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O Supremo desgaste do STF | Por Luiz Holanda
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A psicologia política tem demonstrado que o poder é movimentado por
instintos, que, se não sujeitos a controle, podem colocar em risco a
própria vida da nação. É cada vez mais comum ouvir, principalmente do
povo, que nenhum político poderoso respeita a lei
em nosso país, sequer os membros do Judiciário, que também são
políticos e poderosos.
Diante da crise em que vivemos, econômica, política e social, a de
representatividade (existente tanto na classe política como no
Judiciário), é a mais grave de todas, face o componente romano-germânico
na formação de nossa mentalidade jurídica, calcada no
princípio da legalidade.
Esse princípio, que se expressa no brocardo latino de que ninguém é
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei
– albergado em nossa Magna Carta como direito fundamental-, vez por
outra é contestado, justamente porque ninguém neste
país respeita a lei, sequer o Judiciário.
Todo mundo sabe que a atividade legislativa de nossos órgãos de
representação se desenvolve de acordo com os interesses dos lobbies
empresariais e demais grupos de pressão, sempre em busca deste ou
daquele projeto que pode oferecer-lhes bilhões de dólares.
Muitas leis aprovadas pelo nosso Congresso, em tese, são importantes. O
problema é a sua execução, que, na prática, as tornam ineficazes. Vejam,
por exemplo, a Lei 11.340/06, conhecida como “Lei Maria da Penha”.
Técnica e sociologicamente é de suma importância.
Se fosse obedecida, poderia mudar nossa sociedade. Como não é, nossas
mulheres continuam desprotegidas.
A Lei que instituiu o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº
12.305/10) é outra que contém instrumentos importantes para permitir o
avanço necessário para que o Brasil enfrente seus principais problemas
ambientais. Ninguém a obedece, até porque poucos sabem
de sua existência.
Muitas leis importantes foram aprovadas pelo Congresso, apesar dos seus
legisladores. Em sua grande maioria, sequer sabem ler. Daí a banalização
da atividade legislativa, a começar pelo descumprimento das leis. O
certo seria imaginar que já que nossas leis
não são cumpridas, não há razão para elaborá-las.
Alguns doutrinadores, criticando o excesso de leis existente no Brasil,
afirmam que num regime em que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude de lei (art. 5º, II da Constituição
Federal), quanto mais leis, menos liberdade.
E o que dizer do nosso Judiciário, principalmente do Supremo Tribunal
Federal? Essa corte é formada por ministros que se dizem garantistas,
que, em síntese, significa a garantia do direito de defesa. Em vez
disso, esses garantistas, tendo à frente o ministro
Ricardo Lewandowski, fazem um garantismo à brasileira, no sentido
estrito da expressão, que se resume na legitimação do discurso da
impunidade por meio do abuso do direito de defesa.
Veja-se, por exemplo, o garantismo do ministro Marco Aurélio Mello ao
votar a favor da concessão da ordem de Habeas Corpus a Suzane Louise Von
Richthofen. Essa assassina mandou matar seus próprios pais Manfred e
Marisia Von Richthofen só porque eles proibiram
o seu relacionamento com Daniel Cravinhos, autor do hediondo crime,
juntamente com o seu irmão, Cristian Cravinhos, hoje em total liberdade.
Se fosse nos Estados Unidos, por exemplo, todos pegariam prisão
perpetua, senão a câmara de gás. Mas como o crime aconteceu no Brasil,
haja garantismo, ao ponto de um ministro do mais alto tribunal do país
conceder um habeas corpus para que a assassina voltasse
a matar em liberdade.
E agora que o vice Michel Temer pode se tornar presidente, a impunidade
será oficializada com os novos atores que comandarão a Operação Lava
Jato. Se o juiz Sérgio Moro não a encerrar punindo os culpados, os que
assumirão o poder o farão, com uma única diferença:
tudo terminará em pizza. Para tanto contarão com o beneplácito do
Supremo Tribunal Federal, cujas decisões –garantidoras da impunidade-, o
levaram ao maior dos desgastes, desde a sua criação.
*Luiz Holanda é advogado e professor universitário.
Excelente artigo. A quantas anda a Justiça Brasileira. E nós, pobres enfermos a assistir o grande desgaste de uma máquina pública corroída pela ganância de muitos !
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