temos que trabalhar para validar o nosso QI”. Mas isso não faz com que muitas pessoas deixem de rotular Fernanda, Jennifer e demais sugar babies espalhadas por diversos sites (o Universo Sugar é outra grande rede, com 700 mil perfis ativos, sendo 36 mil deles no Rio) como garotas de programa. “O que há de errado em uma mulher querer estar com um homem com qualidades que fizeram dele bem-sucedido?”, questiona Jennifer. “Não falamos que a mulher não pode trabalhar, por exemplo.


No Brasil, ninguém gosta de conversar sobre dinheiro. Quem fala é tachada de interesseira. Você pode ter amor e estabilidade financeira ao mesmo tempo. Não é preciso ter um ou outro.”
“Como nos relacionamentos sugar , o daddy ou a mommy recebe a atenção e o carinho da baby, que ganha cuidado financeiro, as pessoas tendem a comparar com prostituição”, diz o psicólogo Claudio Paixão, professor da UFMG. “Mas qual relacionamento humano que não é baseado em interesses? Tudo é uma troca. A semelhança entre as duas coisas é que ninguém entra enganado.” Fica a dica.
Como conseguir um marido rico? A Escola de elite ensina Foto: Shutterstock
Como conseguir um marido rico? A Escola de elite ensina Foto: Shutterstock

Regras do jogo

Que ano é hoje?
 
Num momento em que o empoderamento feminino é uma luta crescente e urgente, Anna Bey, criadora da Escola de Elite, fala coisas do tipo: “Sei que algumas mulheres têm boa aparência, mas não sabem se comportar, então passam vergonha” e “os homens gostam de mulheres com boas maneiras porque sabem que elas nunca vão constrangê-los.” 


O pecado da gula
Enquanto o movimento body positive cresce a passos largos ao falar sobre a necessidade de amar o corpo como ele é e rechaçar padrões, a sueca dá a dica, sem pensar no fato de que, segundo pesquisas, mais de 90% dos casos de anorexia no mundo aparecem em mulheres: “Ser magra, estar com o corpo em dia é uma necessidade na alta sociedade.” 


Quem passa do ponto perde a carona
Bebeu uns vinhos (cerveja nem está no cardápio dos ricos) a mais numa festa? Você será julgada. “Mulheres elegantes não ficam bêbadas em eventos sociais. Mulheres elegantes não ficam bêbadas nunca. Conheça seus limites”, diz Anna. 

Elementar, minha cara baby
“Como ele se comporta quando o assunto é dinheiro?”. Anna pede para você investigar isso, tendo em mente que jamais deve se oferecer para dividir uma conta. “Sinto que é masculinizar.”
Nem lá, nem cá
Saia curta? Não. Blusa muito fechada? Também não. “Se vestir de forma sensata é muito importante num primeiro encontro”, diz Anna, que, apesar do armário abarrotado, sempre usava o mesmo tubinho preto nessas ocasiões (hoje, ela tem seu daddy e não precisa mais da peça). “Não era muito provocante, mas era feminino o suficiente. Era minha estratégia infalível, e ninguém reclamou.”

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