domingo, 17 de janeiro de 2016

Cabocla da Minha Terra-Patativa do Assaré.

Uma homenagem do maior poeta do Brasil, PATATIVA DO ASSARÉ, para  as mulheres do Ceará ,a sua terra natal.

CONHECI DE PERTO, TIVE ESTA FELICIDADE, QUEM TEVE TAMBÉM FOI O MEU AMIGO PLÍNI0 SODRÉ, GRANDE ULTRASSONOGRAFISTA,  ESTE TOMOU CAFÉ NA VARANDA DO POETA LÁ NO ASSARÉ.

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Iderval 


Cabocla da Minha Terra 



Patativa do Assaré.


Quem me dera ser poeta 

Da mais rica inspiração 
Pra, na linguagem correta, 
Fazer do choro canção, 
Fazer riso do gemido. 
Ah! Se os esprito sabido 
De Catulo e Juvenal 
Falassem por minha boca, 
Pro mode eu cantá a caboca 
Da minha terra natal. 



Desta terra de gulóra, 

Meu querido Ceará ,
Que é conhecido na históra 
Por “Terra dos Alencar “,
Terra dos índios valentes 
Que mataram muita gente 
De frecha e também de pau, 
E terra onde, primeiro, 
O povo do cativeiro 
Se livrou do bacalhau. 



A sua pobre caboca 

É bela, forte e gentil, 
Porém minha idéia é pouca, 
Mode eu dizê tudo aqui 
Tem ela o corpo composto, 
Também a marca no rosto 
Do quente sol do sertão. 
E tem a cabeça chata 
De tanto carregá lata 
Com água do cacimbão. 



Ela não anda decente 

Nem pissui inducação 
Pois veve constantemente 
De alpargata ou pé no chão. 
Não tem de letra ricurso 
Não sabe fazê discurso 
Não sabe lê nem contá 
Pois não tem sabedoria 
Mas faz renda, cose e fia 
E trabaia no tear. 



É simples, muito singela, 

Porém tem grande valor:
Quem véve pertinho dela 
Tem um anjo potretor !
Ela não tem pele fina, 
Como as donzela granfina 
Que tiveram inducação. 
Nem tem dedo despontado, 
O seu dedo é achatado 
Da enxada e do pilão. 



Mas porém a gente nota 

Nela um jeito, um não sei quê 
Com um risinho ela bota 
Qualquer rapaz pra ruê. 
É boa, amável e bonita 
E quando, de amor, palpita, 
Querendo arranjá xodó, 
Tem caborge, tem feitiço, 
Não precisa de artifíço, 
Não bota ruge nem pó!



Pensando no casamento, 

Véve cheia de prazê. 
O beijo do atrevimento 
Não gosta de recebê. 
Não gosta de certas graça, 
E, muitas vez, até passa 
Dez ano sem namorá! 
Esperando o noivo amado, 
Que saiu do seu estado, 
Pras bandas do Paraná. 



Esta caboca roceira, 

Que na armadia não cai;
Muntas veis morre sorteira, 
Pra num disgostá seu pai. 
Só satisfaz a vontade 
Se o véio dé liberdade, 
Eu conheço muito bem! 
Essa caboca interada, 
Que sabe sofrê, calada, 
As mágoa que o peito tem. 



Eu sei de tudo, e tô certo, 

Do seu prazê e sua dor. 
Eu conheço, bem de perto, 
Sua corage e valor; 
Pois eu tenho visto munto, 
Quando é dia de adjunto, 
Na mais quente animação, 
Ela fazê, com despacho, 
Proeza de cabra macho, 
Com uma enxada na mão! 



Bem cedo, de menhãzinha, 

Quando o sol briando sai, 
Quando ela arruma a cozinha, 
Para o seu roçado vai, 
Pro móde ajudá o marido,
Muitas vêiz, endurecido, 
Sem esperança e sem fé... 
Que só não se desespera, 
Pruque ouve e considera 
Os conseio da muié! 



Caboca, eu bem te compreendo: 

Sinto muito e tenho dó. 
Quando eu te vejo sofrendo, 
Derramando o teu suó, 
Lutando por tua vida.
Caboca desprotegida, 
Eu tenho pena de tu, 
Quando eu encontro teu fio, 
Exposto ao calô e ao frio, 
Doente com fome e nu!



O grande, o maior coidado, 

Que tu nesta vida tem 
É zelá teu fio amado, 
Que tanto adora e qué bem. 
E, muntas vêiz, chega a hora 
De vê teu fio i simbóra, 
De farda, quépe e fuzí, 
Pra se metê nas fiêra, 
Honrando a nossa bandeira, 
Em defesa do Brasí!



Muntas veis te móia o rosto 

O pranto triste que dói! 
Quando teu fio, disposto, 
Fazendo papel de herói, 
Vai se oferecê à guerra. 
Caboca de minha terra, 
Tu devia ser feliz! 
Em recompensa dos fio, 
De tanto valor e brio, 
Que tu tem dado ao país. 



Só a potreção do Eterno 

Te faz corajosa assim!
Quando fáia o nosso inverno, 
Que chega o rigor sem fim, 
Tu, sem pão e emagrecida, 
Deixa a terra bem querida, 
teu caro e doce torrão, 
E vai, toda paciente, 
Com a família na frente, 
Escapar no Maranhão. 



Munta prova tu tem dado, 

Da mais disposta muié! 
Eu, que vivo do teu lado, 
Tô vendo e sei que tu é 
Bela, forte e muito boa, 
Mas, te peço, me perdoa, 
Eu não te posso cantá! 
Pruque num sou protegido 
Pelos esprito sabido 
De Catulo e Juvenal

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9 de nov de 2011 - Vídeo enviado por Alain Pereira
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