quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A Seca de 1932 e os Campos de Concentração no Ceará


A Seca de 1932 e os Campos de Concentração no Ceará

O ano de 1932 foi mais um ano sem chuvas no Ceará. O ano anterior já fora um prenúncio de que viria mais um período de estiagem, já que o "inverno" fora ruim. 
Milhares de pessoas pereceram de fome, sede e doenças. O então presidente Getúlio Vargas (1930-1945) buscou combater a seca como uma questão nacional, ou seja, as medidas adotadas seriam tomadas diretamente pelo governo federal.
Liberou verbas para socorro aos flagelados, controlou o mercado para garantir um abastecimento mínimo e preços razoáveis e instruiu a Inspetoria Federal de Obras contra as Secas (IFOCS), a alistar sertanejos para trabalhar na construção de açudes, estradas, calçamentos, etc. .  
Mas nem todos os sertanejos conseguiam se engajar nas obras de emergência, pois não havia muitas vagas. Os trabalhadores, chamados pejorativamente de “cassacos”, trabalhavam de sol a sol, sempre sob o olhar repressor de feitores. A remuneração não era em moeda, mas em gêneros alimentícios, os quais na maioria das vezes eram desviados pelos encarregados da distribuição, ou tinham valores superfaturados.
Diante da penúria, inúmeros homens, mulheres e crianças se sujeitavam a migrar, a pé, ou em trens, em busca de auxilio e de outras cidades que lhes permitissem melhores condições de sobrevivência. 
As estações de trem passaram a ser locais de grandes tensões entre os retirantes e a polícia. Alguns trens chegaram a ser saqueados. Normalmente os trens despejavam os retirantes, na capital, perto do mar, onde se localizavam as últimas estações ferroviárias. Muitos erguiam casebres próximos à praia, o que contribuiu para a formação das primeiras grandes favelas de Fortaleza, a exemplo do Pirambu e Moura Brasil. 

Aquelas massas de miseráveis incomodavam aos moradores das cidades, pois levavam doenças, desordem e maus hábitos para onde iam e incomodavam aos comerciantes que temiam os saques e assaltos.
A solução encontrada pelas autoridades para enfrentar o problema foi desumana: para manter os retirantes em seus locais de origem e evitar que alcançassem Fortaleza ou outros centros urbanos do estado, as autoridades construíram campos de concentração, ou seja, acampamentos murados ou cercados de arame farpado onde eram alojados os flagelados.
A experiência dos campos de concentração já havia ocorrido na seca de 1915, no Alagadiço (atual São Gerardo). Os campos apresentavam uma estrutura básica, com posto médico, cozinha, barbearia, banheiros, capela e casebres, divididos em pavilhões para homens solteiros, viúvas e famílias, tudo muito precário.
Ninguém podia sair sem a permissão dos inspetores de campo – havia guardas para evitar fugas. As pessoas ficavam confinadas como animais. Todos tinham a cabeça raspada, vestiam roupas feitas de saco de farinha, passavam muita fome e sede, e eram controlados por senhas.
 Esses locais eram chamados pela população de “currais do governo”. As estatísticas oficiais dão conta da existência de quase 84 mil retirantes distribuídos em sete áreas de  confinamento: Buriti (distrito do Crato), Patu (Senador Pompeu), Cariús (São Mateus), Ipu, Quixeramobim, e em Fortaleza nos bairros do Pirambu (chamado Campo do Urubu) e Otávio Bonfim. 
Os campos foram estrategicamente construídos nas proximidades de uma estação ferroviária, com isso as autoridades controlavam a massa de retirantes, e evitavam sua migração de trem, para a capital cearense. 
Os campos eram locais insalubres. Entre abril de 1932 e março de 1933 foram registradas mais de mil mortes no campo de Ipu.

Fonte:
História do Ceará, de Airton de Farias

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